sexta-feira, 12 de março de 2010

Boris Casoy e a impunidade criminosa

“Da cabeça de juiz e bunda de criança nunca se sabe o que pode sair”, afirma um irônico ditado popular. Na mesma semana em que a Justiça paulista rejeitou recurso da TV Globo, reafirmando que ela deverá pagar 200 salários mínimos ao jornalista Márcio Silva Novaes por difamação (ver texto abaixo), a Justiça da Paraíba julgou improcedente a ação movida pelo gari Marcelo Brito, que alegou ter sido ofendido pelas declarações elitistas de Boris Casoy contra a sua categoria.

É sempre bom repisar o que disse o âncora da TV Bandeirantes na virada do ano. Após dois garis aparecerem desejando feliz 2010, Boris Casoy não percebeu um vazamento de áudio e disparou: “Que merda... Dois lixeiros desejando felicidades... do alto de suas vassouras... Dois lixeiros... O mais baixo da escala do trabalho”. No dia seguinte, ele até pediu desculpa. Mas, numa entrevista à Folha, deixou patente que não se arrependia da frase preconceituosa, mas sim do vazamento de áudio. “Foi um erro. Vazou, era intervalo e supostamente os microfones estavam desligados”.

“(In) justiça para quem tem grana”

Apesar do evidente crime de estímulo ao preconceito, previsto na Constituição Federal, o juiz Cláudio Xavier considerou que o gari paraibano não sofreu prejuízo direto e arquivou a sua ação. O advogado do trabalhador, Alberto Quaresma, aguarda o julgamento do mérito da questão para recorrer da decisão. Boris Casoy ainda responde a outros quatro processos movidos por entidades representativas da categoria, além de várias outras ações individuais de garis. Apenas na Paraíba, o advogado José Dinart trabalha com 12 processos contra o apresentador da TV Bandeirantes.

A decisão do juiz Cláudio Xavier “é uma vergonha”, para lembrar o cínico bordão do âncora. Ela estimula os preconceitos e as difamações, tão comuns na deteriorada mídia brasileira. Ela garante a impunidade de “jornalistas” elitistas e fascistóides, que hoje ocupam posições de destaque nas redações de jornais, revistas e emissoras de televisão – como o próprio Boris Casoy, que iniciou sua carreira como militante da organização terrorista Comando de Caça aos Comunistas (CCC). Ela confirma a existência de certa promiscuidade entre setores do judiciário e os barões da mídia.

Como protestou um leitor do blog de Luis Nassif, essa decisão é um absurdo e merece a repulsa da sociedade. Ela mostra que “a (in) justiça brasileira é para quem tem grana”. Caso não haja maior pressão social, daqui a alguns dias o apresentador Boris Casoy poderá até se jactar do seu feito, considerando-se um “intocável”, acima das leis e da sociedade. Nos bastidores da mídia, ele continuará desprezando os brasileiros. Na frente das câmeras, manterá seus ataques histéricos à democracia, aos movimentos sociais e a qualquer avanço civilizatório.


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2 comentários:

Washington disse...

Como você colocou de forma prática o dois presos, duas medidas. Parabéns.

vera disse...

E ainda existe um boato de que esse estrume vai trabalhar na tevê cultura. Com que moral? É o fim da cilvilização!