Da revista CartaCapital:
A Polícia Federal cedeu agentes, armas, carros, avião e helicóptero, divulgou gravações ilegais, pediu patrocínio e abriu sua sede em Curitiba para ajudar na produção e na gravação do filme Polícia Federal - A Lei é para Todos, que retrata parte das investigações da Operação Lava Jato. A denúncia, feita nesta quarta-feira 5, é dos deputados federais Paulo Pimenta (RS), Wadih Damous (RJ) e Paulo Teixeira (SP), todos do PT.
A base da denúncia dos deputados petistas é uma investigação própria realizada por eles desde fevereiro, cujas conclusões serão repassadas a autoridades competentes para investigação. Os deputados anunciaram uma série de medidas judiciais, sendo a principal delas uma representação no Ministério Público Federal pedindo a investigação da conduta de agentes públicos.
Os deputados decidiram recorrer a outras autoridades por terem sua atuação parlamentar cerceada. De acordo com Paulo Pimenta, ele protocolou na Câmara, em 22 de fevereiro, um requerimento pedindo informações para o ministro da Justiça, Osmar Serraglio, a respeito das relações entre a PF, (subordinada ao Ministério da Justiça) e os produtores do filme. O documento (abaixo) nunca foi enviado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), segundo Pimenta.
"A presidência da Casa nunca enviou esse requerimento para a Policia Federal. Temos informações da pressão exercida aqui dentro da Câmara, pelo Ministério da Justiça, para que este documento nao saia da Casa, porque na medida em que ele for expedido começa a contar prazo para o crime de improbidade caso ele não seja respondido", afirmou o parlamentar gaúcho. "Só isso já revela a indisposição de nos trazer a documentação que queremos", disse.
Cinco dias antes, Pimenta enviou documento com o mesmo teor [aqui] direcionado ao diretor-geral da PF, Leandro Daiello, que nunca respondeu.
O filme vem sendo criticado por focar exclusivamente uma parte da Lava Jato e ter como ápice a condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, realizada em 4 de março de 2016. Para os deputados do PT, trata-se de uma tentativa de manipular a opinião pública de forma a facilitar a condenação de Lula.
"Esse episódio revela o Estado querendo influenciar a opinião pública para um resultado de julgamento, utilizando meios ilegais, sem nenhuma transparência, e é muito interessante que, ao mesmo tempo, o Estado, a partir de seu poder de coerção, vá buscar recursos para bancar um filme", disse Paulo Teixeira. "Esse filme integra o cenário de estado de exceção em que vivemos", afirmou Damous.
É agravante, afirmam os deputados, o fato de os financiadores do filme serem secretos, uma situação totalmente incomum no cinema brasileiro. O sigilo é, tão somente, disse o diretor do filme Marcelo Antunez, proteção. "As pessoas [financiadores] têm receios de várias ordens, até de integridade física", afirmou à Folha de S.Paulo.
Oficialmente, a única empresa que foi anunciada como apoiadora do filme é a Rede Madero, cujo restaurante de Curitiba sediou, como mostra a imagem abaixo, um convescote entre atores e produtores do filme e o delegado da Polícia Federal Igor Romário de Paula, uma das estrelas da Lava Jato.
As denúncias
Na entrevista coletiva desta quarta, os deputados fizeram quatro denúncias. A primeira delas é que a Superintendência da Polícia Federal ficou fechada durante todo o dia 18 de novembro de 2016, para "possibilitar e facilitar as filmagens" do longa metragem. "A desculpa que foi dada é de que a sede seria fechada para pintura", disse Damous.
O 18 de novembro era uma sexta-feira, e a sede da PF no Paraná ficou à disposição das equipes de filmagem também no sábado e domingo seguintes, disse Pimenta. "Ela permaneceu fechada durante todo o fim de semana, sem acesso a ninguém, exclusivamente para uso das equipes de filmagem", afirmou.
A segunda denúncia se refere à cessão de equipamentos e pessoal da PF. No Carnaval de 2017, disse Pimenta, dez agentes da PF ficaram à disposição da produção do filme, em uma missão que foi autorizada e depois cancelada, mas que constaria no sistema operacional da instituição.
Inicialmente, afirmam os deputados, os agentes teriam sido autorizados a viajar de Curitiba a São Paulo com diárias pagas pela PF. A ordem foi cancelada, mas a viagem se manteve, com hospedagem paga pelos produtores do filme. Os agentes teriam ido a São Paulo nas viaturas, "algumas blindadas", alguns acompanhados de parentes e amigos, que teriam feito "pontas e participações" no filme.
Além disso, afirmou o deputado, muitos outros equipamentos foram cedidos por empréstimo à produção do filme. "As viaturas, o combustível, tudo isso foi disponibilizado pela PF sem qualquer tipo de contrapartida, portanto tudo pago com dinheiro público, assim como a utilização de aviões, helicópteros, fardas, armas, instalações", afirmou.
