Foto: Tomaz Silva/ABr |
Ao ver pela televisão as imagens da multidão vindo como uma onda gigante pela avenida Rio Branco, na noite desta segunda-feira (17), no Rio de Janeiro, foi impossível não me lembrar da mesma cena vivida quase 30 anos atrás, no dia 10 de abril de 1984, na reta final da Campanha das Diretas Já, o grande marco na redemocratização do país.
Naquela época, como repórter da Folha de S. Paulo, eu tinha acompanhado os comícios pelo Brasil inteiro, e estava no palanque na Candelária quando um mar de gente inundou a avenida Presidente Vargas, para além da praça da República, e a avenida Rio Branco até a Cinelândia, engolfando os líderes políticos que estavam lá em cima.
Ao se ver cercado por aquele mundo de gente, o então governador mineiro Tancredo Neves deu um passo à frente, deu uma olhada para baixo e, visivelmente assustado, virou-se para fazer uma pergunta ao líder do grande movimento, o deputado federal Ulysses Guimarães.
"E agora, Ulysses? Como nós vamos fazer para administrar este povo todo?"
A grande diferença entre estes dois momentos é que, em 1984, a manifestação era contra os militares da ditadura que já durava 20 anos e pela volta das eleições diretas para presidente da República, enquanto agora é contra os políticos civis de todos os partidos que assumiram o poder depois deles.
Em todos os palácios nacionais, neste momento, os nossos governantes devem estar se fazendo a mesma pergunta que doutor Tancredo fez ao doutor Ulysses. Desta vez, é verdade, não há uma bandeira única como a das Diretas que foi capaz de unir o país no maior movimento cívico da nossa história _ cada manifestante, agora, carrega cartazes e grita palavras de ordem diversas _ nem um inimigo comum, o regime militar, como naquela época.
Pelo que se lê nas faixas e se ouve nas manifestações que reuniram ontem cerca de 250 mil brasileiros em 12 capitais, os protestos que começaram em São Paulo contra o aumento das tarifas de ônibus, e se espalharam por todo o país, após a violenta repressão policial da semana passada, são contra tudo e contra todos, como escrevi ontem aqui no Balaio.
Nas motivações e nos objetivos, um movimento não tem, é claro, absolutamente nada a ver com o outro, a não ser o de mostrar que a insatisfação de amplos setores da sociedade com os rumos do país e os donos do poder em todos os níveis atingiu um ponto de ebulição.
Assim como as Diretas, este também é um movimento suprapartidário - na verdade, contra os partidos. Parece mais ser uma resposta para a forma como os atuais partidos os representam, ou melhor, os deixam de representar, distantes dos anseios de uma sociedade civil cada vez mais organizada nas redes sociais.
As diferenças são enormes. Em 1984, não havia internet nem celulares, e a grande mídia boicotou a Campanha das Diretas, defendendo o governo militar até onde pode, com exceção do jornal onde eu trabalhava. Foi a população, em comícios cada vez maiores que ocupavam as ruas e praças do país, que praticamente obrigou a grande imprensa a mostrar o que estava acontecendo fora dos gabinetes oficiais.
Agora, as manifestações programadas pela grande rede virtual contam desde o início com ampla cobertura dos principais meios de comunicação da nova e da velha mídias, que transmitem ininterruptamente as manifestações ao vivo. Só não conseguiram até agora, como eu, mesmo com a ajuda de cientistas políticos e analistas variados, explicar o que está acontecendo e onde este movimento do "saco cheio" quer e pretende chegar.
Estão todos atônitos, governantes e governados, analistas e analisados, assustados com o vulto que as manifestações tomaram, sem a menor ideia de onde tudo isso vai chegar.
A única certeza é que teremos nova manifestação nesta terça-feira em São Paulo, na praça da Sé, e também em outras capitais.
Se já havia muita gente revoltada porque o transporte coletivo é de péssima qualidade e o transito está parando por toda parte, com o aumento do número de carros, agora ficou ainda mais difícil cruzar o caminho entre a casa e o trabalho ou a escola. Com isso, aumenta o número de gente insatisfeita com a vida que leva e irritada com a falta de soluções. Já não basta voltar atrás no aumento das passagens do transporte coletivo.
