Por Marcelo Zero
Lula foi o único presidente do Brasil que teve efetiva projeção internacional, tornando-se liderança mundial muito respeitada no planeta. No planeta esférico e concreto, acrescente-se.
Tentando emular Lula, Bolsonaro e o chanceler mitômano de delírios pré-iluministas também pretendem ser lideranças mundiais.
Porém, ao que tudo indica, renunciaram a um lugar de destaque no planeta esférico e concreto e almejam ser líderes da Terra Plana, esse curioso mundo medieval ptolomaico recentemente ressuscitado pela imaginação fértil de astrólogos políticos.
O governo brasileiro vive hoje numa Terra Plana, geopoliticamente unidimensional e unipolar, na qual só cabem os interesses de coisas como o trumpismo e o Ocidente medieval vislumbrado por mentes gestadas por uma mistura implausível da Suma Teológica com generosas doses de LSD.
Um mundo que não existe mais, em processo acelerado de decomposição histórica, mas que persiste na imaginação destrutiva de alguns.
Um mundo que é uma impossibilidade geográfica e geopolítica.
Um mundo para poucos, que nos afasta do direito internacional público e da razão.
De fato, com nossa política externa sendo dirigida pelo pior chanceler do mundo, astrólogos oligofrênicos, aiatolás neopentecostais e militares que apoiam ditadura e tortura, não necessariamente nessa ordem, o Brasil retira-se da comunidade internacional e se aliena da realidade.
A viagem a Israel é demonstração cabal disso.
Em apenas dois dias, a equipe de metafísicos celerados do capitão destruiu décadas de esforços e tradição diplomática brasileira em prol de uma solução pacífica para o conflito israelo-palestino.
Com efeito, a tradição diplomática do nosso país era a de somar-se à ONU e à comunidade internacional na busca de uma paz no Oriente Médio que contemplasse os interesses israelenses e palestinos.
Esse esforço brasileiro vem de longe.
Foi justamente um representante da nossa diplomacia, Oswaldo Aranha, que presidiu a sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas que criou o Estado de Israel.
Aranha foi um dos principais articuladores diplomáticos da Resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas 181, de 1947, que deu reconhecimento internacional a Israel. Por isso, Oswaldo Aranha é nome de rua em Telavive.
Assim, nosso país reconheceu, desde o início, a existência do Estado de Israel.
Mas, ao mesmo tempo, o Brasil foi um histórico defensor da criação de um Estado Palestino soberano, geograficamente coeso e economicamente viável, situado nos territórios ocupados por Israel desde 1967, a saber: Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental.
O Brasil, portanto, se posicionou tradicionalmente em relação àquele conflito com muita moderação, racionalidade e tomando como base fundamental as resoluções da ONU sobre o tema, como convinha a um país firmemente afincado no planeta esférico, concreto e multipolar.
E, ao contrário do que apregoam os mitos bolsonarianos da Terra Plana geopolítica, o Brasil, mesmo votando contra as violações dos direitos palestinos na ONU, sempre manteve boa relação com Israel.
Tanto é assim que o primeiro acordo de livre comércio extrarregional firmado pelo Mercosul foi com Israel.
Isso mesmo. O Brasil, pelo Mercosul, estabeleceu livre comércio com Israel.
Esse acordo foi firmado em 18 de dezembro de 2007, em pleno governo Lula, o qual aproximou-se bastante de Israel, ainda que mantendo postura crítica em relação à política de assentamento nos territórios ocupados, condenada pela ONU.
Foi também no governo Lula que, em 2009, o então presidente israelense Shimon Peres veio ao Brasil.
Tratou-se da primeira viagem de um Chefe de Estado israelense ao Brasil em mais de 4 décadas.
Em 2010, Lula realizou a primeira visita de um Chefe de Estado brasileiro a Israel.
Foi um marco histórico das relações bilaterais.
Lá, fez um discurso no Knesset, o parlamento israelense, no qual defendeu a convivência pacífica entre um Estado israelense e um Estado palestino, conforme o que apregoa a ONU e a maioria da comunidade internacional.
Lembrou da convivência pacífica entre árabes e judeus no Brasil. Foi aplaudido de pé.
Ademais, Lula teve o cuidado óbvio de, na mesma viagem, visitar a Palestina.
É algo que diferencia profundamente um estadista que defende os interesses maiores de seu país e a paz, no planeta esférico e concreto, de um mentecapto que defende os interesses mesquinhos de Trump e Netanyahu e a guerra, na Terra Plana geopolítica. De fato, não se pode comparar.
De qualquer forma, o Brasil não poderia negar seu apoio ao sofrido povo palestino, sob pena de isolar-se da ampla maioria da comunidade internacional.
