segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Qual a origem do ódio do Estadão?

Reproduzo artigo de Marcelo da Silva Duarte, publicado no blog La Vieja Bruja:

Um editorial que poderia ter entrado para a história recente da democracia brasileira como exemplo de amadurecimento da liberdade de expressão, respeito ao processo eleitoral e à cidadania, acabou revelando todo o ódio de classe que a elite paulista nutre pelo projeto político petista para o Brasil.

Todo partido político tem direito a um projeto de governo. O PSDB de José Serra e Fernando Henrique Cardoso planejava, em 20 anos, fazer com que o Brasil esquecesse a era Vargas. Escolheu, para viabilizá-lo, a despeito do substantivo composto “social-democracia” em sua sigla, mero embuste semântico, o pensamento neoliberal.

O conceito de modernização com o qual o PSDB trabalhava nos anos FHC passava, necessariamente, pelas teses enunciadas pelo Consenso de Washington. O projeto tucano de desenvolvimento traduziu tal aparente consenso pela (i) estabilização macroeconômica via superávit fiscal, à custa do sucateamento dos serviços públicos, pela (ii) tentativa de realização das ditas reformas estruturais, traduzidas pelas (a) privatizações – que entregaram à iniciativa privada, diga-se de passagem, a preço de banana, a Vale do Rio Doce, destino do qual se safou, por pouco, a hoje primeira maior empresa petrolífera do mundo em lucro sobre faturamento, a Petrobras –, pela (b) redução do papel e da atividade normativa do Estado na economia – dinossauro ao qual recorreram, na recente bancarrota mundial, 9 entre 10 economistas antes neoliberais – e desregulamentação do mercado financeiro, a fim de atrair, pela terceira maior taxa de juros da economia mundial, o que também freava o consumo e mantinha a inflação sob controle, o capital especulativo internacional – grande responsável pela referida bancarrota –, e, por fim, pela (iii) retomada do investimento via iniciativa privada, donde a concentração de renda e de capital na mão de setores empresariais e a tentativa, incompleta, de quebra da coluna vertebral do sindicalismo via flexibilização das leis trabalhistas, o que praticamente anularia seu poder de barganha pela formação de um exército de mão-de-obra de reserva, a chamada “taxa natural” de desemprego.

A mídia oligárquica brasileira, no entanto, não viu maiores problemas na tentativa de continuidade, com José Serra, em 2002, do referido projeto, que, ao fim e ao cabo, ressuscitava a mítica “mão invisível do mercado”. Não se falou, em nenhum momento, em “paixão pelo poder”, no risco de se deixar “a máquina do Estado nas mãos de quem trata o governo e o seu partido como se fossem uma coisa só” e, muito menos, em “escolha dos piores meios para atingir seu fim precípuo: manter-se no poder”.

Ora, o Partido dos Trabalhadores tem tanto direito de escolher um projeto nacional quanto o PSDB. Esse projeto, ancorado, essencialmente, na (i) busca de uma política monetária capaz de equilibrar desenvolvimento e poder aquisitivo – nunca o Brasil cresceu e gerou tantos empregos formais quanto nos últimos oito anos, e nunca tantos cidadãos consumiram tanto -, na (ii) dignidade humana, através do resgate da cidadania via políticas públicas de inclusão social e distribuição de renda – nunca tantos cidadãos, antes condenados ao subemprego ou preteridos por raça, estudaram e prosperaram tanto, e nunca tantos cidadãos, antes condenados a viver abaixo da linha de pobreza, hoje possuem o básico para a conquista de sua autonomia –, na (iii) independência e no protagonismo de sua política externa e, sobretudo, no (iv) respeito ao Estado Democrático de Direito – nunca Imprensa, Legislativo, Polícia Federal e Judiciário, p. ex., foram tão respeitados quanto no governo Lula –, é tão legítimo quanto o tucano. E ele não só tem 80% de aprovação popular como, também, segundo as principais pesquisas, será reeleito, em primeiro turno, para um terceiro mandato.

Por que, então, tanta raiva? Qual a origem desse ódio, que vê na figura do Presidente “um chefe de Estado que despreza a liturgia que sua investidura exige e se entrega descontroladamente ao desmando e à autoglorificação”; que enxerga um chefe de Estado que, por supostamente “ignorar as instituições e atropelar as leis”, serve de mau exemplo à cidadania, este, por certo, se fosse o caso, um “mal a evitar”? Como o Estadão enxerga um mau exemplo num sujeito reeleito democraticamente e com 80% de aprovação popular, que mal consegue andar, onde quer que vá, mesmo em meio a uma dúzia de seguranças? Como um editorial pode ser tão estreito a ponto de sustentar que o objetivo maior do projeto político petista é assegurar “o bem-estar da companheirada”? Por que o Estadão não alertou o Brasil, em 2002, que o projeto de governo tucano objetivava perpetuar-se no poder a fim de assegurar “o bem-estar da tucanagem”?

A origem de tamanho rancor não pode ser, simplesmente, a falácia de que a democracia precisa ser oxigenada através da rotatividade no Poder. Se tal tese carregasse consigo alguma necessidade, não teríamos como livrar a humanidade da estupidez absoluta, uma vez que não haveria explicação para cada Estado Nacional não estampar, no primeiro artigo de sua Carta Máxima, a exigência de que nenhum partido político pudesse ocupar, por duas vezes seguidas, qualquer posição executiva, condão da prosperidade, da harmonia e do desenvolvimento. Sequer eleições seriam necessárias, uma vez que, nesse melhor dos mundos possíveis, bastaria, candidamente, estabelecer-se uma ordem sucessória entre os diversos postulantes aos cargos executivos. Tal como a “mão invisível do mercado” regula a economia e distribui, equitativamente, toda a riqueza produzida, assim agiria, na política, essa espécie de “democracia natural”.

Qualquer analista político é capaz de perceber, numa leitura superficial, que há qualquer coisa, no editorial do Estadão, mas menos uma defesa sistemática da candidatura de José Serra à Presidência da República. Com todo o peso da responsabilidade à qual nunca se subtraiu em 135 anos de lutas, os argumentos do Estado de São Paulo oscilam entre o nada – os supostos méritos do candidato José Serra -, coisa nenhuma – seu currículo exemplar de homem público – e o vazio absoluto – o que ele pode representar para a recondução do País ao desenvolvimento econômico e social pautado por valores éticos.

A verdadeira preocupação do Estadão, ao fim e ao cabo, reduz-se à bisonha e esotérica convicção “de que o candidato Serra é o que tem melhor possibilidade de evitar um grande mal para o País”.

Sim, pois “o que estará em jogo, no dia 3 de outubro, não é apenas a “continuidade de um projeto de crescimento econômico com a distribuição de dividendos sociais”, já que isso - algo que, estranhamente, as elites brasileiras não foram capazes de fazer em 500 anos – “todos os candidatos têm condições de fazer”. O que o eleitor decidirá de mais importante, segundo o Estadão, não é a continuidade ou não do projeto petista de desenvolvimento, mas sim “se deixará a máquina do Estado nas mãos de quem trata o governo e o seu partido como se fossem uma coisa só, submetendo o interesse coletivo aos interesses de sua facção”.

A defesa da candidatura Serra, ensaiada em meio parágrafo, portanto, perde-se num mar de generalidades, e tanto quanto os tímidos elogios às políticas públicas implementadas pelo atual governo – todas elas, diga-se de passagem, relacionadas à era FHC, e não méritos petistas –, desaparece diante do ódio destilado contra a possibilidade de continuidade, com Dilma Rousseff, do projeto petista de desenvolvimento. A impressão que fica não pode ser outra senão a de que a defesa da candidatura oposicionista serve de mero pretexto para o ataque raivoso ao projeto situacionista. Não se trata de um editorial a favor da candidatura José Serra, mas sim contra Lula, o PT e tudo que seu projeto possa representar.

O Estado de São Paulo tem todo o direito – até o dever, alguns dirão – de posicionar-se a favor da candidatura Serra e mesmo contra a petista, desde que apresente bons argumentos em nome da primeira e razoáveis em relação à segunda, uma vez que é público e notório que o projeto petista não é imune a críticas. Só não pode supor que um bom argumento passa, necessariamente, pela desqualificação alheia gratuita.

Do contrário, ao invés de respeito, não conseguirá nada além de transmitir a impressão de que trata o interesse público e seu interesse empresarial como se fossem uma coisa só, submetendo a democracia aos interesses de sua facção. Um jornal que despreza a liturgia que sua investidura exige ao personalizar o debate público e se entrega, descontroladamente, ao desmando e à autoglorificação, não faz mais do que ignorar as instituições e atropelar as leis, deste modo servindo de mau exemplo à cidadania. O Estadão parece ter feito a escolha dos piores meios para atingir seu fim precípuo: manter-se no poder ao lado de nossos velhos conhecidos da mídia oligárquica, desse modo garantindo o bem-estar da companheirada.

Este é o mal a evitar.

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Como lidar com governantes bem avaliados

Reproduzo artigo de Washington Araújo, publicado no Observatório da Imprensa:

É fato que as campanhas eleitorais, a partir do estabelecimento da democracia plena no país, vêm se profissionalizando de forma crescente. Pesquisa de opinião tem para todos os gostos. Pesquisa de opinião é registro do momento. Pesquisa de opinião quando não derruba o governo, derruba o político-alvo; e quando não derruba este derruba o instituto, fazendo seu haraquiri.

O público eleitor se acostumou a falar em pesquisa, a discutir seus resultados, a acompanhar a evolução de seus candidatos através da mídia. E também passou a desconfiar dos resultados sempre que seu candidato favorito mostrou "anemia numérica" ou, então, quando outros institutos concorrentes apresentaram números diferentes.

É fato também que pesquisas de opinião exercem influência na escolha dos eleitores. Principalmente entre o contingente dos indecisos. É que existe a possibilidade – muito real – de boa parte dos indecisos não apostar em candidatos perdedores, aquiescendo assim à pressão psicológica do "querer ganhar" e não "perder". Outro fator de não menos importância é que resultados de pesquisas eleitorais têm efeito direto sobre a militância: pode mobilizar ou desmobilizar esforços em favor ou em detrimento das candidaturas.

Avaliação dos presidentes

As pesquisas de opinião vieram para ficar e podemos elaborar algo como "pensar em política é pensar em pesquisa". Pois bem, aproveitando o atual período de 25 anos ininterruptos de democracia no Brasil resolvi ir fundo na leitura de pesquisas realizadas para aferir a popularidade nossos governos legitimamente constituídos pós-golpe militar de 1964, que durou até 1985.

Optei pelo Instituto Datafolha por considerá-lo o mais controvertido, ao menos nestas eleições presidenciais de 2010. Acontece que o Datafolha começou a aferir a popularidade presidencial apenas a partir de 1987, e daquele ano até agosto de 2010 realizou nada menos que 129 pesquisas de opinião pública. E descobri coisas interessantes quanto ao quesito popularidade bafejando (positivamente ou não) cinco cidadãos que nas urnas, à exceção de Itamar Franco, foram sagrados presidentes do Brasil: José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva.

Considerando apenas as pesquisas do Instituto Datafolha ficamos sabendo que:

* José Sarney foi avaliado em 9 pesquisas no período de maio/1987 a março/1990. Sua melhor avaliação "Ótimo/Bom" alcançou 11% da população em pesquisa de novembro/1987 enquanto que seu pior "Ruim/Péssimo" verificou-se em setembro/1989 quando obteve 68% de impopularidade.

* Fernando Collor foi avaliado em 7 pesquisas no período de maio/1990 a setembro/1992. Sua melhor avaliação "Ótimo/Bom" alcançou 71% da população em pesquisa de março/1990, enquanto que seu pior "Ruim/Péssimo" verificou-se em setembro/1989 quando obteve 68% de impopularidade.

* Itamar Franco foi avaliado em 17 pesquisas no período de setembro/1992 a dezembro/1994. Sua melhor avaliação "Ótimo/Bom" alcançou 41% da população em pesquisa de dezembro/1994, enquanto que seu pior "Ruim/Péssimo" verificou-se em maio/1994 quando obteve 38% de impopularidade.

* Fernando Henrique Cardoso (dois mandatos) foi avaliado em 46 pesquisas no período de março/1995 a dezembro/2002. Sua melhor avaliação "Ótimo/Bom" alcançou 47% da população em pesquisa de dezembro/1996, enquanto que seu pior "Ruim/Péssimo" verificou-se em setembro/1999 quando obteve 56% de impopularidade.

* Luiz Inácio Lula da Silva (dois mandatos) foi avaliado em 50 pesquisas no período de março/2003 a agosto/2010. Sua melhor avaliação "Ótimo/Bom" alcançou 79% da população em pesquisa de agosto/2010, enquanto que seu pior "Ruim/Péssimo" verificou-se em dezembro/2005 quando obteve 29% de impopularidade.

* José Sarney (68%), Fernando Collor (68%) e Itamar Franco (38%) registraram sua mais elevada taxa de desaprovação popular ao término de seu exercício da presidência.

