Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:
Quem disse que a edição brasileira da franquia holandesa Big Brother não serve para nada? Certamente é inútil do ponto de vista cultural, sociológico, antropológico ou do mais tênue bom gosto. Não serve nem como lazer porque induz a exacerbação de sentimentos negativos, incompatíveis com a descontração e a alegria que caracterizam – ou deveriam caracterizar – o entretenimento. Mas serve como exemplo do que não presta na televisão brasileira.
Sim, o Big Brother Brasil tem lições a ensinar que vão desde como não expor comportamento e linguajar inadequados na tevê até o limiar da criminalidade, seja em termos sexuais, “raciais” ou de agressão à formação de crianças e adolescentes ou do próprio direito de pais e responsáveis de lhes imporem o ritmo que bem entenderem até poderem vivenciar ou conhecer o que poderíamos chamar de “fatos da vida”, por assim dizer.
Em primeiro plano ficou a hipótese repugnante de uma garota de idade análoga à de minhas filhas ter sido obrigada a ir “até o fim” em um namorico regado a uma substância que lhe entorpeceu a razão e que vem sendo alvo de iniciativas legais de lhe proibir a publicidade nos meios de comunicação de massa assim como ocorreu com o tabaco, pois os efeitos nefastos do álcool – e do estímulo ao consumo – dispensam apresentações.
Em plano igualmente grave, ainda que menos focado, está hipótese de racismo contra alguém que na estréia do Big Brother respondeu negativamente à pergunta do apresentador Pedro Bial sobre se via “necessidade de cotas para negros no BBB”, pergunta que lhe foi feita por ser o único negro do programa. Se o rapaz “estuprou”, não se sabe, mas sabe-se que, a partir de agora, o programa não terá negro nenhum e os de sempre dirão o que já ouvi, ou seja, que de “gente assim” não se poderia “esperar outra coisa”.
O plano mais importante, porém, é o que está em terceiro lugar. E a cena que o ilustra é bem eloquente: duas meninas de 10 anos e um garoto de 9 debatem, acaloradamente, tudo o que os adultos estão debatendo sobre o caso, porém ainda sem saber direito o que seria o tal “estrupo” de que tanto falam, ainda que especulem sobre o que cabeças, corpos e membros do casal de “brothers” faziam sob o edredon.
Em benefício dos mais sensíveis, o leitor será poupado dos detalhes do diálogo.
Há, ainda, uma quarta lição que a atração da Rede Globo e a própria deixam ao país: os interesses empresariais e econômicos dos detentores de concessões públicas de rádio e televisão, sejam eles quem forem, não se sobrepõem à formação moral de crianças e adolescentes e aos direitos civis dos próprios integrantes voluntários desse programa ou similares, direitos que não podem ser violados nem sob anuência de seus detentores.
O saldo desse episódio envolve uma imensa lição, quase uma grade curricular, portanto.
O casal de “brothers” foi exposto da pior forma possível. A moça está tendo sua honra posta em dúvida de forma indelével e permanente, o rapaz corre o risco de ter sua vida destruída, pois ninguém quer empregar ou ter ligações com um estuprador independentemente do que realmente tenha acontecido sob o edredon, e crianças estão tendo que encarar precocemente o lado mais cru dos fatos da vida, queiram seus pais e responsáveis ou não.
Já o Estado brasileiro corre o risco de deixar claro que não serve para nada ao permitir que empresários inescrupulosos joguem com as vidas de tantos atores – dezenas de milhões deles, não nos esqueçamos – sem que qualquer autoridade diga um A, pois a única autoridade que se manifestou agiu em defesa do lado que está longe de ser o mais vulnerável, não obstante o seu direito inquestionável de proteção contra eventual abuso que possa ter sofrido.
Viu quanta coisa aprendemos com o “BBB”, leitor?
Quem disse que a edição brasileira da franquia holandesa Big Brother não serve para nada? Certamente é inútil do ponto de vista cultural, sociológico, antropológico ou do mais tênue bom gosto. Não serve nem como lazer porque induz a exacerbação de sentimentos negativos, incompatíveis com a descontração e a alegria que caracterizam – ou deveriam caracterizar – o entretenimento. Mas serve como exemplo do que não presta na televisão brasileira.
Sim, o Big Brother Brasil tem lições a ensinar que vão desde como não expor comportamento e linguajar inadequados na tevê até o limiar da criminalidade, seja em termos sexuais, “raciais” ou de agressão à formação de crianças e adolescentes ou do próprio direito de pais e responsáveis de lhes imporem o ritmo que bem entenderem até poderem vivenciar ou conhecer o que poderíamos chamar de “fatos da vida”, por assim dizer.
Em primeiro plano ficou a hipótese repugnante de uma garota de idade análoga à de minhas filhas ter sido obrigada a ir “até o fim” em um namorico regado a uma substância que lhe entorpeceu a razão e que vem sendo alvo de iniciativas legais de lhe proibir a publicidade nos meios de comunicação de massa assim como ocorreu com o tabaco, pois os efeitos nefastos do álcool – e do estímulo ao consumo – dispensam apresentações.
