Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:
Ganhou velocidade e vida própria esta semana a marcha batida para o golpe civil contra o governo de Dilma Rousseff, reeleita pouco mais de um ano atrás. A senha para desencadear o movimento, que ganhou força nas últimas horas, foi a "carta-desabafo" do vice Michel Temer .
Num primeiro momento, não entendi o sentido e o objetivo daquela esdrúxula correspondência sentimental vazada em termos carregados de rancor, no melhor estilo Lupicínio Rodrigues, mas agora ficou claro: a indicação oficial do rompimento de Temer com Dilma era só o que estavam esperando os lideres da oposição para desencadear o processo iniciado no dia mesmo da derrota que sofreu nas eleições presidenciais de 2014.
Basta juntar os fatos que se sucederam à carta: todos fazem parte do mesmo ritual golpista para isolar a presidente da República e promover o impeachment deflagrado pelo chantagista Eduardo Cunha, aquele notório exportador de carne enlatada e correntista suíço.
Enquanto Lula e o PT sumiam de cena, Temer assumiu abertamente o comando das ações, em comum acordo com Cunha e os caciques tucanos FHC, Aécio e Serra, que rapidamente se reuniram em Brasília para lhe dar apoio, tendo na retaguarda a artilharia da aliança midiática.
A pretexto de unificar o PMDB, o vice derrubou primeiro o líder do partido na Câmara, Leonardo Picciani, um aliado de Dilma, depois de tirar do ministério o seu lugar-tenente e grande estrategista Eliseu Padilha. Antes que a semana acabasse, Temer passou a articular a formação de um novo governo em encontros com o alto empresariado, dissidentes da base aliada, partidos e entidades de oposição aos governos petistas. Até seu programa econômico, "Uma Ponte para o Futuro", já estava pronto. A ponte, claro, é ele mesmo.
Fenômeno de resiliência, Dilma resiste ao cerco praticamente sozinha, com alguns poucos ministros de confiança, mas parece ser tarde demais para esboçar qualquer tipo de reação, tanto na política como na economia, tentando enfrentar, ao mesmo tempo, as crises gêmeas que se retroalimentam.
Os barracos, as baixarias e as nebulosas transações, que se multiplicaram nos últimos dias em Brasília, desnudaram um quadro dramático para os brasileiros: muitos daqueles que se uniram para derrubar o governo são ainda piores e mais medíocres do que os atuais detentores do poder. Por suas palavras e ações, mostraram que estão pouco preocupados com a corrupção e os rumos da economia, os dois principais álibis usados pelo movimento golpista.
Pedaladas ou recursos ilegais de campanha, pareceres encomendados a "juristas" de ocasião, qualquer pretexto serve para o triunvirato PMDB de Temer -PSDB de FHC- Grande Imprensa, que tem um único objetivo: a volta ao poder dos que foram derrotados nas últimas quatro eleições.
Como já era de se esperar nestes tempos de judicialização da política, os dois lados foram bater às portas dos tribunais para definir os ritos do impeachment. Esgotados todos os outros recursos, governistas e oposições querem agora decidir o jogo no tapetão do STF, que se reúne na próxima quarta-feira para definir quem e como conduzirá o processo.
Com os militares nos quartéis e as tropas americanas bem longe daqui, ao contrário de 1964, e sem o clima de Guerra Fria que dividia o mundo, o Brasil de 2015 vive um momento decisivo da sua história encarando um vazio de lideranças e de projetos, à esquerda e à direita, tanto nos partidos como na sociedade civil.
Sem alternativas, neste Natal só nos resta voltar a acreditar em Papai Noel para ver se a gente ganha de presente pelo menos um pouco de esperança.
E vida que segue.
Num primeiro momento, não entendi o sentido e o objetivo daquela esdrúxula correspondência sentimental vazada em termos carregados de rancor, no melhor estilo Lupicínio Rodrigues, mas agora ficou claro: a indicação oficial do rompimento de Temer com Dilma era só o que estavam esperando os lideres da oposição para desencadear o processo iniciado no dia mesmo da derrota que sofreu nas eleições presidenciais de 2014.
Basta juntar os fatos que se sucederam à carta: todos fazem parte do mesmo ritual golpista para isolar a presidente da República e promover o impeachment deflagrado pelo chantagista Eduardo Cunha, aquele notório exportador de carne enlatada e correntista suíço.
Enquanto Lula e o PT sumiam de cena, Temer assumiu abertamente o comando das ações, em comum acordo com Cunha e os caciques tucanos FHC, Aécio e Serra, que rapidamente se reuniram em Brasília para lhe dar apoio, tendo na retaguarda a artilharia da aliança midiática.
A pretexto de unificar o PMDB, o vice derrubou primeiro o líder do partido na Câmara, Leonardo Picciani, um aliado de Dilma, depois de tirar do ministério o seu lugar-tenente e grande estrategista Eliseu Padilha. Antes que a semana acabasse, Temer passou a articular a formação de um novo governo em encontros com o alto empresariado, dissidentes da base aliada, partidos e entidades de oposição aos governos petistas. Até seu programa econômico, "Uma Ponte para o Futuro", já estava pronto. A ponte, claro, é ele mesmo.
Fenômeno de resiliência, Dilma resiste ao cerco praticamente sozinha, com alguns poucos ministros de confiança, mas parece ser tarde demais para esboçar qualquer tipo de reação, tanto na política como na economia, tentando enfrentar, ao mesmo tempo, as crises gêmeas que se retroalimentam.
Os barracos, as baixarias e as nebulosas transações, que se multiplicaram nos últimos dias em Brasília, desnudaram um quadro dramático para os brasileiros: muitos daqueles que se uniram para derrubar o governo são ainda piores e mais medíocres do que os atuais detentores do poder. Por suas palavras e ações, mostraram que estão pouco preocupados com a corrupção e os rumos da economia, os dois principais álibis usados pelo movimento golpista.
Pedaladas ou recursos ilegais de campanha, pareceres encomendados a "juristas" de ocasião, qualquer pretexto serve para o triunvirato PMDB de Temer -PSDB de FHC- Grande Imprensa, que tem um único objetivo: a volta ao poder dos que foram derrotados nas últimas quatro eleições.
Como já era de se esperar nestes tempos de judicialização da política, os dois lados foram bater às portas dos tribunais para definir os ritos do impeachment. Esgotados todos os outros recursos, governistas e oposições querem agora decidir o jogo no tapetão do STF, que se reúne na próxima quarta-feira para definir quem e como conduzirá o processo.
Com os militares nos quartéis e as tropas americanas bem longe daqui, ao contrário de 1964, e sem o clima de Guerra Fria que dividia o mundo, o Brasil de 2015 vive um momento decisivo da sua história encarando um vazio de lideranças e de projetos, à esquerda e à direita, tanto nos partidos como na sociedade civil.
Sem alternativas, neste Natal só nos resta voltar a acreditar em Papai Noel para ver se a gente ganha de presente pelo menos um pouco de esperança.
E vida que segue.
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