* Fernando Henrique Cardoso concluiu seu segundo mandato com 26% de avaliação positiva e 36% de avaliação negativa, registrado em pesquisa de dezembro de 2002.

* Luiz Inácio Lula da Silva está concluindo seu segundo mandato (23-24/8/2010) com 79% de avaliação positiva e 4% de avaliação negativa.

* Das 7 pesquisas durante a presidência de Fernando Collor o alagoano pontuou acima de 50% de avaliação positiva apenas em março/1990, quando atingiu sua melhor marca: 71%. As demais obtiveram pontuação positiva sempre inferior a 37%.

* Luiz Inácio Lula da Silva registrou popularidade positiva acima de 50% em 19 das 50 pesquisas divulgadas pelo Datafolha. De 2007 a 2010 sua popularidade tem sido regularmente acima de 50 pontos e de janeiro a agosto de 2010 é avaliado positivamente por índices sempre acima dos 70% da população brasileira.

Dilemas e desatinos

Feitas estas considerações observo que nossa grande imprensa não sabe lidar com governantes muito bem avaliados, desses que conseguem ser bem aceitos por mais da metade da população e por longo período de tempo, de forma quase ininterrupta. É exatamente este o caso do presidente Lula. Na falta de experiência nesse trato a grande imprensa termina por polarizar com o governante, não necessariamente por nutrir o desejo de polarização, mas sim porque governante algum – tenha avaliação positiva de 99%, seja até canonizado santo enquanto no exercício do cargo público – está isento de erros, defeitos e tudo o mais que se aloja no organismo do poder político.

Há também um quê de inveja devido ao fato de que o governante bem aceito pela população veste suas opiniões com elevado grau de assertividade, e tudo o que faz ou tudo o que fala recebe imediata aprovação – mesmo que tácita – da população. Enquanto que a imprensa precisa conquistar corações e mentes de seus leitores, ouvintes e telespectadores quase que minuto a minuto, diariamente, semanalmente.

É esta popularidade do presidente Lula, inédita em nossa recente história política, que transforma o errado em certo, o nebuloso em claro, e que transmuta o que é escandaloso em coisa da mais corrente normalidade. A grande imprensa escala um Everest por dia, planta-lhe com redobrado esforço e em seu mais elevado píncaro a bandeira tremeluzente do mais recente escândalo político, financeiro ou de costumes. E aguarda a próxima pesquisa de opinião pública; quando esta chega, constata que o governante bafejado com índices de estonteante aceitação popular respondeu à sua hercúlea provocação midiática com um silencioso "dar de ombros"... e eis que a coisa fica por isso mesmo, registrando-se não mais que meros ajustes matemáticos.

Quando muito, o presidente cada vez mais cônscio de seu capital de liderança incontrastável, ataca essa mesma imprensa, aponta o que entende ser grosseira fábrica de manipulação político-partidária, coloca-lhe guizos no pescoço e, ao fim, festeja o fato que é a própria imprensa que repercute o petardo presidencial como também sua própria constatação de que não consegue forças na sociedade para expressar à altura sua desaprovação à fala do governante, sabendo já de antemão que qualquer coisa que faça receberá de boa parte da população a tarja de "defesa em causa própria" – e isto retira-lhe, mesmo que por vias oblíquas, a legitimidade para dar curso ao debate.

A grande imprensa paga o preço de não saber conviver com políticos bem avaliados pela população por longos períodos de tempo, e descobre a contragosto que os dilemas, desafios e desatinos das forças oposicionistas são também os seus dilemas, desafios e desatinos, sendo esses expressos em capas de jornais e revistas, apresentados em ritmo de funeral nos telejornais da noite, objeto de análises repetitivas e quase sempre sem qualquer brilhantismo por parte dos mais renomados comentaristas de política e economia do país.

Espaço ao contraditório

É como se a grande imprensa perguntasse: "Quo vadis?" Mas a resposta é incisiva: "Para Roma é que não é". Porque há que se deixar aos políticos a política e aos jornalistas, o jornalismo. Há que se refazer o caminho de volta... porque esse negócio de tomar para si a missão de oposição política – pois esta se encontra fragilizada – nada mais é que grosseira falsificação do papel da imprensa em um Estado democrático de direito.

É hora de deixar as bandeiras do partido no chão e voltar à prática do bom jornalismo: buscar a verdade, manter pura sua motivação desde a escolha da pauta até sua realização, investigar cada caso antes de publicar, conceder espaço ao contraditório, deixar ao público a formulação de juízos de valor.

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domingo, 26 de setembro de 2010

José Dirceu e o "vale tudo da imprensa"



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Liberdade de imprensa e imprensa liberta

Reprodução artigo de Sylvio Micelli, publicado em seu blog:

A chamada grande mídia está com medo. Vê, paulatinamente, ruir seus alicerces antiquados, nepotistas e reacionários. Prova disso, é a capa da Revista Veja desta semana, a mais conservadora delas. Com o título "A Liberdade sob ataque" chega até a reproduzir artigos da Constituição Federal que só são cumpridos quando há o interesse de fazê-lo.

Afinal de contas, que imprensa a revista acredita que querem calar? Esta, embolorada e viciada que está aí e da qual Veja faz parte ou a nova imprensa, que nasceu com a liberdade dos blogues e das redes sociais?

Durante a faculdade (apenas para os diplomados, claro...) somos ensinados a crer que a prática do bom jornalismo passa, necessária e invariavelmente, pela isenção, pela ética e pela moral. Aprendemos que sempre devemos ouvir os dois ou mais lados da questão e que nossa missão é formar opiniões para salvaguardar o direito da sociedade em receber uma informação clara, pura, translúcida. Isso seria, ao menos em tese, bom para o cidadão e ótimo para o País.

Na prática, porém, como todos sabemos, a teoria é outra.

A revista Veja e os velhos jornalões - agora reduzidos a três (Folha de S.Paulo, O Estado de São Paulo e O Globo) - insistem numa pseudo-liberdade de imprensa que eles não exercem. As notícias e opiniões sempre são dirigidas a interesses diversos que não são os mesmos da sociedade. Querem pautar a população com informações enviesadas que, sabidamente, tendem apenas a manter o establishment e nada oferecem de concreto para esta sociedade. Parecem que não aprenderam as lições com a ascenção e queda de Collor, e tantos outros "pés pelas mãos" cometidos ao longo da história.

Passei, recentemente, pela maior greve do funcionalismo público de São Paulo. A minha categoria - Judiciário Estadual - paralisou as atividades por 127 dias. As notícias (poucas) que saíram na tal da grande mídia eram ácidas, críticas e quando ouviam-nos, já vinham com a pauta pronta sequiosos pelas respostas que combinavam com o texto que necessitavam fazer. Registre-se, aqui, que houve uma ou outra exceção (até para justificar a regra).

Nesta semana, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo com seu histórico Auditório Vladimir Herzog, foi palco de um ato promovido pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, entidade da qual sou membro do Conselho Consultivo (ainda que ausente por tantos compromissos). O ato, que reuniu quase mil pessoas, é prova irrefutável de que algo está errado com esta mídia em estado de obsolescência.

É óbvio, que a grande mídia não soube assimilar o golpe. Prefere um reducionismo tolo ao afirmar que o ato é político-partidário com infiltrações de diversas organizações sociais ou aquilo que a Veja acredita ser o "Petismo". E é, justamente aí, que as revistas e jornais anacrônicos erram. Politizam, partidariamente, o que não é para politizar. Defendem seus candidatos e interesses tratorando as lições do bom jornalismo.

Pois bem. Não sou petista. Nem mesmo sou alinhado a muitos dos dogmas do Partido dos Trabalhadores, em que pese reconhecer sua importância na política nacional. Meus candidatos, há mais de duas décadas, raramente são eleitos, porque voto em pessoas e não em partidos. Ou seja: nem de longe faço parte do "Petismo" e, além de mim, há milhares de colegas que analisam a mídia sob uma nova ótica.

Será Erenice Guerra corrupta? Seus parentes idem? Oras... todos foram dispensados e ponto final. Que a Receita Federal, Polícia Federal e todas as instituições envolvidas investiguem e apontem culpados. Mas este, e outros casos, são usados como moeda de troca no circo eleitoral. Ao tomar partido, a velha mídia erra e abre, cada vez mais espaço, para a mídia alternativa que tenho orgulho em pertencer.

Esta nova imprensa nasce liberta. E alguns, mais cáusticos, hão de dizer: "não é liberta... também defende seus interesses..." Pois bem. A mídia alternativa, amparada por blogues e redes e organizações sociais diversas, nasce para ser o contraponto, nasce para restabelecer o equilíbrio, nasce para mostrar o outro lado que a velha mídia esqueceu nas lições do jornalismo isento e imparcial.

Atenção, barões da mídia: a extinção da versão impressa do Jornal do Brasil (o quarto jornalão histórico de nosso País) não foi um caso isolado. Há ainda muita letra a passar pela rotativa. Quem viver, verá.

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Plataforma para democratizar a comunicação

Reproduzo a plataforma elaborada pela Frente Paulista pelo Direito à Comunicação e a Liberdade de Expressão, que visa coletar a adesão dos candidatos às eleições de 2010:

Considerando a importância:

• Do fortalecimento de uma mídia plural e democrática, que reflita a diversidade brasileira;

• Do acesso da população à informação e à produção de comunicação e cultura;

• Da garantia da liberdade de expressão e do direito à comunicação para todos e todas;

• E da participação popular na construção de políticas públicas para o setor;

Nós, candidatos ao governo de São Paulo, ao Congresso Nacional e à Assembléia Legislativa de São Paulo nos comprometemos a:

1. Defender a regulamentação dos artigos 220, 221 e 223 da Constituição Federal, que tratam da proibição de monopólios e oligopólios; das finalidades da programação das emissoras de rádio e TV, incluindo a regionalização da produção de conteúdo; e da complementaridade entre os sistemas público, privado e estatal;

2. Promover uma regulação democrática e participativa das concessões públicas de radiodifusão;

3. Apoiar a regulamentação do direito de resposta;

4. Defender a regulamentação da veiculação de publicidade dirigida às crianças, de acordo com a Constituição Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Código de Defesa do Consumidor;

5. Lutar pela criação do Conselho Nacional de Comunicação, bem como Conselhos Municipais, Estaduais e Distrital, como órgãos reguladores das comunicações, formados por representantes do poder público, dos empresários e da sociedade civil;

6. Defender políticas públicas que garantam o exercício do direito à comunicação da população;

7. Apoiar o desenvolvimento de políticas de incentivo à pluralidade e à diversidade na mídia;

8. Contribuir para o fortalecimento das mídias livres, independentes, alternativas, populares e comunitárias;

9. Apoiar o desenvolvimento de políticas de apoio e incentivo às rádios comunitárias, combatendo sua criminalização;

10. Defender políticas de fomento à produção de conteúdos destinados ao público infanto-juvenil;

11. Lutar pelo desenvolvimento e implementação de recursos de acessibilidade para pessoas com deficiência nos meios de comunicação;

12. Propor a inserção nos parâmetros curriculares do ensino fundamental e médio conteúdos específicos de educação para a mídia, incluindo a temática dos direitos humanos, e a disciplina de educomunicação;

13. Denunciar e combater as violações dos direitos humanos praticadas pelos meios de comunicação;

14. Defender o acesso à internet e à banda larga como direito, ampliando as políticas de inclusão digital.

Comprometemo-nos ainda a estar em permanente diálogo com as organizações da sociedade civil, movimentos sociais, sindicatos, comunicadores(as) populares, jornalistas, radialistas, estudantes e ativistas da mídia comunitária, livre e alternativa do Estado de São Paulo para o desenvolvimento de ações conjuntas em prol da realização destes compromissos.