Esse povo, que não tem Estado, território coeso, economia viável e nem forças armadas, vem sendo submetido ao que Ilan Pappé, historiador israelense, denominou apropriadamente de “genocídio incremental”.
Aos poucos, o governo de Israel vai colonizando quase toda a Cisjordânia, tomando as poucas terras remanescentes dos palestinos, e sitiando 1,8 milhão pessoas na estreita Faixa de Gaza.
Contudo, Bolsonaro e seu chanceler mitômano, que acha que a nazismo foi um movimento comunista, para risos de escárnio do mundo civilizado e do planeta esférico, foram a Israel dar um tapa na cara no povo palestino, na ONU, na comunidade internacional, no direito internacional público e na diplomacia brasileira.
O anúncio da abertura de um “escritório comercial” em Jerusalém é a página mais ridícula da história de nossa diplomacia.
Em primeiro lugar, porque escritório comercial só se abre em países com os quais não há relações diplomáticas.
Em países com os quais se mantêm relações diplomáticas, como é o caso de Israel, abrem-se, no mundo esférico, embaixadas e consulados.
Em segundo, porque Jerusalém, além de estar a apenas de 60 quilômetros de Telavive, não tem relevância comercial.
A estapafúrdia “solução salomônica” do “escritório” desagradou tanto a Netanyahu, que esperava a prometida transferência da embaixada, quanto a palestinos, árabes e muçulmanos de um modo geral.
Os palestinos já chamaram seu embaixador de volta para consultas, o que, na linguagem diplomática, é algo muito grave.
Nos nossos meios de comunicação, especulam sobre os prováveis prejuízos econômicos e comerciais dessa decisão desastrosa.
Serão graves, é claro.
No ano passado (2018), exportamos 13,75 bilhões para a Liga Árabe e o Irã, principalmente alimentos e, em especial, carnes.
Somos responsáveis por 52% das carnes consumidas nos países árabes Já para Israel, exportamos apenas US$ 324 milhões.
Além disso, a balança comercial com a Liga Árabe é superavitária em torno de US$ 7 bilhões, ao passo que a nossa balança comercial com Israel é tradicionalmente deficitária. Em 2018, foram cerca de US$ 500 milhões de déficit.
Embora os países árabes, bem como os muçulmanos, venham a ter dificuldades para substituir essas exportações brasileiras no curto prazo, haverá, no médio e longo prazo, substituição ao menos parcial dessas nossas exportações, no mercado árabe e muçulmano.
Há outros países que podem exportar para lá.
Aqui na América do Sul, Argentina e Uruguai podem ser candidatos.
Mas o prejuízo não será apenas comercial e econômico.
Os países árabes e muçulmanos congregam 57 votos nos foros multilaterais nos quais o Brasil participa.
No planeta esférico, concreto e multipolar, são votos muito importantes.
Se antes, com Lula, havia muito boa vontade para com o Brasil, agora enfrentaremos muitas resistências a qualquer reivindicação nossa. Assim o prejuízo maior, de imediato, será político e diplomático.
De quebra, poderemos entrar na rota do extremismo islâmico fundamentalista, por termos nos tornado aliados incondicionais de Israel e EUA. Não bastasse, essa nova posição desequilibrada exclusivamente pró-Israel poderá comprometer a histórica convivência pacífica entre descendentes de árabes e judeus que se verifica no Brasil.
Assim, para agradar gente como Trump e Netanyahu, políticos de posições ideológicas extremadas, o Brasil está jogando contra seus próprios interesses e se isolando da comunidade internacional, que apoia maciçamente as resoluções da ONU sobre o tema.
Mas o nosso país não está se isolando da comunidade internacional e do planeta esférico apenas nesse tema.
O Brasil está se isolando, da mesma maneira, nas questões ambientais.
Também para agradar Trump, o nosso país, abandonando suas posições progressistas na área, passou a questionar o fator antropogênico das mudanças climáticas, e passou a associá-lo ao “marxismo cultural”, principal preocupação terraplanista.
Recentemente, o Brasil foi voto solitário na OIT, posicionando-se contrariamente ao enforcement da Convenção 169 sobre comunidades indígenas. Aparentemente, essa agência global da ONU, como muitas outras, teria sido tomada pelo terrível “globalismo”. Não se sabe bem a razão.
Para completar, agora temos também um governo que defende oficialmente ditaduras.
A democracia não parece ser o forte da Terra Plana geopolítica. Afinal, democracia, no plano internacional, equivale a multipolaridade e multilateralismo. Coisas de planeta esférico e multidimensional.
Coisas de Lula; não dos líderes da Terra Plana.
