quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Chico Pinheiro e as tensões na Globo

Por Altamiro Borges

A esquizofrenia diante do governo Jair Bolsonaro – dá total apoio ao seu projeto econômico ultraliberal, mas discorda do seu conservadorismo nos costumes e teme seu autoritarismo na política – tem produzido cenas curiosas na poderosa Rede Globo. Na semana passada, o jornalista Alexandre Garcia pediu abruptamente as contas após mais de 30 anos na emissora. Direitista convicto desde a época em que foi capacho do general João Baptista Figueiredo, o último governante da ditadura militar, até se cogitou que o bajulador dos milicos seria o porta-voz do capitão-presidente – o que ele retrucou nas redes sociais. Agora, outra mexida interna atiça as tensões no império midiático, conforme informa Ricardo Feltrin, colunista no site UOL:

“Além da saída de Alexandre Garcia, a TV Globo fez esta semana mais uma mudança que afetará o ‘Jornal Nacional’: Chico Pinheiro foi excluído definitivamente do rodízio de bancada que apresenta o telejornal mais importante da emissora nos finais de semana e feriados. Garcia e Pinheiro integravam o grupo de jornalistas que, na ausência dos titulares, William Bonner e Renata Vasconcellos, apresentava o ‘JN’. Além dos dois, Heraldo Pereira também faz parte desse ‘time’... Em comunicado, o diretor geral de Jornalismo da Globo, Ali Kamel, disse que Alexandre Garcia pediu demissão da casa, mas não emitiu nenhuma nota a respeito do afastamento de Chico Pinheiro”.

A mexida está sendo interpretada como uma certa compensação – uma demonstração de servilismo diante do truculento Jair Bolsonaro. Após a saída de Alexandre Garcia, que desafiou as normas internas da emissora ao escancarar sua excitação diante do novo milico-presidente, a TV Globo “congela” Chico Pinheiro, que sempre teve uma postura política mais independente e crítica. Em abril do ano passado, o jornalista inclusive foi “advertido” pela direção da empresa em decorrência de mensagens contrárias à prisão arbitrária do ex-presidente Lula que vazaram de um grupo de WhatsApp.

As tensões na TV Globo não se dão apenas na área do jornalismo. O mesmo Ricardo Feltrin revela nesta terça-feira (1) que “a falta de informações oficiais e o excesso de rumores internos e externos sobre possíveis mudanças na grade de programação estão deixando artistas e funcionários da emissora com nervos à flor da pele. A única certeza é que haverá alguma mudança na programação matinal e vespertina. Só não se sabe exatamente o quê. Embora não seja o fim do mundo – e nem sequer de sua hegemonia no ibope nacional –, a Globo enfrenta um problema crônico em algumas faixas horárias, nas quais perde público e terreno para a concorrência. O calcanhar de Aquiles atualmente é o período vespertino – e também o mais cercado de rumores. A Globo vem perdendo com frequência para o ‘Balanço Geral’ e seu quadro ‘A Hora da Venenosa’, da Record”.

Em tempo: Ainda sobre a saída de Alexandre Garcia, o egocêntrico postou nesta quarta-feira uma “explicação aos milhares de amigos que, nas redes sociais, apelam para que eu seja porta-voz do novo presidente”. Com orgulho, o reacionário faz questão de dizer que “há 40 anos aceitei com entusiasmo o convite do presidente Figueiredo para integrar sua equipe de comunicação social com uma missão. Uma tarefa sem descanso... Não havia hora nem lugar que não fossem o do dever. Certa vez, em casa, eu tirava o suor no chuveiro, minha mulher irrompeu com um ultimato: 'Ou eu ou o Figueiredo'. E optei por Figueiredo”. Após insinuar que foi um dos principais responsáveis pela volta da democracia ao país, o arrogante jornalista afirma que agora não aceitaria o convite porque “não tenho a mesma vontade de acordar cedo e dormir tarde e passar a vida viajando em correria”.

1 comentários:

Anônimo disse...

De fato a globo não pode competir com os programas policialescos da record, até porquê ver a desgraça alheia é a diversão morbida do bolsonarismo.