Editorial do sítio Vermelho:
Enquanto o ano terminava, o portal da emissora libanesa Al-Manar advertia: “As monarquias do Golfo Pérsico criam ingredientes para uma guerra civil sectária no mundo muçulmano”. Não apenas a Síria, mas também o Líbano vivencia a violência generalizada e crescente, o que leva o país ao limite.
Desde o pedido de demissão do primeiro-ministro Najib Mikati, no início de 2013, o governo do Líbano é interino. O resultado da instável situação política no país e do transbordamento do conflito na Síria – que sempre teve reflexos diretos na conjuntura libanesa – é, para muitos, sinal de advertência contra a fragmentação nacional, construída por atores regionais e internacionais.
O editorial de Al-Manar referiu-se à disseminação da propaganda anti-xiita pelas monarquias do Golfo, nomeadamente a Arábia Saudita e o Bahrein, sunitas. O esforço é direcionado contra o governo do presidente sírio, Bashar Al-Assad, e contra o partido e movimento xiita de resistência islâmica, Hezbolá, que tem papel central na política libanesa.
Para o Hezbolá, a manipulação das disputas sectárias na promoção de uma agenda puramente geopolítica é clara. O partido tem reiterado a urgência da construção de um governo de unidade nacional. A disseminação da violência tem levantado preocupações sobre a iminência de uma guerra civil, com as Forças Armadas libanesas combatendo grupos islamitas – extremistas que usam a violência para impor a sua interpretação do Islã – de ligações comprovadas com a Arábia Saudita.
Na semana passada, no Líbano, a captura do saudita Majid bin Mohamed al-Majid, líder das Brigadas Abdullah Azzem, da rede terrorista Al-Qaeda, contribuiu para evidenciar a crescente presença islamita. O aumento da violência interna, com atentados se proliferando pelo país, e a instabilidade regional, com a garantia dos EUA, de potências europeias, do reino saudita, Catar, Turquia e Israel para a continuação e avanço dos grupos armados e dos islamitas revelam-se como uma orquestração deliberada para a fragmentação da Síria e do Líbano.
É também destrutiva a atuação de forças políticas da aliança libanesa 14 de Março, do ex-premiê sunita Saad Hariri – filho do antigo premiê Rafik Hariri, morto em 2005, na explosão de um carro bomba. Assim como naquele ano, parte da aliança acusa o Hezbolá e forças sírias de “assassinatos políticos”, sem evidências, ignorando a negativa da resistência, com indícios claros do envolvimento de atores estrangeiros. Exemplo foi uma explosão do fim de dezembro, que matou oito pessoas na capital, Beirute – inclusive o ex-ministro das Finanças, Mohammed Shattah – e que o Hezbolá atribuiu a Israel.
O partido vem convocando a formação de um governo coeso, que possa fazer frente à ingerência do exterior e proteger o país da fragmentação. O presidente, Michel Suleiman, é pressionado com acusações de “fraqueza” pela aliança 14 de março que, por outro lado, já defendeu a extensão do seu mandato presidencial.
O premiê designado, Tamam Salam, cuja aprovação depende de Suleiman, é independente, sunita – como manda a Constituição – e diz ter "boas relações" tanto com a aliança 14 de Março quanto com a 8 de Março – à qual pertence o Hezbolá. São ambas opostas, com disputas centradas no papel da Síria na política libanesa e, mais recentemente, na atuação do Hezbolá ao lado do Exército sírio.
Mas a Arábia Saudita, assim como na Síria, pretende decidir o futuro do país. Em dezembro, um acordo entre o reino, a França e a aliança 14 de Março previa: US$ 3 bilhões aos franceses para o fornecimento de armas ao Exército libanês, em troca da formação de um governo que excluiria o Hezbolá.
Ao que tudo indica, a relutância de Suleiman em aprovar a nomeação de um premiê tem impedido o plano, mas a previsão era a de que, ainda nesta semana, um “governo neutro” seria anunciado, enquanto a estadia do presidente no poder já excedeu seu limite. A influência saudita sobre a Presidência é alarmante e, há meses, analistas libaneses afirmam: é hora de Suleiman deixar o governo, e suas divergências com o Hezbolá sobre as eleições deste ano, a formação de um gabinete e o apoio ao Exército sírio ainda são questões espinhosas.
De imediato, o Líbano deve defender-se das ameaças de fragmentação e impedir mais uma guerra civil. Mas a solução dos problemas de fundo do está no afastamento da intervenção externa e no soerguimento de novo sistema político, em que os poderes constitucionais não sejam exercidos sobre bases confessionais.
