quarta-feira, 22 de junho de 2016

O “fascismo light” de Jair Bolsonaro

Por Altamiro Borges

Nesta terça-feira (21), o Supremo Tribunal Federal (STF) finalmente decidiu abrir duas ações penais contra o fascista Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que agora se torna réu pelos crimes de apologia ao estupro e de injúria. Caso seja condenado, o herói da direita nativa ficará inelegível pelos próximos oito anos, o que inviabiliza a sua ambição presidencial para 2018. Logo após a decisão, o valentão se acovardou novamente, pedindo desculpas com "humildade". Mas em uma conversa informal com um jornalista, que ele imaginou ser advogado, ele admitiu: "Me fodi. Tomei de quatro a um [no STF]". Nem mesmo o afago dos mercenários do Movimento Brasil Livre (MBL) serviu de consolo ao deputado fascista.

Os ministros do STF, por quatro votos a um, acataram a denúncia formulada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e a queixa da deputada Maria do Rosário (PT-RS), agredida pelo fascistoide. Em seu parecer, o relator do processo, Luiz Fux, concluiu que Jair Bolsonaro praticou crime ao afirmar, em dezembro de 2014, que não estupraria a parlamentar "porque você não merece". Para o ministro, a grosseria "não apenas menospreza a dignidade da mulher, como atribui às vítimas o merecimento dos sofrimentos". Já o ministro Luís Roberto Barroso acrescentou que a imunidade parlamentar não prevê a violação da dignidade humana. "Ninguém deve achar que a incivilidade, a grosseria e a depreciação do outro são formas naturais de viver a vida... Ninguém pode se escudar na imunidade parlamentar para chamar alguém de ‘negro safado’, para chamar alguém de 'gay pervertido'".

Fascista se traveste de democrata

A decisão do STF pode até não redundar na perda dos direitos políticos do famoso fascista, mas serve para desgastar ainda mais a sua imagem. Nos últimos tempos, segundo reportagem recente da Folha, Jair Bolsonaro estava tentando ampliar seu eleitorado, hoje composto basicamente por fascistoides da pior espécie e por "midiotas" desinformados. Seu intento, conforme relato da repórter Thais Bilenky, seria o de criar "uma extrema direita light" no Brasil:

"Pré-candidato à Presidência pelo PSC, o deputado Jair Messias Bolsonaro, 61, tenta ampliar o seu apelo eleitoral em temas como economia e sistema penal, ainda que mantenha os arroubos que já lhe renderam cerca de 30 pedidos de cassação em 26 anos de mandatos na Câmara Federal. A defesa de um projeto desenvolvimentista para o país, herança da ditadura (1964-1985) - da qual ele é admirador - agora divide espaço com falas pró-mercado. Respostas legalistas substituem elogios do passado ao autoritarismo". A repórter lembra que em 1999, durante entrevista ao programa "Câmera Aberta", ele afirmou que era "favorável à tortura", elogiou a ditadura militar e disse que, se fosse eleito presidente da República, fecharia o Congresso Nacional e "daria um golpe".

Agora, porém, ele tenta se travestir de democrata para iludir os ingênuos. Na maior caradura, garante que nunca defendeu a ditadura ou as torturas. "Na tentativa de ampliar seu eleitorado, o deputado Jair Bolsonaro diz que abriu mão de posições polêmicas como a defesa da pena capital. 'A Constituição não permite pena de morte, prisão perpétua nem trabalho forçado', declarou. O mesmo argumento é usado ao comentar o direito ao aborto em caso de estupro. "Não vou discutir, já que é lei. Se alguém apresentar projeto para revogar, é outra história'". Em seu pragmatismo, o "católico praticante" até foi batizado em Jerusalém pelo Pastor Everaldo, em maio último. Haja oportunismo!

Apesar desta jogada de marketing, não será nada fácil tirar da sua testa o carimbo de fascista, racista, machista e homofóbico. A própria Folha, que ajudou a projetar o deputado golpista, concorda que sua mudança de postura em busca do eleitorado "light" de direita não será simples. "Não significa que ele tenha se convertido totalmente. Uma das últimas mostras disso ocorreu durante a votação na Câmara do impeachment de Dilma Rousseff, em que homenageou o coronel Brilhante Ustra, que chefiou o DOI-Codi, órgão repressor da ditadura onde a presidente afastada foi torturada". Ao tornar réu pelos crimes de apologia ao estupro e injúria, o STF ajuda a ampliar a ficha corrida do fascistoide.

Ainda sobre o repugnante Jair Bolsonaro, vale reler artigo de Guilherme Boulos, publicado na Folha  em 21 de abril de 2016:

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Bolsonaro e a miséria humana

"Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff, pelo exército de Caxias, pelas Forças Armadas, pelo Brasil acima de tudo e por Deus acima de tudo, o meu voto é sim".

Assim o deputado Jair Messias Bolsonaro votou no último domingo (17) pelo impeachment da presidente Dilma. Para os que não conhecem a história do país suas palavras podem ter passado desapercebidas em meio ao show de horrores daquela várzea que se tornou a Câmara dos Deputados. Mas não.