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A Frente Paulista pelo Direito à Comunicação e a Liberdade de Expressão (Frentex) é uma articulação que reúne sindicatos, associações civis, rádios comunitárias, imprensa alternativa, movimento populares e organizações da sociedade civil. A plataforma é uma iniciativa para incluir no debate eleitoral o tema do direito à comunicação e a liberdade de expressão, ainda pouco abordado pela maior parte das candidaturas. Ela foi responsável, junto com a Assembléia Legislativa, pela organização e realização da etapa estadual da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), e é composta pelas seguintes entidades:

ABRAÇO - SP • ALTERCOM – Associação Brasil de Empresas e Empreendedores em Comunicação • Aliança Internacional de Jornalistas • AMARC - Associação Mundial de Rádios Comunitárias • AMEJAEB - Associação dos Moradores e Empreendimentos do Jardim Educandário e Butantã • Artigo 19 • Associação Vermelho • Blog da Audiodescrição • Campanha pela Ética na TV - SP • CEDISP - Comitê pela Educação e a Democratização da Informática/SP • CEERT - Centro de Estudos das Relações do Trabalho e Desigualdades • Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé • Centro Camará de Pesquisa e Apoio à Infância e Adolescência • Cidadania e Saúde • Ciranda da Informação Independente • CNTQ - Confederação Nacional dos Trabalhadores Químicos • CONEN/SP - Coordenação Nacional de Entidades Negras/SP • Conselho Regional de Psicologia - SP • Enecos - Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social • Escola de Governo de São Paulo • Escritório Modelo "Dom Paulo Evaristo Arns" - PUC/SP • FLO - Friends of Life Organization • Força Sindical • Fórum Centro Vivo • Fórum Estadual de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente - SP • Geledés - Instituto da Mulher Negra • Grêmio Ágora da Escola da Vila • Grupo Tortura Nunca Mais/SP • Ilê Asé Orisá Dewi • Instituto Alana • Instituto CEPODH - Centro Popular de Direitos Humanos • Instituto Gens de Educação e Cultura • Instituto Oromilade • Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social • LBL - Liga Brasileira de Lésbicas • Movimento Novos Praianos • Movimento Sindicato É Pra Lutar • Observatório da Mulher • Primado do Brasil - Organização Federativa de Umbanda e Candomblé do Brasil • Projeto Cala-boca já morreu • PROTESTE Associação de Consumidores • Rede Brasil Atual • Revista Debate Socialista • Revista Viração • Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região • Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo • Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes • Sindicato dos Radialistas no Estado de São Paulo • Tenda de Umbanda Luz e Verdade • Tribunal Popular: o estado brasileiro no banco dos réus • Tupã Oca do Caboclo Arranca Toco • UNEGRO/SP - União de Negros Pela Igualdade de São Paulo • União Brasileira de Mulheres • União dos Movimentos de Moradia-SP • UPES-SP União Paulista dos Estudantes Secundaristas

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O que pode acontecer de “última hora”?

Reproduzo artigo de Marcos Coimbra, publicado no jornal Correio Braziliense:

Neste domingo, a apenas uma semana da eleição presidencial, temos uma parte menor do sistema político, uma parte importante (mas minoritária) da sociedade e a maioria da “grande imprensa” em torcida animada para que a “última hora” faça com que os prognósticos a respeito de seu resultado não se confirmem.

É natural que todos os candidatos, salvo Dilma, queiram que alguma reviravolta aconteça. Os três partidos que dão apoio a Serra, o PV de Marina Silva, os pequenos partidos de esquerda, todos torcem pelo “fato novo”, a “bala de prata”, algo que a golpeie. Do outro lado, a ampla coligação que Lula montou para sustentar sua candidata (e que formará, ao que tudo indica, a maioria do próximo Congresso) espera que nada altere o quadro.

Hoje, Dilma lidera em todas as regiões do país, jogando por terra as análises que imaginavam que as eleições consagrariam um fosso entre o Brasil “moderno” e o “atrasado”. Era o que supunham aqueles que leram, sem maior profundidade, as pesquisas, e acreditavam que Serra sairia vitorioso no Sul e no Sudeste, ficando com Dilma o voto do Nordeste, do Norte e do Centro-Oeste. Não é isso que estamos vendo.

Ela deve vencer em todos os estados, em alguns com três vezes mais votos que a soma dos adversários. Vence na cidade de São Paulo, na sua região metropolitana e no interior do estado. Lidera o voto das capitais, das cidades médias e das pequenas. É a preferida dos eleitores que residem em áreas rurais.

As pesquisas dão a Dilma vantagem em todos os segmentos socioeconômicos relevantes. É a preferida de mulheres e homens (sepultando bobagens como as que ouvimos sobre as dificuldades que teria para conquistar o voto feminino), de jovens e velhos, de negros e brancos. Está na frente entre católicos, evangélicos, espíritas e praticantes de religiões afro-brasileiras.

Vence entre pobres, na classe média e entre os ricos (embora fique atrás de Serra entre os muito ricos). Lidera entre beneficiários do Bolsa Família e entre quem não recebe qualquer benefício do governo. Analfabetos e pessoas que estudaram, do primário à universidade, votam majoritariamente nela.

É claro que sua candidatura não é uma unanimidade. Existe uma parcela da sociedade que não gosta dela e de Lula, que nunca votou e que nunca votará em alguém do PT. São pessoas que até toleram o presidente, que podem achar que é esperto e espirituoso, que conseguem admirar aspectos de seu governo. Mas que querem que Dilma perca.

Se, então, Dilma reúne ampla maioria no eleitorado e apoios majoritários no sistema político, o que seria a “última hora”? O que falta acontecer, de hoje a domingo?

Formular a pergunta equivale a considerar que o eleitorado ainda não sabe o que vai fazer, que aguarda a véspera para se decidir. Que “tudo pode mudar”.

É curioso, mas quem mais acredita que os outros são volúveis são os mais cheios de certezas, os mais orgulhosos de suas convicções. Mas acham que o cidadão comum (o “povão”) é diferente, que é incapaz de chegar com calma a uma decisão pensada e madura.

É fato que sempre existe uma parcela do eleitorado que permanece indecisa até o final. Já vimos, em eleições anteriores, que ela pode oscilar, saindo de uma candidatura e indo para outras. Conforme o caso, sua movimentação pode provocar resultados inesperados, como ocorreu com o segundo turno em 2006.

Mas aquelas eleições também mostram como acontecem esses fenômenos de “última hora”. Nelas, a única coisa que um quase uníssono da “grande imprensa” contra a candidatura Lula conseguiu fazer foi assustar os eleitores mais frágeis, com baixa informação e baixo interesse por política. Os dados indicam que os eleitores mais informados e com alto e médio interesse em nada foram afetados pela artilharia da mídia (assim como os sem nenhum, que nem ficaram sabendo que havia “aloprados”).

Ou seja: aquela gritaria só fez com que as pessoas mais inseguras a respeito de suas escolhas ficassem confusas, ainda que apenas por alguns dias. Mal começou a campanha do segundo turno, Lula reassumiu as rédeas da eleição e avançou sem problemas até a consagração no final de outubro. É como o título daquela comédia: “Muito barulho por nada”.

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O noticiário e a "corrida de dez dias"

Reproduzo crônica de Luis Fernando Veríssimo, publicada no jornal O Globo:

De hoje à data da eleição teremos dez dias de manchetes nos jornais e duas edições da Veja.

Não sei até quando podem ser publicadas as pesquisas sobre intenção de voto, mas até a última publicação - aquela que, segundo os céticos, é a mais confiável, pois é a que garante a credibilidade e o futuro dos pesquisadores - veremos uma corrida emocionante: o noticiário perseguindo os índices da Dilma para tentar derrubá-los antes da chegada, no dia 3.

O prêmio, se conseguirem, será um segundo turno. Se não conseguirem a única dúvida que restará será: se diz a presidente ou a presidenta?

Até agora as notícias de corrupção na Casa Civil não afetaram os índices da Dilma.

Estou escrevendo na terça, talvez as últimas pesquisas mostrem um efeito retardado.

Mas ainda faltam dez dias de manchetes e duas edições da Veja, quem sabe o que virá por aí?

O governo Lula tem um bom retrospecto na sua competição com o noticiário.

A popularidade do Lula não só resistiu a tudo, inclusive às mancadas e aos impropérios do próprio Lula, como cresceu com os oito anos de denúncias e noticiário negativo.

Desde UDN x Getúlio nenhum presidente brasileiro foi tão atacado e denunciado quanto Lula.

Desde sempre, nenhum presidente brasileiro acabou seu mandato tão bem cotado.

Acrescente-se ao paradoxo o fato de que o eleitorado brasileiro é tradicionalmente, às vezes simplisticamente, moralista.

Elegeu Jânio para varrer a sujeira do governo Juscelino, elegeu Collor para acabar com os marajás, aplaudiu a queda do Collor por corrupção presumida e houve até quem pedisse o impedimento do Itamar por proximidade temerária com calcinha transparente.

Mas o moralismo tornou-se politicamente irrelevante com Lula e, por tabela, para os índices da Dilma.

É improvável que volte a ser decisivo em dez dias. Mas nunca se sabe.

O que talvez precise ser revisado, depois dos oito anos do Lula e depois destas eleições, quando a poeira baixar, seja o conceito da imprensa como formadora de opiniões.

Mas a corrida dos dez dias começa hoje e seu resultado ninguém pode prever com certeza.

Virá alguma bomba de fragmentação de última hora ou tudo que poderia explodir já explodiu?

O que prevalecerá no final, os índices inalterados da Dilma ou o noticiário?

Faça a sua aposta.

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Quem tem medo da democracia?

Reproduzo artigo de Emir Sader, publicado no sítio Carta Maior:

O momento mais trágico da história brasileira – o do golpe de 1964 e da instauração do pior regime político que o Brasil já teve, a ditadura militar – foi o momento da verdade da democracia. O momento revelou quem estava a favor e quem estava contra a democracia. E quem pregava e apoiava a ditadura. Foi um divisor definitivo de águas. O resto são palavras que o vento leva. A posição diante da ditadura e da democracia, na hora em que não havia outra alternativa, em que a democracia estava em risco grave – como se viu depois - foi decisiva para definir quem é democrata e quem é ditatorial no Brasil.

Toda a velha imprensa, que segue ai – FSP, Globo, Estadão, Veja – pregou e apoiou o golpe militar, compactuou com a destruição da democracia no Brasil e enriqueceu com isso. Compactuou inclusive com a destruição da Última Hora, o único jornal que sempre resistiu à ditadura. O mesmo aconteceu com a maior parte da elite política da época - uma parte da qual ainda anda por aí, quase todos dando continuidade ao mesmo papel de inimigos da democracia, mesmo se disfarçados de democratas.

A história contemporânea é continuação daquela circunstância e da ditadura que ela instaurou. Se o amplo apoio ao governo Lula provêm, no essencial, em ter, pela primeira vez, diminuído a desigualdade, a injustiça e a exclusão social no Brasil, isto se deve, em grande parte, à monstruosa desigualdade que o modelo implantado pela ditadura – fundado na liberdade total ao capital e no arrocho dos salários, acompanhado da intervenção em todos os sindicatos – promoveu.

Da mesma forma que a polarização atual da política brasileira se centra de novo em torno da alternativa democracia/ditadura. Como naquela época, ambos os lados dizem falar em nome da democracia. Como naquela época, toda aquela imprensa e parte da elite política tradicional, falam da democracia – que eles mesmos ajudaram a massacrar ao pregar e apoiar a instauração da ditadura no Brasil –, mas representam a antidemocracia, representam os interesses tradicionais das elites, que resistem à imensa democratização por que passa o Brasil.

O golpe de 1964 foi realizado para evitar a continuidade de um processo de ampla democratização por que passava o Brasil. A política econômica do governo Jango, a extensão da sindicalização – aos funcionários públicos, aos trabalhadores rurais -, as lutas populares por mais direitos, o começo de reforma agrária, incorporavam crescentes setores populares a direitos essências. Mas isso não era funcional aos interesses das elites dirigentes, comprometidas com interesses econômicos voltados para o consumo das camadas mais ricas da sociedade – a indústria automobilística era o eixo da economia – e para a exportação, em detrimento do mercado interno de consumo popular.

O golpe e a ditadura militar fizeram um mal profundo para o Brasil, mas favoreceram o capitalismo fundado nas grandes corporações nacionais e internacionais, que lucraram como nunca – entre elas os próprios grupos econômicos da mídia. A gritaria de que a democracia estava em perigo, em 1964, serviu para acobertar a ditadura e o regime mais antipopular que já tivemos.

Agora o quadro se repete, já não mais como tragédia, mas como farsa. Vivemos de novo um processo de ampla e profunda democratização da sociedade brasileira. Dezenas de milhões de brasileiros, que nunca haviam tido acesso aos bens mínimos à sobrevivência, adquirem o direito de tê-los, para viver com um mínimo de dignidade. O mercado interno de consumo popular passou a ser elemento integrante essencial do modelo econômico.

A sociedade brasileira, que era a mais desigual da América Latina - que, por sua vez, é o continente mais desigual do mundo -, pela primeira vez, começou a ser menos desigual, menos injusta. Isso incomoda às elites conservadoras brasileiras. Já não podem dispor do Estado brasileiro – e das empresas estatais – como sempre dispuseram. Os donos de jornais, rádios e TVs, já não têm um presidente da república que almoce e jante com eles, com todas as promiscuidades decorrentes daí.

Sentem que o poder se lhes escapa das mãos. Que um presidente – nordestino e operário de origem – conquistou um prestigio e um apoio popular, apesar deles. Tem medo do povo. Quando se dão conta da democratização que começou a acontecer, logo retomam os seus fantasmas da guerra fria e gritam que a democracia está em perigo, quando o que está em perigo são os seus privilégios.

São os mesmos que confundiam seus privilégios com democracia – porque assimilavam democracia com regime que protegia seus interesses -, que agora tem medo da democracia, porque sentem que perdem privilégios. Privilégios de serem os únicos formadores de opinião publica, de serem os que filtravam quem podia ocupar a presidência republica e os outros cargos públicos importantes. Privilégios de terem acesso exclusivo a viajar, a comprar certos bens, a ir ao teatro. Privilégios de decidir as políticas governamentais, de eleger e destituir presidentes.