Enquanto o ano terminava, o portal da emissora libanesa Al-Manar advertia: “As monarquias do Golfo Pérsico criam ingredientes para uma guerra civil sectária no mundo muçulmano”. Não apenas a Síria, mas também o Líbano vivencia a violência generalizada e crescente, o que leva o país ao limite.
Desde o pedido de demissão do primeiro-ministro Najib Mikati, no início de 2013, o governo do Líbano é interino. O resultado da instável situação política no país e do transbordamento do conflito na Síria – que sempre teve reflexos diretos na conjuntura libanesa – é, para muitos, sinal de advertência contra a fragmentação nacional, construída por atores regionais e internacionais.
O editorial de Al-Manar referiu-se à disseminação da propaganda anti-xiita pelas monarquias do Golfo, nomeadamente a Arábia Saudita e o Bahrein, sunitas. O esforço é direcionado contra o governo do presidente sírio, Bashar Al-Assad, e contra o partido e movimento xiita de resistência islâmica, Hezbolá, que tem papel central na política libanesa.
Para o Hezbolá, a manipulação das disputas sectárias na promoção de uma agenda puramente geopolítica é clara. O partido tem reiterado a urgência da construção de um governo de unidade nacional. A disseminação da violência tem levantado preocupações sobre a iminência de uma guerra civil, com as Forças Armadas libanesas combatendo grupos islamitas – extremistas que usam a violência para impor a sua interpretação do Islã – de ligações comprovadas com a Arábia Saudita.
Na semana passada, no Líbano, a captura do saudita Majid bin Mohamed al-Majid, líder das Brigadas Abdullah Azzem, da rede terrorista Al-Qaeda, contribuiu para evidenciar a crescente presença islamita. O aumento da violência interna, com atentados se proliferando pelo país, e a instabilidade regional, com a garantia dos EUA, de potências europeias, do reino saudita, Catar, Turquia e Israel para a continuação e avanço dos grupos armados e dos islamitas revelam-se como uma orquestração deliberada para a fragmentação da Síria e do Líbano.
É também destrutiva a atuação de forças políticas da aliança libanesa 14 de Março, do ex-premiê sunita Saad Hariri – filho do antigo premiê Rafik Hariri, morto em 2005, na explosão de um carro bomba. Assim como naquele ano, parte da aliança acusa o Hezbolá e forças sírias de “assassinatos políticos”, sem evidências, ignorando a negativa da resistência, com indícios claros do envolvimento de atores estrangeiros. Exemplo foi uma explosão do fim de dezembro, que matou oito pessoas na capital, Beirute – inclusive o ex-ministro das Finanças, Mohammed Shattah – e que o Hezbolá atribuiu a Israel.
O partido vem convocando a formação de um governo coeso, que possa fazer frente à ingerência do exterior e proteger o país da fragmentação. O presidente, Michel Suleiman, é pressionado com acusações de “fraqueza” pela aliança 14 de março que, por outro lado, já defendeu a extensão do seu mandato presidencial.
O premiê designado, Tamam Salam, cuja aprovação depende de Suleiman, é independente, sunita – como manda a Constituição – e diz ter "boas relações" tanto com a aliança 14 de Março quanto com a 8 de Março – à qual pertence o Hezbolá. São ambas opostas, com disputas centradas no papel da Síria na política libanesa e, mais recentemente, na atuação do Hezbolá ao lado do Exército sírio.
Mas a Arábia Saudita, assim como na Síria, pretende decidir o futuro do país. Em dezembro, um acordo entre o reino, a França e a aliança 14 de Março previa: US$ 3 bilhões aos franceses para o fornecimento de armas ao Exército libanês, em troca da formação de um governo que excluiria o Hezbolá.
Ao que tudo indica, a relutância de Suleiman em aprovar a nomeação de um premiê tem impedido o plano, mas a previsão era a de que, ainda nesta semana, um “governo neutro” seria anunciado, enquanto a estadia do presidente no poder já excedeu seu limite. A influência saudita sobre a Presidência é alarmante e, há meses, analistas libaneses afirmam: é hora de Suleiman deixar o governo, e suas divergências com o Hezbolá sobre as eleições deste ano, a formação de um gabinete e o apoio ao Exército sírio ainda são questões espinhosas.
De imediato, o Líbano deve defender-se das ameaças de fragmentação e impedir mais uma guerra civil. Mas a solução dos problemas de fundo do está no afastamento da intervenção externa e no soerguimento de novo sistema político, em que os poderes constitucionais não sejam exercidos sobre bases confessionais.
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