Por Lamia Oualalou, no site Opera Mundi:
Troca de prisioneiros, normalização das relações diplomáticas, viagens facilitadas e flexibilização do bloqueio econômico: em poucos minutos, os presidentes dos EUA, Barack Obama, e de Cuba, Raúl Castro, acabaram com 53 anos de política externa norte-americana. A notícia repercutida no mundo inteiro é o resultado de 18 meses de negociações secretas entre Washington e Havana, com a ajuda fundamental do Papa Francisco. Ela reflete também a profunda mudança do quadro político doméstico nos Estados Unidos.
“Este ano, todas as pesquisas mostraram que a opinião pública norte-americana era favorável a mudanças importantes na política cubana de Washington”, explica Julia Sweig, diretora do programa de América Latina do Council on Foreign Relations (centro de estudos da política internacional dos EUA). Mais da metade dos americanos quer uma normalização das relações bilaterais, e se o apoio é maior entre democratas e independentes, esta é também a opinião da maioria dos eleitores republicanos.
A transformação é mais sensível ainda na Flórida, que abriga a maior população cubano-americana: 63% dos habitantes do Estado apoiam a normalização, enquanto a média no país é de 56%. Mais de dois terços deles reivindicam o fim da proibição às viagens à ilha para todos os norte-americanos. Apesar da flexibilização introduzida dos últimos anos, este direito continuava reservado aos cubano-americanos.
Para Julia Sweig, “a população cubano-americana já não pode ser vista como um bloco monolítico que vota republicano e rejeita qualquer abertura em relação ao governo cubano”. Ela ressalta o fato dos políticos locais terem entendido o recado: um posicionamento mais liberal e pragmático em relação a Cuba pode ser fonte de popularidade e de votos.
A pressão dos países latino-americanos também teve um papel central. “Acho que Washington nunca entendeu a importância simbólica que sempre representou Cuba para América Latina, mas o que mudou na última década é que todos os países da região exigem uma mudança e o fim da política de isolamento de Havana”, considera Julia Sweig. “E esta pressão não vem só de Brasil, Chile também está falando alto, tal como México”, acrescenta.
Para Mark Weisbrot, co-diretor do Centro de Pesquisa Econômicas e Políticas (CEPR), “com a transição histórica dos últimos 15 anos, com governos de esquerda eleitos na maioria dos países da região, as regras e as normas mudaram, e muitos lideres latino-americanos, inclusive de direita, exigem que Cuba seja tratada de maneira igualitária”. Ele lembra a importância da presença dos representantes da ilha durante a próxima Cúpula das Américas.
Pela primeira vez na história, a próxima Cúpula das Américas, que acontecerá em abril de 2015, no Panamá, contará com a presença de Cuba. Com a expulsão da OEA (Organização dos Estados Americanos) em 1962, Havana não pode participar das edições anteriores que agruparam os 34 países membros da OEA, ou seja, todos os países das Américas menos Cuba. Em 2012, a última edição, em Cartagena, na Colômbia, provocou virulentos debates entre os Estados Unidos (apoiados pelo Canadá) e os demais Estados. “Foi decidido que seria a última reunião sem Cuba”, confiou Marco Aurélio Garcia numa entrevista exclusiva a Opera Mundi. “Agora a bola está com os EUA. Barack Obama terá que decidir se vai ou não”, continuou.
O presidente norte-americano acabou de confirmar sua participação à reunião, com a presença de Cuba. Para Julia Sweig, “não há duvida que a decisão de normalizar as relações com Havana vai ajudá-lo a melhorar as relações com América Latina”.
Weisbrot ressalta a formação de grupos internacionais, como a Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e do Caribe), que incluem Cuba, mas excluem os Estados Unidos, e da crescente influência de organizações regionais como a Unasul (União das Nações Sul-Americanas), como mais uma evidência de mudança regional. “A decisão de Obama também é uma clara derrota dos extremistas cubano-americanos que têm dominado a política dos EUA durante décadas, mais recentemente com o apoio de aliados neo-conservadores”, avalia o analista.
