Por Altamiro Borges
Na cavalgada neofascista que devastou o país graças à escandalização midiática da política, os cariocas elegeram o desconhecido Wilson Witzel, um sinistro aventureiro, como governador de um dos mais importantes Estados da federação. O ex-juiz saltou do 1% nas pesquisas no início da campanha para 60,6% dos votos no segundo turno das eleições. A sua disparada se deu a partir do comício no qual foi destruída uma placa em homenagem à vereadora Marielle Franco, assassinada covardemente. Ele passou a ser encarado como o candidato do ódio, da violência.
Egocêntrico e vaidoso, Wilson Witzel agora já sonha com voos mais altos – deseja ser presidente da República. Para isso, o oportunista reforça a imagem do justiceiro, do valentão que mata e arrebenta. Neste final de semana, essa encenação macabra superou os limites da legalidade. De um helicóptero, ele se exibiu para câmeras de filmagem participando de uma ação armada em bairros da periferia de Angra dos Reis, no litoral fluminense. Em qualquer país minimamente civilizado do mundo, o criminoso seria imediatamente afastado do cargo e até preso.
Crime de lesa-humanidade
Na cavalgada neofascista que devastou o país graças à escandalização midiática da política, os cariocas elegeram o desconhecido Wilson Witzel, um sinistro aventureiro, como governador de um dos mais importantes Estados da federação. O ex-juiz saltou do 1% nas pesquisas no início da campanha para 60,6% dos votos no segundo turno das eleições. A sua disparada se deu a partir do comício no qual foi destruída uma placa em homenagem à vereadora Marielle Franco, assassinada covardemente. Ele passou a ser encarado como o candidato do ódio, da violência.
Egocêntrico e vaidoso, Wilson Witzel agora já sonha com voos mais altos – deseja ser presidente da República. Para isso, o oportunista reforça a imagem do justiceiro, do valentão que mata e arrebenta. Neste final de semana, essa encenação macabra superou os limites da legalidade. De um helicóptero, ele se exibiu para câmeras de filmagem participando de uma ação armada em bairros da periferia de Angra dos Reis, no litoral fluminense. Em qualquer país minimamente civilizado do mundo, o criminoso seria imediatamente afastado do cargo e até preso.
Crime de lesa-humanidade
Indignada, a jurista Carol Proner reagiu: “O governador Wilson Witzel, por ser advogado, ex-juiz federal e, principalmente, na condição de ex-fuzileiro naval, sabe perfeitamente que o estímulo à violência sistemática e generalizada contra a população civil, produzindo mortes indiscriminadas, constitui crime de lesa-humanidade e, como tal, a conduta é imprescritível perante o jus cogens universalmente reconhecido... É preciso relembrar que não há tempo histórico que possa apagar a responsabilidade pelos crimes estimulados e cometidos no âmbito de uma política de segurança pública que autoriza execuções e mortes sob qualquer pretexto”.
No mesmo rumo, o jornalista Luis Nassif disparou em seu blog: “Witzel é um genocida, que mais cedo ou mais tarde, será submetido a um tribunal internacional por crimes contra a humanidade. Mas, antes disso, ele precisa ser detido... Desde a campanha, estimulava a ação de snipers, atiradores especializados, para matar à distância pessoas suspeitas de carregarem armamentos. Em entrevista a O Globo, admitiu que os snipers estão agindo. E há inúmeros relatos de pessoas sendo mortas por atiradores à distância... Agora, Witzel aparece em Angra dos Reis em um jogo de cena mortal, ocupando um helicóptero que dispara do alto contra casas humildes”.
Essas críticas, porém, parecem não acuar o governador genocida. Ele está em plena campanha para se viabilizar como presidenciável, como aponta um artigo postado na revista Época neste domingo (5). Vale conferir o texto:
*****
Witzel sonha com o Planalto antes de arrumar a própria casa
O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, parece ter uma sarna no mesmo lugar que seu colega paulista, João Doria: mal se senta numa cadeira, já sente aquele comichão e quer sair em busca de outra. Pouco conhecido até no estado que governa, ele planeja ser presidente da República. Mas para tentar realizar o sonho, convém desfazer armadilhas que montou para si mesmo – se ainda der tempo.
Ex-militar e ex-juiz, surfou na onda conservadora/moralista de 2018. Elegeu-se prometendo ser impiedoso com regalias e criminosos. Para atacar as primeiras, assegurou que daria o exemplo. Caso tivesse algum problema de saúde, iria a unidades públicas. Na quinta, 2, passou mal e foi ao Samaritano, um dos principais hospitais particulares do Rio.
