terça-feira, 15 de setembro de 2015

O melancólico papel de Hélio Bicudo



Por Altamiro Borges

O advogado Hélio Bicudo se projetou no cenário nacional no período sombrio do regime militar. De forma corajosa, ele denunciou os "esquadrões de morte" acobertados pela ditadura e tornou-se uma referência na luta pelos direitos humanos. Sem nunca abdicar da sua visão liberal da democracia, ele ajudou a fundar o PT, fez parte do governo de Luiza Erundina, elegeu-se deputado federal em 1990 e foi vice-prefeito de Marta Suplicy. Alegando "problemas pessoais", nunca explicitados, ele rompeu com o PT em 2005. Na eleição presidencial de 2010, Hélio Bicudo já garantiu os holofotes da mídia ao apoiar Marina Silva (PV), no primeiro turno, e o tucano José Serra, no segundo. Agora, porém, ele chega ao fundo do poço ao se aliar aos fascistas mirins que exigem o impeachment de Dilma.

Na semana passada, o veterano jurista se reuniu com alguns líderes das marchas golpistas que rosnam pelo 'Fora Dilma' e pela volta dos milicos ao poder. Neste papel melancólico, Hélio Bicudo autorizou que seu "parecer jurídico" sobre o impeachment seja anexado ao pedido que PSDB, DEM, PPS e SD protocolarão na Câmara dos Deputados nos próximos dias. "Procuramos o doutor Hélio para conferir mais prestígio popular ao pedido", disse Carla Zambelli, do grupelho "Nas ruas contra a corrupção". Na ocasião, o jurista voltou a expor, em vídeo, o seu ódio doentio contra o ex-presidente Lula.

O fim de carreira do jurista não surpreende apenas os democratas que o respeitaram no passado. Sua postura rancorosa gerou críticas até na sua própria família. No início de setembro, três filhos de Hélio Bicudo fizeram questão de explicitar suas divergências. José Eduardo Bicudo inclusive expôs as suas críticas na sua página no Facebook:

Sou um dos filhos de Hélio Bicudo e como meus irmãos, que já se manifestaram em público, também me manifesto contra o pedido de impeachment feito pelo meu pai. É triste ver uma pessoa que possuía um patrimônio político e uma história de vida digna juntar-se à direita mais sórdida do nosso país para fazer um papel no mínimo ridículo, extemporâneo, e se expondo de uma maneira pueril. Infelizmente, a sua luta contra o esquadrão da morte acaba ficando menor, neste momento pelo qual passa o Brasil, diante da insensatez que é o seu pedido de impeachment. 

Nas entrelinhas do texto é possível verificar que o pedido de impeachment de Dilma é uma cortina de fumaça e o objetivo principal do pedido é atingir Lula, de um lado se juntando à campanha da mídia conservadora contra a candidatura de Lula para presidente em 2018 e de outro lado revelando mais uma vez a sua desesperada 'briga' pessoal com Lula, a qual vem se arrastando por mais de uma década.

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6 comentários:

Mário Silva disse...

Tudo a ver. Bicudo rima com tucano.

Dulcinéa disse...


Pensei nisto, Mário. Bicudo se afina com tucano.

Unknown disse...

Manchou a biografia....

Anônimo disse...

Há políticos que envelhecem com a grandeza de Barbosa L. Sobrinho. Outros como Oscar Niemeyer. Outros que vendo a morte se aproximar tem a grandeza de dar uma guinada em sua trajetória, para melhor. Se dignificam, superando seus próprios erros e equívocos: é o caso de Teotônio, o menestrel das Alagoas.... Há outros que com o envelhecimento, se apequenam... Talvez porque sempre assim foram... e nós apenas não o conhecíamos bem... Lastimavelmente parece ser o caso de Hélio Bicudo... Que lástima!

Arthemisia disse...

Quem nasceu para Kim, jamais será uma estrela. RIP, Hélio Bicudo.

Anônimo disse...

É isso aí, quem precisa de Hélio Bicudo, Luiza Erundina, Plinio de Arruda Sampaio e Cristóvam Buarque, se temos Collor, Maluf e Temer do nosso lado.