E o caro leitor como está vendo tudo isso, como convive com as manifestações, o que está acontecendo na sua cidade? Tem dias em que é melhor o repórter perguntar do que tentar responder, lançando mais alguma nova tese entre as milhares que já apareceram no meio da confusão.
Em tempo: não me lembro o que Ulysses respondeu a Tancredo. Os dois já não estão entre nós para tirar esta dúvida. E fazem muita falta.
Naquela época, como repórter da Folha de S. Paulo, eu tinha acompanhado os comícios pelo Brasil inteiro, e estava no palanque na Candelária quando um mar de gente inundou a avenida Presidente Vargas, para além da praça da República, e a avenida Rio Branco até a Cinelândia, engolfando os líderes políticos que estavam lá em cima.
Ao se ver cercado por aquele mundo de gente, o então governador mineiro Tancredo Neves deu um passo à frente, deu uma olhada para baixo e, visivelmente assustado, virou-se para fazer uma pergunta ao líder do grande movimento, o deputado federal Ulysses Guimarães.
"E agora, Ulysses? Como nós vamos fazer para administrar este povo todo?"
A grande diferença entre estes dois momentos é que, em 1984, a manifestação era contra os militares da ditadura que já durava 20 anos e pela volta das eleições diretas para presidente da República, enquanto agora é contra os políticos civis de todos os partidos que assumiram o poder depois deles.
Em todos os palácios nacionais, neste momento, os nossos governantes devem estar se fazendo a mesma pergunta que doutor Tancredo fez ao doutor Ulysses. Desta vez, é verdade, não há uma bandeira única como a das Diretas que foi capaz de unir o país no maior movimento cívico da nossa história _ cada manifestante, agora, carrega cartazes e grita palavras de ordem diversas _ nem um inimigo comum, o regime militar, como naquela época.
Pelo que se lê nas faixas e se ouve nas manifestações que reuniram ontem cerca de 250 mil brasileiros em 12 capitais, os protestos que começaram em São Paulo contra o aumento das tarifas de ônibus, e se espalharam por todo o país, após a violenta repressão policial da semana passada, são contra tudo e contra todos, como escrevi ontem aqui no Balaio.
Nas motivações e nos objetivos, um movimento não tem, é claro, absolutamente nada a ver com o outro, a não ser o de mostrar que a insatisfação de amplos setores da sociedade com os rumos do país e os donos do poder em todos os níveis atingiu um ponto de ebulição.
Assim como as Diretas, este também é um movimento suprapartidário - na verdade, contra os partidos. Parece mais ser uma resposta para a forma como os atuais partidos os representam, ou melhor, os deixam de representar, distantes dos anseios de uma sociedade civil cada vez mais organizada nas redes sociais.
As diferenças são enormes. Em 1984, não havia internet nem celulares, e a grande mídia boicotou a Campanha das Diretas, defendendo o governo militar até onde pode, com exceção do jornal onde eu trabalhava. Foi a população, em comícios cada vez maiores que ocupavam as ruas e praças do país, que praticamente obrigou a grande imprensa a mostrar o que estava acontecendo fora dos gabinetes oficiais.
Agora, as manifestações programadas pela grande rede virtual contam desde o início com ampla cobertura dos principais meios de comunicação da nova e da velha mídias, que transmitem ininterruptamente as manifestações ao vivo. Só não conseguiram até agora, como eu, mesmo com a ajuda de cientistas políticos e analistas variados, explicar o que está acontecendo e onde este movimento do "saco cheio" quer e pretende chegar.
Estão todos atônitos, governantes e governados, analistas e analisados, assustados com o vulto que as manifestações tomaram, sem a menor ideia de onde tudo isso vai chegar.
A única certeza é que teremos nova manifestação nesta terça-feira em São Paulo, na praça da Sé, e também em outras capitais.
Se já havia muita gente revoltada porque o transporte coletivo é de péssima qualidade e o transito está parando por toda parte, com o aumento do número de carros, agora ficou ainda mais difícil cruzar o caminho entre a casa e o trabalho ou a escola. Com isso, aumenta o número de gente insatisfeita com a vida que leva e irritada com a falta de soluções. Já não basta voltar atrás no aumento das passagens do transporte coletivo.