O que está em perigo são os privilégios das minorias. O que está em desenvolvimento no Brasil é o mais amplo processo de democratização que o país já conheceu. Um processo que apenas começa, que tem que quebrar o monopólio do dinheiro (poder do capital financeiro), da terra (poder dos latifundiários) e o poder da palavra (poder da mídia monopolista), entre outros, para que nos tornemos realmente um país justo, solidário e soberano.

Quem tem medo da democracia? As elites que sempre detiveram privilégios, que agora começam a perdê-los. O povo, os que têm consciência social, democrática, não tem nada a temer. Tem um mundo – o outro mundo possível – a ganhar.

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Resposta aos barões da imprensa paulista

Reproduzo artigo de Eduardo Guimarães, publicado no Blog da Cidadania:

Dois dos maiores jornais do país tomaram uma decisão que, quando a história deste período for contada, explicará a decadência em que mergulharam aqueles que serão lembrados como “barões da imprensa”. Em 26 de setembro de 2010, os periódicos anunciaram, em editoriais, as suas respectivas posições políticas, ambas de confronto com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Os jornais O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo surgiram em um Brasil que não existe mais. Naquele país-fazenda, ribombavam as vozes das famílias que os fundaram e que os tornaram multimilionários à custa do Estado, dos favores de governos amigos, alguns alçados ao poder por meio de ruptura da ordem constitucional que esses veículos apoiaram.

O Estado de São Paulo nasceu em 1875, sendo batizado como A Província de São Paulo. O jornal foi impulsionado pela venda avulsa. Um imigrante francês chamado Bernard Gregoire saía a cavalo pelas ruas da capital paulista soprando uma corneta e vendendo exemplares. A imagem do vendedor trombeteando em seu cavalo tornar-se-ia símbolo do jornal.

Em 1964, o jornal paulista, agora rebatizado como O Estado de São Paulo, perfilou-se à União Democrática Nacional (UDN) de Carlos Lacerda, fazendo oposição cerrada ao então presidente João Goulart. Dois anos antes do golpe, o diretor do jornal, Júlio de Mesquita Filho, redigiu o “Roteiro da Revolução”, editorial em que exortava a oposição civil a se unir aos militares, então chamados de “partido fardado”, que desde o limiar da República interferia na política.

Em 1964, o jornal O Estado de São Paulo pediria e apoiaria o golpe militar e a eleição indireta de Castello Branco. Em 1º de abril daquele ano, publicou texto de apoio à derrubada de João Goulart fazendo uma relação entre aquele momento político e o da Revolução Constitucionalista de 1932.

O jornal paulista só romperia com a ditadura quatro anos depois do golpe. Em 1968, com a sua redação ocupada por censores do regime, publicou editorial que seria censurado por meio de apreensão de seus exemplares que chegavam às ruas. A família Mesquita descobriria, então, que quando se viola a democracia nem os que ajudaram a fazê-lo podem se considerar a salvo dos chefes violadores.

A Folha de São Paulo, por sua vez, nasceu em 1921, 46 anos depois do Estadão. Então batizada como “Folha da Noite”, era dirigida por Olival Costa e Pedro Cunha. Durante a revolução de 1930, foi fechada por reação popular, que empastelou o jornal.

Voltou a funcionar em 1931 com novos donos e nova linha editorial, sob o nome de Folha da Manhã. Era dirigida por Alves de Lima, Diógenes de Lemos Azevedo, Guilherme de Almeida e Rubens do Amaral. Em 1962, o jornal foi vendido a Carlos Caldeira Filho e Octavio Frias de Oliveira e rebatizado como Folha de São Paulo.

Tal qual o Estadão, a Folha também apoiou o golpe militar de 1964 e a ditadura que estava sendo implantada no Brasil. Segundo o colunista Elio Gaspari, chegou a emprestar veículos para transporte de presos. Isso mesmo, o jornal que fala em censura à imprensa fez parte da estrutura de assassinato e tortura dos ditadores de plantão.

O apreço pela ditadura era tanto que em 1971, durante o governo do general-presidente Ernesto Geisel, o jornal publica editorial, assinado por Octavio Frias de Oliveira, que definia assim o governo ditatorial:

“(…)Um governo sério, responsável, respeitável e com indiscutível apoio popular, está levando o Brasil pelos seguros caminhos do desenvolvimento com justiça social – realidade que nenhum brasileiro lúcido pode negar, e que o mundo todo reconhece e proclama (…)”.

Hoje, sabe-se que a maior vítima da ditadura militar foi justamente a justiça social. Foi durante a ditadura, que Frias defendeu com tanto ardor, que o Brasil chegou a ser um dos cinco países com maior concentração de renda no mundo, perdendo a primeira colocação apenas para países africanos miseráveis.

A tomada de posição política em relação ao governo Lula que esses jornais publicaram em suas edições de 26 de setembro de 2010 – tendo a Folha publicado o texto em sua capa –, em pretensa resposta à crítica do presidente da República a uma conduta partidarizada desses veículos, vem sendo desprezada por uma maioria esmagadora da sociedade, como revelam as pesquisas de opinião sobre este governo e sua candidata.

Em todos os níveis de escolaridade, em todas as faixas etárias, em todas as regiões do país – com exceção, apenas, entre os mais ricos –, os brasileiros, em maioria avassaladora, ignoram as diatribes diárias desses jornais contra o governo mais respeitado – nacional e internacionalmente – e popular da história deste País. Suas denúncias contra um só lado são ignoradas, e o Brasil caminha para dar uma vitória histórica à candidata que rejeitam.

Todavia, há que fazer uma distinção entre as posturas adotadas pelo Estadão e pela Folha. Enquanto que o primeiro, como que atendendo a exortação do presidente da República, finalmente sai do armário, deixando claro, de forma tardia, que tem candidato, exatamente como o chefe da nação disse que tinha, o segundo continua tentando se esconder sob uma imparcialidade na qual só os seus controladores e empregados bajuladores dizem acreditar.

Por mais que os argumentos do Estadão para justificar que tenha se convertido em cabo eleitoral de José Serra sejam questionáveis e não resistam à menor exposição àquele contraditório que o jornal censura furiosamente, seus controladores não têm descido ao nível da família Frias.

Entre todas as barbaridades praticadas pela Folha, algumas das quais já lhe renderam sucessivas condenações na Justiça, uma delas jamais encontrou paralelo na dita “grande imprensa” nacional. O jornal publicou em sua primeira página a falsificação de uma ficha policial de Dilma Rousseff, adversária do candidato extra-oficial do veículo, José Serra.

A Folha publicou em sua primeira página o conteúdo de um e-mail apócrifo, sem ter verificado absolutamente nada sobre a veracidade do documento. Tanto é que, depois do malfeito, escreveu nota de esclarecimento dizendo que não tinha elementos para negar ou confirmar a veracidade de uma falsificação contra uma ministra de Estado que publicou em seu espaço de maior visibilidade, na primeira página.

Em seu editorial de 26 de setembro de 2010, em que reafirma ser “isenta”, a Folha chega a “advertir” o presidente da República e sua candidata de que não aceitará que tentem “censurar” a imprensa, esgrimindo com cláusula pétrea da Constituição que versa sobre liberdade de expressão. O Estadão vai pela mesma linha de confronto com este governo por ter as mesmas inclinações antidemocráticas que o seu congênere, ainda que tenha mais caráter.

Ambos, porém, carregam o suplício de inocentes em seus currículos fétidos. Sob essa trajetória conspurcada por um apreço patético e degenerado pelo estupro do Estado Democrático de Direito que Estadão e Folha agora se arvoram em sentinelas da democracia. E é por esse cinismo atroz que esses jornais terminarão na lata de lixo da história.

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Serra, Aloysio e a omissão da mídia

Reproduzo artigo de Cláudio Gonzalez, publicado no blog Papillon:

Funcionário de alto escalão do governo, com ligações íntimas com a Casa Civil, coleciona problemas com a Justiça. Primeiro, foi acusado de receber propinas de empreiteiras, depois teria embolsado R$ 4 milhões que seriam destinados à campanha eleitoral e, para fechar literalmente com chave de ouro, foi flagrado receptando uma jóia roubada. Esta parece ser mais uma “pauta” da Veja contra o governo Lula, mas não é. Os personagens desta história são reais, são paulistas, ligados ao PSDB.

O protagonista principal da história é Paulo Vieira de Souza, ex-diretor da Dersa e amigo íntimo do tucano candidato ao Senado Aloysio Nunes Ferreira, ex-chefe da Casa Civil paulista no governo Serra. A Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A) é uma estatal paulista responsável por algumas das principais obras viárias do País, entre elas o Rodoanel, empreendimento de mais de R$ 5 bilhões, e a ampliação da marginal Tietê, orçada em R$ 1,5 bilhão – ambas verdadeiros cartões-postais das campanhas do partido.

O DNA tucano dos envolvidos explica porque este escândalo de proporções muito maiores que as acusações pífias feitas contra Erenice Guerra nunca foram parar no Jornal Nacional. A grande mídia simplesmente não toca no assunto, pois sabe que por trás das suspeitas há nitroglicerina pura que pode explodir com a credibilidade de Serra e seus aliados.

Vamos aos fatos:

Segundo a revista Veja – ela mesmo, quem diria – como diretor de Engenharia do Dersa, Paulo Vieira de Souza, também conhecido pelos apelidos de Paulo Preto e Negão, foi responsável pelas grandes obras viárias do governo de São Paulo nos últimos três anos. Seu trabalho lhe rendeu, em dezembro de 2009, o prêmio de profissional do ano do Instituto de Engenharia de São Paulo. Em 1º de abril de 2009, ele festejou a inauguração do trecho sul do Rodoanel. Oito dias depois, no entanto, foi demitido de seu cargo. A decisão da cúpula da Dersa foi unânime. A nota no Diário Oficial, publicada no dia 21 de abril, não informa a causa da exoneração – e a assessoria de imprensa da empresa afirma apenas que foi uma “decisão de governo”. Mas razões extra-oficiais não faltam.

Vieira de Souza aparece em uma série de documentos apreendidos pela Polícia Federal na Operação Castelo de Areia, que investigou a empreiteira Camargo Corrêa entre 2008 e 2009. Pelo menos quatro desses documentos trazem indícios de que o engenheiro era destinatário de propinas da construtora. Um dos papéis mostra quatro pagamentos mensais de 416.500 reais, com data inicial de 20 de dezembro de 2007. A Castelo de Areia foi suspensa, em janeiro deste ano, por uma liminar do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Vieira de Souza, estranhamente, não foi indiciado na primeira fase da operação, e talvez nunca venha a ser. Mas, em ano eleitoral, tornou-se um “homem-bomba”.

Ele tem estreitas ligações políticas e pessoais com Aloysio Nunes Ferreira Filho, ex-secretário da Casa Civil de São Paulo e candidato do PSDB-SP ao Senado. Vieira de Souza e Aloysio se conhecem há mais de 20 anos. Quando, no ano passado, o tucano sonhou em ser o candidato de seu partido ao governo de São Paulo, Vieira de Souza foi apresentado como seu “interlocutor” junto ao empresariado. A proximidade entre os dois é tão grande que a família dele contribuiu para que o ex-secretário comprasse seu apartamento.

A filha do engenheiro, a advogada Priscila Arana de Souza, e sua mãe, Ruth de Souza, fizeram um empréstimo de 300.000 reais ao tucano — dos quais a advogada arcou com 250.000 reais, conforme revelou o jornal Folha de S.Paulo em dezembro. “A filha dele me emprestou um dinheiro para eu comprar um imóvel, pois eu queria fechar negócio e não podia esperar sair o financiamento do banco. Paguei à Priscila no ano passado mesmo, em três ou quatro prestações. Tenho meus cheques todos registrados. Está tudo correto e documentado”, diz Aloysio.

A assessoria do ex-secretário enviou uma relação de seis cheques de três bancos diferentes, relacionados ao pagamento da dívida. Cinco deles são de 2008: dois no valor de 50.000 reais, um no valor de 60.000 reais, um de 81.000 reais e o último, de 19.000 reais. Há também um cheque de 50.000 reais de maio de 2009.

Na versão de Aloysio, a demissão do amigo Vieira de Souza até parece voluntária. “Ele pretendia deixar o governo após a inauguração do Rodoanel”, diz. “Foi inaugurado e ele saiu.” Souza é mais duro ao falar do assunto. Atribui a demissão a atritos causados pelo seu estilo de trabalho, de dura cobrança de prazos. “Sempre disse que o Rodoanel tinha dia e hora para acabar. E isso incomoda”, afirma. “Mas não importa. O Brasil inteiro sabe que o protagonista do Rodoanel fui eu. Não faz diferença se estou dentro ou fora do governo.” O engenheiro rebate a tese de que sua exoneração poderia estar ligada às investigações sobre a Camargo Corrêa. “Não tem nada contra mim na Operação”, diz ele.

