Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:
Com Ibope novo e debate entre presidenciáveis na terça-feira gorda da política, um fato gravíssimo foi escondido pela grande mídia e só ganhou destaque na manchete do site político Brasil 247: em nota oficial do Instituto Fernando Henrique Cardoso, enviada à Folha, o ex-presidente confirma que ligou para seu amigo ministro Gilmar Mendes, nomeado por ele para o Supremo Tribunal Federal, para falar sobre o julgamento do recurso apresentado ao TSE pelo "ficha suja" José Roberto Arruda, candidato a governador de Brasília, que havia sido impugnado pela Justiça.
Leiam primeiro o que diz a nota, que está na edição impressa da Folha desta quarta-feira, no meio da matéria "TSE barra candidatura de Arruda para o governo do Distrito Federal", publicada na página A10:
"O ex-governador Arruda falou comigo a respeito do seu recurso no TSE. Queria que o julgamento ocorresse a tempo de, se favorável, concorrer ao governo de Brasília. Como sempre, sou muito cuidadoso nessas matérias. Apenas indaguei o (sic) ministro Gilmar se havia chance disso ocorrer. Fui informado de que haveria um julgamento anterior que pré-julgaria o caso. Nada mais pedi a ninguém nem nada mais me foi dito".
Nem precisava. Gilmar Mendes é o mesmo ministro que, em 2012, se disse "escandalizado" ao ser procurado pelo ex-presidente Lula para uma conversa sobre os prazos do julgamento do processo do mensalão, e denunciou o "assédio" à imprensa.
Desta vez, porém, Gilmar achou tudo normal. Primeiro, disse à Folha que não se lembrava do telefonema já confirmado por FHC. Depois, procurou minimizar o teor da conversa: "Posso ter falado sobre o tema, todos perguntam. Eu tenho dito a mesma coisa. A jurisprudência do TSE dizia que o que valia era o dia do registro da candidatura. Hoje, com a nova composição, não sei qual será o resultado".
No final da noite, saiu o resultado, e o placar do TSE foi implacável: 6 a 1 contra o recurso de José Roberto Arruda, que assim continua inelegível, com base na Lei da Ficha Limpa.
Adivinhem de quem foi o único voto a favor de Arruda? Acertaram: Gilmar Mendes, sempre ele.
Num longo voto contra o do relator Henrique Neves, que recomendou a rejeição do recurso e foi acompanhado pelos demais ministros, Mendes atacou a classe política "rastaquera" de Brasília e chegou a pedir a intervenção no Distrito Federal: "O Distrito Federal não tem sequer dignidade para ter autonomia política (...) Já deveria ter passado por processo de intervenção", por conta dos sucessivos escândalos de corrupção, segundo o ministro.
Apesar de ter sido filmado recebendo propina no chamado "mensalão do DEM", que até hoje não foi julgado, Arruda continua em campanha e, segundo o último Ibope, lidera as pesquisas com 37%. Seu caso é um retrato perfeito e acabado da falência do sistema político-partidário-eleitoral do país, com a generosa contribuição do Judiciário.
Como sabemos, Fernando Henrique Cardoso não é advogado nem parte interessada no processo. Cabe perguntar, então: por qual motivo o ex-presidente intercedeu por esta figura emblemática da política brasileira junto a um ministro do Supremo Tribunal Federal?
Num país civilizado, com independência de poderes, isto seria inimaginável. No Brasil, não sai nem na capa do jornal. É coisa nossa.
Leiam primeiro o que diz a nota, que está na edição impressa da Folha desta quarta-feira, no meio da matéria "TSE barra candidatura de Arruda para o governo do Distrito Federal", publicada na página A10:
"O ex-governador Arruda falou comigo a respeito do seu recurso no TSE. Queria que o julgamento ocorresse a tempo de, se favorável, concorrer ao governo de Brasília. Como sempre, sou muito cuidadoso nessas matérias. Apenas indaguei o (sic) ministro Gilmar se havia chance disso ocorrer. Fui informado de que haveria um julgamento anterior que pré-julgaria o caso. Nada mais pedi a ninguém nem nada mais me foi dito".
Nem precisava. Gilmar Mendes é o mesmo ministro que, em 2012, se disse "escandalizado" ao ser procurado pelo ex-presidente Lula para uma conversa sobre os prazos do julgamento do processo do mensalão, e denunciou o "assédio" à imprensa.
Desta vez, porém, Gilmar achou tudo normal. Primeiro, disse à Folha que não se lembrava do telefonema já confirmado por FHC. Depois, procurou minimizar o teor da conversa: "Posso ter falado sobre o tema, todos perguntam. Eu tenho dito a mesma coisa. A jurisprudência do TSE dizia que o que valia era o dia do registro da candidatura. Hoje, com a nova composição, não sei qual será o resultado".
No final da noite, saiu o resultado, e o placar do TSE foi implacável: 6 a 1 contra o recurso de José Roberto Arruda, que assim continua inelegível, com base na Lei da Ficha Limpa.
Adivinhem de quem foi o único voto a favor de Arruda? Acertaram: Gilmar Mendes, sempre ele.
Num longo voto contra o do relator Henrique Neves, que recomendou a rejeição do recurso e foi acompanhado pelos demais ministros, Mendes atacou a classe política "rastaquera" de Brasília e chegou a pedir a intervenção no Distrito Federal: "O Distrito Federal não tem sequer dignidade para ter autonomia política (...) Já deveria ter passado por processo de intervenção", por conta dos sucessivos escândalos de corrupção, segundo o ministro.
Apesar de ter sido filmado recebendo propina no chamado "mensalão do DEM", que até hoje não foi julgado, Arruda continua em campanha e, segundo o último Ibope, lidera as pesquisas com 37%. Seu caso é um retrato perfeito e acabado da falência do sistema político-partidário-eleitoral do país, com a generosa contribuição do Judiciário.
Como sabemos, Fernando Henrique Cardoso não é advogado nem parte interessada no processo. Cabe perguntar, então: por qual motivo o ex-presidente intercedeu por esta figura emblemática da política brasileira junto a um ministro do Supremo Tribunal Federal?
Num país civilizado, com independência de poderes, isto seria inimaginável. No Brasil, não sai nem na capa do jornal. É coisa nossa.
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