Weisbrot não considera, porém, que o anúncio de hoje signifique uma mudança profunda de paradigma. “Isso ajuda, mas temos que lembrar as novas sanções contra a Venezuela. A pergunta é: os EUA realmente abandonaram a estratégia que foi um fracasso durante os últimos 50 anos, ou apenas eles mudaram de adversário?”, pergunta.
“Este ano, todas as pesquisas mostraram que a opinião pública norte-americana era favorável a mudanças importantes na política cubana de Washington”, explica Julia Sweig, diretora do programa de América Latina do Council on Foreign Relations (centro de estudos da política internacional dos EUA). Mais da metade dos americanos quer uma normalização das relações bilaterais, e se o apoio é maior entre democratas e independentes, esta é também a opinião da maioria dos eleitores republicanos.
A transformação é mais sensível ainda na Flórida, que abriga a maior população cubano-americana: 63% dos habitantes do Estado apoiam a normalização, enquanto a média no país é de 56%. Mais de dois terços deles reivindicam o fim da proibição às viagens à ilha para todos os norte-americanos. Apesar da flexibilização introduzida dos últimos anos, este direito continuava reservado aos cubano-americanos.
Para Julia Sweig, “a população cubano-americana já não pode ser vista como um bloco monolítico que vota republicano e rejeita qualquer abertura em relação ao governo cubano”. Ela ressalta o fato dos políticos locais terem entendido o recado: um posicionamento mais liberal e pragmático em relação a Cuba pode ser fonte de popularidade e de votos.
A pressão dos países latino-americanos também teve um papel central. “Acho que Washington nunca entendeu a importância simbólica que sempre representou Cuba para América Latina, mas o que mudou na última década é que todos os países da região exigem uma mudança e o fim da política de isolamento de Havana”, considera Julia Sweig. “E esta pressão não vem só de Brasil, Chile também está falando alto, tal como México”, acrescenta.
Para Mark Weisbrot, co-diretor do Centro de Pesquisa Econômicas e Políticas (CEPR), “com a transição histórica dos últimos 15 anos, com governos de esquerda eleitos na maioria dos países da região, as regras e as normas mudaram, e muitos lideres latino-americanos, inclusive de direita, exigem que Cuba seja tratada de maneira igualitária”. Ele lembra a importância da presença dos representantes da ilha durante a próxima Cúpula das Américas.
Pela primeira vez na história, a próxima Cúpula das Américas, que acontecerá em abril de 2015, no Panamá, contará com a presença de Cuba. Com a expulsão da OEA (Organização dos Estados Americanos) em 1962, Havana não pode participar das edições anteriores que agruparam os 34 países membros da OEA, ou seja, todos os países das Américas menos Cuba. Em 2012, a última edição, em Cartagena, na Colômbia, provocou virulentos debates entre os Estados Unidos (apoiados pelo Canadá) e os demais Estados. “Foi decidido que seria a última reunião sem Cuba”, confiou Marco Aurélio Garcia numa entrevista exclusiva a Opera Mundi. “Agora a bola está com os EUA. Barack Obama terá que decidir se vai ou não”, continuou.
O presidente norte-americano acabou de confirmar sua participação à reunião, com a presença de Cuba. Para Julia Sweig, “não há duvida que a decisão de normalizar as relações com Havana vai ajudá-lo a melhorar as relações com América Latina”.
Weisbrot ressalta a formação de grupos internacionais, como a Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e do Caribe), que incluem Cuba, mas excluem os Estados Unidos, e da crescente influência de organizações regionais como a Unasul (União das Nações Sul-Americanas), como mais uma evidência de mudança regional. “A decisão de Obama também é uma clara derrota dos extremistas cubano-americanos que têm dominado a política dos EUA durante décadas, mais recentemente com o apoio de aliados neo-conservadores”, avalia o analista.
Weisbrot não considera, porém, que o anúncio de hoje signifique uma mudança profunda de paradigma. “Isso ajuda, mas temos que lembrar as novas sanções contra a Venezuela. A pergunta é: os EUA realmente abandonaram a estratégia que foi um fracasso durante os últimos 50 anos, ou apenas eles mudaram de adversário?”, pergunta.
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