Por Leonardo Sakamoto, em seu blog:
“Faltam estudos que comprovem prejuízos à saúde provocados por produtos usados adequadamente.”
“Não há evidências científicas de que, quando usados apropriadamente, causem efeito à saúde.”
Eu adoro o discurso usado na defesa do indefensável! Mas tem que ter classe para saber usá-lo, criar o contexto correto, ter cara-de-pau, parecer acreditar naquilo.
Quem já assistiu ao filme “Obrigado por fumar”, de Jaison Reitman, com Aaron Eckhart, que satiriza a indústria do tabaco e as associações de lobby que atuam nos Estados Unidos, muitas vezes como “mercadores da morte'', sabe do que estou falando.
É engraçado ver o discurso cínico do protagonista do filme e imaginar quantos cidadãos caem nesse mimimi na vida real. Mas a história fica trágica quando verificamos que os mesmos discursos são descarregados sobre nós diariamente para justificar qualquer coisa. Entre elas, a expansão agropecuária irracional no Brasil.
E a gente, claro, engole feito um bebê. Perda de empregos, falta de comida, interesses estrangeiros, ecatombe maia, tudo é usado como desculpa para continuar passando por cima. Alguém já viu os filmes promocionais de empresas que produzem agrotóxicos? É de chorar de emoção.
A Folha de S.Paulo, desde domingo (4), traz uma reportagem mostrando que “Sem controle, alimentos circulam no país com agrotóxico irregular''. E que a Agência Nacional de Vigilância, com base em um grupo de alimentos da cesta básica, constatou que 31% deles tinham agrotóxicos proibidos ou acima do permitido. O Ministério da Agricultura, em suas análises, considerou as amostras satisfatórias.
Lembro de outra reportagem da Folha, de 2011, apontando que havia sido encontrado agrotóxico em leite materno no Mato Grosso: “O leite materno de mulheres de Lucas do Rio Verde, cidade de 45 mil habitantes na região central de Mato Grosso, está contaminado por agrotóxicos, revela uma pesquisa da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso). Foram coletadas amostras de leite de 62 mulheres, 3 delas da zona rural, entre fevereiro e junho de 2010. O município é um dos principais produtores de grãos do MT. A presença de agrotóxicos foi detectada em todas''.
Mas destaco o caso por conta do “outro lado'':
“A Associação Nacional de Defesa Vegetal, representante dos produtores de agrotóxicos, diz desconhecer detalhes da pesquisa, mas ressalta que a avaliação de estudos toxicológicos é complexa. Segundo a entidade, faltam estudos que comprovem prejuízos à saúde provocados por produtos usados adequadamente. 'Não há evidências científicas de que, quando usados apropriadamente, os defensivos agrícolas causem efeito à saúde'.”
Já citei essa história várias vezes aqui, mas vale pelo didatismo. Durante as brigas pelo banimento do amianto, um advogado que defendia o interesses dos trabalhadores trouxe um pedaço do produto para ser mostrado em uma audiência judicial com os que defendiam as empresas. O amianto, acusado de causar danos à saúde dos trabalhadores, circulou na mesa. Do lado corporativo, que defendia que o produto era inofensivo como uma bola de gude, ninguém quis tocá-lo.
Poderíamos fazer o mesmo com os que defendem que “faltam estudos” e “não há dados”. Até como uma forma de mostrar que acreditam naquilo que defendem. Vamos garantir que os executivos das empresas, seus lobistas, parlamentares e governantes amigos consumam apenas alimentos e água dos locais onde os problemas relatados acontecem.
Se faltam dados, não há risco comprovado, não é mesmo? Bora liderar pelo exemplo!
O Brasil, um dos líderes em uso de agrotóxicos e pesticidas, continua sendo mais rápido para aprovar produtos químicos que trazem lucro a poucos e lento para tirá-los de circulação – quando fica provado que causam danos a muitos. Ou para controlar a sua presença no meio ambiente e seus impactos nas populações locais.
Muitos agrotóxicos proibidos nos Estados Unidos, na União Europeia e em alguns de nossos vizinhos latinos correm soltos – literalmente – contaminando água, terra e ar por aqui. E, por conseguinte, milhares de pessoas diretamente e milhões indiretamente.
E não são apenas os proibidos, um problema. Talvez um pepino maior sejam os permitidos usados sem o devido cuidado e em quantidade maior que o meio pode suportar. Mesmo quando a Anvisa faz uma reavaliação toxicológica de substâncias químicas, parte dos produtores alega que vetos causarão aumento de custos. Entendo o lado deles, mas aceitar algo que não está de acordo com os padrões mínimos é uma bomba-relógio que vai explodir em algum momento.
No Brasil, o lobby dos agrotóxicos é pesado. Daria um longa-metragem de “ficção'' tão engraçado e trágico quanto o da indústria do tabaco.
O problema seria encontrar financiador.