Carlos Alberto Brilhante Ustra foi o comandante do DOI-Codi –órgão de repressão da ditadura militar– entre 1970 e 1974. Neste período, é responsabilizado pelo assassinato de pelo menos 50 pessoas e pela tortura de outras tantas. Torturou e matou de forma atroz e covarde, sendo lembrado como um dos maiores carrascos da ditadura.

Torturou a militante política Amelinha Teles na presença de seus filhos, então com 4 e 5 anos de idade. "Ele levou meus filhos para uma sala, onde eu me encontrava na cadeira do dragão [instrumento de tortura utilizado na ditadura militar em que a pessoa era colocada sentada e sofria choques com fios elétricos atados em diversas partes do corpo], nua, vomitada, urinada... e ele leva meus filhos para dentro da sala? Para mim, foi a pior tortura que eu passei. Meus filhos tinham 5 e 4 anos".

Torturou a irmã de Amelinha, Criméia de Almeida, grávida: "Apanhei muito e apanhei do comandante. Ele foi o primeiro a me torturar e me espancou até eu perder a consciência, sendo que era uma gestante bem barriguda. Eu estava no sétimo mês de gravidez".

Torturou por mais de doze horas seguidas o ex-deputado Adriano Diogo, após matar seu colega, o estudante Alexandre Vannuchi Leme: "Tirou o capuz e falou: Acabei de mandar o Minhoca (apelido de Alexandre) para a Vanguarda Popular Celestial. Você vai ser o próximo".

Torturou o vereador paulistano Gilberto Natalini: "Tiraram a minha roupa e me obrigaram a subir em duas latas. Conectaram fios ao meu corpo e me jogaram água com sal. Enquanto me dava choques, Ustra me batia com um cipó e gritava me pedindo informações".

Torturou também a presidente Dilma Rousseff, de forma verdadeiramente pavorosa, com choques, pau de arara e arrancando seus dentes: "Era aquele negócio meio terreno baldio, não tinha nem muro direito. Eu entrei no pátio da Operação Bandeirante e começaram a gritar: 'Mata!', 'Tira a roupa', 'Terrorista','Filha da puta'. Você vai ficar deformada e ninguém vai te querer. Ninguém sabe que você está aqui. Você vai virar um 'presunto' e ninguém vai saber...", disse ele então à presidente.

Um deputado federal render, às vistas de toda a nação, homenagem a um torturador – como justificativa do voto contrário a uma pessoa por ele torturada – é uma perversidade inominável. É ademais crime de apologia à tortura, como denunciou a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

Numa cínica inversão de valores, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, fala em cassar o deputado Jean Wyllys, que, legitimamente enojado com os insultos de Bolsonaro, deferiu-lhe uma cusparada. Ora, o que foi a cusparada de Jean – que representou o desejo de milhões de brasileiros – perto dos elogios canalhas a Brilhante Ustra? Se as leis que protegem os direitos humanos valessem algo no Brasil, Bolsonaro teria saído da seção de domingo cassado e algemado.

Muitos são os que preferem enxergá-lo como a caricatura do louco, um psicopata. Isso seria aboná-lo. Seria considerar também como loucos os milhares que o exaltam como "Bolsomito" e o 5% do eleitorado que o tem como seu candidato a presidente da República.

Ao exaltar torturadores, agredir minorias de forma covarde e conclamar a eliminação dos inimigos, Bolsonaro ganha espaço por despertar um ponto sensível da miséria humana. Aquilo que Kant chamou de mal radical e Freud de destrutividade da pulsão de morte.

Diz Freud, em "O Mal Estar na Civilização": "Sob circunstâncias propícias, quando estão ausentes forças contrárias que a inibem, a agressão se exterioriza espontaneamente, desmascara os seres humanos como bestas selvagens. Em consequência, o próximo representa uma tentação para satisfazer nele a agressão, escravizá-lo, usá-lo sexualmente sem seu consentimento, humilhá-lo, infligir-lhe dores, martirizá-lo, assassiná-lo".

Este é o estado de espírito do torturador. É também o sentimento que Jair Bolsonaro desperta em seus "Bolsonetes", criando uma verdadeira comunhão do ódio. Aí florescem as sementes do fascismo.

Pela memória de Alexandre Vannuchi Leme e de todos os mortos da ditadura; pela honra de Amelinha e de todos os torturados da ditadura; por todos eles, é preciso dizer não ao fascista Jair Messias Bolsonaro.

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1 comentários:

Anônimo disse...


O NAZIGOLPISTA &$ [MEGA]CORRUPTO DEMoTUCANO JOSÉ ANÍBAL AGREDINDO JOVEM ADVOGADO NO AEROPORTO DE BRASÍLIA

https://www.youtube.com/watch?v=yC5CyHwdlXY



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E aqui
https://www.youtube.com/watch?v=n6rVRNktXUQ