Por Altamiro Borges
O governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) está preocupado com os "rolezinhos", as manifestações irreverentes em shoppings luxuosos marcadas por jovens da periferia através das redes sociais. Desde dezembro, vários deles ocorreram no Estado e foram violentamente reprimidos pela Polícia Militar. A cada gesto de truculência e preconceito, novos protestos foram agendados - há mais de dez previstos para os próximos dias. Diante do crescimento espontâneo do movimento, o tucano declarou nesta segunda-feira (13) ao Estadão online que irá apurar a "violência" contra os manifestantes.
No sábado passado, o "rolezinho" no Shopping Itaquera foi reprimido com gás lacrimogêneo e balas de borracha. Outros protestos em shoppings também foram duramente atacados, inclusive com prisões arbitrárias e jovens feridos. Diante das cenas da violência, que geraram revolta na internet, o governador decidiu se manifestar. "O governo não tolera nenhum tipo de desvirtuamento da função", afirmou Alckmin, que ainda criticou o uso da PM nestas ações. "Segurança interna de lojas, shoppings e centros comerciais é privada, o governo fica fora fazendo a segurança".
Mesmo assim, o tucano - candidato à reeleição ao governo do estado, que depende do financiamento privado na sua campanha - ainda tentou justificar a ação da PM. "Houve uma decisão judicial tendo em vista que havia sido anunciada nas redes sociais que haveria manifestação. Tinha uma decisão judicial pedindo segurança e nós cumprimos". O governador do PSDB, que não anda muito bem nas pesquisas, teme que os "rolezinhos" cresçam e abalem ainda mais a sua candidatura. Já há críticas a ação truculenta da PM em São Paulo inclusive da Anistia Internacional.
Em entrevista ao repórter Rodrigo Rodrigues, do sítio Terra Magazine, o diretor executivo da Anistia Internacional no Brasil, Atila Roque, afirmou nesta segunda-feira que a ação da PM tucana é "uma atitude discriminatória e ilegal, de acordo com a legislação brasileira”. Para ele, a truculência mostra "um racismo envergonhado". Ele ainda se disse "absolutamente chocado com o grau de violência da PM na ação do shopping Itaquera" e mostrou-se preocupado com a escalada de violência das forças policiais contra os jovens. “Estamos de novo mostrando a natureza extremamente discriminatória que persiste na sociedade brasileira”, afirmou. Vale conferir alguns respostas de Atila Roque:
*****
A forma como a classe média alta e a Polícia Militar tem reagido aos “rolezinhos” é claramente excessiva. Coloca em discussão a questão da segregação do espaço. Esses “rolezinhos” podem ser vistos por vários ângulos, mas o principal deles é uma espécie de bem humorado ato político contra a privação de direitos. Ele assusta aqueles que já se acostumaram de certa maneira com a geografia segregada das cidades brasileiras, onde cada um tem o seu lugar e onde cada um deve saber qual é o seu lugar. O que esses jovens estão fazendo é colocar esse “seu lugar” em discussão.
(...)
O que em geral se aceita é que para o negro jovem e pobre possa freqüentar um shopping de luxo, ele tem que estar ou com o uniforme de segurança ou de babá. Se ele não está vestido assim, ele está fora do seu lugar. Não foi constatado nenhum ato de violência ou vandalismo por parte da maioria desses jovens. O que se tem até agora são jovens rindo, brincando, às vezes falando alto, coisa que é próprio dos jovens de qualquer classe social. É natural que eles sejam acompanhados por seguranças para evitar que haja qualquer bagunça. Agora, daí a querer cercear de forma agressiva, bloqueando a passagem com ajuda da polícia e a presença ostensiva do Choque, é uma forma clara de discriminação. Basta ver na internet vídeos que pipocam mostrando jovens brancos fazendo exatamente a mesma coisa, mas sem intervenção da PM. Se é branco e de classe média eles chamam de “flash-mob”. Quando é negro e pobre vira ameaça de arrastão, como bem disseram alguns internautas hoje.
(...)
A sociedade precisa aproveitar esse momento para discutir as características extremamente segregadas das cidades brasileiras. O racismo envergonhado é que incomoda de forma tão desproporcional os donos e frequentadores desses shoppings. Simplesmente pela presença física do outro que não é igual ao não segue o ideal de normalidade que se convencionou para aquele local. Pra essa turma aquele é um local apenas reservado para um tipo de pessoa e classe social. Eu vejo expressão política e bem humorada desses jovens a favor da afirmação de direitos. Com uma certa provocação até, claro. Mas uma provocação muito criativa.
*****
Leia também:
- A utopia neoliberal do shopping center
- O que a periferia mostra com os rolês
- "Rolezinhos": apartheid à brasileira?
