segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Michel Temer é o "capitão do golpe"

Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador:

Ciro Gomes aponta para a tela, e afirma com todas as letras algo que Lula e os dirigentes do PT não ousam falar em voz alta: “O capitão do golpe é aquele ali, Michel Temer”. E diz mais: o vice-presidente é “amigo e sócio íntimo de Eduardo Cunha”. As afirmações estão em entrevista de Ciro a Mariana Godoy, que reproduzimos aqui (a edição foi feita pelo Fernando Brito, do blog Tijolaço).

As frases, ditas no “estilo Ciro”, de forma crua e direta, colocam a nu algo que o mundo político já sabe. Temer conspira para assumir a presidência. Meses atrás chegou a dizer que o país precisava de um governo de “unidade nacional”. Depois, deu seu aval a um “programa de governo” ultra-liberal (onde já se viu alguém que está no governo apresentar um programa alternativo de governo? Isso é ação típica de oposição…).

Michel Temer é um “profissional”. Foi escolhido para a vice-presidência por ser um “profissional” que agregaria votos das várias correntes peemedebistas no Congresso. Isso funcionou, em parte. Acontece que os profissionais vivem, agem e respiram pensando só numa coisa: o poder completo.

Temer tem (sob os auspícios do impeachment-vingança de Eduardo Cunha) a chance de subir no cavalo, sozinho. Não vai perder essa chance. Na verdade, opera em parceria com o PSDB.

Se quisesse se opor ao golpismo de Aécio e à vingança de Cunha, Temer já teria se manifestado publicamente contra. Não o fez. Tirou o ministro Padilha do governo Dilma para mandar recado à oposição: podemos caminhar juntos. Temer articula com Serra (que poderia ser o seu “ministro forte”, num eventual governo de “unidade”), anda por São Paulo, ausculta empresários golpistas. É um vice que conspira.

Ciro faz bem em pregar na testa de Temer o rótulo de “golpista”, e “capitão do golpe”.

Esses dias, participei de um debate informal e despretensioso, pelas redes sociais, com pessoas ligadas ao governo e ao PT. Muita gente desdenhou da ação de Ciro. O petismo “responsável” acha que atacar Temer é jogá-lo para o lado do golpe…

Hum…

Sinceramente, acho perigoso achar que Temer “poderia ir para o lado do golpismo”. Ele já foi. Já está lá, há pelo menos 6 meses.

Claro que não se deve confrontar o PMDB em bloco. Lula tenta costurar o apoio de parcelas do PMDB (Pezão, Sergio Cabral, Eduardo Paes e lideranças do partido no Norte e Nordeste) para barrar o impeachment no Congresso. Trata-se de movimento importante, fundamental.

Mas esse movimento não é incompatível com a tarefa de tirar de Temer a aura de “homem da unidade nacional” ou de “pacificador da República”.

Sobre a traição de Temer, leia aqui o texto de Alex Solnik.

Sobre o fato de Temer controlar apenas parte do PMDB (e, portanto, não ser incompatível confrontar Temer e ao mesmo tempo obter apoio de outros setores peemedebistas), leia aqui o texto de Tales Faria.

Lula e Dilma não podem (e não devem) confrontar Temer. Mas há muita gente que pode cumprir esse papel. Ciro é um deles.

Alguns fatos precisam ficar claros para a população:

- Temer é amigo e “sócio” de Cunha em muitas ações politicas;

- Temer age nas sombras para chegar ao poder, sem voto; e nessa ação tem como parceiros Cunha e parte do PSDB (Serra, por exemplo).

Quanto mais claro ficar o fato de que Temer conspira, menos chance ele tem de obter sucesso na conspiração que já avança a passos largos.

Temer é discreto, um “profissional”. Cunha é atabalhoado, e também “profissional”.

São dois estilos de “profissional” em ação. E hoje eles agem juntos.

2 comentários:

Anônimo disse...

É bom o Temer e aqueles que votarem a favor do Golpe, serão marcados para sempre com o ferro quente de golpistas e oportunistas. O povo vai fazer a justiça na rua e na urna.
Pensem bem antes de fazer a besteira. Deixe o país andar normalmente.

Alexandre Figueiredo disse...

Michel Temer parece o Carlos Luz dos dias de hoje, meio "hesitante" na oposição (Luz era o presidente em exercício, depois de Vargas morto e Café Filho doente, e era contra a posse do então recém-eleito Juscelino Kubitschek), mas pronto a embarcar no navio golpista se "for necessário".

Curiosamente, 1955 se repetiria em 1961 com o plano de golpe contra Jango - até aviões pró-Jango tiveram autorização dos ministros militares golpistas para serem bombardeados - e, hoje, temos que recorrer ao remédio da época, a Rede da Legalidade, para impedir o impeachment contra Dilma Rousseff, reeleita dentro das condições e garantias da Constituição Federal.