Por Paulo Moreira Leite, na coluna Vamos combinar:
A vingança é, vamos combinar, um dos mais intensos prazeres da existência humana.
Compreendo, portanto, o alvoroço de muitas pessoas que, inconformadas com as injustiças cometidas no mensalão do Valúbio, esfregam as mãos a espera do mensalão do Vazeredo.
Este alvoroço foi reforçado com a notícia de que os responsáveis pelo mensalão PSDB-MG tem prazo de 40 dias para ouvir as últimas testemunhas e encaminhar o julgamento.
Supondo que, mesmo desmembrados, os réus do mensalão PSDB-MG recebam o mesmo tratamento daquele dispensado ao Valúbio, não vejo motivo para comemorar.
O julgamento que se encerra, em Brasília, foi flexível na aceitação de provas. Esteve longe de demonstrar a “compra de votos,” tese principal da acusação e do relator. O desvio de dinheiro público é uma confusão. O Banco do Brasil, que tem mais ou menos um terço de participação no Visanet, diz que ele é privado. Considerando que os outros sócios do BB nesta empresa são bancos privados, seria bom perguntar o que eles acham do Visanet. Acham que é uma instituição estatal? Ou seja: para dizer que houve desvio de dinheiro público, ao menos neste caso, é preciso passar por cima da avaliação do departamento jurídico do Banco do Brasil.
Acho que é preciso estar com a visão muito desfocada para não enxergar as diferenças entre os dois mensalões, seus personagens e seus símbolos.
Acho que o esforço, hoje, para valorizar o mensalão PSDB-MG só ajuda a quem pretende minimizar o erro cometido por parte do STF.
Mais uma homenagem a Chico Anysio na linha de “Sou mas…quem não é…?”
Não critico, obviamente, quem foi condenado com provas claras e robustas. Condeno as sentenças com base no “é plausível”, “não é possível”, “todo mundo sabe” e assim por diante. Muitas provas foram demonstradas no grito e não com base numa exposição paciente e completa de fatos. Como corruptos não confessam, a negativa dos acusados passou a ser considerada como prova de que estavam mentindo. As vezes, estavam. Em outras, talvez não. Mas a prova cabe à acusação, certo?
Não há nenhuma razão para pensar que a Polícia Federal e o Ministério Público tenham sido mais severos, eficientes e implacáveis para investigar o PSDB, concorda?
A soma de dois erros não faz um acerto. Só complica mais a coisa.
A coisa é a criminalização da política no Brasil.
Estive no mais recente encontro da Federação Nacional dos Prefeitos, ontem, em Vitória, e posso testemunhar. Na base da sociedade, que é o município, a situação é muito mais grave e complicada.
Participando de um debate com 40 prefeitos de cidades de porte médio – como Foz do Iguaçu, no Paraná, Suzano, em São Paulo, Bajé, no Rio Grande do Sul, Vitória, no Espírito Santo – descobri que os prefeitos enfrentam uma situação cerco judicial permanente.
Claro que temos, nas prefeituras, os mesmos índices de delinquência que encontramos na sociedade brasileira – seja entre médicos, empresários, e até juízes, não é mesmo?
Mas o fato é que o prefeito de Cariacica, na vizinhança de Vitória, denunciou que foi proibido de seguir um programa de distribuição de livros didáticos em escolas municipais porque aquilo não correspondia a visão “do ministério público” sobre suas obrigações em relação a educação da cidade. O prefeito de Foz do Iguaçu denunciou que recebeu uma multa de R$ 2 milhões em função de mudanças que fez no sistema de saúde pública da cidade. Detalhe: enquanto não revertesse as mudanças, seria obrigado a pagar R$ 5 000 por dia. Tudo com dinheiro de seu bolso, pois era uma acão contra ele, prefeito, e não contra a administração. Em Caratinga, o prefeito teve sua casa invadida às 5 da manhã quando se divulgou que pretendia comprar um terreno vizinho aos seus. Em clima de SWAT, os policias perguntavam onde estavam os euros, os dólares, etc…
Não tenho a menor condição de julgar cada um desses fatos. Publico o que foi colocado no plenário, por autoridades eleitas, que tem a responsabilidade de conduzir a vida de milhares de brasileiros naquele ambiente decisivo, que é a cidade onde vivem com suas famílias.
Pode parecer estranho, mas é o mesmo problema.