- Ato contra o racismo dos shoppings
- Por que os "rolezinhos" assustam?
- "Rolezinho" dos alunos da USP. Pode?
- "Rolezinho" e apartheid nos shoppings
O governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) está preocupado com os "rolezinhos", as manifestações irreverentes em shoppings luxuosos marcadas por jovens da periferia através das redes sociais. Desde dezembro, vários deles ocorreram no Estado e foram violentamente reprimidos pela Polícia Militar. A cada gesto de truculência e preconceito, novos protestos foram agendados - há mais de dez previstos para os próximos dias. Diante do crescimento espontâneo do movimento, o tucano declarou nesta segunda-feira (13) ao Estadão online que irá apurar a "violência" contra os manifestantes.
No sábado passado, o "rolezinho" no Shopping Itaquera foi reprimido com gás lacrimogêneo e balas de borracha. Outros protestos em shoppings também foram duramente atacados, inclusive com prisões arbitrárias e jovens feridos. Diante das cenas da violência, que geraram revolta na internet, o governador decidiu se manifestar. "O governo não tolera nenhum tipo de desvirtuamento da função", afirmou Alckmin, que ainda criticou o uso da PM nestas ações. "Segurança interna de lojas, shoppings e centros comerciais é privada, o governo fica fora fazendo a segurança".
Mesmo assim, o tucano - candidato à reeleição ao governo do estado, que depende do financiamento privado na sua campanha - ainda tentou justificar a ação da PM. "Houve uma decisão judicial tendo em vista que havia sido anunciada nas redes sociais que haveria manifestação. Tinha uma decisão judicial pedindo segurança e nós cumprimos". O governador do PSDB, que não anda muito bem nas pesquisas, teme que os "rolezinhos" cresçam e abalem ainda mais a sua candidatura. Já há críticas a ação truculenta da PM em São Paulo inclusive da Anistia Internacional.
Em entrevista ao repórter Rodrigo Rodrigues, do sítio Terra Magazine, o diretor executivo da Anistia Internacional no Brasil, Atila Roque, afirmou nesta segunda-feira que a ação da PM tucana é "uma atitude discriminatória e ilegal, de acordo com a legislação brasileira”. Para ele, a truculência mostra "um racismo envergonhado". Ele ainda se disse "absolutamente chocado com o grau de violência da PM na ação do shopping Itaquera" e mostrou-se preocupado com a escalada de violência das forças policiais contra os jovens. “Estamos de novo mostrando a natureza extremamente discriminatória que persiste na sociedade brasileira”, afirmou. Vale conferir alguns respostas de Atila Roque:
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A forma como a classe média alta e a Polícia Militar tem reagido aos “rolezinhos” é claramente excessiva. Coloca em discussão a questão da segregação do espaço. Esses “rolezinhos” podem ser vistos por vários ângulos, mas o principal deles é uma espécie de bem humorado ato político contra a privação de direitos. Ele assusta aqueles que já se acostumaram de certa maneira com a geografia segregada das cidades brasileiras, onde cada um tem o seu lugar e onde cada um deve saber qual é o seu lugar. O que esses jovens estão fazendo é colocar esse “seu lugar” em discussão.
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O que em geral se aceita é que para o negro jovem e pobre possa freqüentar um shopping de luxo, ele tem que estar ou com o uniforme de segurança ou de babá. Se ele não está vestido assim, ele está fora do seu lugar. Não foi constatado nenhum ato de violência ou vandalismo por parte da maioria desses jovens. O que se tem até agora são jovens rindo, brincando, às vezes falando alto, coisa que é próprio dos jovens de qualquer classe social. É natural que eles sejam acompanhados por seguranças para evitar que haja qualquer bagunça. Agora, daí a querer cercear de forma agressiva, bloqueando a passagem com ajuda da polícia e a presença ostensiva do Choque, é uma forma clara de discriminação. Basta ver na internet vídeos que pipocam mostrando jovens brancos fazendo exatamente a mesma coisa, mas sem intervenção da PM. Se é branco e de classe média eles chamam de “flash-mob”. Quando é negro e pobre vira ameaça de arrastão, como bem disseram alguns internautas hoje.
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A sociedade precisa aproveitar esse momento para discutir as características extremamente segregadas das cidades brasileiras. O racismo envergonhado é que incomoda de forma tão desproporcional os donos e frequentadores desses shoppings. Simplesmente pela presença física do outro que não é igual ao não segue o ideal de normalidade que se convencionou para aquele local. Pra essa turma aquele é um local apenas reservado para um tipo de pessoa e classe social. Eu vejo expressão política e bem humorada desses jovens a favor da afirmação de direitos. Com uma certa provocação até, claro. Mas uma provocação muito criativa.
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