Por Marcelo Zero
Com o golpe, o Barão do Rio Branco anda em baixa no Itamaraty. Sua figura ímpar de negociador hábil e arguto, afeito à força dos argumentos, vem sendo substituída por figura menor, prosaica, mais afeita ao argumento da força e à discutível efetividade dos decibéis, das ameaças e dos insultos.
Claro está que o governo ilegítimo tem um problema muito sério de imagem internacional. O motivo é óbvio. Golpes contra a democracia não são mais tão populares como eram há algumas décadas. Antes saudados como “ressurgimentos da democracia” e “revoluções” que nos salvavam da “ameaça comunista”, os golpes agora costumam ser vistos (pasmem!) como golpes.
Em vez de euforia cívica, eles agora despertam asco moral, mesmo quando escrupulosamente vestidos pelos ritos constitucionais do impeachment. No caso do golpe parlamentar brasileiro, o apego à forma não conseguiu ocultar o desapego à questão de mérito: não há crime imputável à presidenta já afastada, ao contrário do que acontece com seus algozes.
A “assembleia geral de bandidos presidida por um bandido”, expressão que Miguel de Souza Tavares encontrou para designar o circo de horrores da sessão da Câmara que deu início ao golpe, desnudou ao mundo inteiro o que ocorria no Brasil: uma presidenta honesta estava sendo acusada por figuras com a credibilidade de punguistas do baixo meretrício.
Como previsível, o espetáculo de gosto duvidoso, mistura improvável de Ionesco com comédia pastelão, não agradou as plateias mundiais, que a ele reagiram com divertida incredulidade e triste nojo.
Não tardou para que para que jornais do mundo inteiro, inclusive os mais conservadores, passassem a designar a fraude do impeachment sem crime como golpe ou, pelo menos, a questionar se esse tosco processo político poderia contribuir para superação da crise política no Brasil. Reação pudica e de bom senso ante a histeria desavergonhada dos golpistas.
Também de modo previsível, muitas organizações internacionais importantes, como a OEA, a Unasul, a Cepal, a ONU Mulheres e várias outras expressaram seu repúdio ou sua preocupação com o golpe parlamentar em curso.
Consumado o afastamento da presidenta, vários governos da América Latina, eleitos de forma legítima, condenaram oficialmente o golpe de Estado ocorrido no Brasil. Alguns, como os de El Salvador e Venezuela, chamaram de volta seus embaixadores em Brasília.
Ao que consta, nenhum governo do mundo fez declaração de apoio ao governo ilegítimo do Brasil. Mesmo quem não condenou oficialmente, mantém cautela e prudente distância. Talvez inspirados no PSDB, esperam para ver o que vai dar.
Ora, ante tal quadro de fragilidade seria de esperar que o novo inquilino do Itamaraty agisse com a sabedoria e a argúcia do Barão do Rio Branco. Usasse palavras conciliadoras e tom moderado, mesmo na defesa do indefensável. Afinal, há aqui uma gritante assimetria que precisa ser levada em consideração: os governos que criticam o golpe brasileiro têm os eleitores de seus países a secundá-los, ao passo que o governo provisório e ilegítimo do Brasil não foi eleito por ninguém.
Mas o que se vê é exatamente o contrário e o que se ouve são decibéis estridentes, a adornar ameaças e insultos.
No caso da nota sobre El Salvador, acusou-se o governo daquele país de ignorância sobre “a Constituição e a legislação brasileiras, sobre o rito aplicável em processos de impedimento e sobre o pleno funcionamento das normas e instituições democráticas no país”. Também se fez uma ameaça, não tão velada assim, baseada no fato de que El Salvador é o maior beneficiário da cooperação técnica brasileira na América Central.
No caso da Unasul, a cordata resposta oficial da nossa nova “diplomacia” foi a desqualificação de seu Secretário-Geral, Ernesto Samper. Não bastasse, a equilibrada gestão diplomática do Barão da Mooca acusou governos da Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua de “propagar falsidades” sobre o Brasil.
Pelo visto, o novo inquilino do MRE que renovar a tradição, denunciada por Chico Buarque, de falar grosso com a Bolívia e países semelhantes.
Pena que essa vigorosa e agressiva defesa da nossa soberania, ameaçada por potências imperialistas como El Salvador e Bolívia, tenda a se esvair quando esses supostos defensores do Brasil começarem a negociar acordos assimétricos de livre comércio com países modestos e pacíficos como os EUA. Nesse caso, se falará fino. Bem fino.
Não e a primeira vez que o atual locador do Palácio do Itamaraty distribui grosserias contra países da América Latina. Inimigo declarado da Integração Regional, ele já chamou o Mercosul de “farsa” e “delírio megalomaníaco”. Nunca conseguiu disfarçar seu desprezo por países menores e pobres, principalmente africanos, latino-americanos e caribenhos, nos quais pretende fechar nossas embaixadas. Mas, justiça seja feita, sempre se encantou com o circuito Elizabeth Arden.
Na época, tinha como atenuante o fato de ser mero candidato. Agora, ocupando a cadeira que já foi do Barão de Rio Branco, deveria ao menos respeitar as boas tradições da Casa. Mesmo de governo ilegítimo, ele é, de facto, o chanceler do Brasil.
Sua tonitruante diplomacia talvez vista bem no golpe, mas serve mal ao País.