Lula foi o único presidente do Brasil que teve efetiva projeção internacional, tornando-se liderança mundial muito respeitada no planeta. No planeta esférico e concreto, acrescente-se.
Tentando emular Lula, Bolsonaro e o chanceler mitômano de delírios pré-iluministas também pretendem ser lideranças mundiais.
Porém, ao que tudo indica, renunciaram a um lugar de destaque no planeta esférico e concreto e almejam ser líderes da Terra Plana, esse curioso mundo medieval ptolomaico recentemente ressuscitado pela imaginação fértil de astrólogos políticos.
O governo brasileiro vive hoje numa Terra Plana, geopoliticamente unidimensional e unipolar, na qual só cabem os interesses de coisas como o trumpismo e o Ocidente medieval vislumbrado por mentes gestadas por uma mistura implausível da Suma Teológica com generosas doses de LSD.
Um mundo que não existe mais, em processo acelerado de decomposição histórica, mas que persiste na imaginação destrutiva de alguns.
Um mundo que é uma impossibilidade geográfica e geopolítica.
Um mundo para poucos, que nos afasta do direito internacional público e da razão.
De fato, com nossa política externa sendo dirigida pelo pior chanceler do mundo, astrólogos oligofrênicos, aiatolás neopentecostais e militares que apoiam ditadura e tortura, não necessariamente nessa ordem, o Brasil retira-se da comunidade internacional e se aliena da realidade.
A viagem a Israel é demonstração cabal disso.
Em apenas dois dias, a equipe de metafísicos celerados do capitão destruiu décadas de esforços e tradição diplomática brasileira em prol de uma solução pacífica para o conflito israelo-palestino.
Com efeito, a tradição diplomática do nosso país era a de somar-se à ONU e à comunidade internacional na busca de uma paz no Oriente Médio que contemplasse os interesses israelenses e palestinos.
Esse esforço brasileiro vem de longe.
Foi justamente um representante da nossa diplomacia, Oswaldo Aranha, que presidiu a sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas que criou o Estado de Israel.
Aranha foi um dos principais articuladores diplomáticos da Resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas 181, de 1947, que deu reconhecimento internacional a Israel. Por isso, Oswaldo Aranha é nome de rua em Telavive.
Assim, nosso país reconheceu, desde o início, a existência do Estado de Israel.
Mas, ao mesmo tempo, o Brasil foi um histórico defensor da criação de um Estado Palestino soberano, geograficamente coeso e economicamente viável, situado nos territórios ocupados por Israel desde 1967, a saber: Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental.
O Brasil, portanto, se posicionou tradicionalmente em relação àquele conflito com muita moderação, racionalidade e tomando como base fundamental as resoluções da ONU sobre o tema, como convinha a um país firmemente afincado no planeta esférico, concreto e multipolar.
E, ao contrário do que apregoam os mitos bolsonarianos da Terra Plana geopolítica, o Brasil, mesmo votando contra as violações dos direitos palestinos na ONU, sempre manteve boa relação com Israel.
Tanto é assim que o primeiro acordo de livre comércio extrarregional firmado pelo Mercosul foi com Israel.
Isso mesmo. O Brasil, pelo Mercosul, estabeleceu livre comércio com Israel.
Esse acordo foi firmado em 18 de dezembro de 2007, em pleno governo Lula, o qual aproximou-se bastante de Israel, ainda que mantendo postura crítica em relação à política de assentamento nos territórios ocupados, condenada pela ONU.
Foi também no governo Lula que, em 2009, o então presidente israelense Shimon Peres veio ao Brasil.
Tratou-se da primeira viagem de um Chefe de Estado israelense ao Brasil em mais de 4 décadas.
Em 2010, Lula realizou a primeira visita de um Chefe de Estado brasileiro a Israel.
Foi um marco histórico das relações bilaterais.
Lá, fez um discurso no Knesset, o parlamento israelense, no qual defendeu a convivência pacífica entre um Estado israelense e um Estado palestino, conforme o que apregoa a ONU e a maioria da comunidade internacional.
Lembrou da convivência pacífica entre árabes e judeus no Brasil. Foi aplaudido de pé.
Ademais, Lula teve o cuidado óbvio de, na mesma viagem, visitar a Palestina.
É algo que diferencia profundamente um estadista que defende os interesses maiores de seu país e a paz, no planeta esférico e concreto, de um mentecapto que defende os interesses mesquinhos de Trump e Netanyahu e a guerra, na Terra Plana geopolítica. De fato, não se pode comparar.
De qualquer forma, o Brasil não poderia negar seu apoio ao sofrido povo palestino, sob pena de isolar-se da ampla maioria da comunidade internacional.