A terceira denúncia se refere especificamente à pessoa do diretor-geral da PF, Leandro Daiello. Segundo Damous, ele teria pedido a um delegado para buscar patrocínio para o filme. "Um delegado de nome Reinaldo teria sido instado pelo diretor-geral da Polícia Federal a ajudar a buscar patrocínio para o filme", afirmou Damous.
A quarta denúncia se refere à gravação da condução coercitiva de Lula. Aquela ação foi autorizada pelo juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, responsável pela Lava Jato em primeira instância. No despacho, Moro afirmou que não deveria "em hipótese alguma, ser filmado ou, tanto quanto possível, permitida a filmagem do deslocamento do ex-presidente para a colheita do depoimento".
Ainda assim, a Polícia Federal não só gravou a ação como exibiu a íntegra a atores e produtores do longa metragem, fato que se tornou público justamente por conta do filme sobre a Lava Jato. No último 3 de fevereiro, a revista Veja confirmou que "teve acesso à íntegra da gravação de todo o processo, feita por câmera digital acoplada ao uniforme de um agente da PF", e descreveu detalhes da reação de Lula.
Dois dias depois, em entrevista à mesma publicação, o ator Ary Fontoura, que interpretará Lula, confirmou que estava em Curitiba para ver a ação contra Lula. "Vim sentir o clima da Lava-Jato e assistir às gravações que a PF fez da condução coercitiva do Lula", afirmou.
No fim de março, o delegado Igor Romário de Paula admitiu, em ofício enviado a Moro, que foram feitas imagens durante a condução coercitiva, mas negou que elas desrespeitassem a ordem de Moro. Também segundo Igor de Paula, "em momento algum as imagens realizadas naquela data foram fornecidas a terceiros". A manifestação do delegado se deu em resposta a pedido de Moro, em decisão proferida após pedido da defesa do ex-presidente Lula.
Nesta quarta, Damous afirmou que vai realizar uma representação no Conselho Nacional de Justiça contra Moro, porque na primeira decisão sobre o caso o magistrado afirmou que não caberia a ele "impor censura a veículos de comunicação ou mesmo à produção de algum filme".
Confira a íntegra da entrevista coletiva dos deputados [aqui].
A base da denúncia dos deputados petistas é uma investigação própria realizada por eles desde fevereiro, cujas conclusões serão repassadas a autoridades competentes para investigação. Os deputados anunciaram uma série de medidas judiciais, sendo a principal delas uma representação no Ministério Público Federal pedindo a investigação da conduta de agentes públicos.
Os deputados decidiram recorrer a outras autoridades por terem sua atuação parlamentar cerceada. De acordo com Paulo Pimenta, ele protocolou na Câmara, em 22 de fevereiro, um requerimento pedindo informações para o ministro da Justiça, Osmar Serraglio, a respeito das relações entre a PF, (subordinada ao Ministério da Justiça) e os produtores do filme. O documento (abaixo) nunca foi enviado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), segundo Pimenta.
"A presidência da Casa nunca enviou esse requerimento para a Policia Federal. Temos informações da pressão exercida aqui dentro da Câmara, pelo Ministério da Justiça, para que este documento nao saia da Casa, porque na medida em que ele for expedido começa a contar prazo para o crime de improbidade caso ele não seja respondido", afirmou o parlamentar gaúcho. "Só isso já revela a indisposição de nos trazer a documentação que queremos", disse.
Cinco dias antes, Pimenta enviou documento com o mesmo teor [aqui] direcionado ao diretor-geral da PF, Leandro Daiello, que nunca respondeu.
O filme vem sendo criticado por focar exclusivamente uma parte da Lava Jato e ter como ápice a condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, realizada em 4 de março de 2016. Para os deputados do PT, trata-se de uma tentativa de manipular a opinião pública de forma a facilitar a condenação de Lula.
"Esse episódio revela o Estado querendo influenciar a opinião pública para um resultado de julgamento, utilizando meios ilegais, sem nenhuma transparência, e é muito interessante que, ao mesmo tempo, o Estado, a partir de seu poder de coerção, vá buscar recursos para bancar um filme", disse Paulo Teixeira. "Esse filme integra o cenário de estado de exceção em que vivemos", afirmou Damous.
É agravante, afirmam os deputados, o fato de os financiadores do filme serem secretos, uma situação totalmente incomum no cinema brasileiro. O sigilo é, tão somente, disse o diretor do filme Marcelo Antunez, proteção. "As pessoas [financiadores] têm receios de várias ordens, até de integridade física", afirmou à Folha de S.Paulo.