Vieira de Souza tem razão em relação ao relatório final da PF. Seu nome tem uma única menção breve no documento, e ele não faz parte do rol dos indiciados. No relatório de inteligência, que serviu de base para o inquérito, a história é outra. É lá que estão reproduzidos os papeis que sugerem que ele recebeu propina da construtora. As obras do Rodoanel apareciam nas anotações com a sigla ARO, decifrada com informações retiradas do computador da secretária pessoal de Pietro Bianchi, diretor da Camargo, empresa que cuidou do lote 4 do trecho Sul, orçado em 500 milhões de reais. Esse mesmo relatório de inteligência traz dezenas de menções a políticos dos mais diferentes partidos. Há inclusive uma extensa lista de doações eleitorais registradas como “sem recibo” – uma forma oblíqua de definir o caixa dois.

A Operação Castelo de Areia foi deflagrada em março de 2009. A informação de que a investigação tinha potencial para abalar as carreiras de diversos políticos e administradores públicos veio à tona logo em seguida. A PF afirmou que trataria desses assuntos em um momento posterior. Passaram-se nove meses, nada aconteceu e a operação foi suspensa pela Justiça, quase como num passe de mágica.

O fato de que os indícios coletados pela PF não ganhem consequências práticas é pernicioso. Ao contrário do que Vieira de Souza diz, existe, sim, material contra ele nos arquivos da PF. Material suficiente para que o Ministério Público Federal em São Paulo considerasse necessária uma investigação mais aprofundada sobre ele.

Dinheiro para a campanha tucana

Mesmo depois de defenestrado pelo governo paulista, Paulo Preto teria continuado operando nos bastidores para o tucanato. Ele nega. Mas líderes do PSDB dizem que foi dada a ele a missão de coletar dinheiro para financiar a campanha tucana –provavelmente via caixa dois.

Preto cumpriu a missão. Passou o chapéu entre o empresariado paulista, dizem. Mas, segundo a revista IstoÉ, Paulo Preto resolveu – como um típico tucano bom de bico– ficar com o dinheiro para ele, causando um problemão para a cúpula tucana. Oito dos principais líderes e parlamentares do PSDB ouvidos por IstoÉ, confirmaram que Souza teria arrecadado pelo menos R$ 4 milhões para as campanhas eleitorais de 2010, mas os recursos não chegaram ao caixa do comitê do presidenciável José Serra.

Como se trata de dinheiro sem origem declarada, o partido não tem sequer como mover um processo judicial. “Ele arrecadou por conta própria, sem autorização do partido. Não autorizamos ninguém a receber dinheiro de caixa 2. As únicas pessoas autorizadas a atuar em nome do partido na arrecadação são o José Gregori e o Sérgio Freitas”, afirma o ex-ministro Eduardo Jorge, vice-presidente nacional do PSDB. “Não podemos calcular exatamente quanto o Paulo Preto conseguiu arrecadar. Sabemos que foi no mínimo R$ 4 milhões, obtidos principalmente com grandes empreiteiras, e que esse dinheiro está fazendo falta nas campanhas regionais”, confirma um ex-secretário do governo paulista que ocupa lugar estratégico na campanha de José Serra à Presidência.

Segundo dois dirigentes do primeiro escalão do partido, o engenheiro arrecadou “antes e depois de definidos os candidatos tucanos às sucessões nacional e estadual”. Os R$ 4 milhões seriam referentes apenas ao valor arrecadado antes do lançamento oficial das candidaturas, o que impede que a dinheirama seja declarada, tanto pelo partido como pelos doadores. “Essa arrecadação foi puramente pessoal. Mas só faz isso quem tem poder de interferir em alguma coisa. Poder, infelizmente, ele tinha. Às vezes, os governantes delegam poder para as pessoas erradas”, afirmou à IstoÉ Evandro Losacco, membro da Executiva do PSDB e tesoureiro-adjunto do partido.

No Diretório Estadual do partido, nove entre dez tucanos apontam a construção do eixo sul do Rodoanel como a principal fonte de receita de Paulo Preto. Outro político ligado ao Diretório Nacional do PSDB explica que a função do engenheiro na Dersa aproximou Paulo Preto de empreiteiras como Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, OAS, Mendes Júnior, Carioca e Engevix. Estas são, potencialmente, as empresas que doaram para Serra mas tiveram o dinheiro surrupiado pelo amigo de Aloysio Nunes, o ex-chefe da Casa Civil de Serra.

Losacco, um dos coordenadores das campanhas de Serra e de Geraldo Alckmin em 2006, confirma que o elo principal de Paulo Preto com o PSDB é Aloysio Nunes Ferreira. O próprio engenheiro confirma uma amizade de mais de 20 anos com Aloysio. De acordo com um importante quadro do PSDB paulista, desde 2008 Paulo Preto estava “passando o chapéu” visando ao financiamento da pré-candidatura de Aloysio ao governo do Estado. “Não fizemos nenhuma doação irregular, mas o engenheiro Paulo foi apresentado como o ‘interlocutor’ do Aloysio junto aos empresários”, disse à IstoÉ o diretor de uma das empreiteiras responsáveis por obras de remoção de terras no eixo sul do Rodoanel.

Geraldo Alckmin acabou se impondo e obtendo a legenda para disputar o governo estadual, mas até a convenção do partido, em junho, a candidatura de Aloysio era considerada uma forte alternativa tucana, pois contava com o apoio do então governador José Serra e da maioria dos secretários. O engenheiro, segundo um membro da Executiva Nacional do partido, agia às claras junto a empresários e a prefeitos do interior de São Paulo. Falastrão, contava vantagens aos companheiros e nos corredores do Palácio dos Bandeirantes. Prometia mundos e fundos num futuro governo Aloysio. E quando Aloysio deixou a Casa Civil de Serra, muitos passaram a torcer por sua exoneração, o que aconteceu sob a batuta do governador Alberto Goldman.

Losacco, que foi secretário-geral do PSDB paulista até 2007, afirma que desde 2008 alertava a cúpula do partido sobre os movimentos de Paulo Vieira na Dersa. “Esse tipo de pessoa existe na administração pública. Tem a facilidade de achacar e não tem o menor controle. Todo mundo já sabia há muito tempo disso”, conta o dirigente tucano. Diante desses alarmes, a cúpula do partido chegou a cogitar a saída dele da estatal rodoviária há mais de um ano. Mas recuou. “O motivo (do recuo) eu não sei. Deve ter um motivo. Mas no governo às vezes você não consegue fazer tudo o que você quer. Você tem contingências que o obrigam a engolir sapo. E eu acho que esse deve ter sido o caso. Agora, de alguma maneira essa coisa toda vai ter que ser apurada. Sabemos da seriedade que o governo tem, mas infelizmente fica sujeito a esse tipo de gente”, acrescentou Losacco.

Segundo o tesoureiro-adjunto do PSDB, o empresário acaba cedendo, pois “entende que o cara tem a caneta e que pode atrapalhar os negócios”. Os motivos que teriam levado Paulo Preto a dar o calote no PSDB ainda estão envoltos em mistério. Mas, entre os tucanos, circula a versão de que o partido teria uma dívida com o engenheiro contraída em eleições passadas. Na entrevista concedida à IstoÉ, Paulo Preto nega que tenha feito qualquer tipo de arrecadação e desafia os caciques tucanos a provar essas denúncias.

“Acho muito pouco provável que isso tenha acontecido sem que eu soubesse”, disse Aloysio à IstoÉ. “Não posso falar sobre uma coisa que não existiu, que é uma infâmia”, completou. No PSDB, porém, todos pelo menos já ouviram comentários sobre o suposto desvio praticado por Paulo Preto nos cofres tucanos. “Fiquei sabendo da história desse cara ontem”, disse o deputado José Aníbal (SP), ex-líder do partido na Câmara, no último dia 10 de agosto. “Parece mesmo que ele sumiu. Desapareceu. Me falaram que ele foi para a Europa. Vi esse cara na inauguração do Rodoanel.” De fato, depois de deixar a Dersa, o engenheiro esteve na Espanha e só voltou ao Brasil há poucos dias. Na cúpula do PSDB, porém, até a semana passada poucos sabiam que Paulo Preto havia retornado e o tratavam como “desaparecido”.

Receptação de jóias roubadas

Para fechar literalmente com chave de ouro as histórias mal contadas de Paulo Preto, ele foi preso em flagrante, em junho deste ano, na loja de artigos de luxo Gucci do Shopping Iguatemi, em São Paulo. Solto um dia depois, ele passou a responder em liberdade à acusação de receptar um bracelete de brilhantes avaliado em R$ 20 mil.

Paulo Preto e o joalheiro Musab Fatayer foram à loja para avaliar o bracelete, que pretendiam negociar. Desconfiado da origem da joia, o gerente da loja, Igor Augusto Pereira, pediu para que o engenheiro e Fatayer aguardassem. Ao cruzar informações sobre o bracelete negociado, o gerente da Gucci descobriu que aquela joia havia sido furtada da loja em 7 de maio. Em seu depoimento, o gerente da Gucci disse para a polícia que foi Paulo Preto quem entregou o bracelete para que ele o avaliasse. O ex-diretor da Dersa alegou ter recebido a joia de Fatayer e que estava disposto a pagar R$ 20 mil por ela.

Fontes:

Revista Veja: O ‘homem-bomba’ do tucano Aloysio Nunes

Revista Isto É: Um tucano bom de bico

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Serra só sobe quando pula



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As balas de prata: segundo turno em SP?

Reproduzo artigo de Rodrigo Vianna, publicado no blog Escrevinhador:

Blogueiros e comentaristas passaram o último mês discutindo qual seria e quando chegaria a tal “bala de prata” lançada pela candidatura de Serra, no gesto desesperado de levar a eleição para o segundo turno.

Não percebemos, mas ela talvez já tenha vindo. Não era uma só, eram várias as balas de prata que passaram zunindo em muitas direções. Fizeram algum efeito: travaram o crescimento de Dilma, e deram algum alento a Marina. Serra manteve-se praticamente estagnado, com cerca de 25% dos votos.

Podemos listar aqui as balas de prata que já foram lançadas, e seguem a fazer eco na sociedade brasileira:

- o terrorismo da palavra nas igrejas; é um discurso difuso, para o qual a campanha de Dilma parece não ter-se preparado; segue a fazer estragos, com ecos na internet, levando eleitores evangélicos e católicos conservadores – especialmente na classe média de grandes cidades - a abraçar a candidatura de Marina;

- a campanha difamatória na internet; conduzida diretamente pelos tucanos (no caso dos videos recém-lançados no youtube), ou por uma militância conservadora difusa (que há meses abastece a rede com e-mails absurdos e maldosos), essa campanha serve mais para dar argumentos a quem já era contra Dilma e o PT;

- o terrorismo midiático; essa é a bala de prata mais manjada, e a mais fácil de responder, até pelo aprendizado que ficou de eleições passadas; ainda assim, provoca algum estrago; calculo que nesse setor ainda há os últimos ricochetes a aparecer na semana derradeira antes de 3 de outubro; a última aposta (depois dos casos da Receita e de Erenice) é a história do “autoritarismo petista”, numa tentativa de fazer parte dos eleitores apostarem num segundo turno.

Parece-me que o efeito dessas balas vai-se sentindo aos poucos: elas atingem de forma diferente as várias camadas da população. A maior parte do público acompanha a eleição com distanciamento, e leva 3 a 4 dias para se inteirar de boatos que atingem os mais engajados em poucas horas.

O serrismo a essa altura depende dessa somatória de balas de prata para sangrar (ainda que timidamente) a candidatura de Dilma. E aposta todas as fichas em reforçar a imagem de Marina. Já disse aqui algumas vezes que, para Serra, basta tirar votos de Dilma, ainda que eles não se transfiram para o tucano.

No tracking de sábado, no VOX/IG/BAND, Dilma manteve os 50% (recuou 3 pontos ao longo da semana). Serra caiu para 23% e Marina cresceu para 11%. Mais um indício de que as balas de prata já vieram, e provocaram algum efeito. No entanto, o efeito parece não ser suficiente para mudar o quadro a ponto de forçar segundo turno. Serra precisaria subir para perto de 30%, e Marina para algo em torno de 15%.

Não há, a não ser pelo DataFolha (suspeito?), sinais de que esse movimento se confirmará.

A favor da tese de que a eleição já estaria liquidada, há ainda o quadro eleitoral nos Estados - cada vez mais favorável ao lulismo:

- Tarso (PT) avança no Sul (e o petista Paim parece ter recuperado força para ganhar uma vaga no Senado);

- no Rio, Cabral deve arrasar Gabeira, e Cesar Maia corre risco de ficar em quarto lugar na disputa pelo Senado;

- em Pernambuco e no Amazonas, Maciel (DEM) e Artur Virgilio (PSDB) caminham para derrotas historicas na disputa pelo Senado;

- até no Paraná, o quadro parece complicado para os tucanos, a ponto de Beto Richa (PSDB) travar na Justiça a divulgaçãoo de novas pesquisas que devem trazer Osmar Das (PDT) cada vez mais forte na disputa pelo governo do Estado; para o Senado, devem ser eleitos Requião (PMDB) e Gleisi (PT).

Ou seja, o bombardeio midiático e conservador na internet concentrou-se em Dilma, e descuidou-se das disputas estaduais – o que pode facilitar a vida do lulismo.

Restaria uma incógnita: São Paulo.

