Foto do sítio www.aporrea.org |
Entre 2 e 3 e dezembro se concretiza finalmente um sonho latino-americano longamente acalentado: vai nascer, na cúpula iniciada em Caracas (Venezuela), a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), que vai reunir de forma soberana e autônoma 33 países da região cujos dirigentes estão presentes em Caracas para formalizar sua criação.
Lá se expressarão os dois traços da América Latina previstos por Darcy Ribeiro, a característica comum da região e também sua contradição comum. A característica comum vem da origem latina, ibérica, que aproxima as culturas e as formas de ver e viver que marcam esta parte do mundo. O antagonismo comum é o confronto, partilhado por todos, com o imperialismo norte-americano, que torna a luta anti-imperialista uma condição para o desenvolvimento e para a autonomia de todos.
As ideias autonomistas e integracionistas emergiram já na luta pela independência. No começo do século 19. Mas foram torpedeadas por inúmeras iniciativas tomadas por governos dos EUA ao longo da história e que minaram o fortalecimento das nações e dos povos da América Latina, continente transformado pela potência do norte numa espécie de quintal onde apenas vicejavam seus interesses.
A última destas tentativas subordinadoras e anexacionistas foi a derrotada proposta da Alca, que saiu do cérebro conturbado do presidente George Bush pai (presidente dos EUA entre 1989 e 1993), foi apoiada pelos governos neoliberais na década de 1990 (como o de Fernando Henrique Cardoso, no Brasil), mas malogrou na 4ª Cúpula das Américas, realizada em 2005 em Mar Del Plata (Argentina), que rejeitou aquele plano neocolonizador.
A proposta unificadora, cujo clímax ocorre em Caracas nos próximos dias, avançou. Um marco inicial foi o Mercosul, criado em 1991 e fortalecido depois de 2003, com a posse de Lula no Brasil. A ideia da Celac prosperou na reunião de presidentes da América do Sul realizada em dezembro de 2004, no Peru, onde surgiu a Unasul (União das Nações Sul-Americanas), e avançou nas cúpulas latino-americanas de 2008 na Bahia, e de 2010, em Cancun (México).
A criação da Celac confirma o rumo de autonomia e soberania tomado pelas nações latino-americanas e caribenhas desde o final da década de 1990, quando se sucederam reuniões e encontros regionais sem a presença de representantes do imperialismo norte-americano. Neles foram decididos acordos políticos, econômicos e de defesa regional que consagram e configuram a integração soberana do continente. A reação daqueles que, até então, mandavam na região em conluio com elites atrasadas, conservadoras e neoliberais, tomou a forma de pressões econômicas, tentativas de organização de acordos paralelos e subordinados ao imperialismo. Essa reação também assumiu a forma das ameaças representadas pela implantação de bases militares e reativação da 4ª Frota como meio para amedrontar os países da região.
Não deu certo; não tem dado certo, e a busca da autonomia e da soberania prossegue em passos concretos para a integração, e a fundação da Celac é o mais importante deles. Cabe, nesse sentido, lembrar a frase pronunciada por Lula no Encontro do Foro de São Paulo em Manágua, em maio de 2011: “a integração é a única chance de nossos países resolverem os problemas seculares dos nossos povos”. Os países da América Latina e do Caribe estão construindo os instrumentos para isso.
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