Por Altamiro Borges
Osmar Serraglio, o ministro da Justiça da quadrilha de Michel Temer, devia evitar muitas aparições públicas. Afinal, ele foi citado nas investigações da midiática Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, e pode ser processado, julgado e preso em um futuro próximo – caso haja, de fato, justiça no país. Além disso, o peemedebista é amigão do presidiário Eduardo Cunha, que ameaça fazer “delação premiada” na Lava-Jato – o que também pode lhe complicar a vida. Apesar destes riscos, o sinistro atendeu às ordens do chefe e fez declarações desastradas sobre a greve geral desta sexta-feira (28). Numa postura arrogante, ele afirmou que a paralisação foi “pífia” e garantiu que o covil golpista não vai mais negociar as “reformas” trabalhista e previdenciária.
Segundo o site G1, da famiglia Marinho, “em visita a Londrina (PR), Serraglio afirmou que os protestos não têm sentido. ‘[As manifestações] foram pífias, não tiveram a expressão que se imaginava ter. Forçou-se até a situação quando se percebeu que os resultados não eram os imaginados”. Ele ainda provocou as entidades sindicais, atacando seu atual sistema de custeio. “Os sindicatos têm uma disponibilidade de mais de R$ 2 bilhões, e agora estão percebendo que os operários estão acordando para essa realidade. Não faz sentido brigar, fazer greve para pagar imposto [sindical]”. As bravatas de Osmar Serraglio, porém, não anulam a força da greve geral, que teve a adesão de 40 milhões de trabalhadores. Elas só revelam a sua própria fragilidade.
Amigo é “grande chefe” de quadrilha
O ministro da Justiça do covil golpista está na linha de tiro. Em breve, ele poderá ser mais um dos defecados do poder – outros sete já caíram. Em meados de março passado, uma conversa interceptada pela Polícia Federal revelou as suas relações carnais com o chefe da inspeção do Ministério da Agricultura acusado de facilitar a produção de alimentos adulterados por parte de vários frigoríficos. Desde então, ele figura no inquérito que embasa a Operação Carne Fraca, autorizada pela 14ª Vara Federal de Curitiba e deflagrada para desbaratar o esquema de corrupção envolvendo fiscais agropecuários e barões do agronegócio. No áudio vazado, Osmar Serraglio chama Daniel Gonçalves Filho, líder da organização criminosa, de “grande chefe”. Confira:
*****
Osmar Serraglio: Grande chefe, tudo bom?
Daniel Gonçalves Filho: Tudo bom.
Osmar Serraglio: Viu? Tá tendo um problema lá em Iporã, você tá sabendo?
Daniel Gonçalves Filho: Não.
Osmar Serraglio: O cara lá, que... o cara que tá fiscalizando lá..., apavorou o Paulo, disse que hoje vai fechar aquele frigorífico... Botô a boca, deixou o Paulo apavorado! Mas para fechar tem o rito, não tem? Sei lá. Como que funciona um negócio desse?
Daniel Gonçalves Filho: Deixa eu ver o que está acontecendo... tomar pé da situação lá... falo com o senhor.
*****
Segundo a PF, após o telefone, Daniel Gonçalves ligou para outro integrante da quadrilha de fiscais e pediu para solucionar o problema. Na sequência, ele retornou a ligação ao cacique peemedebista para tranquilizá-lo. O “Paulo” citado por Osmar Serraglio é Paulo Rogério Sposito, dono do frigorífico Larissa e candidato a deputado federal pelo PPS em 2010. Ainda de acordo com as investigações da PF, o esquema de adulteração da carne rendeu milhões em propina para vários políticos da região Sul/Sudeste e serviu para abastecer o Caixa-2 das campanhas eleitorais. Até agora, o sinistro da Justiça segue no cargo. Ele conta com a cumplicidade do chefão, Michel Temer, e da mídia chapa-branca – que parou de falar sobre o escândalo.
