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O anúncio do acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que prevê o desembolso de US$ 4,7 bilhões, foi recebido com alívio, evitando um possível calote argentino. Ele oferece um fôlego temporário ao ministro da Economia argentino, Luis Caputo. Contudo, esse montante está longe das expectativas iniciais de Caputo, que esperava uma contribuição mais substancial para enfrentar os desafios financeiros iminentes.
Na última semana, a Argentina fechou novas metas com o FMI, mas atingir esses objetivos exigirá um rigoroso arrocho não apenas nos programas sociais, mas também nos setores produtivos. As medidas adotadas gerarão insatisfação popular, aumentando a antipatia pela entidade e fornecendo munição à oposição. Na realidade, o movimento do governo Milei no Congresso é ainda mais depressivo para a renda dos argentinos do que as exigências do FMI. Mas ambos se confirmam mutuamente rumo ao massacre que se promete aos trabalhadores, sua capacidade de consumo e empregos.
O plano de estabilização de Milei visa aumentar as reservas cambiais líquidas, mas críticos apontam incertezas quanto à implementação das reformas propostas. A urgência de Caputo é evidente, pois a falta de dólares se tornou uma das principais fraquezas do governo argentino.
A tentativa de Buenos Aires de antecipar todos os desembolsos planejados pelo FMI até o final do acordo não obteve sucesso, resultando em um desembolso imediato de cerca de metade do valor solicitado. Os 4,7 mil milhões de dólares serão destinados principalmente ao pagamento de vencimentos de capital do acordo stand-by de 2018 e ao cancelamento de um empréstimo do CAF concedido em dezembro.
Embora esses recursos não estejam diretamente disponíveis para o Banco Central ou o Tesouro, aliviam temporariamente os compromissos de dívida do país para o primeiro trimestre, reduzindo a pressão sobre Caputo e sua equipe.
A gestão de Caputo na área cambial será crucial, uma vez que ele precisa equilibrar a oferta de dólares, mantendo as exportações e importações funcionando, enquanto enfrenta pressões políticas internas que ameaçam desestabilizar a economia. Conflitos políticos podem se tornar um desafio adicional para a manutenção do delicado equilíbrio cambial.
Surras prometidas
O porta-voz da Presidência, Manuel Adorni, disse esta manhã que o Governo “está analisando como certa possibilidade” descontar o dia aos trabalhadores que adiram à greve nacional que a CGT, as duas CTA e os movimentos sociais vão realizar no dia 24 de janeiro. A medida de força será naquele dia a partir das 12 horas em rejeição às medidas de ajustamento do DNU e à lei omnibus. As declarações somam-se a uma série de ameaças do Governo contra o protesto convocado pelas confederações sindicais.
Para alcançar a ambiciosa meta de obter um superávit primário de 2% do PIB em 2024, o governo de Javier Milei anunciou taxas sobre exportações e importações, além de cortes nos programas estatais de apoio às pequenas e médias empresas. Essa decisão contrasta com a meta anterior de zerar o déficit primário em 2024.
O governo ultradireitista de Milei está buscando um ajuste nas contas públicas sem considerar o impacto social, o que pode resultar em consequências graves para os trabalhadores e empreendedores.
A taxação sobre exportações e importações, juntamente com a redução de programas de fomento, levanta preocupações sobre o impacto na produção nacional. Deve ocorrer uma provável queda no consumo, aumento do desemprego e salários achatados.
O ajuste proposto, incluindo cortes em gastos de obras públicas e subsídios, afetará negativamente a estrutura produtiva do país. A taxação sobre o comércio exterior pode gerar atritos com o setor agroexportador, complicando a meta de recomposição das reservas internacionais.
A meta de acumular US$ 10 bilhões em reservas líquidas até o final do ano também enfrenta desafios. A fragilidade política do governo, com uma bancada pequena no Legislativo, dificultará a aprovação de medidas impopulares fundamentais para o acordo com o FMI.
A diretora de comunicações do FMI, Julie Kozak, destacou a importância do respaldo político para avançar com o pacote de reformas, incluindo a Lei de Bases e Pontos de Partida para a Liberdade dos Argentinos, conhecida como “Lei Ônibus”. O FMI, ao invés de oferecer uma solução financeira ou econômica direta, trouxe um forte apoio político ao governo argentino. O tom elogioso do comunicado final da missão técnica destaca a gestão atual e atribui responsabilidades ao governo anterior. Caputo aproveita essa narrativa para justificar a dívida assumida como resultado do gasto excessivo.
Antes do acordo com o FMI, houve tentativas de obter financiamento externo, inclusive através de organismos internacionais. No entanto, essas iniciativas falharam, deixando Caputo com poucas opções para garantir uma injeção significativa de dólares na economia. Uma estratégia do governo está centrada na expectativa de dólares provenientes de uma colheita abundante em abril. No entanto, a gestão da dívida dos importadores e o controle da diferença entre o dólar oficial e o “dinheiro líquido” são preocupações persistentes.
A Argentina enfrenta um cenário desafiador, onde a busca por estabilidade econômica colide com questões sociais e políticas. O sucesso na implementação das medidas propostas determinará não apenas o relacionamento com o FMI, mas também a trajetória econômica e política do país nos próximos meses.
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