Vivemos um ambiente de criminalização da política, que teve o seu auge no julgamento do mensalão, quando pessoas foram condenadas por crimes que não foram demonstrados de forma robusta, contra todos os réus. Acho muito possível que a mesma situação se repita no mensalão PSDB-MG. E é claro que isso se repete com muitos prefeitos.
Quem tem razão é André Singer. Constatada a condenação errada de José Dirceu, ele pede a revisão de sua sentença. Eu acho que essa solução se impõe, também, a outros réus, a começar por José Genoíno, condenado porque cumpriu suas obrigações como presidente do partido, sem que se tenha registro de nenhuma atitude comprometedora, indevida ou suspeita.
O debate é este.
A vingança é, vamos combinar, um dos mais intensos prazeres da existência humana.
Compreendo, portanto, o alvoroço de muitas pessoas que, inconformadas com as injustiças cometidas no mensalão do Valúbio, esfregam as mãos a espera do mensalão do Vazeredo.
Este alvoroço foi reforçado com a notícia de que os responsáveis pelo mensalão PSDB-MG tem prazo de 40 dias para ouvir as últimas testemunhas e encaminhar o julgamento.
Supondo que, mesmo desmembrados, os réus do mensalão PSDB-MG recebam o mesmo tratamento daquele dispensado ao Valúbio, não vejo motivo para comemorar.
O julgamento que se encerra, em Brasília, foi flexível na aceitação de provas. Esteve longe de demonstrar a “compra de votos,” tese principal da acusação e do relator. O desvio de dinheiro público é uma confusão. O Banco do Brasil, que tem mais ou menos um terço de participação no Visanet, diz que ele é privado. Considerando que os outros sócios do BB nesta empresa são bancos privados, seria bom perguntar o que eles acham do Visanet. Acham que é uma instituição estatal? Ou seja: para dizer que houve desvio de dinheiro público, ao menos neste caso, é preciso passar por cima da avaliação do departamento jurídico do Banco do Brasil.
Acho que é preciso estar com a visão muito desfocada para não enxergar as diferenças entre os dois mensalões, seus personagens e seus símbolos.
Acho que o esforço, hoje, para valorizar o mensalão PSDB-MG só ajuda a quem pretende minimizar o erro cometido por parte do STF.
Mais uma homenagem a Chico Anysio na linha de “Sou mas…quem não é…?”
Não critico, obviamente, quem foi condenado com provas claras e robustas. Condeno as sentenças com base no “é plausível”, “não é possível”, “todo mundo sabe” e assim por diante. Muitas provas foram demonstradas no grito e não com base numa exposição paciente e completa de fatos. Como corruptos não confessam, a negativa dos acusados passou a ser considerada como prova de que estavam mentindo. As vezes, estavam. Em outras, talvez não. Mas a prova cabe à acusação, certo?
Não há nenhuma razão para pensar que a Polícia Federal e o Ministério Público tenham sido mais severos, eficientes e implacáveis para investigar o PSDB, concorda?
A soma de dois erros não faz um acerto. Só complica mais a coisa.
A coisa é a criminalização da política no Brasil.
Estive no mais recente encontro da Federação Nacional dos Prefeitos, ontem, em Vitória, e posso testemunhar. Na base da sociedade, que é o município, a situação é muito mais grave e complicada.
Participando de um debate com 40 prefeitos de cidades de porte médio – como Foz do Iguaçu, no Paraná, Suzano, em São Paulo, Bajé, no Rio Grande do Sul, Vitória, no Espírito Santo – descobri que os prefeitos enfrentam uma situação cerco judicial permanente.
Claro que temos, nas prefeituras, os mesmos índices de delinquência que encontramos na sociedade brasileira – seja entre médicos, empresários, e até juízes, não é mesmo?
Mas o fato é que o prefeito de Cariacica, na vizinhança de Vitória, denunciou que foi proibido de seguir um programa de distribuição de livros didáticos em escolas municipais porque aquilo não correspondia a visão “do ministério público” sobre suas obrigações em relação a educação da cidade. O prefeito de Foz do Iguaçu denunciou que recebeu uma multa de R$ 2 milhões em função de mudanças que fez no sistema de saúde pública da cidade. Detalhe: enquanto não revertesse as mudanças, seria obrigado a pagar R$ 5 000 por dia. Tudo com dinheiro de seu bolso, pois era uma acão contra ele, prefeito, e não contra a administração. Em Caratinga, o prefeito teve sua casa invadida às 5 da manhã quando se divulgou que pretendia comprar um terreno vizinho aos seus. Em clima de SWAT, os policias perguntavam onde estavam os euros, os dólares, etc…
Não tenho a menor condição de julgar cada um desses fatos. Publico o que foi colocado no plenário, por autoridades eleitas, que tem a responsabilidade de conduzir a vida de milhares de brasileiros naquele ambiente decisivo, que é a cidade onde vivem com suas famílias.
