Por Paulo Kliass, no jornal Brasil de Fato:
O processo eleitoral que terminou por reconduzir Dilma Rousseff a cumprir mais um mandato à frente da Presidência da República foi marcado, mais uma vez, pela pressão escancarada exercida pelos interesses vinculados ao financismo e aos grandes meios de comunicação.
A inexistência de uma regulamentação clara e objetiva que ofereça um modelo democrático, transparente e pluralista contribui para a profusão de uma prática carregada de excessos, onde a grande imprensa se habituou, desde sempre, ao jogo da manipulação da opinião pública. Sob o argumento rasteiro da defesa da liberdade de informar e da denúncia da prática da censura, as poucas famílias detentoras do oligopólio da informação usaram e abusaram da tentativa de promover um golpe político em pleno processo eleitoral.
É bem verdade que o comportamento dos sucessivos governos, desde a posse de Lula em 2003, tem contribuído para aprofundar esse clima de impunidade. Ao promover a continuidade do modelo de transferência de verbas bilionárias relativas à publicidade oficial para os grupos midiáticos tradicionais, o aceno foi o da manutenção dos privilégios. Os dirigentes de tais conglomerados empresariais foram sendo homenageados de forma sistemática, na figura de indivíduos de sobrenomes emblemáticos como Marinho, Civita, Frias, entre outros. As dívidas tributárias foram renegociadas em prazos e condições de extrema generosidade. Empréstimos do BNDES e demais instituições públicas foram concedidos aos grupos em operações de subsídios bastante benevolentes.
Assim, os governos indicavam que a natureza de concessão de serviços públicos de tais atividades não estaria sendo colocada em xeque quando do estabelecimento das relações com os donos do setor. Eles não precisariam se preocupar, pois teriam assegurados os mesmo privilégios de que haviam usufruído até então. Coisa típica de nossa herança colonial das capitanias hereditárias. A proposta de lei de regulação dos meios de comunicação foi relegada a terceiro plano e tudo continuou como antes, com o profundo engano cultivado pelos governantes de plantão, achando que tinham domado a fera com esse tipo de favorecimento. Triste ilusão!
A realidade objetiva do jogo de interesses econômicos e políticos não tardou a se manifestar. Os mesmos grupos econômicos que foram tão bem mimados com recursos públicos, durante décadas sem interrupção, revelaram sua verdadeira face durante o processo eleitoral. Pautaram seu comportamento como um verdadeiro quartel general a serviço dos interesses das classes dominantes, estabelecendo uma estratégia de estímulos a determinadas candidaturas e tentativa de inviabilização de outra, de acordo com o andar do processo político. Assim foi sua conduta com a campanha de Marina no primeiro turno, logo após a morte de Eduardo Campos. Assim foi com a ressurreição da campanha anteriormente abandonada de Aécio, a partir do segundo turno. Assim foi desde o início com a difamação da campanha de Dilma, desde a divulgação unilateral de informações sob segredo de Justiça, passando pela parcialidade no tratamento dos debates e chegando até o episódio vergonhoso e criminoso da capa de Veja, às vésperas do pleito.
Enquanto os órgãos de imprensa operavam no plano dos corações e mentes dos eleitores, o financismo atuava para criar dificuldades para o governo na área econômica, em particular nos mercados vinculados à Bolsa de Valores. Além de criar um clima de incerteza e insegurança a respeito da real situação da economia, os grandes grupos financeiros faziam a sua festa particular, especulando abertamente em torno das expectativas manipuladas cuidadosamente, na sequência de cada novo resultado a ser divulgado das pesquisas eleitorais. A passividade e a incapacidade dos órgãos reguladores em coibir e punir esse tipo de atividade irresponsável estimularam a manutenção da conduta especulativa, com graves prejuízos políticos, eleitorais, econômicos e financeiros.
Esperamos todos que o susto sofrido para assegurar o segundo mandato desperte a consciência da presidenta para a necessidade de regulamentar esses dois setores, igualmente estratégicos para o bom funcionamento democrático e soberano de nosso país.
* Paulo Kliass é doutor em economia e integrante da carreira de Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental, do governo federal.
O processo eleitoral que terminou por reconduzir Dilma Rousseff a cumprir mais um mandato à frente da Presidência da República foi marcado, mais uma vez, pela pressão escancarada exercida pelos interesses vinculados ao financismo e aos grandes meios de comunicação.