Aqui, mais indícios de coisas estranhas nas pesquisas. E, de novo, o DataFolha em campo.

O instituto da Folha traz Alckmin praticamente imbativel, com 51%, e Mercadante com 23%. O Vox Populi acaba de trazer números díspares: Alckmin 40% e Mercadante com 28%. Pelo Vox, poderíamos caminhar para segundo turno em São Paulo: o que seria mais um indicativo de que as balas de prata arranharam Dilma, mas não contiveram o lulismo – o que pode levar a uma derrota ainda mais arrasadora de PSDB/DEM.

Por último, um dado importante: o PT entrou com ação para suspender a lei que exige dois documentos na votação, um indicativo de que o partido espera dificuldades para seu eleitorado – mais concentrado nas camadas populares – por conta dessa exigência. Já ouvi gente calculando que Dilma pode perder 1 de cada 10 votos por conta dos dois documentos.

Façamos uma conta. Se, apesar do bombardeio que ainda virá na última semana, a candidata petista chegar com algo em torno de 49% ou 50% dos votos totais no dia 3, poderia em tese ver sua votação recuar para 45% dos votos totais por conta das dificuldades provocadas pela exigência de dois documentos. Serra, tudo indica, não deve passar dos 28%, e Marina pode chegar a 14% se a onda verde pegar. Temos anda 1% para os outros candidatos. Teríamos, portanto, nos votos totais: Dilma 45% X outros candidatos 42%.

Minha aposta é que Dilma, se confirmar vitória no primeiro turno, deve obtê-la por uma margem pequena: algo em torno de 52% ou 53% dos votos válidos.

Se a onda verde crescer (hoje ainda é marolinha, mas será empurrada pela mídia), e o terrorismo midiático reaparecer na véspera da eleição, não acho impossível haver segundo turno – ainda que por margem muito estreita.

O quadro deve ser acompanhado com muita cautela até o dia 3.

A vitória de Dilma no primeiro turno é hoje a hipótese mais provável, mas não está garantida.

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Mino Carta: "Cureau, a censora"

Reproduzo artigo de Mino Carta, publicado na revista CartaCapital:

Permito-me sugerir à doutora Sandra Cureau, vice-procuradora-geral da Justiça Eleitoral, que volte a se debruçar sobre os alfarrábios do seu tempo de faculdade, livros e apostilas, sem esquecer de manter à mão os códigos, obras de juristas consagrados e, sobretudo, a Constituição da República. O erro que cometeu ao exigir de CartaCapital, no prazo de cinco dias, a entrega da documentação completa do nosso relacionamento publicitário com o governo federal nos leva a duvidar do acerto de quem a escolheu para cargo tão importante.

Refiro-me, em primeiro lugar, ao erro, digamos assim, técnico. Aceitou uma denúncia anônima para proceder contra a revista e sua editora. Diz ela conhecer a identidade do denunciante, acoberta-o, porém, sob o manto do sigilo condenado pelo texto constitucional e por decisões do Supremo Tribunal Federal. Protege quem, pessoa física ou jurídica, condiciona a denúncia ao silêncio sobre seu nome. Ou seja, a vice-procuradora comete uma clamorosa ilegalidade.

Há outro erro, ideológico. Quem deveria zelar pela lisura do embate eleitoral endossa a caluniosa afronta que há tempo é cometida até por colegas jornalistas ardorosamente empenhados na campanha do candidato tucano à Presidência. A ilação desfraldada a partir do apoio declarado, e fartamente explicado por CartaCapital, à candidatura de Dilma Rousseff revela a consistência moral e ética, democrática e republicana dos acusadores, ou por outra, a total inconsistência. A tigrada não concebe adesão a uma candidatura sem a contrapartida em florins, libras, dracmas. Reais justificados por abundante publicidade governista.

Sabemos ser inútil repetir que a publicidade governista premia mais fartamente outras publicações. Sabemos que José Serra, ainda governador, mas de mira posta na Presidência, assinou belos contratos de compra de assinaturas com todas as maiores empresas jornalísticas do País, com exceção, obviamente, da editora de CartaCapital. Sabemos que não é o caso de esperar pela solidariedade - dos patrões da mídia e dos seus empregados, bem como das chamadas entidades de classe, sem falar da patética Sociedade Interamericana de Imprensa. Estas, aliás, se apressam a apoiar a campanha midiática que aponta em Lula o perigo público número 1 para a democracia e a liberdade de imprensa.

Nem todos os casos denunciados pela mídia nativa merecem as manchetes de primeira página, um e outro nem mesmo um pálido registro. É inegável, contudo, que dentro do PT há uma lamentável margem de manobra para aloprados de extrações diversas. CartaCapital tem dado o devido destaque a crimes como a quebra de sigilo fiscal e a deploráveis fenômenos de nepotismo e clientelismo, embora não deixe de apontar a ausência das provas sofregamente buscadas pelos perdigueiros da informação, em vão até o momento, de ligações com a campanha de Dilma Rousseff.

Vale, porém, discutir as implicações da liberdade de imprensa, e de expressão em geral. É do conhecimento até do mundo mineral que a liberdade de informar encontra seus limites no Código Penal. Se o jornalista acusa, tem de provar a acusação. E informar significa relatar fatos. Corretamente. Quanto à opinião, cada um tem direito à sua.

Muito me agrada que o Estadão e o Globo em editoriais e, se não me engano, um colunista, tenham aproveitado a sugestão feita por mim na semana passada. Por que não comparar Lula a Luís XIV, além de Mussolini e Hitler? Compararam, para ampliar o espectro da evocação. De ditadores de extrema-direita a um monarca por direito divino, aprazível passeio pela história. Volto à carga: sinto a falta de Stalin, talvez fosse personagem mais afinada com a personalidade de Lula, aquele que ia transformar o Brasil em república socialista. Quem sabe, a tarefa fique para a guerrilheira terrorista, assassina de criancinhas.

Espero ter sido útil, com uma contribuição aos delírios de quem percebe o poder a lhe escorrer entre os dedos. A campanha midiática a favor do candidato tucano não é digna do país que o Brasil merece ser, e sim adequada ao manicômio. Aumenta o clamor de grupelhos de inconformados de uma velha-guarda que não dispensa militares de pijama, todos protagonistas de um espetáculo que fica entre a ópera-bufa e o antigo Pinel. Que tem a ver com liberdade de imprensa acusar Lula e Dilma de pretenderem “mexicanizar”, ou “venezuelizar” o Brasil? Ou enterrar a democracia?

Mesmo que o presidente não pronuncie sempre palavras irretocáveis, onde estão as provas desse terrificante projeto? Temos, isto sim, as provas em sentido contrário: os golpistas arvoram-se a paladinos de uma legalidade que eles somente ameaçam. A união da mídia já produziu alguns entre os piores momentos da história brasileira. A morte de Getúlio Vargas, presidente eleito, a resistência a Juscelino, o golpe de 1964 e suas consequências 21 anos a fio, sem contar com a oposição à campanha das Diretas Já. Ou com o apoio maciço à candidatura de Fernando Collor, à reeleição de Fernando Henrique, às privatizações vergonhosamente manipuladas.

É possível perceber agora que este congraçamento nunca foi tão compacto. Surpreende-me, por exemplo, o aproveitamento que o Estadão faz das reportagens de Veja, citada com todas as letras. Em outros tempos não seria assim, a família Mesquita tachava os Civita de “argentários” em editoriais da terceira página. As relações entre os mesmos Mesquita, os Frias e os Marinho não eram também das melhores. Hoje não, hoje estão mais unidos do que nunca. Pelo desespero, creio eu.

A união, apesar das divergências, sempre os trouxe à mesma frente quando o risco foi comum. Ameaça ardilosamente elevada à enésima potência para justificar o revide pronto e imediato. E exorbitante. A aliança destes dias tem uma peculiaridade porque o risco temido por eles é real, a figurar uma situação muito pior do que aquela imaginada até o começo de 2010. Desespero rima com conselheiro, mas como tal é péssimo. De sorte que estão a se mover para mais uma Marcha da Família, com Deus, pela Liberdade. A derradeira, esperamos. Não nos iludamos, no entanto. São capazes de coisas piores.

Otimista em relação ao futuro, na minha visão vivemos os estertores de um sistema, mudança essencial ao sabor de um confronto social em andamento, sem violência, sem sangue. Diria natural, gerado pelo desenvolvimento, pelo crescimento. Donde, por mais sombrios que sejam os propósitos dos verdadeiros inimigos da democracia, eles, desta vez, no pasaran. Eles próprios se expõem a risco até ontem inimaginável. Se houver chance para uma tentativa golpista, desta vez haverá reação popular, com consequências imprevisíveis.

Episódio representativo da situação, conquanto não o mais assombroso, longe disso, é a demanda da vice-procuradora da Justiça Eleitoral para averiguar se vendemos, ou não, a nossa alma. Falo em nome de uma pequena redação que não desiste há 16 anos na prática do jornalismo honesto, pasma por estar sob suspeita ao apoiar às claras a candidatura Dilma.

Sugiro à doutora Sandra que, de mão na massa, verifique também se a revista IstoÉ recebeu lauta compensação do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema quando o acima assinado em companhia do repórter Bernardo Lerer, escreveu uma reveladora, ouso dizer, reportagem sobre Luiz Inácio da Silva, melhor conhecido como Lula, publicada em fevereiro de 1978. Ou se acomodou-se em uma espécie de mensalão ao publicar oito capas a respeito da ação de Lula à frente de uma sequência de greves entre 1978 e 1980. Ou se me locupletei pessoalmente por ter estado ao lado dele na noite de sua prisão, e da sua saída da cadeia, quando enquadrado pela ditadura na Lei de Segurança Nacional, bem como nas suas campanhas como candidato à Presidência da República. Desde o dia em que conheci o atual presidente da República, pensei: este é o cara.

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A mídia sob impacto das mudanças

Reproduzo excelente artigo do professor Marcos Dantas, publicado no sítio Carta Maior:

Nascido por volta de 1870 para dar voz ao crescente movimento republicano das oligarquias cafeeiras paulistas, o Estado (então Província) de São Paulo somente iria aderir ao movimento abolicionista quando a Abolição já se tornara inevitável.

Nascida por volta de 1950, da iniciativa de um imigrante ítalo-americano ligado aos interesses de Walt Disney (e sabe-se lá a que outros interesses), a Editora Abril (irmã da Editorial Abril que o irmão daquele imigrante, na mesma época iria criar em Buenos Aires), depois de fomentar o american way of life entre nós, através de revistas como Pato Donald e Claudia, iria praticamente conquistar, com Veja, o monopólio do mercado das revistas semanais de informação, não por acaso durante o auge da ditadura militar.

Nascida nos agitados anos 1920, com o jornal O Globo, as Organizações de mesmo nome, aliadas de primeiríssima hora do golpe de 1964, conquistariam, também durante a ditadura, tanto o monopólio da televisão em todo o país, quanto o da imprensa escrita na cidade do Rio de Janeiro, na medida em que os ditadores deram decisiva contribuição para a decadência e morte de muitos outros importantes órgãos de imprensa escrita que então disputavam leitores na ex-capital federal, entre eles, os Correio da Manhã, Última Hora, Diário de Notícias e, por fim, recentemente mas depois de longa agonia que teve início naqueles tempos, o Jornal do Brasil.

Se a imprensa (hoje, em dia, chamada “mídia”) chegou dividida à Revolução de 1930, apoiada por Marinho e Chateaubriand mas encarniçadamente combatida pelo Estadão, desde então tem agido como bloco único, no Brasil. Derrubou Vargas duas vezes, na segunda levando-o ao suicídio. Opôs-se, como pôde, aos governos JK e João Goulart. Apoiou e estimulou todos os golpistas de ocasião. Colocou-se contra a última ditadura – depois de ter a ela servido, inclusive fornecendo caminhões para a Oban – só quando o conjunto da burguesia achou que era chegada a hora de mudar para, lampedusamente, tudo continuar como sempre esteve...

Agora, coerente com a sua história, quer derrubar o governo altamente popular do presidente Lula. Como explicar a atual posição da imprensa?, perguntou outro dia o professor Venicio Lima.

Certamente, muitas pesquisas precisarão ser feitas para explicar o atual comportamento dos meios de comunicação no Brasil. Se toda unanimidade é burra, como dizia Nelson Rodrigues, estamos diante de um caso que já se configura paradigmático. Somente idiossincrasias e preconceitos não explicam a posição da imprensa nesta campanha, posição que não é somente a dos “donos dos jornais”, nem apenas a de alguns e algumas importantes e hiper bem remunerados colunistas, mas a de ampla maioria dos profissionais que se dizem “jornalistas” – todos diplomados. Servem com denodo, dedicação e até alegria aos seus patrões assim com os soldados SS serviam a Hitler... É mais do que meramente “cumprir ordens”. É acreditar nelas. É se querer reconhecido e recompensado por cotidiana, diária, contumaz demonstração de absoluta fidelidade a elas. Nas palavras de Serge Halimi, são os novos “cães de guarda”.

