sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Eleições e o bacanal das pesquisas

Por Bepe Damasco, em seu blog:

Sempre achei um total absurdo o eleitor se deparar com pesquisas eleitorais estampadas nas bancas de jornais, no momento em que se dirige à seção eleitoral.
No Brasil, a permissividade da legislação em relação à divulgação de pesquisas faz com que até chegar à cabine de votação o eleitor possa ser induzido por elas.

Adivinha qual é o discurso que respalda essa farra? Acertou quem pensou na liberdade de expressão e no direito à informação, mantras prediletos do establishment da mídia para seguir navegando nas águas tranquilas do monopólio.

Contudo, a falta de limites de prazo para a divulgação dos levantamentos, por incrível que pareça, acaba sendo um mal menor causado à democracia se comparada a outros estragos.

Ah, mas as pesquisas precisam ser registradas na justiça eleitoral, antes de sua realização e divulgação, dirão alguns. Mas e daí? É verdade que o TSE cobra dos institutos informações como o número de entrevistados, margem de erro, quantidade de municípios nos quais as pessoas foram ouvidas e grau de confiança. Também é obrigatório o registro sobre a metodologia utilizada, a estratificação da amostra por sexo, renda, idade, escolaridade, etc.

O xis do problema é que não há nenhuma fiscalização sobre a autenticidade dessas informações prestadas ao TSE. Nem por amostragem, a justiça se preocupa em aferir se as entrevistas foram efetivamente realizadas, se a abrangência do levantamento corresponde ao que consta do registro, se foram observados minimamente preceitos estatísticos fundamentais para que a pesquisa dê conta de captar a vontade e a inclinação do eleitor. Daí o terreno fértil para a proliferação da armação eleitoreira e da picaretagem.

A atuação vergonhosa nestas eleições presidenciais dos institutos Veritá, Paraná Pesquisas e Sensus deve acender o sinal de alerta em todos os que prezam a lisura nas eleições como condição básica para a consolidação do regime democrático. Escancaradamente a serviço da candidatura de Aécio Neves, seus resultados estapafúrdios ganharam destaque não só nos programas eleitorais do tucano mas também na mídia velhaca, ávida por publicar qualquer lixo travestido de notícia , desde que fosse negativo para Dilma.

Não que Ibope e Datafolha, considerados os "times grandes" da pesquisa eleitoral no Brasil, sejam flor que se cheire. Ambos têm a "enfeitar" seus currículos erros grosseiros históricos e fortes indícios de manipulação, especialmente no estica e puxa da margem de erro. Um deles pertence a Carlos Augusto Montenegro, conhecido cabo eleitoral da direita nativa. O mesmo que assegurou que Lula não faria seu sucessor e que Dilma não seria reeleita. O outro é do Grupo Folha de São Paulo, o que dispensa comentários. No entanto, são institutos que estão há tempos no mercado e têm o que perder.

Agora, de onde surgiu o tal do Paraná Pesquisas ? E o Veritá? Aliás, a Folha de São Paulo desta quinta (30) publicou matéria segundo a qual esse instituto desaconselhou à campanha de Aécio a utilização do resultado de sua pesquisa, pois a amostra não era metodologicamente sustentável. Mesmo assim, os números pró-Aécio foram direto para o programa do candidato do PSDB.

Papel deplorável nessa eleição também teve o instituto Sensus, cujo dono é Clésio Andrade, empresário e político de Minas Gerais, tucano de carteirinha. Brigando com a realidade o tempo inteiro, o Sensus ignorou por completo a ultrapassagem de Dilma sobre Aécio, detectada por Datafolha e Ibope faltando 10 dias para as eleições, e foi até o fim anunciando uma vitória folgada de Aécio. Morreram abraçados.

Ricardo Guedes, diretor do instituto, chegou a dizer que Aécio já estava eleito e que rasgaria seu diploma caso os dados fajutos do Sensus estivessem errados. Será que ele vai cumprir a promessa ou amarelar como o Lobão?

2 comentários:

Anônimo disse...

Mas as pesquisas davam vitoria a Dilma! Do quê tu ta falando?

Mordaz disse...

As pesquisas deram vitória à Dilma apenas tardiamente. Houve manipulação (dentro da margem de erro ou não, dependendo de qual pesquisa) até alguns dias antes da eleição, com o objetivo de influenciar o eleitor.