Por João Paulo Charleaux, no sítio Opera Mundi:
"A direita chilena quer mais poder", disse ao Opera Mundi um dos principais analistas políticos do Chile, Francisco Javier Díaz, logo após a mudança de gabinete anunciada pelo governo de Sebastián Piñera. Nesta segunda-feira (18/07), o presidente formalizou a troca de oito ministro: porta-voz; Economia; Planejamento; Educação; Justiça; Obras Públicas, Mineração e Energia.
Para o pesquisador do centro de estudos Cieplan (Corporacao de Estudos para a América Latina), a sede de poder, junto com uma desaprovação popular recorde obtida pelo presidente nas últimas pesquisas, que obrigou o governo a mudar 13 de seus 20 ministros em menos de um ano de gestão numa reforma de gabinete que, segundo ele, deixou três resultados:
1- Abriu espaço para o setor mais pinochetista, conservador, católico da direita chilena, representado pela UDI (União Democrática Independente).
2- Manteve seu chefe de gabinete, Rodrigo Hinzpeter, num sinal claro de que o governo não dará o braço a torcer, mesmo que a cidadania continue colocando 100 mil manifestantes nas ruas contra o que quer que seja.
3- Aponta o sucessor de Piñera na eleição presidencial de 2013: o ex-ministro da Mineração Laurence Golborne, o herói do salvamento dos 33 mineiros do Deserto de Atacama.
O fato de Javier Díaz ter sido assessor político da ex-presidente chilena Michelle Bachelet não o impediu de fazer uma leitura lúcida dos últimos movimentos feitos pelo governo Piñera. A seguir, os principais trechos da entrevista:
Esta mudança de gabinete é uma resposta à pressão da direita ou da oposição?
A reforma deve ser vista como uma resposta a dois flancos que estavam abertos neste governo. O primeiro deles é justamente a pressão da direita. Era preciso incorporar a UDI. Isso foi feito por Piñera ao nomear os senadores Pablo Longueira para a Economia e Andrés Chadwick para porta-voz (dois pinochetistas históricos). O outro flanco foi coberto ao confirmar no cargo o seu chefe de gabinete, Rodrigo Hinzpeter, apesar de toda pressão que havia no sentido contrário. A manutenção de Hinzpeter foi um claro sinal à sociedade chilena de que o governo manterá o mesmo rumo, não importa quantos estejam nas ruas protestando.
As mudanças de gabinete são comuns no Chile ao aproximar-se da metade do mandato?
Não. Essa foi uma mudança provocada por uma crise. O presidente Piñera tinha em novembro 60% de aprovação, depois que tirou os 33 mineiros de uma mina no Deserto do Atacama. Hoje, só 30% o apoiam. Em um ano, foram mudados 13 dos seus 20 ministros. Essa é a maior mudança de ministros da história recente do Chile, desde a redemocratização.
Logo depois do anúncio das mudanças, os membros do governo começaram a falar para os políticos de oposição, pedindo que deixem o governo governar. É um governo tao acuado? Como deve ser lido esse discurso num momento em que o governo deveria estar se reafirmando?
Efetivamente, este é um governo marcado pela busca de maior apoio no Parlamento. Piñera não tem maioria no Senado e, na Câmara, precisa sempre de um apoio precário de deputados independentes para fechar sua equação. Ao fazer esses discursos, ele tenta passar a conta política da crise para a oposição.
Qual a influência das eleições locais de 2012 neste cenário de mudança de gabinete?
Em 2012 teremos eleições locais e parlamentares. Em 2013, nova eleição presidencial (o mandato de presidente no Chile é um dos mais curtos da região. São apenas quatro anos, sem direito a reeleição). Uma das principais coisas desta mudança foi o fato de o presidente ter passado o ministro de Minas Laurence Golborne para o Ministério de Obras Públicas.
Golborne foi o herói do resgate dos 33 mineiros no Deserto do Atacama. Até entrar no governo, ele não era uma figura conhecida. Havia dúvida até mesmo sobre se Piñera o respaldaria. Mas ele se saiu bem e começou a aparecer como um possível sucessor, mais forte que candidatos tradicionais, como o próprio Joaquín Lavin (atual ministro da Educacão, transferido para Planejamento). No Ministério de Obras Públicas, Golborne terá puras boas notícias para dar até que cheguem as eleições presidenciais. Vai passar dois anos inaugurando obras.
