Por Felipe Bianchi, no site do Centro de Estudos Barão de Itararé:
"A mídia local é comprometida com o governo", aponta Narelly Batista, do núcleo do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé em Goiás. Segundo ela, através dos meios de comunicação, o governo tem criticado e acusado as ocupações, jogando-as no descrédito. “Acusam os alunos de vandalismo e de atenderem a interesses paridários”, denuncia a jornalista. “Raquel Teixeira [Secretária de Educação do estado] chegou a declarar, mais de uma vez, que ‘alguém estaria ganhando com isso’”.
O quadro no estado é assustador: são mais de 25 escolas militarizadas, sob o argumento de acabar com a violência no ambiente escolar. A pedagogia da repressão imposta pelo governo aos estudantes, porém, parece contrariar a ideia. “Tem ocorrido diversos ataques e abusos policiais”, afirma Batista. “Os policiais entram nos colégios, ameaçam cortar canos da escola e promovem agressões contra os secundaristas”.
Enquanto a grande mídia cala, um jornalista da página Desneuralizador - mídia alternativa que faz a cobertura da luta dos estudantes - terminou preso na segunda-feira (15), junto a 13 menores (liberados na presença dos pais) e mais 17 adultos, que dependiam de audiência de custódia. A detenção ocorreu em ação da PM para desocupar à força a Secretária de Educação, Cultura e Esporte (Seduce). As acusações são de corrupção de menores, formação de quadrilha e dano ao patrimônio público.
De acordo com a jornalista do Barão de Itararé goiano, a polícia proibiu a imprensa de acompanhar o processo das prisões arbitrárias. “Depois de desocupados, foram liberados apenas dois fotógrafos de cada veículo, se houvesse. As reportagens sobre o caso foram limitadas a fotos”, critica, acrescentando que dezenas de alunos tiveram celulares recolhidos para apagar quaisquer registros das ações policiais.
“A tentativa de criminalizar os movimentos sociais tem dado certo”, avalia Batista. “Os meios de comunicação tem cumprido papel decisivo, apoiando a repressão”. A exceção, conforme relata, é a TV da Universidade Federal de Goiás. “A TV UFG vem fazendo uma cobertura equilibrada, mas é uma disputa desigual. A única TV que mostra o outro lado da história não atinge grandes audiências”.
Ataque aos estudantes, desmonte da educação
Segundo Michely Coutinho, diretora do Sindicato dos Técnico-Administrativos da UFG, IFG e IF Goiano (SINT-IFESgo) e da Associação Mulheres na Comunicação, a educação goiana está sendo rifada para gente que “de social não tem nada”. “São empresários que não têm a menor experiência com educação, além de vários com condenação criminal”, pontua.
Coutinho lembra também que, na área da saúde, as OSs já funcionam no estado. Segundo ela, os indicadores, a despeito do discurso oficial, demonstram aumento do gasto público sem contrapartida de atendimento e qualidade.
Organizações de professores e estudantes tentaram por muito tempo dialogar sobre a implementação das OSs, mas em nenhum momento houve disposição para o debate público sobre o futuro da educação goiana, explica o professor João Coelho. “A própria Raquel Teixeira não concordava inicialmente com as OSs, mas parece ter sido ‘tratorada’ pelo governo”, avalia.
Os protestos e ocupações protagonizadas pelos estudantes impressionaram, opina Coelho, mas não causaram nenhum tipo de comoção. “A implementação das OSs está sendo imposta a toque de caixa. Em torno de dois meses, estava tudo pronto para a implementação”.
Quanto à cumplicidade da imprensa comercial, o professor acredita que os milhões injetados pelo governo nos meios de comunicação funcionam como uma “borracha na verdade dos fatos”. A única forma de romper o bloqueio informativo é o ativismo digital ou o trabalho de “um ou outro veículo”.
Cronologia do desastre
Segundo o professor e dirigente do Sindicato dos Professores do Estado de Goiás (Sinpro-GO) Railton Nascimento Souza, as investidas de Marconi Perillo contra os professores da rede estadual remetem ao ano de 2012, quando teve inicio um processo de retirada de direitos, como a titularidade.
A ação, explica Railton, desecandeou uma grande mobilização dos professores. Secretário de Educação do estado à época, Tiago Peixoto ficou conhecido como "um verdadeiro lobista da educação privada". Não bastasse o quadro, ainda veio à tona o envolvimento do governador tucano com o escândalo protagonizado pelo bicheiro Carlinhos Cachoeiro e pelo então senador Demóstenes Torres (DEM).
