sábado, 20 de janeiro de 2024

Saudações fascistas ressurgem na Itália

Charge: Marilene Nardi/Cartoon Movement
Por Altamiro Borges


Na semana passada, a Folha noticiou sem maior alarde que “saudações fascistas durante ato em Roma voltam a expor ambiguidade de Giorgia Meloni. Gesto visto como apologia ao fascismo gerou onda de críticas à líder de ultradireita, que não se manifestou publicamente”. Já nesta quarta-feira (17), o mesmo jornal relata que o governo alemão está preocupado com o crescimento de grupos neonazistas no país e discute a possibilidade, inclusive, de banir o partido de extrema direita AfD (Alternativa para a Alemanha).

No caso italiano, centenas de fanáticos foram filmados fazendo a saudação romana, marca do período fascista no país (1922-1943), na noite de 7 de janeiro, após a realização de um ato em memória de três militantes de extrema direita mortos nos anos 1970. “A cena foi registrada na rua Acca Larentia, onde funcionou uma sede do antigo Movimento Social Italiano (MSI), partido criado em 1946 por integrantes dos últimos anos do regime fascista de Benito Mussolini”.

Cumplicidade de Giorgia Meloni

Como registra a matéria, “atos semelhantes de apologia do fascismo ligados a essa e a outras efemérides também foram registrados nos anos anteriores, antes da chegada ao poder do partido de ultradireita Irmãos da Itália. A sigla foi fundada pela atual primeira-ministra, Giorgia Meloni, que militou na seção juvenil do MSI na adolescência. Seu partido tem como logotipo a mesma chama tricolor utilizada pelo MSI”. Esses atos sempre tiveram a repulsa dos governos; agora, porém, houve silêncio e cumplicidade.

Líderes da oposição condenaram a volta das saudações fascistas. “Roma, 7 de janeiro de 2024. Mas parece 1924. As organizações neofascistas devem ser dissolvidas, como diz a Constituição”, postou nas redes sociais a deputada Elly Schlein, do Partido Democrático. A sigla apresentou um pedido de explicações ao governo, endereçado à primeira-ministra e aos ministros Matteo Piantedosi (Interior) e Carlo Nordio (Justiça).

Já o Movimento Cinco Estrelas anunciou que apresentará queixa ao Ministério Público para que seja apurada a existência do crime de apologia do fascismo. E o ex-premiê Matteo Renzi (Itália Viva) cobrou explicações. Mas, como registra a Folha, “desde antes de assumir o governo, em setembro de 2022, Giorgia Meloni resiste em condenar de forma explícita a participação de aliados e filiados do partido em atos que remetem ao período fascista, como a comemoração da Marcha sobre Roma”.

Grupos neonazistas e a força da AfD na Alemanha

No que se refere à Alemanha, o quadro também é gravíssimo e preocupante. Segundo a Folha, a hipótese do banimento da AfD “voltou a ganhar força no país europeu depois que uma reunião secreta entre membros da sigla e neonazistas veio à tona. O caso foi revelado no último dia 10 pela agência de jornalismo investigativo Correctiv, que mostrou que políticos da cúpula da AfD se reuniram com neonazistas do grupo ‘Movimento Identitário’ – oficialmente monitorado pela inteligência alemã como uma organização extremista de direita”.

No encontro, que ocorreu em novembro em um hotel no estado de Brandemburgo, os neonazistas discutiram um plano para deportar milhões de imigrantes. A revelação macabra motivou protestos em diversas cidades do país desde a semana passada. Na segunda-feira (15), mais de 25 mil alemães participaram de um ato contra o fascismo em Berlim. No dia seguinte, outro protesto reuniu dezenas de milhares em Colônia, no oeste do país. Já nesta quarta-feira, manifestantes foram às ruas novamente em Berlim para pedir a proibição da AfD.

Como explica a Folha, “o banimento de partidos políticos é previsto na Constituição alemã em casos de siglas que ameacem a democracia. Para que isso se efetive, o Executivo, o Legislativo ou o Conselho Federal – entidade que reúne os governadores estaduais –, precisam apresentar um pedido à Corte Constitucional com base em relatórios da inteligência interna do país, explica Rodrigo Cadore, jurista da Universidade de Freiburg”.

Embora a AfD só tenha pouco mais de 10% dos assentos no Parlamento, ela tem crescido nas pesquisas e já aparece em segundo lugar em algumas sondagens. Além disso, a sigla aparece à frente nas pesquisas em três estados que realizarão eleições para os Legislativos locais este ano – Saxônia, Turíngia e Brandemburgo.

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