Oficialmente, a única empresa que foi anunciada como apoiadora do filme é a Rede Madero, cujo restaurante de Curitiba sediou, como mostra a imagem abaixo, um convescote entre atores e produtores do filme e o delegado da Polícia Federal Igor Romário de Paula, uma das estrelas da Lava Jato.
As denúncias
Na entrevista coletiva desta quarta, os deputados fizeram quatro denúncias. A primeira delas é que a Superintendência da Polícia Federal ficou fechada durante todo o dia 18 de novembro de 2016, para "possibilitar e facilitar as filmagens" do longa metragem. "A desculpa que foi dada é de que a sede seria fechada para pintura", disse Damous.
O 18 de novembro era uma sexta-feira, e a sede da PF no Paraná ficou à disposição das equipes de filmagem também no sábado e domingo seguintes, disse Pimenta. "Ela permaneceu fechada durante todo o fim de semana, sem acesso a ninguém, exclusivamente para uso das equipes de filmagem", afirmou.
A segunda denúncia se refere à cessão de equipamentos e pessoal da PF. No Carnaval de 2017, disse Pimenta, dez agentes da PF ficaram à disposição da produção do filme, em uma missão que foi autorizada e depois cancelada, mas que constaria no sistema operacional da instituição.
Inicialmente, afirmam os deputados, os agentes teriam sido autorizados a viajar de Curitiba a São Paulo com diárias pagas pela PF. A ordem foi cancelada, mas a viagem se manteve, com hospedagem paga pelos produtores do filme. Os agentes teriam ido a São Paulo nas viaturas, "algumas blindadas", alguns acompanhados de parentes e amigos, que teriam feito "pontas e participações" no filme.
Além disso, afirmou o deputado, muitos outros equipamentos foram cedidos por empréstimo à produção do filme. "As viaturas, o combustível, tudo isso foi disponibilizado pela PF sem qualquer tipo de contrapartida, portanto tudo pago com dinheiro público, assim como a utilização de aviões, helicópteros, fardas, armas, instalações", afirmou.
A terceira denúncia se refere especificamente à pessoa do diretor-geral da PF, Leandro Daiello. Segundo Damous, ele teria pedido a um delegado para buscar patrocínio para o filme. "Um delegado de nome Reinaldo teria sido instado pelo diretor-geral da Polícia Federal a ajudar a buscar patrocínio para o filme", afirmou Damous.
A quarta denúncia se refere à gravação da condução coercitiva de Lula. Aquela ação foi autorizada pelo juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, responsável pela Lava Jato em primeira instância. No despacho, Moro afirmou que não deveria "em hipótese alguma, ser filmado ou, tanto quanto possível, permitida a filmagem do deslocamento do ex-presidente para a colheita do depoimento".
Ainda assim, a Polícia Federal não só gravou a ação como exibiu a íntegra a atores e produtores do longa metragem, fato que se tornou público justamente por conta do filme sobre a Lava Jato. No último 3 de fevereiro, a revista Veja confirmou que "teve acesso à íntegra da gravação de todo o processo, feita por câmera digital acoplada ao uniforme de um agente da PF", e descreveu detalhes da reação de Lula.
Dois dias depois, em entrevista à mesma publicação, o ator Ary Fontoura, que interpretará Lula, confirmou que estava em Curitiba para ver a ação contra Lula. "Vim sentir o clima da Lava-Jato e assistir às gravações que a PF fez da condução coercitiva do Lula", afirmou.
No fim de março, o delegado Igor Romário de Paula admitiu, em ofício enviado a Moro, que foram feitas imagens durante a condução coercitiva, mas negou que elas desrespeitassem a ordem de Moro. Também segundo Igor de Paula, "em momento algum as imagens realizadas naquela data foram fornecidas a terceiros". A manifestação do delegado se deu em resposta a pedido de Moro, em decisão proferida após pedido da defesa do ex-presidente Lula.
Nesta quarta, Damous afirmou que vai realizar uma representação no Conselho Nacional de Justiça contra Moro, porque na primeira decisão sobre o caso o magistrado afirmou que não caberia a ele "impor censura a veículos de comunicação ou mesmo à produção de algum filme".
Confira a íntegra da entrevista coletiva dos deputados [aqui].
3 comentários:
Panair ontem, Odebrecht hoje ou: bandidos ontem, hoje conduzem a Lava Jato
http://jornalggn.com.br/blog/jose-carlos-lima/panair-ontem-odebrecht-hoje-ou-bandidos-ontem-hoje-conduzem-a-lava-jato
Segue novo link, uma vez que o anterior foi alterado
Panair ontem, Odebrecht hoje ou: bandidos ontem, hoje...
http://jornalggn.com.br/blog/jose-carlos-lima/panair-ontem-odebrecht-hoje-ou-bandidos-ontem-hoje-conduzem-a-lava-jato-0
Os deputados deveriam denunciar diretamente à Corregedoria da PF e não ao Diretor Geral.
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