domingo, 1 de abril de 2018

A crise política e o dilema da oposição

Por Tereza Cruvinel, no Jornal do Brasil:

Na passagem dos 54 anos do golpe militar de 1964, o fantasma do adiamento das eleições tem rondado o meio político, com todos os riscos que isso representaria para a democracia. A possibilidade de um afastamento de Temer, por força da aprovação de uma nova denúncia de corrupção e lavagem de dinheiro, deixa os partidos de esquerda num dilema. Em outro momento, já estariam pedindo o impeachment e preparando atos com o refrão Fora Temer. Mas, em considerações reservadas, ainda sob o impacto das prisões de amigos do presidente, alguns de seus líderes ponderam que ficou tarde demais para seu afastamento e que agora sua manutenção traz mais segurança do que sua troca por Rodrigo Maia, com vistas à manutenção do calendário eleitoral.

No campo da oposição, apenas o senador Randolfe Rodrigues, da Rede, avançou o sinal de cautela nas últimas horas anunciando que apresentará um pedido de impeachment contra Temer. No PT, há quem diga que, paradoxalmente, a manutenção de Temer converge com a defesa da candidatura de Lula. Que uma disputa parlamentar para derrubá-lo agora, seja via impeachment ou aprovação da eventual denúncia, levaria à desestabilização pretendida, inclusive, pelos que atacaram a tiros a caravana de Lula no Paraná e que pressionarão o STF com manifestações, no dia 4, para que não lhe seja concedido o habeas corpus. 

Se for preso, Lula não fará campanha e não poderá esgotar todos os recursos tentando registrar sua candidatura, antes de apresentar, no limite, um nome para substituí-lo na chapa. Por isso deve se esperar que o partido faça os discursos de sempre no plenário contra Temer mas não uma ofensiva enérgica por seu afastamento. Melhor mesmo, diz um deputado petista, seria que a tal denúncia não fosse apreciada antes do pleito. Mas isso depende é de Rodrigo Maia, que como presidente da Câmara conduziria a tramitação.

Do lado de Temer, a manutenção de sua candidatura à reeleição, que até agora não passava de um experimento, tornou-se uma quase necessidade para sua sobrevivência. O ministro Carlos Marun, primeiro a reagir às prisões dos amigos de Temer, falou em “canhões da conspiração” contra sua candidatura à reeleição. Depois, o Planalto divulgou nota oficial que protesta contra os “métodos totalitários” que estariam sendo empregados para “destruir a reputação” de Temer, dizendo numa passagem: “Bastou a simples menção a possível candidatura para que forças obscuras surgissem para tecer novas tramas sobre velhos enredos maledicentes”. É provável que agora Temer finque pé na candidatura (para frustração de Henrique Meirelles), convergindo com a prioridade das oposições, a manutenção do calendário eleitoral. Mesmo sem dizer, elas agora tendem a defender o “fica Temer”.

A base governista já não é mais a mesma, perdeu coesão e agora só pensa na eleição, como é sabido. Só com a volta dos parlamentares a Brasília, na próxima semana, será possível uma avaliação de sua tendência em relação a uma nova denúncia. Os poucos que estão acessíveis evitam declarações agora, com o quadro ainda nebuloso mas, como a oposição, estão cautelosos. Ponderam que o melhor para o país, se ela vier, será sua tramitação a passos lentos, para que seja apreciada apenas depois do primeiro turno. Não seria difícil cronometrar isso, quando se sabe que o Congresso está encerrando na prática suas atividades e se manterá em recesso branco até outubro, fazendo reuniões periódicas para votar MPs e assuntos urgentes. Até lá, a eventual denúncia dormitaria na Comissão de Constituição e Justiça, entre uma audiência e outra. Mas podem surgir fatos novos, algum preso pode virar delator, agravando a situação de Temer. Neste momento, a incerteza impera.

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