O movimento iniciado pelos professores foi tratado com mão de ferro pelo governo. "De 2012 pra cá, professores foram transferidos para regiões longínquas como punição", relata Railton. "Além disso, há um intenso patrulhamento nas redes sociais e no que publicam jornalistas e blogueiros". Mais de 16 foram diretamente processados, afirma o professor e sindicalista.
A efervescência culminou no 'pacotão' da militarização e das OSs. "Fui num evento e tinha um grupo de professores radicais da extrema esquerda me xingando", alegou Perillo, de acordo com o jornal A Tarde. "Eu disse: tenho um remedinho pra vocês. Colégio Militar e Organização Social. Identifiquei as oito escolas desses professores, preparei um projeto de lei e, em seguida, militarizei essas oito escolas".
O governador, conforme conta Railton, cumpriu sua promessa. "Mas o que ele não esperava foi a reação dos estudantes, ocupando escolas em massa. A polícia colocada para liderar a desocupação foi a P2, a política militar à paisana, herança da ditadura militar".
O alinhamento da mídia às ações do governo é tamanha que o Diário da Manhã foi apelidado pelo povo como o Diário do Marconi, conta. "Em 16 de dezembro de 2015, o jornal publicou matéria criminosa referindo-se aos professores que apoiavam a luta dos secundaristas como 'baderneiros' e 'guerrilheiros'. As rádios, de uma forma geral e absoluta, também reproduzem as posições dos governos e saem em defesa das OSs".
A televisão também silencia sobre as prisões arbitrárias e a violência policial contra estudantes e profesores. "Por isso, as redes sociais, os blogs e os jornalistas independentes cumprem um papel fundamental na disseminação de informação, levando em conta os erros e acertos do movimento social, os abusos de poder e as graves ilegalidades cometidas pelo governo na repressão aos ativistas".
A brutalidade com que o governo goiano tem reprimido os estudantes secundaristas ocupados em mais de 27 escolas do estado tem sido alvo de denúncias por parte do movimento social e dos jovens resistentes. Contra a militarização das escolas e a implementação de Organizações Sociais (OSs) imposta pelo governador Marconi Perillo (PSDB), a luta dos aguerridos jovens goianos, iniciado ainda em dezembro, parece não contar com o interese ou a sensibilidade dos grandes meios de comunicação.
"A mídia local é comprometida com o governo", aponta Narelly Batista, do núcleo do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé em Goiás. Segundo ela, através dos meios de comunicação, o governo tem criticado e acusado as ocupações, jogando-as no descrédito. “Acusam os alunos de vandalismo e de atenderem a interesses paridários”, denuncia a jornalista. “Raquel Teixeira [Secretária de Educação do estado] chegou a declarar, mais de uma vez, que ‘alguém estaria ganhando com isso’”.
O quadro no estado é assustador: são mais de 25 escolas militarizadas, sob o argumento de acabar com a violência no ambiente escolar. A pedagogia da repressão imposta pelo governo aos estudantes, porém, parece contrariar a ideia. “Tem ocorrido diversos ataques e abusos policiais”, afirma Batista. “Os policiais entram nos colégios, ameaçam cortar canos da escola e promovem agressões contra os secundaristas”.
Enquanto a grande mídia cala, um jornalista da página Desneuralizador - mídia alternativa que faz a cobertura da luta dos estudantes - terminou preso na segunda-feira (15), junto a 13 menores (liberados na presença dos pais) e mais 17 adultos, que dependiam de audiência de custódia. A detenção ocorreu em ação da PM para desocupar à força a Secretária de Educação, Cultura e Esporte (Seduce). As acusações são de corrupção de menores, formação de quadrilha e dano ao patrimônio público.
De acordo com a jornalista do Barão de Itararé goiano, a polícia proibiu a imprensa de acompanhar o processo das prisões arbitrárias. “Depois de desocupados, foram liberados apenas dois fotógrafos de cada veículo, se houvesse. As reportagens sobre o caso foram limitadas a fotos”, critica, acrescentando que dezenas de alunos tiveram celulares recolhidos para apagar quaisquer registros das ações policiais.