Diante da pergunta, arrisquemos alguma hipótese. Não é possível dissociar o papel político-ideológico da “mídia”, de sua organização enquanto empreendimento capitalista e do seu lugar na reprodução do sistema do capital. E, considerando a condição periférica do capitalismo brasileiro, qualquer reflexão nos obriga a tentar entender o papel dessa “mídia” na reprodução de 500 anos de periferia.

A partir dos anos 1950, em parte devido a forças sociais endógenas mas em boa parte devido à configuração internacional do capitalismo sob liderança econômica, cultural e militar dos Estados Unidos, o Brasil, como muitos outros países, ingressou na época de sua industrialização e urbanização desenvolvimentista. Tratava-se de expandir aqui dentro uma sociedade de consumo similar à estadunidense. No entanto, como as forças econômicas que comandavam essa expansão nos eram externas, a concentração de renda era uma condição sine qua non de exportação de parte do excedente internamente gerado pelo próprio desenvolvimento, daí havendo-se que bloquear as possibilidades de sua melhor distribuição social.

A sociedade do consumo a brasileira, ao contrário do que acontecia no “fordismo” estadunidense, não poderia estender-se para todos. Foi essa a natureza do debate, nos anos 1950. Para Celso Furtado e os desenvolvimentistas isebianos de esquerda, nacionalistas por obrigação e opção, a industrialização precisaria, principalmente, servir para a oferta e consumo de bens de salário. Para Roberto Campos e os desenvolvimentistas de direita, entreguistas por opção, a industrialização somente deveria servir para a oferta e consumo de bens “supérfluos”.

Para a “mídia” brasileira periférica, a segunda opção seria natural. Vendendo marcas, estilo de vida, valores consumistas, ascensão social, status, isto é, sustentada pela indústria automobilística, eletro-eletrônica, cosmética e similares estrangeiras, a imprensa se colocaria contra o projeto de desenvolvimento que, nas condições da época, exigiria reter a expansão acelerada do consumo conspícuo, de modo a favorecer, em primeiro lugar, a expansão do consumo básico, daí permitindo a inclusão social da maioria menos favorecida.

Ela só podia falar para a classe média consumista, não para os pobres – ou, para estes, somente falava de crimes, através dos famosos jornais “espreme/sai sangue”. Falava para a Zona Sul do Rio de Janeiro; para o Morumbi, em São Paulo. Precisava identificar-se com os temores, preconceitos, senso comum, arrogância, identidade elitista dessa classe média, para conquistar os números de circulação que lhe permitiria angariar anunciantes. Por isso, expressando a maneira de pensar desse seu público, colocava-se radicalmente contra qualquer proposta que pudesse cheirar a “populismo”. E para escrever seus editoriais, suas colunas, suas reportagens podia contar com bons jornalistas egressos cultural e intelectualmente do mesmo meio social. Logo, com os mesmos preconceitos e as mesmas ambições.

Para enfrentar tal fogo de barragem, Getulio Vargas pensou em usar a mesma artilharia. Capitalizou Samuel Wainer para que criasse um jornal de alta qualidade que, na forma, na linguagem, nas seções editoriais se mostrasse similar ao que melhor se poderia fazer na “mídia” de então (inclusive com coluna de “mulher boa”), mas politicamente engajado, seja pelos editoriais, seja por opções na pauta e nos lides, com o seu projeto nacionalista popular.

A Última Hora de Wainer obteve um estrondoso sucesso. Em poucos meses, superou a circulação individual dos seus principais concorrentes. Em princípio, pela lógica da audiência, deveria atrair copioso faturamento publicitário. Não atraiu. Foi sempre um empreendimento deficitário apesar do sucesso de público. É que sua fachada de indústria cultural não conseguia disfarçar a sua condição de imprensa política, ao não submeter também o seu conteúdo noticioso e editorial àquilo que a “mídia” (e, no caso, a “mídia” periférica), bem como as agências de publicidade, considerariam “objetivo”, “neutro”, “independente”.

O golpe de 1964 iria consolidar, de vez, essa relação entre uma sociedade de consumo excludente para uma “mídia” exclusiva, e uma “mídia” exclusiva para uma sociedade de consumo excludente. A estreita classe média consumista, encurralada por trás dos muros de seus condomínios de elite apartada, confirmou-se como base econômica, cultural e ideológica de uma “mídia” também estreita, aglomerada em seus poucos e imponentes canais oligopolistas de veiculação. É um mercado onde só cabe uma grande revista semanal de grande circulação; um ou dois jornais importantes nas grandes capitais, quaisquer deles com circulação, convenhamos, ridícula; não mais que 400 livrarias em todo o país vendendo best-sellers e auto-ajuda (o mesmo que existe apenas em Buenos Aires, vendendo livros da melhor qualidade); principalmente, duas ou três grandes redes nacionais de televisão.

E assim deveria seguir o mundo. Pelo menos, o Brasil.

Mas o Brasil decidiu diferente. Por um conjunto grande de fatores, não apenas devido aos dois mandatos de Lula, mas também a eles, o país realmente mudou. Aquela classe média estreita e elitista viu-se superada quantitativa e qualitativamente por uma nova classe média, mais popular pelas suas origens, consumista também, mas desconectada e desinteressada da opinião publicada da grande “mídia”. Finalmente, uma grande massa da população foi incorporada à sociedade de consumo. Mas, talvez até pelos seus defeitos, sobretudo o seu baixo nível educacional e cultural, não foi incorporada à leitura semanal de Veja, nem à diária de O Globo.

Ao mesmo tempo, neste preciso instante, emergem novos meios de comunicação, todos eles audiovisuais, como a TV por assinatura, a internet, o “celular”, que atraem essa audiência neoconsumidora para novas formas de produção e consumo de cultura industrial e publicidade. A realidade fabricada por aquela “mídia” parece nada dizer a esta audiência. Sobretudo quando ela insiste em denunciar supostos arrivistas da política, já que, de muitos modos, arrivistas são todos esses neoconsumidores.

A velocidade com que essas mudanças estão se dando na sociedade brasileira pode, realmente, estar ameaçando todo o modelo de negócios de oligopólios que se pretendiam eternos, logo também as relações, carreiras e ambições profissionais a eles endógenas. Parece que foram surpreendidos, tanto as empresas, quanto os seus cães de guarda, sejam os assalariados, sejam os PJs, paridos e educados, todos e todas, na mesma arrogante elite social. Daí o desespero...

Se a hipótese estiver correta, ainda testemunharemos, nos próximos anos, grandes mudanças econômicas e políticas nesta centenária “mídia” nativa. No entanto, a vitória de Dilma Rousseff ou a de José Serra será decisiva no encaminhamento de medidas legais e regulatórias, a esta altura inadiáveis, que definirão o tempo e condições de sobre-vida dos dinossauros mediáticos brasileiros. A “mídia” brasileira parece apostar que Serra será o seu Capitão Spurgeon “Fish” Tanner (Robert Duvall) de “Impacto Profundo”, jogando sua nave contra o meteoro econômico-cultural que lhe ameaça a própria sobrevivência... Só que a história é um processo real, não um roteiro hollywoodiano.

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Twitter X Folha: O pio do passarinho azul

Reproduzo artigo do escritor Washington Araújo, publicado no Observatório da Imprensa:

No domingo (5/9), o jornal Folha de S.Paulo estampou em sua capa a manchete "Consumidor de luz pagou R$ 1 bi por falha de Dilma". A reportagem atribuiu à candidata Dilma Rousseff um erro na cobrança da tarifa social de energia elétrica quando era ministra das Minas e Energia. Segundo o Tribunal de Contas da União, o desperdício foi de R$ 989 milhões no tempo em que Dilma era ministra de Minas e Energia (2003-2005).

A notícia vem se contrapor à propaganda eleitoral que tem apresentado a candidata à Presidência pelo PT como uma eficiente gestora e, para os (e)leitores pouco versados no assunto - aliás, bastante técnico - este erro cometido à frente do Ministério de Minas e Energia coloca em xeque essa imagem. A propósito, informe-se que a tarifa social foi criada em 2002, ainda durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. As mudanças solicitadas pelo TCU ocorreram em 2007, dois anos depois da saída de Dilma da pasta. A lei que regula a tarifa social foi alterada em 2010.

Ante a inusitada manchete reunindo em poucos caracteres acusação explosiva de erro monumental (falha), cifra impressionante (R$ 1 bi) e ainda o nome bem estampado da candidata-líder (Dilma) em pesquisas de opinião na atual corrida para o Palácio do Planalto, tinha tudo para chamar a atenção de qualquer observador da mídia minimamente comprometido com o embate petistas versus demotucanos.

Asas do pássaro azul

Ironicamente, surgiu exatamente de uma plataforma de relacionamentos sociais na internet - o Twitter - a principal e mais vigorosa resposta à manchete do jornal paulista. Irônico por quê? Porque é território absolutamente livre de censura. E de filtros. O que ali é publicado começa diante do teclado e em poucos segundos ganha o mundo, vai de Mogi Mirim a Londres, de Campina Grande e a Xangai, passando pelo Vaticano e dando a volta por Kiev. E não tem moderadores.

No Twitter, se existe uma coisa que não dá certo é esse negócio de publicar apenas o que nos agrada e nos louva, como fazem os donos de tantos blogues internet afora. O pássaro azul, de inocente e desatento não tem nada e foi o ambiente utilizado por milhares de internautas para fazerem piada com as críticas diárias da Folha de S.Paulo a Dilma Rousseff. Do 11 de setembro ao caso dos mineiros soterrados nas minas chilenas, usuários da rede de microblogs dizem que jornal vê candidata como culpada de tudo.

O assunto foi tão instigante e convidativo à postagem imediata que logo se criou o "#DilmaFactsbyFolha" (também conhecida como hashtag) com o objetivo de propor novas abordagens ao jornal, atribuindo todo tipo de mazela à ex-ministra-chefe da Casa Civil. Da derrota da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1998 à Guerra do Iraque, passando por tramas de novela, os simpatizantes da candidata governista levaram o tema a um dos mais citados da tarde de domingo (5/9). E não tardou para que, segundo o ranking Trending Topics Brazil, a brincadeira alcançasse a terceira posição entre os temas mais comentados na rede. Não apenas na cena tupiniquim, mas antes na cena internacional.

Foi exercício de puro humor ler centenas de mensagens, todas delimitadas por 140 caracteres, e então poder destacar 130 delas agrupadas em nove temas centrais [veja abaixo]. Chama a atenção quão antenado é o seleto público que viaja nas asas do pássaro azul e, como ele, não deixa de emitir seus piados sobre qualquer coisa que tenha a ver com a experiência humana, sua luta contínua por liberdade de opinião, seu pendor para o exagero e o nonsense e, acima de tudo, sua capacidade de rir de sua história particular e também de nossa história como parte do extenso coletivo que atende pelo nome de humanidade.

Por trás da brincadeira

A tag (#DilmaFactsbyFolha), utilizada no twitter para atribuir à candidata, de forma sempre irônica, feitos absurdos e impossíveis, chegou a ser citada na coluna "Gadgets & Tech" da página do The Independent, que expõe as tags mais comentadas do mundo. Segundo o jornal londrino, os 10 tópicos mais comentados no twitter no dia 6/9/2010 foram:

1. #hoesoutherebuiltlike

2. #rememberwhenjustin

3. #dilmafactsbyfolha

4. Ana Pau

5. Jouvert

6. Peggy

7. Hipertensão

8. Tropa

9. Kardashians

10. #DevilMovie

No domingo (12/9), a ombudsman da Folha de S. Paulo, Susana Singer, foi direto ao ponto e escreveu com tanta clareza e objetividade que muitos internautas começaram a pensar seriamente em abraçar a profissão de... ombudsman. O importante é que Singer questionava a imparcialidade do veículo no tratamento dado à candidata à Presidência, Dilma Rousseff (PT) e criticava o jornal por ignorar a campanha #Dilmafactsbyfolha. E anotava:

"Não dá para desprezar essa reação e a Folha fez isso. Não respondeu aos internautas no Twitter e não noticiou o fenômeno. O ‘Cala Boca Galvão’ durante a Copa virou notícia. No primeiro debate eleitoral online, feito por Folha/UOL em agosto, publicou-se com orgulho que o evento tinha sido um trending topic. Não dá para olhar para as redes sociais apenas quando interessa".

Afinal, em poucos dias não menos que 45 mil mensagens críticas ao jornal circulavam na esfera pública do twitter. O texto é equilibrado como se poderia esperar de algo da lavra de Susana Singer e, por oportuno, vale conferir o texto completo.

Por trás da brincadeira, há muito de verdade. Os piados mexeram fundo no quesito credibilidade do jornal da Barão de Limeira. E depois sempre que um assunto (sério) chegar às raias do mais absoluto nonsense é sinal que para alguns milhares a luz amarela foi acesa e outro tanto o que acendeu mesmo foi a luz avermelhada, piscando como a nos indagar: será que a busca da objetividade no jornalismo da Folha de S. Paulo deixou de ser requisito para a publicação de reportagens?

