quinta-feira, 5 de junho de 2014

Metrô de SP: a greve e caos tucano

Por Altamiro Borges

Os metroviários de São Paulo mais uma vez demonstram a sua força organizativa. A greve iniciada nesta quinta-feira (5) obteve ampla adesão e afetou quase todo o sistema, responsável pelo transporte de milhões de paulistanos. Uma parte da mídia até tenta vincular a paralisação à Copa Mundo, no seu esforço de desgaste da presidenta Dilma. A Folha tucana incluiu a mobilização na retranca “A Copa como ela é”. Haja caradura! A motivação da greve é econômica e decorre da intransigência de Geraldo Alckmin (PSDB-SP). Além de afundar a empresa num mar de corrupção, no “trensalão tucano”, e de deteriorar os seus serviços, o governo paulista esbanja arrogância na relação com os metroviários.

Poucos minutos depois da assembleia com mais de 3 mil metroviários aprovar por unanimidade a greve, a Justiça paulista – totalmente submissa ao tucanato – divulgou comunicado proibindo a paralisação nos horários de pico, exigindo a circulação de 70% dos trens nos demais horários e fixando multa de R$ 100 mil por dia ao sindicato da categoria. Toda esta truculência não intimidou os trabalhadores. “Nosso problema não é com o tribunal, não é com o capeta. É com o governador Geraldo Alckmin. É com ele que vamos negociar”, reagiu Altino Prazeres Júnior, presidente da entidade – que é filiada à central sindical Conlutas.

Reivindicação e revolta
Os metroviários exigem 16,5% de reajuste salarial, mas já sinalizaram que admitem negociar um índice menor. O Metrô, porém, ofereceu apenas 8,7%. Diante do êxito da paralisação, o tucanato já partiu para a tentativa de desqualificar o movimento. Segundo relato da Folha, “a avaliação de aliados do governador Geraldo Alckmin (PSDB) é que a greve dos metroviários é política, incentivada por siglas que fazem oposição ao tucano no Estado, como o PSTU e o PSOL. Esse diagnóstico fez com que a cúpula do governo defendesse o endurecimento do tom contra a paralisação”. O presidente do Metrô, Luiz Antonio Carvalho Pacheco, inclusive já ameaça demitir as lideranças grevistas.

Como afirma Flávio Montesinos Godoi, ex-presidente do sindicato e dirigente da CTB, esta conduta ajuda a entender a revolta da categoria. “Há anos ela convive com essa postura intransigente do governo do PSDB, que é autoritário e não abre o diálogo com o movimento sindical. Esse é o tratamento que o governo dispensa aos trabalhadores metroviários, que estão na linha de frente da operação todos os dias, enfrentando as falhas diárias e atendendo à população”. O sindicalista observa que o clima de insatisfação também decorre da deterioração dos serviços, que penaliza a sociedade, e das recentes denúncias sobre o desvio de recursos da empresa, que seriam usados para montagem do Caixa-2 do PSDB.

O aumento das panes
Nos últimos anos, as panes no Metrô têm crescido de forma assustadora, prejudicando milhões de usuários. Em março passado, um documento técnico da própria empresa confirmou que, em 2013, foram registrados 113 “incidentes notáveis”, diante de 55 ocorridos em 2009, um aumento de 105%. “Se em 2009 a média era de uma pane com grande transtorno aos passageiros a cada seis dias, em 2013 esse intervalo baixou para três dias – duas por semana”, relatou o repórter Caio do Valle, do Estadão. Na mesma reportagem, a auxiliar de cozinha Daiana Barbosa descreveu o inferno vivido no cotidiano. “Antes eu fazia o percurso entre a Penha e a Barra Funda em 30 minutos. Hoje, com falhas frequentes, levo o dobro”.

Metrô lotado e panes constantes já fazem parte da vida do paulistano. Estes problemas, como observa o professor João Whitaker, decorrem da falta de investimentos na ampliação da malha metroviária e na manutenção do sistema. “A situação é a seguinte: temos um sistema de metrô saturado, um dos mais congestionados do mundo... É o resultado de cerca de vinte anos durantes os quais uma mesma gestão literalmente desprezou esse modal de transporte, construindo linhas à velocidade de tartaruga de 1,5 km ao ano. Para se ter uma ideia, a cidade do México, que começou seu metrô também na mesma época que o de São Paulo, tem hoje cerca de quatro vezes mais km de linhas do que o nosso”.

Escândalo do “trensalão”
Para complicar ainda mais a situação, nos últimos meses surgiram denúncias sobre o desvio de recursos públicos, que deveriam ser aplicados no Metrô, para alimentar um bilionário esquema de corrupção, envolvendo chefões tucanos e poderosas multinacionais. O escândalo só veio à tona graças a investigações na Europa – já que a “Justiça” e a mídia, totalmente servis ao tucanato, nada fizeram para apurar o caso, que já dura quase duas décadas. Já há provas de que durante as gestões de Mario Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, bilhões de reais foram desviados dos cofres públicos. O promotor público Marcelo Milani inclusive já solicitou a devolução de R$ 875 milhões surrupiados apenas no governo de José Serra.

Segundo reportagem do jornal El País, “o Ministério Público de São Paulo está tentando fazer com que um grupo de sete empresas brasileiras e internacionais admitam que lesaram os cofres públicos paulistas em até 875 milhões de reais. A suspeita do promotor Marcelo Milani, que conduz a investigação, é de que essas companhias se uniram em um cartel para obter dez contratos públicos de reforma e modernização de 98 trens que circulam na rede do Metrô da cidade de São Paulo. Os acordos foram firmados entre 2008 e 2010 durante a gestão do então governador José Serra (PSDB), uma das principais lideranças da oposição ao PT no Brasil e que já perdeu duas eleições presidenciais”.

Justiça e mídia blindam os tucanos
“Em outros casos, tanto a Alstom como a Siemens são investigadas por suspeitas de dar dinheiro a políticos paulistas ligados ao PSDB para obter benefícios em contratos... A Alstom teria pagado propina de até 15% sobre o valor do contrato para conseguir fechar negócios com o governo em 1998, durante a gestão de Mario Covas, também do PSDB. Já a Siemens, que denunciou o esquema de um suposto cartel metroferroviário em Brasília e em São Paulo, admitiu que um ex-dirigente seu usaria uma conta no paraíso fiscal de Luxemburgo para pagar suborno a autoridades brasileiras”, relatou o jornal espanhol.

Em fevereiro último, o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), garantiu à imprensa que abriria o sigilo de investigação sobre o chamado “cartel dos trens” – nome adocicado dado pela mídia ao “trensalão tucano”. Segundo relato da Folha, “com a decisão de Marco Aurélio, permanecerá no STF a investigação sobre os deputados Arnaldo Jardim (PPS), Edson Aparecido, José Aníbal e Rodrigo Garcia. Aparecido, Aníbal, ambos do PSDB, e Garcia, do DEM, são deputados licenciados e ocupam secretarias do governo de São Paulo. Inquérito da Polícia Federal aponta o pagamento de propina a agentes públicos. Os citados negam”. Até hoje, porém, o STF não mexeu um palito para apurar o escândalo.

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