Por Ricardo Kotscho, em seu blog:
Eu tinha 16 anos em 1964, estava começando a trabalhar num jornal de bairro e tinha a ligeira impressão de que algo de muito grave estava para acontecer.
Depois do comício de Jango na Central do Brasil e da revolta dos marinheiros no Rio, começou-se a clamar abertamente na imprensa por um golpe militar para “acabar com a baderna e a corrupção” e “livrar o país do comunismo”. Lembra alguma coisa?
Vivíamos os tempos da Guerra Fria e o país estava dividido entre reacionários e trabalhistas, direita e esquerda, como hoje.
Logo depois do intervalo, um professor do Liceu Pasteur entrou na classe e mandou todo mundo pra casa porque era muito perigoso ficar na rua, como hoje.
Levamos mais de duas décadas para reconquistarmos o direito de votar para presidente da República, já tivemos sete eleições diretas, mas a nossa frágil democracia está novamente ameaçada.
Estamos de volta ao passado?
Acabou a Guerra Fria, a ditadura morreu de caduquice, e cá estamos nós lendo no noticiário que as eleições de outubro estão ameaçadas porque “não há clima”. Como assim?
O que não há até agora é um candidato viável para “manter isso aí, viu?”
As mesmas forças civis daqui e de fora que convocaram os militares em 64, uniram-se novamente agora nesta ditadura disfarçada, não para derrubar este presidente ilegítimo, que já não governa, mas para impedir que outro, duas vezes presidente eleito, volte ao poder pelo voto.
Os tanques voltaram às ruas para combater a baderna no Rio, as instituições estão novamente em frangalhos, acena-se outra vez com o “perigo vermelho” e vai-se criando o clima para melar as eleições, se o Judiciário ou “balas perdidas” não derem um jeito logo de eliminar o adversário comum.
Na próxima quarta-feira, estes dois Brasis estarão frente a frente diante do Supremo Tribunal Federal.
Lá dentro, 11 meritíssimos ministros, que não foram eleitos, decidirão o destino das eleições, enquanto petistas e anti-petistas medem forças do lado de fora.
Na antevéspera da grande decisão, em pleno feriadão da Páscoa, mais de 1.500 juízes e promotores já assinaram um documento para Cármen Lúcia, a que não aceita pressões, deixar tudo como está.
Encurralado no Palácio do Planalto, o presidente de plantão só está preocupado em salvar a própria pele e manter o foro privilegiado.
Só uma coisa é certa: mais de meio século depois, vamos ter que novamente lutar pela redemocratização do país.
Não sei se para mim vai dar tempo de ver isso acontecer, mas talvez meus netos tenham mais sorte e possam um dia comemorar a Páscoa sem medo do amanhã, que hoje está com gosto amargo de ontem.
Boa Páscoa a todos.
Vida que segue.
Depois do comício de Jango na Central do Brasil e da revolta dos marinheiros no Rio, começou-se a clamar abertamente na imprensa por um golpe militar para “acabar com a baderna e a corrupção” e “livrar o país do comunismo”. Lembra alguma coisa?
Vivíamos os tempos da Guerra Fria e o país estava dividido entre reacionários e trabalhistas, direita e esquerda, como hoje.
Logo depois do intervalo, um professor do Liceu Pasteur entrou na classe e mandou todo mundo pra casa porque era muito perigoso ficar na rua, como hoje.
Levamos mais de duas décadas para reconquistarmos o direito de votar para presidente da República, já tivemos sete eleições diretas, mas a nossa frágil democracia está novamente ameaçada.
Estamos de volta ao passado?
Acabou a Guerra Fria, a ditadura morreu de caduquice, e cá estamos nós lendo no noticiário que as eleições de outubro estão ameaçadas porque “não há clima”. Como assim?
O que não há até agora é um candidato viável para “manter isso aí, viu?”
As mesmas forças civis daqui e de fora que convocaram os militares em 64, uniram-se novamente agora nesta ditadura disfarçada, não para derrubar este presidente ilegítimo, que já não governa, mas para impedir que outro, duas vezes presidente eleito, volte ao poder pelo voto.
Os tanques voltaram às ruas para combater a baderna no Rio, as instituições estão novamente em frangalhos, acena-se outra vez com o “perigo vermelho” e vai-se criando o clima para melar as eleições, se o Judiciário ou “balas perdidas” não derem um jeito logo de eliminar o adversário comum.
Na próxima quarta-feira, estes dois Brasis estarão frente a frente diante do Supremo Tribunal Federal.
Lá dentro, 11 meritíssimos ministros, que não foram eleitos, decidirão o destino das eleições, enquanto petistas e anti-petistas medem forças do lado de fora.
Na antevéspera da grande decisão, em pleno feriadão da Páscoa, mais de 1.500 juízes e promotores já assinaram um documento para Cármen Lúcia, a que não aceita pressões, deixar tudo como está.
Encurralado no Palácio do Planalto, o presidente de plantão só está preocupado em salvar a própria pele e manter o foro privilegiado.
Só uma coisa é certa: mais de meio século depois, vamos ter que novamente lutar pela redemocratização do país.
Não sei se para mim vai dar tempo de ver isso acontecer, mas talvez meus netos tenham mais sorte e possam um dia comemorar a Páscoa sem medo do amanhã, que hoje está com gosto amargo de ontem.
Boa Páscoa a todos.
Vida que segue.
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