quarta-feira, 24 de agosto de 2016

João Doria, o candidato indigesto

Por Adriana Dias, na revista Fórum:

O candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo, João Dória, foi duramente criticado por falar em extinguir a Secretaria da Pessoa com Deficiência. Criticado por gente do próprio partido. Mara Gabrilli afirmou em seu Facebook que a proposta “é de uma falta de conhecimento inacreditável”.

É verdade. Uma secretaria dá uma força que uma coordenação não tem. No quesito falta de conhecimento, aliás, o mocinho do botox maravilha dá show: Dória promete acabar com duas secretarias municipais que não existem. Tipo a piada eterna da volta dos que não foram, mas ao contrário. A ida dos que não vieram… LGBT e Juventude não são secretarias. São subordinadas à Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania. Além disso, ele chamou, passeando pelo Centro, moradores em situação de rua de “indigentes”. Isso foi indigesto.

As secretarias de Igualdade Racial, Mulheres e Direitos Humanos têm orçamentos pequenos: R$ 158,4 milhões. Ou seja, representam juntas apenas 0,29% do orçamento da Prefeitura em 2016, que é de R$ 54,4 bi. Cortar essas secretarias é uma medida demagógica, que não apresenta ganho real, e retira o poder de secretaria, o mesmo que vale para pessoas com deficiência para cuidar da discriminação de gênero e do racismo em São Paulo.

O capacitismo, a discriminação das pessoas com deficiências, têm origem no machismo e no racismo. Sem combater a ideia de que existem corpos menores, menos humanos, e sem difundir a ideia de igualdade, entre homens e mulheres, entre TODAS as pessoas, não haverá fim do capacitismo. Não adianta manter a secretaria de pessoa com deficiência e não combater o racismo e o machismo.

Dória é indigesto, seja falando das secretarias, do seu programa de governo, quase medieval, dos indigentes, ou comendo pastel…

E por falar em capacitismo, Haddad, quando você vai levar a sério as políticas para pessoa com deficiência e pessoas com doenças raras?

* Adriana Dias é Bacharel em Ciências Sociais em Antropologia, Mestre e Doutoranda em Antropologia Social – tudo pela UNICAMP. É também coordenadora do Comitê “Deficiência e Acessibilidade” da Associação Brasileira de Antropologia e coordenadora de pesquisa tanto no Instituto Baresi (que cria políticas públicas para pessoas com doenças raras) quanto na ONG ESSAS MULHERES (voltada à luta pelos direitos sexuais e reprodutivos e ao combate da violência que afeta mulheres com deficiência). É Membro da American Anthropological Association, e foi membro da Associação Brasileira de Cibercultura e da Latin American Jewish Studies Association.

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