“A tentativa de criminalizar os movimentos sociais tem dado certo”, avalia Batista. “Os meios de comunicação tem cumprido papel decisivo, apoiando a repressão”. A exceção, conforme relata, é a TV da Universidade Federal de Goiás. “A TV UFG vem fazendo uma cobertura equilibrada, mas é uma disputa desigual. A única TV que mostra o outro lado da história não atinge grandes audiências”.
Ataque aos estudantes, desmonte da educação
Segundo Michely Coutinho, diretora do Sindicato dos Técnico-Administrativos da UFG, IFG e IF Goiano (SINT-IFESgo) e da Associação Mulheres na Comunicação, a educação goiana está sendo rifada para gente que “de social não tem nada”. “São empresários que não têm a menor experiência com educação, além de vários com condenação criminal”, pontua.
Coutinho lembra também que, na área da saúde, as OSs já funcionam no estado. Segundo ela, os indicadores, a despeito do discurso oficial, demonstram aumento do gasto público sem contrapartida de atendimento e qualidade.
Organizações de professores e estudantes tentaram por muito tempo dialogar sobre a implementação das OSs, mas em nenhum momento houve disposição para o debate público sobre o futuro da educação goiana, explica o professor João Coelho. “A própria Raquel Teixeira não concordava inicialmente com as OSs, mas parece ter sido ‘tratorada’ pelo governo”, avalia.
Os protestos e ocupações protagonizadas pelos estudantes impressionaram, opina Coelho, mas não causaram nenhum tipo de comoção. “A implementação das OSs está sendo imposta a toque de caixa. Em torno de dois meses, estava tudo pronto para a implementação”.
Quanto à cumplicidade da imprensa comercial, o professor acredita que os milhões injetados pelo governo nos meios de comunicação funcionam como uma “borracha na verdade dos fatos”. A única forma de romper o bloqueio informativo é o ativismo digital ou o trabalho de “um ou outro veículo”.
Cronologia do desastre
Segundo o professor e dirigente do Sindicato dos Professores do Estado de Goiás (Sinpro-GO) Railton Nascimento Souza, as investidas de Marconi Perillo contra os professores da rede estadual remetem ao ano de 2012, quando teve inicio um processo de retirada de direitos, como a titularidade.
A ação, explica Railton, desecandeou uma grande mobilização dos professores. Secretário de Educação do estado à época, Tiago Peixoto ficou conhecido como "um verdadeiro lobista da educação privada". Não bastasse o quadro, ainda veio à tona o envolvimento do governador tucano com o escândalo protagonizado pelo bicheiro Carlinhos Cachoeiro e pelo então senador Demóstenes Torres (DEM).
O movimento iniciado pelos professores foi tratado com mão de ferro pelo governo. "De 2012 pra cá, professores foram transferidos para regiões longínquas como punição", relata Railton. "Além disso, há um intenso patrulhamento nas redes sociais e no que publicam jornalistas e blogueiros". Mais de 16 foram diretamente processados, afirma o professor e sindicalista.
A efervescência culminou no 'pacotão' da militarização e das OSs. "Fui num evento e tinha um grupo de professores radicais da extrema esquerda me xingando", alegou Perillo, de acordo com o jornal A Tarde. "Eu disse: tenho um remedinho pra vocês. Colégio Militar e Organização Social. Identifiquei as oito escolas desses professores, preparei um projeto de lei e, em seguida, militarizei essas oito escolas".
O governador, conforme conta Railton, cumpriu sua promessa. "Mas o que ele não esperava foi a reação dos estudantes, ocupando escolas em massa. A polícia colocada para liderar a desocupação foi a P2, a política militar à paisana, herança da ditadura militar".
O alinhamento da mídia às ações do governo é tamanha que o Diário da Manhã foi apelidado pelo povo como o Diário do Marconi, conta. "Em 16 de dezembro de 2015, o jornal publicou matéria criminosa referindo-se aos professores que apoiavam a luta dos secundaristas como 'baderneiros' e 'guerrilheiros'. As rádios, de uma forma geral e absoluta, também reproduzem as posições dos governos e saem em defesa das OSs".
A televisão também silencia sobre as prisões arbitrárias e a violência policial contra estudantes e profesores. "Por isso, as redes sociais, os blogs e os jornalistas independentes cumprem um papel fundamental na disseminação de informação, levando em conta os erros e acertos do movimento social, os abusos de poder e as graves ilegalidades cometidas pelo governo na repressão aos ativistas".
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