“Não há evidências científicas de que, quando usados apropriadamente, causem efeito à saúde.”
Eu adoro o discurso usado na defesa do indefensável! Mas tem que ter classe para saber usá-lo, criar o contexto correto, ter cara-de-pau, parecer acreditar naquilo.
Quem já assistiu ao filme “Obrigado por fumar”, de Jaison Reitman, com Aaron Eckhart, que satiriza a indústria do tabaco e as associações de lobby que atuam nos Estados Unidos, muitas vezes como “mercadores da morte'', sabe do que estou falando.
É engraçado ver o discurso cínico do protagonista do filme e imaginar quantos cidadãos caem nesse mimimi na vida real. Mas a história fica trágica quando verificamos que os mesmos discursos são descarregados sobre nós diariamente para justificar qualquer coisa. Entre elas, a expansão agropecuária irracional no Brasil.
E a gente, claro, engole feito um bebê. Perda de empregos, falta de comida, interesses estrangeiros, ecatombe maia, tudo é usado como desculpa para continuar passando por cima. Alguém já viu os filmes promocionais de empresas que produzem agrotóxicos? É de chorar de emoção.
A Folha de S.Paulo, desde domingo (4), traz uma reportagem mostrando que “Sem controle, alimentos circulam no país com agrotóxico irregular''. E que a Agência Nacional de Vigilância, com base em um grupo de alimentos da cesta básica, constatou que 31% deles tinham agrotóxicos proibidos ou acima do permitido. O Ministério da Agricultura, em suas análises, considerou as amostras satisfatórias.
Lembro de outra reportagem da Folha, de 2011, apontando que havia sido encontrado agrotóxico em leite materno no Mato Grosso: “O leite materno de mulheres de Lucas do Rio Verde, cidade de 45 mil habitantes na região central de Mato Grosso, está contaminado por agrotóxicos, revela uma pesquisa da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso). Foram coletadas amostras de leite de 62 mulheres, 3 delas da zona rural, entre fevereiro e junho de 2010. O município é um dos principais produtores de grãos do MT. A presença de agrotóxicos foi detectada em todas''.
Mas destaco o caso por conta do “outro lado'':
“A Associação Nacional de Defesa Vegetal, representante dos produtores de agrotóxicos, diz desconhecer detalhes da pesquisa, mas ressalta que a avaliação de estudos toxicológicos é complexa. Segundo a entidade, faltam estudos que comprovem prejuízos à saúde provocados por produtos usados adequadamente. 'Não há evidências científicas de que, quando usados apropriadamente, os defensivos agrícolas causem efeito à saúde'.”
Já citei essa história várias vezes aqui, mas vale pelo didatismo. Durante as brigas pelo banimento do amianto, um advogado que defendia o interesses dos trabalhadores trouxe um pedaço do produto para ser mostrado em uma audiência judicial com os que defendiam as empresas. O amianto, acusado de causar danos à saúde dos trabalhadores, circulou na mesa. Do lado corporativo, que defendia que o produto era inofensivo como uma bola de gude, ninguém quis tocá-lo.
Poderíamos fazer o mesmo com os que defendem que “faltam estudos” e “não há dados”. Até como uma forma de mostrar que acreditam naquilo que defendem. Vamos garantir que os executivos das empresas, seus lobistas, parlamentares e governantes amigos consumam apenas alimentos e água dos locais onde os problemas relatados acontecem.
Se faltam dados, não há risco comprovado, não é mesmo? Bora liderar pelo exemplo!
O Brasil, um dos líderes em uso de agrotóxicos e pesticidas, continua sendo mais rápido para aprovar produtos químicos que trazem lucro a poucos e lento para tirá-los de circulação – quando fica provado que causam danos a muitos. Ou para controlar a sua presença no meio ambiente e seus impactos nas populações locais.
Muitos agrotóxicos proibidos nos Estados Unidos, na União Europeia e em alguns de nossos vizinhos latinos correm soltos – literalmente – contaminando água, terra e ar por aqui. E, por conseguinte, milhares de pessoas diretamente e milhões indiretamente.
E não são apenas os proibidos, um problema. Talvez um pepino maior sejam os permitidos usados sem o devido cuidado e em quantidade maior que o meio pode suportar. Mesmo quando a Anvisa faz uma reavaliação toxicológica de substâncias químicas, parte dos produtores alega que vetos causarão aumento de custos. Entendo o lado deles, mas aceitar algo que não está de acordo com os padrões mínimos é uma bomba-relógio que vai explodir em algum momento.
No Brasil, o lobby dos agrotóxicos é pesado. Daria um longa-metragem de “ficção'' tão engraçado e trágico quanto o da indústria do tabaco.
O problema seria encontrar financiador.
1 comentários:
O diretor Silvio Tendler realizou dois filmes muito pedagógicos sobre o assunto, ambos com mesmo título e disponíveis no YouTube: "O veneno está na mês", I e II. Imperdíveis.
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