quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Alckmin, Kassab e as mentiras deslavadas

Por Altamiro Borges

A desculpa deslavada de que a chuva é a principal culpada pela tragédia humana vivida pela população paulista não está colando mais. Juntinhos, o tucano Geraldo Alckmin e o demo Gilberto Kassab reconheceram ontem (11), em entrevista coletiva, que há falhas na execução das obras de combate às enchentes no estado e na capital. Até a mídia demotucana, que também insistia na linha de criticar Deus pelas inundações, começa a mudar timidamente sua cobertura – para não afundar de vez sua credibilidade.



É certo que não é fácil assumir a culpa pelo criminoso descaso. Alckmin caiu no ridículo ao dizer que “não é possível fazer obras em 24 horas”. O tucano deve ter se esquecido que está iniciando o terceiro mandato como governador e que seu partido, o PSDB, comanda o estado há mais de 16 anos. Já o demo Kassab, cria do tucano José Serra, ainda repetiu a ladainha dos anos anteriores. “Estamos no 11º dia de janeiro, já choveu 93% em relação à média do mês, o que mostra que a intensidade é muito grande”.

Caixa cheio e corte de gastos

Mas não dá mais para fugir da responsabilidade – ou irresponsabilidade. As provas do descaso começam a aparecer. Reportagem da Folha desta quarta-feira (12), intitulada “Com caixa cheio, Kassab não usa verba reservada”, comprova que o prefeito é, sim, um dos culpados pela tragédia. “No ano em que a prefeitura bateu recorde de arrecadação de impostos, a gestão Gilberto Kassab (DEM) investiu menos do que estava previsto no Orçamento em projetos antienchente”, relata o jornalista José Benedito da Silva.

Dados da Secretaria de Planejamento mostram que, em 2010, as receitas de impostos cresceram 20,4%, puxadas pelo IPTU (alta de 26,2%), que colocou R$ 835 milhões a mais nos cofres da prefeitura em relação ao ano anterior. O valor extra é quase o dobro do que Kassab gastou com ações antienchente (R$ 430 milhões de um total previsto de R$ 504 milhões). Projetos como canalização de córregos e construção de piscinões tiveram gastos abaixo do previsto.

Kassab bate recorde com publicidade

“Parte dos locais alagados nos últimos dias tem obras planejadas há anos, mas que continuam no papel. Em um deles, no final de dezembro, morreu a professora Michele Borges, 29, arrastada pelas águas do córrego Ponte Baixa, em M'Boi Mirim, zona sul. Tivessem prevalecido os planos da prefeitura, o córrego já estaria canalizado. A obra é incluída no Orçamento desde 2005. Em 2010, a prefeitura previa gastar R$ 20 milhões, mas nada foi feito”, descreve o jornal, que complementa:

“Outro local que alagou anteontem foi a praça General Oliveira Álvares, na Vila Madalena (zona oeste), onde deveria ser feito um piscinão. A prefeitura fez a licitação em 2008, contratou a empresa em 2009, mas nada foi feito. Em uma das regiões que mais alagam, a Pompéia (zona oeste), a prefeitura nunca tirou do papel o piscinão planejado há anos. Sem a solução prometida, o local deixou carros ilhados no temporal”. Enquanto corta verbas para o combate às enchentes, “em outras áreas, a prefeitura gastou o que previa, como em publicidade - R$ 108,9 milhões, quase o dobro de 2009 (R$ 57,8 milhões), um novo recorde da gestão”.

Cresce o número de alagamentos

Já no caso do governador Geraldo Alckmin, as mentiras têm menos sustentação ainda. No seu mandato anterior, ao inaugurar com muita pompa e publicidade a obra bilionária do rebaixamento da calha do Tietê, ele chegou a anunciar que não haveria novo transbordamento do rio nos próximos cem anos. De 2006 para cá, já ocorreram cinco. O número de pontos de alagamento de ontem já é o maior desde 2005. E, ao contrário do que afirma a dupla Alckmin/Kassab, a chuva nem foi tão intensa assim.

O temporal de ontem, que causou 127 pontos de alagamento e resultou em mortes e muita destruição, não precisava ter gerado tanto caos. “Foi uma chuva esperada para o verão”, afirma o meteorologista Augusto Pereira Filho, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP. “Foram 54 milímetros. Não se trata de índice excepcional”. Como se nota, o problema não é a chuva. É mesmo o descaso – com cortes de investimentos no setor e total falta de planejamento estratégico.

Marqueteiros e oportunistas

Na entrevista coletiva de ontem, Alckmin e Kassab pelo menos não se comprometeram com um prazo para o fim das enchentes. Desta forma, eles evitam novo mico. Pela enorme sensibilidade social dos demotucanos, é evidente que o grave problema, que causa tanta tragédia humana, será novamente negligenciado. Passado o trauma da temporada de chuvas, o tema será esquecido. Na campanha eleitoral de 2012, os marqueteiros darão um jeito para divulgar que São Paulo é um paraíso e que os oportunistas de sempre estão preocupados com as tragédias da população.

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3 comentários:

Alexandre Figueiredo disse...

Miro, eu vi no Bom Dia Brasil que o Gilberto Kassab disse que a tragédia de SP poderia ter sido pior, e que a prefeitura minimizou os efeitos das tempestades etc. Sério.

É o que mostra essa turma de políticos demotucanos que parecem viver em outra órbita.

Eduardo Vasco disse...

É isso aí, Miro! Esses filhos da puta enganam o povo com suas mentirinhas sujas, pegam o dinheiro pra si e deixam a população na mão.Se lembra daquelas propagandas da televisão que mostram o kassab, de noite, no meio do trânsito, com uniforme e capacete fingindo que estão trabalhando em obras?! E cadê essas obras, que mesmo prontas, servirão apenas para a classe alta e classe média?!? Isso é São Paulo, camarada. Abração.

Marcos Toshiba disse...

Pergunta a tucanos e democratas:
POR QUE não fizeram isso antes? Serra, por exemplo ficou 3 anos sem mexer no tietê, mas fez de tudo para reduzir o leito com novas pistas. Kassab também, só falou muito e fez quase nada. Enquanto prometem, a estação passa, daqui a pouco esquecem e torram tudo em publicidade como fez Serra.
Mas paulistano merece. Continuem votando nos demotucanos.