Pode parecer estranho, mas é o mesmo problema.
Vivemos um ambiente de criminalização da política, que teve o seu auge no julgamento do mensalão, quando pessoas foram condenadas por crimes que não foram demonstrados de forma robusta, contra todos os réus. Acho muito possível que a mesma situação se repita no mensalão PSDB-MG. E é claro que isso se repete com muitos prefeitos.
Quem tem razão é André Singer. Constatada a condenação errada de José Dirceu, ele pede a revisão de sua sentença. Eu acho que essa solução se impõe, também, a outros réus, a começar por José Genoíno, condenado porque cumpriu suas obrigações como presidente do partido, sem que se tenha registro de nenhuma atitude comprometedora, indevida ou suspeita.
O debate é este.
4 comentários:
Quando penso na grande juíza Eliana Calmon, vem à cabeça a história dos 'bandidos de toga', que acabaram não sendo investigados. Pensando bem, essa novidade jurídica monstruosa do Domínio do Fato pode ser promissora para uma parte da classe jurídica que vive reclamando dos salários, que vende penas para sobreviver. O político já é alvo de chantagistas da mídia desde há muito (Chateaubriand foi um deles, era cheio de dossiês). Agora, além da mídia, vai ter que favorecer as 'ortoridades jurídicas' nos estados e municípios.
Seria bom colocar os partidos dos prefeitos perseguidos.
BARBOSA DÁ PRAZO PARA MENSALÃO DO PSDB
(…)
É a última medida de Barbosa na ação penal que investiga o mensalão do PSDB.
Ele assume amanhã a presidência do STF. Como o processo não está finalizado, deixará o caso, que passará a ser conduzido pelo *magistrado que assumir seu gabinete.
(…)
No despacho, Barbosa cita outros personagens que aparecem tanto no mensalão petista quanto no do PSDB… O ministro questiona se as testemunhas “conhecem ou tiveram contato” com os publicitários “tendo em vista que esses corréus contraíram dívidas no montante de R$ 13,9 milhões através da DNA Propaganda mediante empréstimo no Banco Rural”.
Na Ação Penal 536 há “indícios” de que houve desvio de dinheiro público no caso. A suspeita é que o dinheiro teria saído de estatais mineiras para a SMPB, empresa controlada pelo empresário, “sob a justificativa formal de patrocínio a três eventos esportivos”.
(…)
*oxalá que o novo ocupante do gabinete seja o Gilmar Mendes ou o Marco Aurélio Mello ou o Celso de Mello ou o Luiz Fux ou… Em homenagem ao “menino pobre que mudou o ‘Brazil’”, o colegiado do “supremoTF” decida conservar o gabinete do ministro Joaquim Barbosa, data venia, “inocupável” **ad eternum… [RISOS DO MATUTO ‘BANANIENSE’]
**em latim “para todo o sempre”
################################
Lembrando a minha saudosa e sábia avó: “Meu ‘fi’ não há nada ‘mió’ do que o dia que ‘assucede’ o outro!”
Que país é este, sô?!…
Bahia, Feira de Santana
Messias Franca de Macedo
A Democracia é sempre uma ameaça, na visão dos poderosos. No Brasil, com Lula, ela tornou-se um monstro, porque um operário ocupou o reduto dos doutos, de uma elite opressora e preconceituosa. Os partidos mais afeitos à social democracia se fortaleceram. É só ver o resultado das últimas eleições municipais. Daí vem a condenação da política, do Congresso, dos parlamentares. Especialmente os dos partidos socialistas e seus membros. Colocam o discurso da moralidade para anuviar quaando, na verdade, se trata, efetivamente, do conceito de luta de classes. Instituições como o STF foram efetivamente instrumentalizados pela mídia na questão do "mensalão" do PT. Vamos ver como a "ética" trata o mensalão do PSDB.
Postar um comentário