Foto: Ricardo Stuckert |
Sob qualquer ângulo de observação e análise, é incontornável a constatação de que as forças consequentes da esquerda brasileira alcançaram neste domingo (5) uma importante vitória.
Recompuseram a unidade, num quadro em que se prenunciava perigosa fragmentação, fatal para a batalha eleitoral. A divisão das forças consequentes da esquerda era a pavimentação do caminho para uma fragorosa derrota diante das forças reacionárias e golpistas que governam o país. Ainda faltam forças a aglutinar, é indispensável persistir no empenho por uma frente ampla das forças progressistas.
Como era inevitável, quem com realismo percebeu o perigo, preferiu homenagear a força dos fatos, na contracorrente das tendências divisionistas.
A decisão das duas principais forças da esquerda brasileira de marchar juntas no embate eleitoral de 2018 tem projeção histórica, a despeito de ainda embutir riscos e abrigar diferentes nuances. Mas o preponderante é a compreensão de que o enfrentamento às forças golpistas e a luta para vencer as candidaturas continuístas depende do acerto das opções táticas, com sentido estratégico, que a esquerda fizer.
Em fevereiro deste ano, dizíamos: “A correta definição do centro tático, das palavras de ordem e ações correspondentes que façamos hoje condicionarão o futuro da luta do povo brasileiro, tanto quanto o grau da ofensiva reacionária em curso condiciona o futuro da situação econômica, política e social do nosso país e os interesses da nossa gente e da nossa nação. Neste marco, é de ressaltar o protagonismo das forças consequentes da esquerda, incluídos os partidos políticos e as organizações de massas, o que requer a busca da unidade, a elaboração de um programa de convergência e o desprendimento de esforços para ir às eleições com uma candidatura de unidade, que nas condições atuais não é outra senão a de Lula”.
Por certo, o fator subjetivo desempenha papel destacado na definição do centro tático da luta das forças de esquerda. Afinal, trata-se de uma decisão política informada por convicções ideológicas. Mas, em última instância, a definição do centro tático e das tarefas decorrentes é antes e acima de tudo uma imposição objetiva do curso da vida política, das circunstâncias reais que o país vive, da correlação de forças concretamente determinada e do desenrolar inexorável dos acontecimentos.
Tomam as decisões corretas aquelas forças que, dominando instrumentais teóricos da ciência política, apreendem a realidade e se impregnam do “sentido do momento histórico”, para usar as sábias palavras de Fidel Castro ao enunciar o seu conceito de Revolução.
Queiramos ou não, por cima de quaisquer outros condicionamentos ou vontades, o centro tático da resistência do povo brasileiro neste momento é a luta para as forças progressistas vencerem as eleições presidenciais, o que está indissociavelmente ligado à luta pela libertação de Lula da prisão política a que está submetido. Por isto mesmo, emergiu como tarefa principal da esquerda – para além das legítimas aspirações partidistas de cada sigla – a proclamação da candidatura de Lula a presidente da República, mesmo com a ameaça de impugnação. Este embate sintetiza a resistência democrática na nova etapa, é a premissa, sem cuja conclusão o regime do golpe se imporá por mais tempo, por meio da arbitrariedade jurídica, da força bruta e do engodo, contra as aspirações do povo brasileiro.
O acordo entre o PT e o PCdoB tem significado histórico, perspectiva de futuro e projeção estratégica. Não foi fortuita a orientação que Lula enviou desde Curitiba na sua carta à Comissão Executiva Nacional do PT reunida no domingo, para que seu partido tudo fizesse para compor-se com os comunistas. Foi uma nova confirmação daquilo que ele próprio e o saudoso João Amazonas reiteraram desde 1989 e em todos os momentos em que as duas legendas marcharam juntas em memoráveis combates e batalhas: os dois partidos são aliados “históricos” e “estratégicos”, ressalvadas as diferenças e divergências.
O fato de que mais uma vez chegaram ao entendimento e formaram coalizão representa um novo momento da construção desta aliança. Esta é outra constatação incontornável, malgrado a manifetação de posições pragmáticas, a propensão ao isolamento, o corporativismo, as posturas sectárias, exclusivistas e hegemônicas, problemas que serão enfrentados no curso da luta de longo prazo.
Para além destas considerações, observa-se também que o acordo entre o PT e o PCdoB para as eleições de 2018 tem um ineditismo, assinalado e destacado pela presidenta nacional do PCdoB, Luciana Santos. É a primeira vez que a legenda comunista concorrerá à vice-presidência da República numa chapa liderada pelo Partido dos Trabalhadores, depois de sete campanhas eleitorais consecutivas (1989, 1994, 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014), quatro das quais vitoriosas.
A campanha eleitoral começa com uma disposição de forças reveladora da polarização de sempre. De um lado, as forças de direita, conservadoras, neoliberais e golpistas, majoritariamente aglutinadas em torno da candidatura de Geraldo Alckmin. Do outro, as forças democráticas, progressistas, patrióticas, socialistas e comunistas, em torno da liderança de Lula, lutando por um Brasil democrático, soberano e pelo progresso social. Uma batalha dura e complexa, que não pode nem deve ser enfrentada com divisões, derrotismo e niilismo.
* José Reinaldo Carvalho é jornalista, editor do Resistência, membro do Comitê Central e da Comissão Política Nacional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e diretor do Cebrapaz.
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