Em plano igualmente grave, ainda que menos focado, está hipótese de racismo contra alguém que na estréia do Big Brother respondeu negativamente à pergunta do apresentador Pedro Bial sobre se via “necessidade de cotas para negros no BBB”, pergunta que lhe foi feita por ser o único negro do programa. Se o rapaz “estuprou”, não se sabe, mas sabe-se que, a partir de agora, o programa não terá negro nenhum e os de sempre dirão o que já ouvi, ou seja, que de “gente assim” não se poderia “esperar outra coisa”.
O plano mais importante, porém, é o que está em terceiro lugar. E a cena que o ilustra é bem eloquente: duas meninas de 10 anos e um garoto de 9 debatem, acaloradamente, tudo o que os adultos estão debatendo sobre o caso, porém ainda sem saber direito o que seria o tal “estrupo” de que tanto falam, ainda que especulem sobre o que cabeças, corpos e membros do casal de “brothers” faziam sob o edredon.
Em benefício dos mais sensíveis, o leitor será poupado dos detalhes do diálogo.
Há, ainda, uma quarta lição que a atração da Rede Globo e a própria deixam ao país: os interesses empresariais e econômicos dos detentores de concessões públicas de rádio e televisão, sejam eles quem forem, não se sobrepõem à formação moral de crianças e adolescentes e aos direitos civis dos próprios integrantes voluntários desse programa ou similares, direitos que não podem ser violados nem sob anuência de seus detentores.
O saldo desse episódio envolve uma imensa lição, quase uma grade curricular, portanto.
O casal de “brothers” foi exposto da pior forma possível. A moça está tendo sua honra posta em dúvida de forma indelével e permanente, o rapaz corre o risco de ter sua vida destruída, pois ninguém quer empregar ou ter ligações com um estuprador independentemente do que realmente tenha acontecido sob o edredon, e crianças estão tendo que encarar precocemente o lado mais cru dos fatos da vida, queiram seus pais e responsáveis ou não.
Já o Estado brasileiro corre o risco de deixar claro que não serve para nada ao permitir que empresários inescrupulosos joguem com as vidas de tantos atores – dezenas de milhões deles, não nos esqueçamos – sem que qualquer autoridade diga um A, pois a única autoridade que se manifestou agiu em defesa do lado que está longe de ser o mais vulnerável, não obstante o seu direito inquestionável de proteção contra eventual abuso que possa ter sofrido.
Viu quanta coisa aprendemos com o “BBB”, leitor?
2 comentários:
17/01/2012 - MPF-SP abre procedimento paraapurar violação aos direitos da mulher no BBB12
Objetivo do procedimento é exigir esclarecimento da emissora ao público sobre os fatos ocorridos
A Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão em São Paulo, órgão do Ministério Público Federal abriu hoje um procedimento para "apurar divulgação de cena com possível abuso sexual por parte de participante do Big Brother Brasil BBB12, com violação aos princípios constitucionais da Comunicação Social e ofensa aos direitos da mulher".
O procedimento não é de natureza criminal. O possível crime ocorrido no estúdio em que é gravado o programa já é objeto de apuração da Polícia Civil e do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro.
A natureza da investigação do MPF é cível e visa garantir, principalmente, o respeito aos direitos da mulher. O objetivo do procedimento é que a Rede Globo, emissora de alcance nacional, não contribua para o processo de estigmatização da mulher, mas para a promoção do respeito à mulher e a desconstrução de ideias que estabelecem papéis estereotipados para o homem e a mulher, conforme prevê a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (Convenção de Belém do Pará).
Uma das possíveis linhas de trabalho do MPF é exigir da emissora a publicação de esclarecimentos no BBB sobre os direitos das mulheres, de forma semelhante à atuação da instituição no caso do BBB 10, quando o MPF exigiu da Globo um esclarecimento sobre as formas de transmissão da Aids.
Outro questionamento que o MPF fará é sobre a forma como a Rede Globo informou o público a respeito dos fatos ocorridos na casa. Segundo a emissora (veja a nota oficialdo BBB 12), o participante Daniel teria sido expulso por "comportamento inadequado", mas a grande parcela do público que não tem pay-per-view e não viu as cenas ocorridas no último final de semana entre ele e a participante Monique, nem acompanha o debate em torno do assunto nas redes sociais, ficou sem saber em que contexto o "comportamento inadequado" ocorreu.
O MPF em São Paulo, em virtude da fase inicial em que se encontra a apuração, não se manifestará publicamente sobre o caso novamente enquanto não receber as respostas da emissora.
Procedimento nº 1.34.001.000233/2012-19
Assessoria de Comunicação
Procuradoria da República no Estado de S. Paulo
Mais informações à imprensa: Marcelo Oliveira
11-3269-5068
ascom@prsp.mpf.gov.br
www.twitter.com/mpf_sp
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VIDA LONGA AO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL !
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=ESUY1me2g-E
veneza brasileira veja
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