Por Breno Altman, em seu blog:
As severas denúncias contra o presidente da Câmara dos Deputados talvez sejam a única boa notícia para o petismo nos últimos seis meses.
Encurralado pela ofensiva conservadora, assistindo impavidamente a dissolução de sua base social, o Palácio do Planalto vinha sendo feito de gato e sapato por Eduardo Cunha.
Forjou-se, ao redor do parlamentar fluminense, uma nova coalizão, de centro-direita, que dirigiu a vida política no primeiro semestre e fragilizou as condições de governabilidade da presidente Dilma Rousseff, estabelecendo uma espécie de aleijão parlamentarista.
Mesmo acossado pelas investigações da Operação Lava Jato, o líder peemedebista operava como exímio alfaiate da escalada reacionária, combinando alentado arsenal fisiológico com forte espírito de combate e ilimitado empenho na articulação das forças do atraso.
O poder executivo não conseguia frear suas investidas, acumulando sucessivas derrotas e retrocendo de forma atabalhoada, resumindo-se a agir desesperadamente pela simples sobrevivência.
Cunha deitava e rolava sobre um governo refém do próprio PMDB, além de abandonado por grande parte de seus eleitores, depois do cavalo-de-pau na política econômica.
O Planalto revelou-se apático, nestas contendas, para enfrentar o mar de contradições no qual corre risco de afogamento.
Mas uma tempestade mudou a paisagem, com um dos condutores fundamentais da estratégia oposicionista abalado pela acusação de que teria embolsado gorda propina em negociatas com fornecedores da Petrobrás.
A situação de Eduardo Cunha, aliás, pode ficar ainda pior, se o procurador-geral da República solicitar ao STF seu afastamento do comando da Câmara dos Deputados.
De uma hora para outra, o campo conservador viu-se tomado por sentimentos de confusão e perplexidade, sem saber o que fazer com os danos provocados pelo raio caído em seu território.
O PSDB e seus aliados saem momentaneamente de cena, silenciosos e escorregadios.
A velha mídia se divide, entre veículos que pulam na jugular de Cunha e outros que preferem mantê-lo vivo como samurai contra o governo e o PT.
Setores do PMDB e outras agremiações formalmente integrantes do bloco oficialista, que ainda não estavam rendidos ao golpismo, ganharam dose extra de oxigênio e certa margem de manobra.
Conspurcada, a Câmara dos Deputados passa a ter mais dificuldades, diante da opinião pública, para gerir eventual processo de afastamento contra uma presidente legitimamente eleita.
A verdade é que se abriu inesperada janela de oportunidade para uma contraofensiva petista.
Fatores estruturais continuam desfavoráveis, com a confluência entre crise econômica, deterioração social, esgotamento do sistema político e desgaste moral, mas o oponente tomou um sopapo e baixou a guarda.
Caso o governo e o PT se contentem em respirar aliviados, satisfeitos com a dor alheia, acabarão por dar fôlego à recuperação de seus adversários.
Mesmo que Cunha soçobre, a direita rapidamente poderia se recompor, retomando sua capacidade de ataque e voltando a acantonar o Palácio do Planalto.
Bastaria, por exemplo, eleger alguém do mesmo naipe para a presidência da Câmara dos Deputados, se o atual ocupante for ejetado, ou deixar que temas tóxicos – como o julgamento das chamadas “pedaladas fiscais” – ocupem o vácuo deixado pela inação.
Há uma chance preciosa, no entanto, para a esquerda abandonar a política de infindáveis recuos praticada desde outubro do ano passado, cujos resultados desastrosos saltam à vista por todos os lados.
Outro rumo poderia ser traçado se a presidente Dilma Rousseff aproveitasse a tormenta para demitir o ministério e nomear um novo gabinete, no qual a participação da sociedade civil se sobrepusesse às negociações partidárias, em tentativa orgânica de buscar legitimidade extrainstitucional perante progressivo colapso do sistema de representação.
O governo renascido deveria ter como lastro um programa de combate à recessão e retomada do desenvolvimento, com o objetivo de recompor o pacto entre as forças progressistas e atrair correntes democráticas que ainda respiram nas legendas centristas.
Também seria boa hora da presidente retomar a bandeira da Constituinte para a reforma política, transformando-a em um dos fundamentos da repactuação governamental, materializada em proposta imediata de plebiscito popular por sua convocação.
Tratam-se de operações com enormes perigos, fáceis de especular e complicadas para executar. Ficar parado no mesmo lugar, porém, parece ser receita infalível para o ocaso.
Pior ainda se prevalecer a política de “bandeira branca” defendida pelo deputado José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara dos Deputados, que aprofunda a dependência e a vulnerabilidade do projeto petista em relação a frações que conspiram abertamente para encerrar o processo de mudanças inaugurado em 2003.
