Fotos: Alba Ciudad |
Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:
O reboliço que – dizem – causou a foto de Evo Morales dando um crucifixo estilizado com uma foice e um martelo, obra de um artista que se inspirou num padre ligado a grupos revolucionários, assassinado na Bolívia nos anos 80, é de uma imbecilidade sem par.
O padre morto, um espanhol que vivia há 20 anos na Bolívia, chama-se Luis Espinal, “el jesuita al que dieron 12 tiros “por decir verdades” , segundo matéria do serviço em espanhol da BBC. Não, BBC não é Britanic Bolivarian Comunist, não.
Basta, para medir a tolice das reações hostis, imaginar uma cena semelhante, com o mesmo objeto sendo presentado por um papa a Josef Stálin.
É possível que o bigodudo ficasse bufando de ódio ao ver foice e martelo encimados pela figura de Cristo.
É isso que queriam de Francisco, uma reação “stalinista”?
Quem sabe, odiar aquele índio atrevido?
Ou que agisse como certos chefes da Igreja, que só faltaram excomungar Leonardo Boff?
O curioso é que esta turma, quando é com símbolos de outras religiões, acha que vale tudo, chutar alguidar com farofa dos umbandistas, proibir o véu ritual dos muçulmanos ou estampar Maomé de bunda de fora, de quatro ao chão.
Estranho respeito este, não é?
Tolerância e compreensão são atitudes humanas, não reações dos animais, porque exigem algo que só humano é, ou deveria ser: inteligência.
Meu velho avô era ateu ou agnóstico – nem eu nem ele sabíamos, pois jamais se discutia isso – e detestava padres. Minha avó era católica, com seus tempos de carola, até. Viveram bem durante 56 anos anos assim, talvez porque ambos fossem pessoas de coração limpo de ódio.
Meu avô, porém, tinha seu ícone religioso: uma imagem de Nossa Senhora, esculpida em madeira, que ele restaurou depois de meio destruída num incêndio.
Aquelas mãos que não se erguiam ou se uniam para rezar fizeram nela seu ato de fé em algo maior do que qualquer imagem: o do amor humano cuidando de fazer o bem, muito maior do que o símbolo em que se o fazia..
Mas isso os energúmenos que usam a fé – que não praticam – como forma de plantar o ódio não são capazes de entender.
Não usam a foice para ceifar a messe, nem o martelo para construir, nem Cristo para proclamar a igualdade filial dos homens.
1 comentários:
O mais impressionante de tudo é que o uso de um instrumento de tortura e morte (a cruz) como símbolo importante da estrutura cristã não causa espanto. O mesma forma de cruz é utilizada em rituais de abertura e encerramento das pregações, além de "benzimentos" pessoais (em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo) e também não existe indignação alguma.
As vezes fico pensando como seria este ritual se Jesus tivesse sido enforcado ou invés de crucificado.
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