E o caro leitor como está vendo tudo isso, como convive com as manifestações, o que está acontecendo na sua cidade? Tem dias em que é melhor o repórter perguntar do que tentar responder, lançando mais alguma nova tese entre as milhares que já apareceram no meio da confusão.
Em tempo: não me lembro o que Ulysses respondeu a Tancredo. Os dois já não estão entre nós para tirar esta dúvida. E fazem muita falta.
8 comentários:
Boa parte das indagações que fecha o texto encontram-se nele próprio, mas precisamente no 10º parágrafo, quando é possível entender que se em 1984 a mídia escondeu as manifestações e era contra as Diretas e a favor dos militares, e sendo assim contra o povo, agora, mais do que nunca, para mim, tá provado que esta dimensão na projeção das manifestações feita pela mídia nestes tempos, até com inserções ao vivo, estão fundadas nas mesmas bases que fizeram a grande mídia em 1984 ser posicionar contra o povo, porque na verdade tudo isso não passa de uma engenharia da mídia para desgastar o Governo progressistas dessa última década... bom ficarmos atentos...
o Povo Brasileiro está farto da covardia do PT e de seus aliados que abandonaram a agenda progressista e passaram a adotar as mesmas práticas abomináveis que o Povo rejeitou nas urnas.
Fora pelegos!!!
O articulista esquece que naquela manifestação os governadores liberaram onibus de graça para transportar os manifestantes. Que os sindicatos, partidos politicos etc mandavam buscar em cas, como aconteceu comigo. Neste ponto as atuais manifestações são muito mais autenticas.
Na verdade, mesmo sem a PM do Alckmin, uma minoria de manifestantes, ontem e hoje,destruiu um bocado de coisa. Isso é o de menos. Eu entendo até o MPL, mas,depois, no momento em que as mídias acham 'bonitas' as manifestações, no momento em que a Veja destaca o grito "chega de corrupção", o "Brasil precisa melhorar", "Fora Copa"; quando o Jabor se redime e elogia os manifestantes; o Caetano passa a elogiar o movimento; vejo o pessoal da direita feliz com o que ocorre...Não sei como não entender que há um bocado de gente que foi tragado pelo noticiário que detona o país com a carestia do tomate; com apagão inexistente; com a torcida pela volta da inflação, etc. Desconfio que um punhado considerável de manifestante só está ecoando a própria voz da mídia oligopolizada cínica, mercenária demagógica e corrupta. Não dá para esconder esse lado e, sem dúvida, lamentar, também. Outra coisa: Por que tanto capuz a esconder os rostos? O regime não é democrático? Nem na ditadura se exibia tanto medo...
Cái na real,anônimo.Isso é o que
você e muitos mais gostariam que
fosse verdade.Mas não é.O POVO BRA-
SILEIRO nunca antes,desde as cara-
velas,esteve tão bem.E assim conti-
nuará porque Dilma será reeleita e
em 2018 voltará o grande e querido
LULA,o melhor Presidente do Brasil,
em quase 124 anos de República!!!
Quem pariu a criança que a embale agora. Quem acendeu um rastilho que não sabia onde ia dar, e está ajudando a soprar pra chegar até onde der, que responda. O PIG e as radicalidades de tudo quanto é tipo (especialmente de direita e anárquicas) já se apoderaram do processo. Vai beneficia a direita, no fim. Palmas!!! Era pra isso?
Quem fica falando da 'covardia' do PT mas o ataca oportunisticamente a todo momento não é petista. É alguém que quer derrubar o PT para se instalar em seu lugar. Só isso.
o PT se acovardou e paralisou a agenda progressista, o governo dilma está realizando as criminosas privatizações, retomou o genocídio indígena, está entregando nosso petróleo aos estrangeiros, aumentou os juros, entregou nossa soberania nas mãos da FIFA, engavetou a regulamentação da mídia privada conservadora venal e golpista, e, pra fechar com chave de ouro aliou-se a ruralista escravista Kátia abreu e criou um ministério pro vice governador do alckimin, guilherme afif, se isso não é peleguismo, e a retomada do neoliberalismo não é real, então, provem, e comecem a degola.
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