quinta-feira, 15 de março de 2012

A guerra psicológica na Venezuela

Por Juan Eduardo Romero, no sítio da Adital:

Guerra psicológica (GUS) ou operações de guerra psicológica (OPGUS) são denominações para as ações destinadas a gerar percepções, a orientar ou a direcionar condutas mediante o uso de propaganda, com a finalidade de alcançar um alto controle social das emoções. É denominada também "guerra sem fuzis” e faz parte das estratégias selecionadas nos manuais operacionais da Doutrina de Segurança e Defesa dos Estados Unidos, promovida no contexto do Projeto para o Novo Século Americano (PNSA). Devemos recordar que a partir do término da Guerra do Golfo, que gerou a primeira invasão do Iraque, em 1991, um conjunto de think-tank neoconservadores, dentre os quais ressaltavam Donald Rumsfeld e Paul Worfowitz - que seriam, durante o governo de George W. Bush (2000-2008), Secretário de Estado e Presidente do Banco Mundial, respectivamente -, uma nova doutrina foi proposta.

Esse grupo de neoconservadores faz parte dos denominados "falcões” do Departamento de Estado, cujo objetivo é conseguir a preponderância econômica e militar dos Estados Unidos sobre seus adversários históricos (China-Rússia), como também sobre seus próprios aliados (Inglaterra, França, Itália, Canadá, entre outros). Esses grupos neoconservadores manifestaram sua preocupação ante a vulnerabilidade da segurança gerada pela dependência da importação de 10 milhões de barris de petróleo, dos 18 milhões consumidos diariamente nos EUA para manter seu ritmo de produção e a capacidade de mobilização militar, que lhes assegura sua pretendida hegemonia política. A guerra sem fuzis tornou-se uma necessidade ante o fato de que as confrontações no Iraque e no Afeganistão –que fazem parte da estratégia do PNSA- custaram-lhes mais 607,4 bilhões de dólares entre 2007 e 2010 em manutenção de tropas. Por isso, as OPGUS aparece no orçamento do Departamento de Estado. De fato, para 2011, por primeira vez destinou-se um total de 384,8 milhões de dólares para GUS, exclusivamente para o Comando Sul, cujas operações se estendem até o território venezuelano.

Não se deve perder de vista o contexto internacional no qual se desenvolve o governo de Hugo Chávez. A Venezuela conta com as maiores reservas de hidrocarbonetos do mundo, totalizando 298 bilhões de barris de petróleo, muito acima da Arábia Saudita –tradicional aliado e provedor de petróleo dos EUA- e de outros países do mundo. Isso, sem contar as reservas que se encontram no Golfo de Venezuela, calculadas em 1,8 vezes a mais do que as reservas comprovadas (isto é, quase 500 bilhões de barris a mais). Além disso, a política internacional da Venezuela tem gerado um conjunto de associações ou organizações de novo tipo, não alinhadas aos interesses dos EUA na região, entre as quais, cabe ressaltar a Celac, a Unasul, o Banco do Sul, a Alba-TCP, entre outras. Se isso não fosse suficiente, a ação da Venezuela sob a liderança de Hugo Chávez tem facilitado a assimilação de um discurso político que finca pé na defesa da soberania contra a influência transnacional dos Estados Unidos, sendo emuladas suas matrizes discursivas no Equador, na Bolívia, na Nicarágua, no Uruguai, entre outras de Nossa América. Por outro lado, o financiamento e apoio de grupos opositores ao presidente Chávez não conseguiu alcançar o objetivo de derrotá-lo em ocasiões anteriores, como aconteceu nas eleições do referendo revocatório, em 2004; nas eleições gerais de 2006; ou nas eleições da Emenda, em 2009. Porém, sim, conseguiram fazê-lo nas eleições pela reforma constitucional, em 2007, onde o impacto das OPGUS foi notório e essencial para conseguir inibir mais de 2.500.000 eleitores que, um ano antes, haviam manifestado seu apoio a Chávez.

O cenário de 2012 tem um conjunto de particularidades que fazem presumir um incremento das OPGUS. Em primeiro lugar, os efeitos causados pelo fato da oposição a Chávez apresentar-se com um candidato único, como resultado da imposição de um processo eleitoral interno, que mostrou seus resultados em 12 de fevereiro. Em segundo lugar, a existência de um descontentamento –tanto por parte dos que apoiam a Chávez quanto por parte da oposição- devido à lentidão da resposta burocrática. Em terceiro lugar, o reaparecimento dos problemas de saúde do presidente. Essas razões se unem e se manifestam nas matrizes que contextualizam o discurso político de Capriles Radonski, como candidato opositor.

Para competir com Chávez em seu campo natural, o candidato opositor começou a utilizar-se da simbologia tricolor: a defesa da ‘venezolanidad’. Esse simbolismo se reflete no nome do Comando da Campanha (Comando Tricolor) de Capriles. Da mesma forma, a estratégia de falar em Progresso, como uma tentativa de mimetizar os efeitos do capitalismo liberal, que apoia abertamente. Outro elemento característico dessa OPGUS é o fato de mostrar sua capacidade física, chegando ao ponto de contrastar com "um presidente enfermo e diminuído”, buscando, com isso, conseguir o desencanto e a desilusão nos eleitorados chaves (classes ‘D’ e ‘E’), que têm demonstrado seu decidido apoio a Chávez.

A estratégia de GUS gira em torno a ‘adocicar’ a figura de Capriles, mostrando-o como um candidato aberto a todos os venezuelanos; buscando, com isso, "apagar” as imagens de um Capriles em 2002, violentando uma embaixada ou encabeçando prisões de adeptos ou de funcionários de Chávez. Trata-se de conquistar aos indecisos ou os seguidores populares do presidente, mascarando o verdadeiro rosto de um candidato das elites econômicas e políticas do capital transnacional na Venezuela.

1 comentários:

Djijo disse...

O bom do ser humano é que na maioria das vezes ele é imprevisível. Esses teóricos fazem suas planilhas e tem que torcer para que tudo se enquadre nela. Espero que o povo venezuelano faça sua escolha também com a cabeça. No tempo de color, só uma informação me bastou para não votar nele: de que nenhum dos marajás que ele caçou foi caçado. Era um embuste. Se o povo da venezuela perceber esse embuste irá votar em quem ele já confia e os lesa-pátrias vão amargar mais uma derrota. Bom para a democracia do continente.