Ligação carnal com os ruralistas
A manutenção de Osmar Serraglio no covil golpista também decorre da sua ligação com os barões do agronegócio. Nesta terça-feira (2), a Folha publicou reportagem, assinada por Camila Mattoso e Ranier Bragon, que evidencia esta relação carnal. “Ligado ao agronegócio, Osmar Serraglio (PMDB) teve a sua agenda dominada por ruralistas e alvos da Lava Jato em seus 55 dias de mandato. Foram cem audiências com integrantes da Frente Parlamentar da Agropecuária e com políticos investigados. Não houve nenhum encontro com representantes indígenas. Além de ter a Funai como subordinada, a pasta tem papel decisivo no processo de demarcação de terras, reivindicação que se intensificou no governo de Michel Temer e tem provocado conflitos nas últimas semanas”.
“Segundo levantamento feito pela Folha, dos 305 encontros oficiais marcados, 82 foram com ruralistas e 18 foram com deputados e senadores que entraram na lista do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo. Na última terça (25), quando policiais e índios entraram em confronto durante protesto em frente ao Congresso, Serraglio recebeu dois ruralistas, segundo sua agenda, além do senador Fernando Collor (PTC-AL), um dos alvos do Ministério Público. Os manifestantes pediam a retomada das demarcações de terras indígenas e a saída do peemedebista do cargo. Poucos minutos depois de o conflito acabar, o ministro chegou a ir à Câmara para se encontrar com deputados da bancada ruralista”.
“No Dia do Índio, 19 de abril, Serraglio teve 11 compromissos, dos quais cinco foram com ruralistas. Em entrevista à Folha logo que assumiu, o ministro criticou indigenistas e disse que os envolvidos em conflitos no campo deveriam parar com a discussão sobre terras, que segundo ele ‘não enche barriga de ninguém’. Cerca de 30% das doações de campanha de Serraglio em 2014 foram de empresas ligadas ao campo. Ele foi relator da PEC 215, uma proposta de emenda à Constituição que altera o sistema de demarcação de terras indígenas”. Que moral tem este “carne fraca” para criticar a greve geral de 28 de abril?
*****
Leia também:
- A greve e a senilidade de Temer e Serraglio
- Serraglio fede mais que a lista do Janot
- Cunha emplaca Serraglio na Justiça
- A carne fraca do “sinistro” da Justiça
- Osmar Serraglio, o moralista de Cunha
- A mídia no show da PF: quem paga a conta?
- A greve geral e o jabá no Ratinho
- Para entender a operação 'Carne Fraca'
- A rotulagem e os deputados transgênicos
- Clima de "suruba" toma conta de Brasília
- Dia do Índio: os donos da terra
Osmar Serraglio, o ministro da Justiça da quadrilha de Michel Temer, devia evitar muitas aparições públicas. Afinal, ele foi citado nas investigações da midiática Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, e pode ser processado, julgado e preso em um futuro próximo – caso haja, de fato, justiça no país. Além disso, o peemedebista é amigão do presidiário Eduardo Cunha, que ameaça fazer “delação premiada” na Lava-Jato – o que também pode lhe complicar a vida. Apesar destes riscos, o sinistro atendeu às ordens do chefe e fez declarações desastradas sobre a greve geral desta sexta-feira (28). Numa postura arrogante, ele afirmou que a paralisação foi “pífia” e garantiu que o covil golpista não vai mais negociar as “reformas” trabalhista e previdenciária.
Segundo o site G1, da famiglia Marinho, “em visita a Londrina (PR), Serraglio afirmou que os protestos não têm sentido. ‘[As manifestações] foram pífias, não tiveram a expressão que se imaginava ter. Forçou-se até a situação quando se percebeu que os resultados não eram os imaginados”. Ele ainda provocou as entidades sindicais, atacando seu atual sistema de custeio. “Os sindicatos têm uma disponibilidade de mais de R$ 2 bilhões, e agora estão percebendo que os operários estão acordando para essa realidade. Não faz sentido brigar, fazer greve para pagar imposto [sindical]”. As bravatas de Osmar Serraglio, porém, não anulam a força da greve geral, que teve a adesão de 40 milhões de trabalhadores. Elas só revelam a sua própria fragilidade.
