sexta-feira, 24 de maio de 2013

Superar os valores das elites

Por Cadu Amaral, em seu blog:

O Brasil é hoje uma dos países mais influentes do mundo. Estamos na Organização Mundial do Comércio (OMC) e na Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO – sigla em inglês). Temos uma das maiores economias, com forte mercado interno e com cada vez mais peso internacionalmente.

Dentro dos marcos do capitalismo, estamos com pleno emprego e, também diante dessa ótica, nossa democracia é tida como sólida e exemplar. (apesar desse debate ser mais complexo do que isso!)

Somos exemplo para o restante do mundo em redução das desigualdades, sob todos os aspectos. Em suma, somos os que muitos gostariam de ser – mesmo países centrais na geopolítica mundial.

Mas então por que estamos tão atrasados em nossos valores? No Brasil, ainda debatemos se pessoas podem ou não ter os mesmos direitos civis se se relacionarem com o mesmo sexo, ou mesmo as empregadas domésticas que, apesar da recente PEC, ainda se discutem como “viabilizar” sua implementação. Sempre sob a ótica do patrão.

Como se alguém tivesse que se submeter a condições de trabalho que não queira. Não há ninguém que reclame da PEC das domésticas que aceitaria trabalhar nas condições em que elas trabalhavam antes da emenda constitucional.

Mesmo com todos esses avanços ainda há pessoas que reproduzem preconceitos de toda ordem. Seja contra nordestinos ou contra negros ou contra mulheres ou seja lá o que for que esteja fora do padrão branco, hetero, masculino e “nobre” das elites brasileiras.

Se o tema são as cotas, fala-se em meritocracia. Como se meritocracia não fosse uma ilusão. Como cobrar o mesmo rendimento escolar – no caso – entre duas pessoas com condições de vida totalmente distintas.

Um vai à escola de carro; o outro, de ônibus – não incomum se pega duas ou mais conduções, pelo menos nas grandes cidades. Um mora em um bairro onde se pode dormir sossegadamente; o outro precisa chegar em casa cedo por causa do toque de recolher. Um dorme de oito a dez horas por dia; o outro quando dorme cinco é por causa do feriado.

Um não trabalha, seus pais pagam seus estudos; o outro trabalha o dia todo e estuda a noite ou estuda pela manhã e trabalha o restante do dia. Um se alimenta corretamente. Faz pelo menos três refeições; o outro mal come um pão seco na correria para pegar o transporte público que se ele perder, não chega ao trabalho.

Como utilizar a meritocracia para escolher entre um e outro? Em um exame onde um está descansado, bem alimentado e tranquilo e o outro está cansado, faminto e tenso.

Ainda estamos tão atrasados que debater o gozo alheio é tema polêmico e pode decidir até eleições. Se não fosse assim, relações homo afetivas não seriam nem pauta. Em lugar algum, em mídia alguma.

Ainda somos tão atrasados que os negros à marginalidade. A maioria dos negros no Brasil é pobres, fruto da barbárie cometida por anos a fio no país. Essa linha de pensamento é resquício dos tempos da escravatura. “negro é subgente”. Tem muita família branca das coberturas de orla marítima que não permite que seus filhos de olhos azuis se relacionem com pessoas negras. Não é à toa o ódio ao Programa Bolsa Família.

No fundo, no fundo o pensamento é assim: eles que se virem ou dar dinheiro a essa gente preguiçosa. E isso com uma negra lhe servindo o café da manhã.

Sem contar que as pessoas não podem ter conquistas, lutar por direitas ou melhores condições de vida se não comerem, vestirem ou morarem. Sem essas condições básicas, a exploração se torna ainda mais fácil. Ainda somos atrasados em diversas questões por que nossa classe dominante é atrasada. Cada sociedade reproduz os valores da classe dominante e a classe dominada segue na mesma lógica. O velho Marx tinha razão.

2 comentários:

Anônimo disse...

A questão então é lutar pela mudança do status quo, pela mudança real e sensível nas bases da ação social. Lutar para que a educação seja igualitária, lutar para que nos alimentemos de maneira uniforme, lutar pela extinção de classes sociais.

Me desculpe, mas esse discurso me soa um tanto egoísta, não estamos pensando em profundas mudanças que tornarão a sociedade melhor como um todo, mas, em medidas rápidas, que podem atingir ainda a nós, e fazer-nos nos sentir um pouco mais burgueses do que nossos pais puderam ser.

Esse papo, me perdoe se estiver errado, para quem tanto critica a visão de mundo da classe dominante, está totalmente preso a tal maneira de encarar as coisas.

Anônimo disse...

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