Com o golpe, o Barão do Rio Branco anda em baixa no Itamaraty. Sua figura ímpar de negociador hábil e arguto, afeito à força dos argumentos, vem sendo substituída por figura menor, prosaica, mais afeita ao argumento da força e à discutível efetividade dos decibéis, das ameaças e dos insultos.
Claro está que o governo ilegítimo tem um problema muito sério de imagem internacional. O motivo é óbvio. Golpes contra a democracia não são mais tão populares como eram há algumas décadas. Antes saudados como “ressurgimentos da democracia” e “revoluções” que nos salvavam da “ameaça comunista”, os golpes agora costumam ser vistos (pasmem!) como golpes.
Em vez de euforia cívica, eles agora despertam asco moral, mesmo quando escrupulosamente vestidos pelos ritos constitucionais do impeachment. No caso do golpe parlamentar brasileiro, o apego à forma não conseguiu ocultar o desapego à questão de mérito: não há crime imputável à presidenta já afastada, ao contrário do que acontece com seus algozes.
A “assembleia geral de bandidos presidida por um bandido”, expressão que Miguel de Souza Tavares encontrou para designar o circo de horrores da sessão da Câmara que deu início ao golpe, desnudou ao mundo inteiro o que ocorria no Brasil: uma presidenta honesta estava sendo acusada por figuras com a credibilidade de punguistas do baixo meretrício.
Como previsível, o espetáculo de gosto duvidoso, mistura improvável de Ionesco com comédia pastelão, não agradou as plateias mundiais, que a ele reagiram com divertida incredulidade e triste nojo.
Não tardou para que para que jornais do mundo inteiro, inclusive os mais conservadores, passassem a designar a fraude do impeachment sem crime como golpe ou, pelo menos, a questionar se esse tosco processo político poderia contribuir para superação da crise política no Brasil. Reação pudica e de bom senso ante a histeria desavergonhada dos golpistas.
Também de modo previsível, muitas organizações internacionais importantes, como a OEA, a Unasul, a Cepal, a ONU Mulheres e várias outras expressaram seu repúdio ou sua preocupação com o golpe parlamentar em curso.
Consumado o afastamento da presidenta, vários governos da América Latina, eleitos de forma legítima, condenaram oficialmente o golpe de Estado ocorrido no Brasil. Alguns, como os de El Salvador e Venezuela, chamaram de volta seus embaixadores em Brasília.
Ao que consta, nenhum governo do mundo fez declaração de apoio ao governo ilegítimo do Brasil. Mesmo quem não condenou oficialmente, mantém cautela e prudente distância. Talvez inspirados no PSDB, esperam para ver o que vai dar.
Ora, ante tal quadro de fragilidade seria de esperar que o novo inquilino do Itamaraty agisse com a sabedoria e a argúcia do Barão do Rio Branco. Usasse palavras conciliadoras e tom moderado, mesmo na defesa do indefensável. Afinal, há aqui uma gritante assimetria que precisa ser levada em consideração: os governos que criticam o golpe brasileiro têm os eleitores de seus países a secundá-los, ao passo que o governo provisório e ilegítimo do Brasil não foi eleito por ninguém.
Mas o que se vê é exatamente o contrário e o que se ouve são decibéis estridentes, a adornar ameaças e insultos.
No caso da nota sobre El Salvador, acusou-se o governo daquele país de ignorância sobre “a Constituição e a legislação brasileiras, sobre o rito aplicável em processos de impedimento e sobre o pleno funcionamento das normas e instituições democráticas no país”. Também se fez uma ameaça, não tão velada assim, baseada no fato de que El Salvador é o maior beneficiário da cooperação técnica brasileira na América Central.
No caso da Unasul, a cordata resposta oficial da nossa nova “diplomacia” foi a desqualificação de seu Secretário-Geral, Ernesto Samper. Não bastasse, a equilibrada gestão diplomática do Barão da Mooca acusou governos da Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua de “propagar falsidades” sobre o Brasil.
Pelo visto, o novo inquilino do MRE que renovar a tradição, denunciada por Chico Buarque, de falar grosso com a Bolívia e países semelhantes.
Pena que essa vigorosa e agressiva defesa da nossa soberania, ameaçada por potências imperialistas como El Salvador e Bolívia, tenda a se esvair quando esses supostos defensores do Brasil começarem a negociar acordos assimétricos de livre comércio com países modestos e pacíficos como os EUA. Nesse caso, se falará fino. Bem fino.
Não e a primeira vez que o atual locador do Palácio do Itamaraty distribui grosserias contra países da América Latina. Inimigo declarado da Integração Regional, ele já chamou o Mercosul de “farsa” e “delírio megalomaníaco”. Nunca conseguiu disfarçar seu desprezo por países menores e pobres, principalmente africanos, latino-americanos e caribenhos, nos quais pretende fechar nossas embaixadas. Mas, justiça seja feita, sempre se encantou com o circuito Elizabeth Arden.
Na época, tinha como atenuante o fato de ser mero candidato. Agora, ocupando a cadeira que já foi do Barão de Rio Branco, deveria ao menos respeitar as boas tradições da Casa. Mesmo de governo ilegítimo, ele é, de facto, o chanceler do Brasil.
Sua tonitruante diplomacia talvez vista bem no golpe, mas serve mal ao País.
1 comentários:
Ou, o BRASIL acaba com o José "Privata" Serra, ou, o José "Privata" Serra acaba com o BRASIL !!!
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