Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:
Conduzida com inesperada habilidade por Vladimir Putin, a posição de liderança da Rússia nos conflitos no Oriente Médio vem crescendo no Ocidente.
Os Estados Unidos, mesmo com a experiência de mais de uma década de ocupação no Afeganistão e no Iraque, ao contrário, têm cada vez mais dificuldades em serem vistos como uma força capaz de pacificar a região.
Também aqui são cada vez mais frequentes as vozes que se levantam contra a situação absurda a que não apenas aquelas duas guerras levaram, mas à política de demolição do Estado Sírio e, ao contrário, o suporte absoluto ao regime medieval da Arábia Saudita, ao fim e ao cabo a grande fonte de suporte do terrorismo do Exército Islâmico.
Hoje, há dois textos que creio, todos deveriam ler. Deles, separo alguns trechos, mas recomendo a leitura integral, para quem quer entender melhor a barbárie do que acontece lá, sob as bençãos do Ocidente “civilizado”.
O primeiro, é de Guga Chacra, ótimo correspondente do Estadão. Ele faz o interessante exercício de buscar suas próprias previsões do início da crise síria. E as compara ao quadro atual.
“(…) decidi ver o que eu escrevi sobre a Guerra da Síria quando estava em Damasco quatro anos atrás. O texto segue abaixo e, claramente, já se delineava o atual contorno do conflito como observamos hoje. Noto que o temor na época era o de a Síria se tornar um novo Iraque ou um Líbano dos anos 1990. Virou e até ficou pior. Bashar al Assad tinha apoio dos cristãos, alauítas, drusos e sunitas moderados das grandes cidades. Continua tendo. A oposição era formada por sunitas conservadores do interior e um crescente número de estrangeiros. Ainda é assim. Assad não iria cair. Não caiu. Enfim, leia o relato que escrevi em outubro de 2011. Enfim, o panorama da Guerra da Síria era óbvio e é lamentável que as grandes potências tenham errado tanto e permitido a radicalização da oposição, que culminaria no surgimento do ISIS (Daesh ou Grupo Estado Islâmico) e outras facções radicais como a Frente Nusrah (Al Qaeda na Síria) e Jaysh al Islam. (o texto continua aqui)
O segundo – Arábia Saudita é o Estado Islâmico que o mundo tolera –, em O Globo, é da experiente Ana Carranca, com vasta experiência de cobertura jornalística na região:
Enquanto a comunidade internacional reage horrorizada às ações do EI (“Exército Islâmico”), transmitidas como parte de sua propaganda, o regime saudita pratica quase sem oposição ações tão repugnantes quanto às dos terroristas — talvez ainda mais repulsivas porque cometidas por um Estado legal, que não apenas faz parte do sistema ONU como assumiu em outubro posição de comando no Conselho de Direitos Humanos da organização, em uma decisão escandalosa. (…)
“O primeiro (EI) corta gargantas, mata, apedreja, decepa mãos, destrói a herança comum da Humanidade e despreza arqueologia, mulheres e não muçulmanos. O último (Arábia Saudita) é mais bem vestido e organizado, mas faz as mesmas coisas”, escreveu o jornalista argelino Kamel Daoud, em artigo no “New York Times”. “Em seu esforço contra o terrorismo, o Ocidente promove a guerra contra um, mas aperta as mãos do outro.”
Uma política, como a americana, que não admite a negociação com um Estado laico e moderado (certamente que com deformações em relação a nossos modelos ocidentais) e que apóia, política econômica e, sobretudo, com farto armamento a outro, que pratica e subvenciona o fundamentalismo mais radical, não pode funcionar, como não funciona.
Óbvio que Putin o percebeu. Óbvio que o mundo o percebe e até a dócil Europa dá cada vez mais suporte à ação russa, apesar de todas as resistências que tem ao grande urso.
O que falta para os norte-americanos que estão indo ao suicídio diplomático?
PS. Quem tiver dúvidas (e estômago muito forte) procure na internet o vídeo de uma mulher, conduzida por militares sauditas para ser decapitada em plena rua, a espada. Se não tiver estômago, veja como o país prepara uma decapitação coletiva de 50 pessoas, que vão se somar às 151 que tiveram seus pescoços cortados, este ano, pelo país que, inacreditavelmente, ocupa a presidência do Conselho de Direitos Humanos da ONU. É coisa para terrorista nenhum botar defeito.