A inexistência de uma regulamentação clara e objetiva que ofereça um modelo democrático, transparente e pluralista contribui para a profusão de uma prática carregada de excessos, onde a grande imprensa se habituou, desde sempre, ao jogo da manipulação da opinião pública. Sob o argumento rasteiro da defesa da liberdade de informar e da denúncia da prática da censura, as poucas famílias detentoras do oligopólio da informação usaram e abusaram da tentativa de promover um golpe político em pleno processo eleitoral.
É bem verdade que o comportamento dos sucessivos governos, desde a posse de Lula em 2003, tem contribuído para aprofundar esse clima de impunidade. Ao promover a continuidade do modelo de transferência de verbas bilionárias relativas à publicidade oficial para os grupos midiáticos tradicionais, o aceno foi o da manutenção dos privilégios. Os dirigentes de tais conglomerados empresariais foram sendo homenageados de forma sistemática, na figura de indivíduos de sobrenomes emblemáticos como Marinho, Civita, Frias, entre outros. As dívidas tributárias foram renegociadas em prazos e condições de extrema generosidade. Empréstimos do BNDES e demais instituições públicas foram concedidos aos grupos em operações de subsídios bastante benevolentes.
Assim, os governos indicavam que a natureza de concessão de serviços públicos de tais atividades não estaria sendo colocada em xeque quando do estabelecimento das relações com os donos do setor. Eles não precisariam se preocupar, pois teriam assegurados os mesmo privilégios de que haviam usufruído até então. Coisa típica de nossa herança colonial das capitanias hereditárias. A proposta de lei de regulação dos meios de comunicação foi relegada a terceiro plano e tudo continuou como antes, com o profundo engano cultivado pelos governantes de plantão, achando que tinham domado a fera com esse tipo de favorecimento. Triste ilusão!
A realidade objetiva do jogo de interesses econômicos e políticos não tardou a se manifestar. Os mesmos grupos econômicos que foram tão bem mimados com recursos públicos, durante décadas sem interrupção, revelaram sua verdadeira face durante o processo eleitoral. Pautaram seu comportamento como um verdadeiro quartel general a serviço dos interesses das classes dominantes, estabelecendo uma estratégia de estímulos a determinadas candidaturas e tentativa de inviabilização de outra, de acordo com o andar do processo político. Assim foi sua conduta com a campanha de Marina no primeiro turno, logo após a morte de Eduardo Campos. Assim foi com a ressurreição da campanha anteriormente abandonada de Aécio, a partir do segundo turno. Assim foi desde o início com a difamação da campanha de Dilma, desde a divulgação unilateral de informações sob segredo de Justiça, passando pela parcialidade no tratamento dos debates e chegando até o episódio vergonhoso e criminoso da capa de Veja, às vésperas do pleito.
Enquanto os órgãos de imprensa operavam no plano dos corações e mentes dos eleitores, o financismo atuava para criar dificuldades para o governo na área econômica, em particular nos mercados vinculados à Bolsa de Valores. Além de criar um clima de incerteza e insegurança a respeito da real situação da economia, os grandes grupos financeiros faziam a sua festa particular, especulando abertamente em torno das expectativas manipuladas cuidadosamente, na sequência de cada novo resultado a ser divulgado das pesquisas eleitorais. A passividade e a incapacidade dos órgãos reguladores em coibir e punir esse tipo de atividade irresponsável estimularam a manutenção da conduta especulativa, com graves prejuízos políticos, eleitorais, econômicos e financeiros.
Esperamos todos que o susto sofrido para assegurar o segundo mandato desperte a consciência da presidenta para a necessidade de regulamentar esses dois setores, igualmente estratégicos para o bom funcionamento democrático e soberano de nosso país.
* Paulo Kliass é doutor em economia e integrante da carreira de Especialistas em Políticas Públicas e Gestão Governamental, do governo federal.
2 comentários:
Sou paulista, e lamento que este Estado não tenha um senador desse naipe. Impossível São Paulo ficar mumificado em termos de senadores. A atual bancada paulista é contra o desenvolvimento, por questões históricas. Esse vídeo mostrado no blog do Paulo Henrique Amorim deveria ser mostrado nas escolas como uma aula de democracia. Parabéns Senador Arruda e parabéns ao blog pela postagem.
É esse o motivo de acompanhar este blog aqui tem essa qualidade nas manifestações coisas que queríamos dizer e que é aqui que mais dia menos dia aparecem com certeza e demostram que o pais precisa urgentçemente parar com a perversa e ridícula mídia popularesca e mentirosa.
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