Por Ricardo Kotscho, em seu blog:
É preciso ser muito crente ou desinformado para acreditar num candidato a governador, que prometeu por 43 vezes ficar os quatro anos no cargo de prefeito para o qual foi eleito em 2016 e acabou saindo 33 meses antes do final do mandato.
Segundo levantamento feito pela Folha, esse foi o número de mentiras que João Doria contou na campanha para prefeito.
“Vou prefeitar até o último dia do meu mandato”, prometia ele quando lhe perguntavam sobre seus planos políticos.
Só eu ouvi esta mentira três vezes nas entrevistas que fiz com ele quando trabalhava no Jornal da Record News, ao lado de Heródoto Barbeiro e Nirlando Beirão.
Mal tinha tomado posse na prefeitura, o empresário de eventos e apresentador de TV já estava atropelando o padrinho Geraldo Alckmin para se lançar candidato a candidato, não a governador, mas a presidente da República.
Em vez de prefeitar, como reiteradamente prometeu, começou a rodar sem parar pelo Brasil e pelo mundo para se viabilizar como candidato do PSDB à sucessão de Michel Temer, mas continuava mentindo sobre sua permanência na prefeitura.
“Faremos quatro anos vibrantes, que valerão por oito”, declarou ao jornal espanhol El País”. Nem quatro, nem oito: na época, ele já planejava voos mais altos.
Na última entrevista ao JRN, ao completar 100 dias de governo, perguntei-lhe qual seria seu plano econômico para o país caso fosse eleito presidente.
Primeiro, negou essa possibilidade, é claro, garantindo que só pensava em ser um bom gestor da cidade, mas, quando insisti, acabou admitindo que, nesse caso, manteria a política econômica de Michel Temer, com reformas, privatizações, corte de gastos, e tudo mais.
Ao despencar nas pesquisas de popularidade, de tanto se ausentar da cidade, antes de completar um ano de gestão, Doria baixou a bola e começou a preparar sua campanha para governador.
Em março, exatos 15 meses após a posse, largou a prefeitura nas mãos do jovem vice Bruno Covas, neto do ex-governador Mario Covas, também do PSDB.
E de um dia para outro sumiu da cidade, onde sua rejeição (33%) era maior do que a intenção de voto (29%), e foi fazer campanha no interior de São Paulo, que conta com dois terços do eleitorado.
Só neste sábado, Doria está voltando a dar as caras por aqui para ser lançado oficialmente como candidato do PSDB, ao lado de Geraldo Alckmin, com quem só se encontrou uma vez desde que deixou a prefeitura.
Pode até ser que Doria se eleja, contando com a fraca memória do eleitor, e também porque não poderia escolher concorrentes mais fracos - o também empresário Paulo Skaf, dos patos da Fiesp e do MDB, o inexpressivo governador em exercício Márcio França, do PSB, e o petista Luiz Marinho, todos com pouco tempo de TV.
Nas últimas pesquisas, no entanto, Doria aparece tecnicamente empatado com Skaf, sem aquela empáfia do “já ganhou” do início da campanha.
Como aconteceu na campanha para prefeito, Doria logo juntou em torno dele a turma barra pesada do Centrão, algo que Alckmin só conseguiu na última semana, e vai deitar e rolar na TV, fazendo novos juramentos e promessas, já que é seu próprio marqueteiro.
Se vencer, o PSDB completará um quarto de século no comando de São Paulo, também conhecido como o grande Tucanistão, onde o partido controla os três poderes.
Para quem gosta, é um prato cheio. Bom domingo.
Vida que segue.
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