Imagens gravadas na memória

Longe de ser uma "falta do que fazer" dos internautas ou a maquinação de "zumbis governistas incitados pelo partido", sinto ser honesto dar a Flávio Gomes o que é de Flávio Gomes. Foi ele que - especialista em automobilismo, atualmente na ESPN, Rádio Eldorado e iG, e que, por muitos anos, foi o setorista do assunto na Folha S. Paulo (antecessor de Fábio Seixas) - emitiu o piado mais potente e dirigido ao coração do jornal e a "certidão de nascimento" do piado está aqui: "Vamos criar o #DilmaFactsByFolha. ‘Dilma serviu o café de Ronaldo no dia da final da Copa de 1998’ via @eduu27".

E se me perguntarem por uma imagem que ficará em alto relevo em minha memória sobre estas eleições 2010, não acessarei outra imagem na mente que as contundentes mensagens de 140 caracteres enfeixadas sob o tópico #Dilmafactsbyfolha. Da mesma forma como, decorridos 25 anos, ao pensar nas eleições de 1989, o que me vem à memória são as cenas da famigerada edição do debate Collor x Lula na TV Globo e seu destaque ao caso Lurian.

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Escândalos e catástrofes relacionados com Dilma

** Guarda pretoriana prende assassinos de Júlio César com sestércios na tanga. Mandante foi Dilma
** Dilma serviu o café de Ronaldo no dia da final da Copa de 1998
** Se eleita, Dilma vai salgar o Pão de Açúcar
** Dilma, a terrorista, comprou o Fiat Elba para o Collor
** Dilma, a guerrilheira, explodiu a P-36 sabotando FHC
** Sabia, não? Não foi Barbosa o culpado pela derrota para o Uruguai na copa de 50, foi ela, a guerrilheira! Sabia não?
** Dilma estava em Portugal quando a pequena Maddie desapareceu
** Padre voador caiu porque Dilma mandou ‘vazar’ os balões!
** Dilma a padre no Sul: ‘Enche os balõezinhos que dá’
** Dilma trabalhava de olheira do Flamengo quando descobriu um garoto chamado Felipe Melo
** Daniel Dantas tira ‘D’ de sobrenome em homenagem à justiça brasileira
** Empresa de Dilma forneceu a antena para o iPhone 4
** A Folha tem provas de que Dilma foi a responsável pela derrocada do Império Romano
** Iceberg da Dilma afundou o Titanic
** Deu na Folha: Viram Dilma derretendo o gelo polar com secador de cabelos
** Por falha de Dilma, PAC do Muro de Berlim atrasou e ele acabou caindo
** Erro de Dilma soterra mineiros no Chile
** Dilma é a principal pedra que impede a saída dos mineiros chilenos da mina
** Dilma joga moeda de um real na pista de Congonhas e derruba avião da TAM
** Dilma e o PT proibiram chuvas por Emenda Parlamentar, o que piorou a situação das queimadas e ar seco nas cidades
** A Folha investiga: Dilma foi a responsável pela queda do avião onde estavam os Mamonas Assassinas
** Em 2000, Dilma aconselhou o FHC: não precisa investir em energia. O risco de racionamento é zero
** A Folha suspeita que Dilma esteja envolvida também no caso da queda de outras aeronaves
** Dilma disse a Bush: "Em seis meses você resolve esse negócio no Iraque"
** A Folha denuncia: Dilma foi responsável pelo último terremoto no Chile. O que fará ela como presidente do Brasil?
** Falhas em obras do PAC de Dilma resultaram no soterramento de mineiros no Chile.
** Erro de Dilma nos cálculos provocou inclinação da Torre de Pisa
** Dilma incendiou 52 favelas em São Paulo, só no mês de agosto de 2010, para economizar obras do PAC
** Deu na Folha: Dilma cruza DNA de Tucano com de Araponga pra gerar Urubu
** Nota fiscal com nome da Dilma prova que ela vendeu Rottweiler a goleiro Bruno
** Marina Silva está indignada: Dilma e Lula estão levando os tucanos à extinção
** Dilma é a verdadeira culpada pelas enchentes de São Paulo

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Dilma e Serra

** Fim do mistério: Foi Dilma quem indicou Índio da Costa para vice de Serra
** Foi Dilma que fez a cratera no metrô do Serra
** Trololó de Serra foi violado pela campanha da Dilma
** Marqueteiro do Serra é filiado ao PT
** Nhem-nhem de FHC é violado pela campanha de Dilma
** Dilma manda Serra para a ilha de Lost em 4 de outubro
** Comitê Central da campanha do Serra funciona na sede da Folha
** Folha: Dilma será a culpada pelas olheiras de milhões de brasileiros. Serra já foi afetado
** Serra lamenta: a Dilma me indicou o xampu Esperança
** Dilma escondeu o diploma do Serra
** Serra diz que o governo deixou o Brasil ser queimado. Manchete da Folha amanhã: Dilma usou pré-sal para queimar o país
** Dilma incluirá picolé de chuchu na cesta básica e na merenda escolar
** Guru indiano disse a Serra que teria a maioria dos internautas falando mal da Dilma dias antes da eleição, um Bidu
** Dilma é mãe de Fernandinho Beira-mar... Serra afirma: Lula é o pai
** Exclusivo! As trapalhadas de Serra e sua campanha foi combinado com Dilma que garantiu a chefia da Casa Civil pra ele
** Dilma jura de pé junto que Aécio não odeia Serra!
** Foi Dilma que mandou a cegonha entregar o bebê Serra lá na casa do verdureiro da Mooca em 1942
** Tiririca se une a FHC na inveja, os posts aqui são de morrer de rir, e planeja pacto suicida no bunker de Higienópolis
** De tanto apanhar da Dilma, o Serra quer criar a lei "Zé dá Pena"
** Depois de derrubar árvore centenária, Dilma foge e deixa Serra pra trás

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Biografia e ações imputadas a Dilma

** Dilma foi o primeiro bebê Johnson
** Folha: Dilma foi secretária de Minas e Energia em Chernobyl
** A Folha investiga e descobre: foi Dilma que inventou o crack quando era ministra das Minas e Energia
** Folha, noticiário policial: Quem atirou o pau no gato foi Dilma
** Dilma gostava de apertar campainha e sair correndo. ‘Ela fez isso duas vezes na minha casa’, revela ex-vizinha indignada
** Depois de ser aconselhado por Dilma, Luís XIV, filiado ao PT, proclama: ‘L’État c´est moi!’
** Folha informa: Dilma é a verdadeira mãe do bebê de Rosemary
** Dilma inseriu o "gerundismo" no telemarketing
** Morre Ícaro. Serra culpa Dilma por não revogar a lei da gravidade
** Dilma sabia da extinção dos dinossauros e não fez nada
** Manchete da Folha: Candidata mentiu, está provado. Dilma nomeou canhota como seu "braço-direito"
** A candidatura do Tiririca foi ideia da Dilma

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Dilma e o terrorismo

** Dilma é prima de terceiro grau da tia do cunhado do embaixador do Afeganistão. Ou seja, tem ligação com Bin Laden
** Folha: Dilma produziu crateras lunares em seu treinamento de guerrilha
** Por ser masoquista, Dilma se autotorturou, diz militar na Folha de hoje
** Folha kids: boi da cara preta, filiado ao PT desde 1980 revela: quem mandou pegar criança foi a Dilma
** Folha kids: Soldado com cabeça de papel denuncia: Dilma terrorista mandou botar fogo no quartel
** A Al-Qaida era só um grupo de árabes nerds, fãs de RPG e aeromodelismo. Até conhecerem a Dilma.
** A Folha tem provas cabais: Dilma é neta do primo do tataraneto da irmã do filho da costureira de Hitler
** Folha de S.Paulo: "Descoberto plano de Dilma para secar o Aquífero Guarani"
** Plutão se une ao sinal de Trema e culpa Dilma por não ser mais planeta
** Vejamos: Bomba>guerrilha>Dilma=>OK Terrorismo>Irã>Lula>OK Paris> turismo> brasileiro> petista> OK Não percam a Folha amanhã!

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Dilma e celebridades

** Dilma para John: "Querido, deixa eu te apresentar uma amiga, esta é a Yoko..."
** Elvis não morreu. Foi sequestrado por Dilma
** Che Guevara usava uma camiseta com Dilma estampada
** Einstein estava confuso. Dilma lhe disse: "Calma, tudo é relativo"
** Dilma venceu Usain Bolt nos cem metros rasos. Pulando numa perna só.
** Mike Tyson tem medo de Dilma
** Dilma recusou uma cantada de José Mayer
** Che Guevara aprendeu tudo com a Dilma!
** Dilma ensinou Michael Jackson a dançar
** Frank Sinatra teve aulas de canto com Dilma
** Quando Neil Armstrong chegou à lua, Dilma estava lá para recebê-lo
** Eu já sabia: quem fez as cirurgias plásticas na Danuza Leão foi a Dilma. Parece o coringa brasileiro
** Dilma ordenou que Massa desse a vitória a Alonso no GP da Alemanha
** Dilma é quem escolhe as camisas do Faustão
** Dilma faltou a uma reunião com João Gilberto, Tim Maia e Rubem Fonseca
** Confirmado que Dilma é a autora das receitas médicas de Vanusa
** Dilma disse ao Ronaldo: "Aquela ali é mulher mesmo"
** Folha Ilustrada: Fã de Raul Seixas, Dilma quer promulgar constituição da sociedade alternativa
** Dilma disse para Paulo Coelho, há 20 anos: "Continue a escrever, rapaz, você tem talento!"

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Dilma e a saúde pública

** A Folha adverte: Dilma é mais nociva que o cigarro. Afirma ter provas científicas disso.
** O Ministério da Saúde adverte: camisinhas da marca Dilma arrebentam!
** Fotografamos usuários da Cracolândia com camisetas do PT, os malucos insistiram que a Dilma, sim, é Crack
** Dilma alimenta milhões e é a total responsável pela obesidade de brasileiros que eram felizes sendo subnutridos
** Dilma proibiu o prato "Feijoada Baiana, com fato, mocotó, linguiça de maragojipe, feita de um dia pra outro!"

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Dilma e as religiões

** Deus ia fazer o mundo em quatro dias, mas houve atraso na obra do PAC
** Deus criou o mundo em seis dias. No sétimo, Dilma deu uma retocada
** Foi a Dilma que mostrou o fruto proibido a Eva
** Apóstolo que traiu Jesus tinha suposta ligação com o PT
** Folha de S.Paulo: "Dilma lava as mãos. Cristo é crucificado"
** Deu na Folha: Dilma organizou a boca de urna pró-Barrabás!
** Moisés rodou 40 anos no deserto do Sinai porque Dilma escondeu o mapa
** Buda tinha uma pequena estátua de Dilma em casa
** Dilma esconde o quarto segredo de Fátima
** Dilma quis doar Corcovado; Serra, ao menos, queria privatizar o Cristo, ainda que barato

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Dilma e o folclore

** Lobo Mau comeu Chapeuzinho Vermelho a mando de Dilma
** Na verdade, o Sapo queria lavar o pé, mas Dilma não deixou!!!
** Dilma cortou a perna do Saci Perêrê
** Dilma obrigou escravos de Jó a jogar caxangá
** O sargento Garcia nunca prendeu o Zorro porque Dilma não deixava

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Dilma e a mídia

** Voz que sai da boca de Boris Casoy e ofende garis na virada de ano é de Dilma
** Dilma é ligada a jornalista que atirou sapato em Bush
** Hoje a Folha de SP se superou na luta pela eleição de Serra. Uma página inteira com o BOLETIM da faculdade. Jenial.
** Folha: Dilma contrata humoristas para ridicularizar jornal a serviço do Brasil S.A.
** Exclusivo: Dilma é quem escreve as colunas do Merval Pereira no Globo
** Sou jornalista... acho que nunca vou poder pedir emprego na FSP
** Sucesso de Dilma deixa Globo, Folha, Estadão e Veja em desespero - http://t.co/p7SmUg8
** Exclusivo! Folha descobre acordo secreto de Dilma: Dona Judith da ANJ vai ser ministra das Comunicações
** Como a Folha nos acusa de bullying? ela quem fez o bullying essa eleição toda e agora toma o que merece
** Folha aconselha aos seus funcionários a omitir que trabalharam no período eleitoral 2010 pra empregos no ano que vem
** Exclusivo! Dilma determinou aos Twitteiros que parem com #Dilmafactsbyfolha, que está destruindo internacionalmente a Folha de S.Paulo
** Errar é humano. Colocar a culpa na Dilma está no Manual de Redação da Folha
** Bem que eu avisei que os jornalões iriam aproveitar as manchetes do #Dilmafactsbyfolha como se fossem suas mesmo. Todos fizeram isso hoje
** Se preparem, ainda veremos os três maiores impérios da comunicação no Brasil contra o Twitter
** #DilmaFactsByFolha é a nova Revolução Francesa, reconhece Marat
** Folha (*) é um sucesso no twitter mundial! Parabéns, Otavinho!
** Será que a Veja vai levar o fenômeno #DilmaFactsbyFolha pra sua capa como o #calabocagalvao?

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