Esse povo, que não tem Estado, território coeso, economia viável e nem forças armadas, vem sendo submetido ao que Ilan Pappé, historiador israelense, denominou apropriadamente de “genocídio incremental”.
Aos poucos, o governo de Israel vai colonizando quase toda a Cisjordânia, tomando as poucas terras remanescentes dos palestinos, e sitiando 1,8 milhão pessoas na estreita Faixa de Gaza.
Contudo, Bolsonaro e seu chanceler mitômano, que acha que a nazismo foi um movimento comunista, para risos de escárnio do mundo civilizado e do planeta esférico, foram a Israel dar um tapa na cara no povo palestino, na ONU, na comunidade internacional, no direito internacional público e na diplomacia brasileira.
O anúncio da abertura de um “escritório comercial” em Jerusalém é a página mais ridícula da história de nossa diplomacia.
Em primeiro lugar, porque escritório comercial só se abre em países com os quais não há relações diplomáticas.
Em países com os quais se mantêm relações diplomáticas, como é o caso de Israel, abrem-se, no mundo esférico, embaixadas e consulados.
Em segundo, porque Jerusalém, além de estar a apenas de 60 quilômetros de Telavive, não tem relevância comercial.
A estapafúrdia “solução salomônica” do “escritório” desagradou tanto a Netanyahu, que esperava a prometida transferência da embaixada, quanto a palestinos, árabes e muçulmanos de um modo geral.
Os palestinos já chamaram seu embaixador de volta para consultas, o que, na linguagem diplomática, é algo muito grave.
Nos nossos meios de comunicação, especulam sobre os prováveis prejuízos econômicos e comerciais dessa decisão desastrosa.
Serão graves, é claro.
No ano passado (2018), exportamos 13,75 bilhões para a Liga Árabe e o Irã, principalmente alimentos e, em especial, carnes.
Somos responsáveis por 52% das carnes consumidas nos países árabes Já para Israel, exportamos apenas US$ 324 milhões.
Além disso, a balança comercial com a Liga Árabe é superavitária em torno de US$ 7 bilhões, ao passo que a nossa balança comercial com Israel é tradicionalmente deficitária. Em 2018, foram cerca de US$ 500 milhões de déficit.
Embora os países árabes, bem como os muçulmanos, venham a ter dificuldades para substituir essas exportações brasileiras no curto prazo, haverá, no médio e longo prazo, substituição ao menos parcial dessas nossas exportações, no mercado árabe e muçulmano.
Há outros países que podem exportar para lá.
Aqui na América do Sul, Argentina e Uruguai podem ser candidatos.
Mas o prejuízo não será apenas comercial e econômico.
Os países árabes e muçulmanos congregam 57 votos nos foros multilaterais nos quais o Brasil participa.
No planeta esférico, concreto e multipolar, são votos muito importantes.
Se antes, com Lula, havia muito boa vontade para com o Brasil, agora enfrentaremos muitas resistências a qualquer reivindicação nossa. Assim o prejuízo maior, de imediato, será político e diplomático.
De quebra, poderemos entrar na rota do extremismo islâmico fundamentalista, por termos nos tornado aliados incondicionais de Israel e EUA. Não bastasse, essa nova posição desequilibrada exclusivamente pró-Israel poderá comprometer a histórica convivência pacífica entre descendentes de árabes e judeus que se verifica no Brasil.
Assim, para agradar gente como Trump e Netanyahu, políticos de posições ideológicas extremadas, o Brasil está jogando contra seus próprios interesses e se isolando da comunidade internacional, que apoia maciçamente as resoluções da ONU sobre o tema.
Mas o nosso país não está se isolando da comunidade internacional e do planeta esférico apenas nesse tema.
O Brasil está se isolando, da mesma maneira, nas questões ambientais.
Também para agradar Trump, o nosso país, abandonando suas posições progressistas na área, passou a questionar o fator antropogênico das mudanças climáticas, e passou a associá-lo ao “marxismo cultural”, principal preocupação terraplanista.
Recentemente, o Brasil foi voto solitário na OIT, posicionando-se contrariamente ao enforcement da Convenção 169 sobre comunidades indígenas. Aparentemente, essa agência global da ONU, como muitas outras, teria sido tomada pelo terrível “globalismo”. Não se sabe bem a razão.
Para completar, agora temos também um governo que defende oficialmente ditaduras.
A democracia não parece ser o forte da Terra Plana geopolítica. Afinal, democracia, no plano internacional, equivale a multipolaridade e multilateralismo. Coisas de planeta esférico e multidimensional.
Coisas de Lula; não dos líderes da Terra Plana.
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