"A direita chilena quer mais poder", disse ao Opera Mundi um dos principais analistas políticos do Chile, Francisco Javier Díaz, logo após a mudança de gabinete anunciada pelo governo de Sebastián Piñera. Nesta segunda-feira (18/07), o presidente formalizou a troca de oito ministro: porta-voz; Economia; Planejamento; Educação; Justiça; Obras Públicas, Mineração e Energia.
Para o pesquisador do centro de estudos Cieplan (Corporacao de Estudos para a América Latina), a sede de poder, junto com uma desaprovação popular recorde obtida pelo presidente nas últimas pesquisas, que obrigou o governo a mudar 13 de seus 20 ministros em menos de um ano de gestão numa reforma de gabinete que, segundo ele, deixou três resultados:
1- Abriu espaço para o setor mais pinochetista, conservador, católico da direita chilena, representado pela UDI (União Democrática Independente).
2- Manteve seu chefe de gabinete, Rodrigo Hinzpeter, num sinal claro de que o governo não dará o braço a torcer, mesmo que a cidadania continue colocando 100 mil manifestantes nas ruas contra o que quer que seja.
3- Aponta o sucessor de Piñera na eleição presidencial de 2013: o ex-ministro da Mineração Laurence Golborne, o herói do salvamento dos 33 mineiros do Deserto de Atacama.
O fato de Javier Díaz ter sido assessor político da ex-presidente chilena Michelle Bachelet não o impediu de fazer uma leitura lúcida dos últimos movimentos feitos pelo governo Piñera. A seguir, os principais trechos da entrevista:
Esta mudança de gabinete é uma resposta à pressão da direita ou da oposição?
A reforma deve ser vista como uma resposta a dois flancos que estavam abertos neste governo. O primeiro deles é justamente a pressão da direita. Era preciso incorporar a UDI. Isso foi feito por Piñera ao nomear os senadores Pablo Longueira para a Economia e Andrés Chadwick para porta-voz (dois pinochetistas históricos). O outro flanco foi coberto ao confirmar no cargo o seu chefe de gabinete, Rodrigo Hinzpeter, apesar de toda pressão que havia no sentido contrário. A manutenção de Hinzpeter foi um claro sinal à sociedade chilena de que o governo manterá o mesmo rumo, não importa quantos estejam nas ruas protestando.
As mudanças de gabinete são comuns no Chile ao aproximar-se da metade do mandato?
Não. Essa foi uma mudança provocada por uma crise. O presidente Piñera tinha em novembro 60% de aprovação, depois que tirou os 33 mineiros de uma mina no Deserto do Atacama. Hoje, só 30% o apoiam. Em um ano, foram mudados 13 dos seus 20 ministros. Essa é a maior mudança de ministros da história recente do Chile, desde a redemocratização.
Logo depois do anúncio das mudanças, os membros do governo começaram a falar para os políticos de oposição, pedindo que deixem o governo governar. É um governo tao acuado? Como deve ser lido esse discurso num momento em que o governo deveria estar se reafirmando?
Efetivamente, este é um governo marcado pela busca de maior apoio no Parlamento. Piñera não tem maioria no Senado e, na Câmara, precisa sempre de um apoio precário de deputados independentes para fechar sua equação. Ao fazer esses discursos, ele tenta passar a conta política da crise para a oposição.
Qual a influência das eleições locais de 2012 neste cenário de mudança de gabinete?
Em 2012 teremos eleições locais e parlamentares. Em 2013, nova eleição presidencial (o mandato de presidente no Chile é um dos mais curtos da região. São apenas quatro anos, sem direito a reeleição). Uma das principais coisas desta mudança foi o fato de o presidente ter passado o ministro de Minas Laurence Golborne para o Ministério de Obras Públicas.
Golborne foi o herói do resgate dos 33 mineiros no Deserto do Atacama. Até entrar no governo, ele não era uma figura conhecida. Havia dúvida até mesmo sobre se Piñera o respaldaria. Mas ele se saiu bem e começou a aparecer como um possível sucessor, mais forte que candidatos tradicionais, como o próprio Joaquín Lavin (atual ministro da Educacão, transferido para Planejamento). No Ministério de Obras Públicas, Golborne terá puras boas notícias para dar até que cheguem as eleições presidenciais. Vai passar dois anos inaugurando obras.
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