quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O descaso no combate às enchentes

Reproduzo artigo de Leonardo Sakamoto, publicado em seu blog:

“Obras não ficam prontas em 24 horas.”

Quando vi a frase do governador de São Paulo Geraldo Alckmin, destacada pelo Uol Notícias, juro que não acreditei. Pensei que era brincadeira, que ele ia fazer um “Há! Peguei vocês!” logo na sequência.

Até entenderia se ele usasse outra historinha. Sei lá, que Poseidon espirrou em cima da cidade, que a Fundação Cacique Cobra Coral partiu para uma vingança por algum calote dado pelo governo, que São Pedro deixou as portas do céu abertas enquanto jogava uma pelada. Ou, pior, que alguém esqueceu de pendurar o Teru Teru Bozo japonês na árvore antes do início do verão.

Mas ele falou sério, referindo-se ao problema como se não tivesse nada a ver com aquilo. Mas o senhor já foi governador! E o seu partido comanda o Estado há 16 anos. Vai precisar de quanto mais para adotar as obras necessárias que cabem ao governo? Mais quatro, oito? Isso sem contar a prefeitura, que está na mão do maior aliado de seu partido. Segundo reportagem de Maurício Savarese, no Uol, a chuva da madrugada provocou a morte de 13 pessoas no Estado – na contagem até agora. Como é que explicamos isso para essas famílias? Mais duas eleições e aí a coisa engrena?

O fato é que planejar a região metropolitana de São Paulo é algo que aparece só no tempo das chuvas. Na seca, tudo isso vai evapora.

É fato que grande parte dos problemas nunca serão totalmente solucionados, pelo menos não com a nossa classe política e nossa mentalidade cidadã de comemorar o curto prazo e o conforto aparente. Mas há como garantir que vidas não sejam levadas pela falta de políticas de habitação e saneamento. Ou seja, não basta dragar rios (aliás, ação que foi praticamente deixada de lado por um longo tempo) e construir piscinões enquanto jogamos contra em outras ações. Criamos uma faixa nova na Marginal Tietê para a alegria dos nossos carros e, só agora, vamos começar a compensar a área verde perdida?

A natureza pode pegar qualquer um desprevenido, ainda mais quando ela vem com fúria. Mas o nível do impacto é pior quando encontra terreno fértil em descaso.

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3 comentários:

Anônimo disse...

Miro,

Veja a postagem que fiz em meu blog sobre o tema das enchentes.Espero que goste.

ps. pena que você não estará no CONEB da UNE agora em janeiro. Abraços

Vlado disse...

http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2010/08/prefeitura-de-sp-aplica-ve...

21/08/2010 11h28

Prefeitura de SP aplica verba contra enchentes em viaduto na Zona Leste

Valor seria usado em obras contra inundações em São Mateus e M’Boi Mirim.
Viaduto deve ser inaugurado em março de 2011.

Da Agência Estado

A Prefeitura de São Paulo transferiu recursos de ações antienchentes para a construção de um viaduto estaiado no Tatuapé, na Zona Leste da cidade. A medida revoltou moradores de áreas de risco de São Mateus, também na Zona Leste, e de M’Boi Mirim, na Zona Sul, que aguardavam um piscinão e a canalização de um córrego.

A verba reservada neste ano para o viaduto, que deverá ser inaugurado em março de 2011, aumentou 163% em relação à previsão inicial. O salto, de R$ 29 milhões para R$ 76,7 milhões, é o maior entre os projetos viários da Prefeitura.

O viaduto já teve 69% das obras concluídas - em dezembro, o índice não chegava a 30%. A velocidade é explicada ao se observar as transferências financeiras desde 24 de abril. Somente dois remanejamentos somaram R$ 12,8 milhões e vieram de projetos para bairros que ficaram alagados no verão.

De um piscinão para o Córrego dos Machados, por exemplo, em uma área de risco em São Mateus, que ficou submersa em 5 de dezembro, foram retirados R$ 6,7 milhões. Da canalização do Córrego Ponte Baixa, em M’Boi Boi Mirim, foram R$ 6 milhões. Ambos os projetos estão em licitação, sem prazo para conclusão.

O governo municipal também transferiu R$ 26 milhões do Fundo Municipal de Saneamento Ambiental. Outros R$ 2 milhões vieram de um anel viário no Parque Guarapiranga, ainda no papel, e R$ 12,1 milhões de "obras e instalações" em geral.

O prefeito Gilberto Kassab (DEM) diz que a suplementação foi necessária porque a previsão inicial de gastos, de R$ 49 milhões, foi reduzida pelos vereadores para R$ 26 milhões em dezembro, na votação do orçamento. Sobre a transferência de R$ 26 milhões do Fundo Municipal de Saneamento Ambiental, a prefeitura diz que o fundo ainda não foi constituído e que o remanejamento é legal e previsto em contrato.

Ao G1, a prefeitura afirmou que a transferência de verba das obras nos córregos para o viaduto não é prejudicial porque o projeto está em fase de licitação, portanto, ainda não há obras em andamento.

Anônimo disse...

Miro, parece que ninguém se lembra da propaganda no final do governo anterior do Alkimin quando ele aparecia na TV e anunciava em alto e bom som que não haveria mais enchentes do Tietê na Capital.
Será que ninguém tem esse video tape?

Abraço,
Marco.