Conduzida com inesperada habilidade por Vladimir Putin, a posição de liderança da Rússia nos conflitos no Oriente Médio vem crescendo no Ocidente.
Os Estados Unidos, mesmo com a experiência de mais de uma década de ocupação no Afeganistão e no Iraque, ao contrário, têm cada vez mais dificuldades em serem vistos como uma força capaz de pacificar a região.
Também aqui são cada vez mais frequentes as vozes que se levantam contra a situação absurda a que não apenas aquelas duas guerras levaram, mas à política de demolição do Estado Sírio e, ao contrário, o suporte absoluto ao regime medieval da Arábia Saudita, ao fim e ao cabo a grande fonte de suporte do terrorismo do Exército Islâmico.
Hoje, há dois textos que creio, todos deveriam ler. Deles, separo alguns trechos, mas recomendo a leitura integral, para quem quer entender melhor a barbárie do que acontece lá, sob as bençãos do Ocidente “civilizado”.
O primeiro, é de Guga Chacra, ótimo correspondente do Estadão. Ele faz o interessante exercício de buscar suas próprias previsões do início da crise síria. E as compara ao quadro atual.
“(…) decidi ver o que eu escrevi sobre a Guerra da Síria quando estava em Damasco quatro anos atrás. O texto segue abaixo e, claramente, já se delineava o atual contorno do conflito como observamos hoje. Noto que o temor na época era o de a Síria se tornar um novo Iraque ou um Líbano dos anos 1990. Virou e até ficou pior. Bashar al Assad tinha apoio dos cristãos, alauítas, drusos e sunitas moderados das grandes cidades. Continua tendo. A oposição era formada por sunitas conservadores do interior e um crescente número de estrangeiros. Ainda é assim. Assad não iria cair. Não caiu. Enfim, leia o relato que escrevi em outubro de 2011. Enfim, o panorama da Guerra da Síria era óbvio e é lamentável que as grandes potências tenham errado tanto e permitido a radicalização da oposição, que culminaria no surgimento do ISIS (Daesh ou Grupo Estado Islâmico) e outras facções radicais como a Frente Nusrah (Al Qaeda na Síria) e Jaysh al Islam. (o texto continua aqui)
O segundo – Arábia Saudita é o Estado Islâmico que o mundo tolera –, em O Globo, é da experiente Ana Carranca, com vasta experiência de cobertura jornalística na região:
Enquanto a comunidade internacional reage horrorizada às ações do EI (“Exército Islâmico”), transmitidas como parte de sua propaganda, o regime saudita pratica quase sem oposição ações tão repugnantes quanto às dos terroristas — talvez ainda mais repulsivas porque cometidas por um Estado legal, que não apenas faz parte do sistema ONU como assumiu em outubro posição de comando no Conselho de Direitos Humanos da organização, em uma decisão escandalosa. (…)
“O primeiro (EI) corta gargantas, mata, apedreja, decepa mãos, destrói a herança comum da Humanidade e despreza arqueologia, mulheres e não muçulmanos. O último (Arábia Saudita) é mais bem vestido e organizado, mas faz as mesmas coisas”, escreveu o jornalista argelino Kamel Daoud, em artigo no “New York Times”. “Em seu esforço contra o terrorismo, o Ocidente promove a guerra contra um, mas aperta as mãos do outro.”
Uma política, como a americana, que não admite a negociação com um Estado laico e moderado (certamente que com deformações em relação a nossos modelos ocidentais) e que apóia, política econômica e, sobretudo, com farto armamento a outro, que pratica e subvenciona o fundamentalismo mais radical, não pode funcionar, como não funciona.
Óbvio que Putin o percebeu. Óbvio que o mundo o percebe e até a dócil Europa dá cada vez mais suporte à ação russa, apesar de todas as resistências que tem ao grande urso.
O que falta para os norte-americanos que estão indo ao suicídio diplomático?
PS. Quem tiver dúvidas (e estômago muito forte) procure na internet o vídeo de uma mulher, conduzida por militares sauditas para ser decapitada em plena rua, a espada. Se não tiver estômago, veja como o país prepara uma decapitação coletiva de 50 pessoas, que vão se somar às 151 que tiveram seus pescoços cortados, este ano, pelo país que, inacreditavelmente, ocupa a presidência do Conselho de Direitos Humanos da ONU. É coisa para terrorista nenhum botar defeito.
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