As severas denúncias contra o presidente da Câmara dos Deputados talvez sejam a única boa notícia para o petismo nos últimos seis meses.
Encurralado pela ofensiva conservadora, assistindo impavidamente a dissolução de sua base social, o Palácio do Planalto vinha sendo feito de gato e sapato por Eduardo Cunha.
Forjou-se, ao redor do parlamentar fluminense, uma nova coalizão, de centro-direita, que dirigiu a vida política no primeiro semestre e fragilizou as condições de governabilidade da presidente Dilma Rousseff, estabelecendo uma espécie de aleijão parlamentarista.
Mesmo acossado pelas investigações da Operação Lava Jato, o líder peemedebista operava como exímio alfaiate da escalada reacionária, combinando alentado arsenal fisiológico com forte espírito de combate e ilimitado empenho na articulação das forças do atraso.
O poder executivo não conseguia frear suas investidas, acumulando sucessivas derrotas e retrocendo de forma atabalhoada, resumindo-se a agir desesperadamente pela simples sobrevivência.
Cunha deitava e rolava sobre um governo refém do próprio PMDB, além de abandonado por grande parte de seus eleitores, depois do cavalo-de-pau na política econômica.
O Planalto revelou-se apático, nestas contendas, para enfrentar o mar de contradições no qual corre risco de afogamento.
Mas uma tempestade mudou a paisagem, com um dos condutores fundamentais da estratégia oposicionista abalado pela acusação de que teria embolsado gorda propina em negociatas com fornecedores da Petrobrás.
A situação de Eduardo Cunha, aliás, pode ficar ainda pior, se o procurador-geral da República solicitar ao STF seu afastamento do comando da Câmara dos Deputados.
De uma hora para outra, o campo conservador viu-se tomado por sentimentos de confusão e perplexidade, sem saber o que fazer com os danos provocados pelo raio caído em seu território.
O PSDB e seus aliados saem momentaneamente de cena, silenciosos e escorregadios.
A velha mídia se divide, entre veículos que pulam na jugular de Cunha e outros que preferem mantê-lo vivo como samurai contra o governo e o PT.
Setores do PMDB e outras agremiações formalmente integrantes do bloco oficialista, que ainda não estavam rendidos ao golpismo, ganharam dose extra de oxigênio e certa margem de manobra.
Conspurcada, a Câmara dos Deputados passa a ter mais dificuldades, diante da opinião pública, para gerir eventual processo de afastamento contra uma presidente legitimamente eleita.
A verdade é que se abriu inesperada janela de oportunidade para uma contraofensiva petista.
Fatores estruturais continuam desfavoráveis, com a confluência entre crise econômica, deterioração social, esgotamento do sistema político e desgaste moral, mas o oponente tomou um sopapo e baixou a guarda.
Caso o governo e o PT se contentem em respirar aliviados, satisfeitos com a dor alheia, acabarão por dar fôlego à recuperação de seus adversários.
Mesmo que Cunha soçobre, a direita rapidamente poderia se recompor, retomando sua capacidade de ataque e voltando a acantonar o Palácio do Planalto.
Bastaria, por exemplo, eleger alguém do mesmo naipe para a presidência da Câmara dos Deputados, se o atual ocupante for ejetado, ou deixar que temas tóxicos – como o julgamento das chamadas “pedaladas fiscais” – ocupem o vácuo deixado pela inação.
Há uma chance preciosa, no entanto, para a esquerda abandonar a política de infindáveis recuos praticada desde outubro do ano passado, cujos resultados desastrosos saltam à vista por todos os lados.
Outro rumo poderia ser traçado se a presidente Dilma Rousseff aproveitasse a tormenta para demitir o ministério e nomear um novo gabinete, no qual a participação da sociedade civil se sobrepusesse às negociações partidárias, em tentativa orgânica de buscar legitimidade extrainstitucional perante progressivo colapso do sistema de representação.
O governo renascido deveria ter como lastro um programa de combate à recessão e retomada do desenvolvimento, com o objetivo de recompor o pacto entre as forças progressistas e atrair correntes democráticas que ainda respiram nas legendas centristas.
Também seria boa hora da presidente retomar a bandeira da Constituinte para a reforma política, transformando-a em um dos fundamentos da repactuação governamental, materializada em proposta imediata de plebiscito popular por sua convocação.
Tratam-se de operações com enormes perigos, fáceis de especular e complicadas para executar. Ficar parado no mesmo lugar, porém, parece ser receita infalível para o ocaso.
Pior ainda se prevalecer a política de “bandeira branca” defendida pelo deputado José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara dos Deputados, que aprofunda a dependência e a vulnerabilidade do projeto petista em relação a frações que conspiram abertamente para encerrar o processo de mudanças inaugurado em 2003.
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