Amigo é “grande chefe” de quadrilha
O ministro da Justiça do covil golpista está na linha de tiro. Em breve, ele poderá ser mais um dos defecados do poder – outros sete já caíram. Em meados de março passado, uma conversa interceptada pela Polícia Federal revelou as suas relações carnais com o chefe da inspeção do Ministério da Agricultura acusado de facilitar a produção de alimentos adulterados por parte de vários frigoríficos. Desde então, ele figura no inquérito que embasa a Operação Carne Fraca, autorizada pela 14ª Vara Federal de Curitiba e deflagrada para desbaratar o esquema de corrupção envolvendo fiscais agropecuários e barões do agronegócio. No áudio vazado, Osmar Serraglio chama Daniel Gonçalves Filho, líder da organização criminosa, de “grande chefe”. Confira:
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Osmar Serraglio: Grande chefe, tudo bom?
Daniel Gonçalves Filho: Tudo bom.
Osmar Serraglio: Viu? Tá tendo um problema lá em Iporã, você tá sabendo?
Daniel Gonçalves Filho: Não.
Osmar Serraglio: O cara lá, que... o cara que tá fiscalizando lá..., apavorou o Paulo, disse que hoje vai fechar aquele frigorífico... Botô a boca, deixou o Paulo apavorado! Mas para fechar tem o rito, não tem? Sei lá. Como que funciona um negócio desse?
Daniel Gonçalves Filho: Deixa eu ver o que está acontecendo... tomar pé da situação lá... falo com o senhor.
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Segundo a PF, após o telefone, Daniel Gonçalves ligou para outro integrante da quadrilha de fiscais e pediu para solucionar o problema. Na sequência, ele retornou a ligação ao cacique peemedebista para tranquilizá-lo. O “Paulo” citado por Osmar Serraglio é Paulo Rogério Sposito, dono do frigorífico Larissa e candidato a deputado federal pelo PPS em 2010. Ainda de acordo com as investigações da PF, o esquema de adulteração da carne rendeu milhões em propina para vários políticos da região Sul/Sudeste e serviu para abastecer o Caixa-2 das campanhas eleitorais. Até agora, o sinistro da Justiça segue no cargo. Ele conta com a cumplicidade do chefão, Michel Temer, e da mídia chapa-branca – que parou de falar sobre o escândalo.
Ligação carnal com os ruralistas
A manutenção de Osmar Serraglio no covil golpista também decorre da sua ligação com os barões do agronegócio. Nesta terça-feira (2), a Folha publicou reportagem, assinada por Camila Mattoso e Ranier Bragon, que evidencia esta relação carnal. “Ligado ao agronegócio, Osmar Serraglio (PMDB) teve a sua agenda dominada por ruralistas e alvos da Lava Jato em seus 55 dias de mandato. Foram cem audiências com integrantes da Frente Parlamentar da Agropecuária e com políticos investigados. Não houve nenhum encontro com representantes indígenas. Além de ter a Funai como subordinada, a pasta tem papel decisivo no processo de demarcação de terras, reivindicação que se intensificou no governo de Michel Temer e tem provocado conflitos nas últimas semanas”.
“Segundo levantamento feito pela Folha, dos 305 encontros oficiais marcados, 82 foram com ruralistas e 18 foram com deputados e senadores que entraram na lista do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo. Na última terça (25), quando policiais e índios entraram em confronto durante protesto em frente ao Congresso, Serraglio recebeu dois ruralistas, segundo sua agenda, além do senador Fernando Collor (PTC-AL), um dos alvos do Ministério Público. Os manifestantes pediam a retomada das demarcações de terras indígenas e a saída do peemedebista do cargo. Poucos minutos depois de o conflito acabar, o ministro chegou a ir à Câmara para se encontrar com deputados da bancada ruralista”.
“No Dia do Índio, 19 de abril, Serraglio teve 11 compromissos, dos quais cinco foram com ruralistas. Em entrevista à Folha logo que assumiu, o ministro criticou indigenistas e disse que os envolvidos em conflitos no campo deveriam parar com a discussão sobre terras, que segundo ele ‘não enche barriga de ninguém’. Cerca de 30% das doações de campanha de Serraglio em 2014 foram de empresas ligadas ao campo. Ele foi relator da PEC 215, uma proposta de emenda à Constituição que altera o sistema de demarcação de terras indígenas”. Que moral tem este “carne fraca” para criticar a greve geral de 28 de abril?
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