domingo, 16 de agosto de 2020

Datafolha não é pra lamentar; é pra reagir!

Por Antonio Barbosa Filho, em seu blog:

A pesquisa Datafolha que mostra algum crescimento na aprovação ao "governo" Jair Bolsonaro deixou parte das oposições de esquerda perplexas, quase catatônicas. O que fazer? Que povo é esse que aprova um genocida? Como derrotar o fascismo em 2022?

Todas essas indagações aparecem permeadas por profundo desânimo, que revela uma grande falta de formação político-ideológica da nossa militância, pelo menos daquela que atua na trincheira digital. Correndo o risco (calculado) de levar pauladas de muitos (as) companheiros (as) que respeito, ouso dizer que estou de saco cheio com a lamentação geral.

Parece que estamos totalmente pautados pela mídia tradicional, golpista e sempre conservadora: se ela diz que nós vamos perder, enfiamos o rabo entre as pernas e vamos lamber mutuamente nossas feridas, como num fim de batalha que perdemos de 7 a 1...

Entre choramingas, acusamos a direita de jogar sujo, de roubar o mérito pelo Fundo para a Educação que a esquerda fez aprovar e, principalmente, o benefício temporário dos 600 reais - que Bolsonaro queria pagar em três parcelas de 200 reais. Ou seja: acusamos a direita de saber fazer Política melhor do que nós!

Somos os puros, eu sei, mas a Política real nada tem de "pura", como devíamos ter aprendido com Sun-Tzu ou Maquiavel, quem sabe com Olavo de Carvalho. Para vencer é preciso conhecer o inimigo e confiar cegamente na vitória, explorando sem piedade as fragilidades e erros do inimigo. Não uso a palavra "adversários" porque os fascistas consideram-se em plena guerra, 24 horas por dia, por todos os meios, para "eliminar" qualquer oposição. E não só em hipotéticas urnas: estão se armando de fato, com revólveres, fuzis e farta munição, para uma próxima fase da sua tresloucada Cruzada dita cristã contra os "comunistas".

Não pensem que exagero: há oito anos publiquei um livrinho sobre Olavo e sua doutrinação e mencionei suas lições, para os seus, então, mais de 120 mil seguidores: "Esquerdista não é ser humano". "O PT não pode ser derrotado, tem que ser eliminado"; "Ofendam esquerdistas na cara, inclusive os padres. Eles são encarnações do Demônio". Se alguém duvida que hoje milhões de alucinados acreditam nisso, recomendo observar milícias fardadas dentro de igrejas, treinando tiros com armas invisíveis, atirando em Satanás. Só falta a arma real e a encarnação do Demo, que seremos nós.

A violência como método político está sendo normalizada em atos que parecem isolados, mas são altamente coordenados. As PMs estão matando muito mais do que antes de Bolsonaro; os atos de racismo ocorrem todos os dias (e só vemos alguns poucos que alguém, por sorte, gravou no celular). O despejo inumano da ocupação rural de 22 anos em Minas Gerais, onde a PM atirou balas de borracha contra mulheres e crianças, é só mais um exemplo.

Enquanto a extrema direita, estimulada por Bolsonaro, seus filhotes e alguns generais seduzidos pelo poder e pelo dinheiro, leva a prática uma GUERRA, nós e nossos partidos ficamos soltando Notas Oficiais de protesto que poucos leem, ou trocando impressões nas redes sociais com quem pensa como nós. Nossa agressividade é usada entre nós mesmos: se sou petista, critico Boulos, de sou do PC do B ataco o PT, etc. Imaturidade, falta de visão estratégica! Lula e alguns líderes até que fazem análises lúcidas, dialogam entre si, e pensam no Brasil e na Democracia. O resto age como torcida de futebol: sou Flamengo e odeio o Flu, sou Palmeiras e menosprezo o Coringão.

Vou ao ponto central desta reflexão: a Comunicação das esquerdas é uma lástima. Já era, nos 13 anos de governos Lula e Dilma, e só piorou durante e depois do golpe de 2016. Nem chegamos perto do uso profissional que a direita faz da internet. Enquanto nossos poucos sítios e páginas lutam para sobreviver e nem sequer são compartilhados por nós mesmos - preferimos fazer memes ou postar títulos do UOL, da Globo, do Estadão - a direita lança em média dois canais por dia no You Tube, alguns sediados nos Estados Unidos, todos com alta qualidade técnica, que vai das vinhetas musicais à naturalidade com que seus "influencers" mentem sobre qualquer assunto.

Não quero usar as mesmas armas da direita. Não vamos comprar robôs nem criar perfis falsos aos milhares. Talvez - e sei que estou fazendo uma provocação - devamos voltar aos velhos meios de contato com as pessoas, que deram tão certo mesmo antes da internet. Vejam: uma coisa não anula a outra! É fundamental incrementar, multiplicar por mil, a nossa presença digital, criar web-rádios, canais no You Tube, grupos no whatsapp, lives no Facebook, etc.

Mas há muita gente que não usa a internet de maneira plural, com curiosidade. O pastor proíbe seu rebanho de visitar sítios que não sejam os da igreja. Os mais jovens são assediados pelos jogos e variedades. Pequena parte dos que têm acesso as plataformas sabe que existem canais e sítios de esquerda. Ou mesmo culturais, etc.

Quando vejo a longa fila de beneficiários do auxílio emergencial na frente de uma lotérica, basta olhar para as faces para intuir que jamais foram informados de que receberão um benefício aprovado pela oposição, contra a intenção de Bozo/Guedes. Minha vontade é ter um panfleto simples, objetivo, pouco texto e alguma ilustração sobre a verdadeira intenção do miliciano, para dar a cada um, enfrentando o debate cara-a-cara. Se eu convencesse um ou dois por dia, estaria feliz. Um milhão de militantes fazendo o mesmo Brasil a fora, tirariam essa falsa popularidade de Bostonaro em duas semanas.

Na minha caixa de correio encontro, todos os dias, panfletinhos (agora ditos flyers, que quer dizer "voadores", na língua do patrão de Bolsonaro). Pizzarias, supermercados, orações, cursos de idiomas, tem de tudo. Só não há um panfletinho explicando que Bolsonaro foi contra e vai cortar os 600 reais mensais. Nem que está acabando com o emprego formal, com qualquer direito trabalhista. Nada sobre a pandemia e a conduta genocida do "presidente".

Passam carros de som anunciando estabelecimentos ou vendendo verduras, ovos, frutas - e alguns chegam a sofisticação de dar recomendações sobre o Covid-19! Marketing bem feito, popular, nos bairros médios e pobres.

Nós, a Esquerda, ficamos parados: nem temos como ocupar a internet como faz a direita (e nem queremos usar seus métodos criminosos); e tampouco acreditamos nos meios mais tradicionais de chegar ao cidadão comum. Panfletos, carros de som, outdoors, pichações, tudo isso é muito arcaico para nossa esquerda tão pós-qualquer coisa.

Desabafo sobre o que vejo. Ou encaramos com disposição de luta a questão da Comunicação na base, que alcance a senhora dona de casa da favela, o pedreiro que está fazendo bicos, o desempregado que tenta vender alfaces na rua com sua bicicleta, ou vamos ficar lamentando as pesquisas, entre nós, e nos criticando mutuamente porque você é mais revolucionário ou mais feminista do que eu...

* Antonio Barbosa Filho é jornalista, autor de "Audálio, deputado".

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