Em janeiro, esteve no Hospital Universitário Pedro Ernesto, estadual. Logo se descobriu a demagogia: médicos de folga foram convocados para atendê-lo e, em apenas duas horas, o governador realizou exames que o usuário comum leva meses para conseguir – quando não morre antes. Em fevereiro, a sogra do vice-prefeito, Cláudio Castro, passou por uma cirurgia de emergência no Pedro Ernesto. Mas o hospital não tem serviço de emergência. Abriu-se uma exceção.
Witzel afirmou que não moraria no Palácio Laranjeiras, mas em sua casa, no Grajaú, bairro da Zona Norte. Alegou, porém, que enfrentaria muito trânsito para trabalhar na Zona Sul – o que é absoluta verdade, em que pese a presepada dos motoqueiros batedores abrindo caminho para a carruagem real passar – e foi para o palácio. Perto da sua residência particular, na rua Professor Valadares, um carro da Polícia Militar fica parado 24 horas por dia.
Quanto a combater criminosos, não tergiversou sobre métodos e inimigos: disse que os policiais teriam autorização para “atirar na cabecinha” de homens armados com fuzis. Ou seja, negros favelados seriam abatidos sem respaldo da Constituição, que não dá às polícias carta branca para matar. Certamente, nenhuma cabecinha branca do Leblon, mesmo que vendedora de drogas (são tantas essas cabeças...), seria destroçada. Os ricos e a imprensa fariam um escândalo.
Na sexta, 3, foram divulgados os dados da Segurança no primeiro trimestre: as polícias fluminense mataram 434 pessoas. É o maior número para o período desde 1998.
Engana-se Witzel ao achar que esse crescimento lhe dará popularidade. Em 2016, as polícias liquidaram 163 pessoas; em 2017 foram 306; em 2018, a marca subiu para 368, a segunda maior de 1998 para cá. Ao receber sangue de presente, o eleitorado de extrema-direita quer mais sangue. Nunca se sente seguro o suficiente. E não está errado: assassinar aos magotes não reforça a segurança de ninguém, o que se explica pela matemática. A polícia mata demais e morre demais. É uma guerra inútil.
Quantos pobres o governador pretende exterminar até se dar por satisfeito? E a quantos enterros de policiais pretende ir, prometendo vingança? São muitos os pobres, já que o país não investe em educação, nem em meios para melhorar a distribuição de renda. No caso da educação, ainda está mutilando orçamentos por perseguição política. Se chacinas policiais facilitassem o caminho até Brasília, sairiam do Rio todos os presidentes da República.
Ainda não foram divulgadas pesquisas que indiquem como estão a aprovação e a rejeição de Witzel. Ele, que tinha 1% das intenções de voto no início de sua campanha para governador, foi escolhido no segundo turno por 60,68% dos eleitores. Ainda tem gordura para queimar. Mas as fotos com metralhadoras na mão, fazendo flexões com policiais e ornado com faixas diversas o deixam, para muitos eleitores, mais ridículo do que respeitável.
Pesa sobre ele algo que pesa sobre qualquer governante dos tempos ultravelozes de hoje, nos quais as redes sociais promovem julgamentos a cada minuto. Espera-se que um político eleito comece a mostrar resultados imediatamente, o que é obviamente impossível – afora ações de marketing, inclusive às custas de cadáveres. Isso ajuda a explicar como a aprovação de Jair Bolsonaro vem despencando. A realidade não acompanha as expectativas. Também no caso do presidente, não parece que incentivo à violência seja capaz de sustentar popularidade.
Arregaçar as mangas para trabalhar pelo Rio em vez de sonhar com a faixa presidencial pode ser bom para a imagem de Witzel. Ir a hospitais públicos sem furar a fila também.
*****
Hospedagem no luxuoso hotel Fasano
Como demonstra o artigo, Wilson Witzel é um demagogo inveterado, um oportunista sem qualquer princípio ou caráter. Ele é um dos piores erros já cometidos pelos eleitores cariocas – só compreensível como um gesto de desespero irracional diante das dificuldades do cotidiano. Esse genocida não vai recuar e nem faz questão de disfarçar as suas ambições. No mesmo final de semana em que apareceu comandando uma ação militar de um helicóptero, o falso ético aproveitou para curtir um dos hotéis mais luxuosos de Angra do Reis.
“O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, está hospedado neste fim de semana no hotel Fasano com a família, cuja diária mais barata custa, por pessoa, na faixa de R$ 1.600. Witzel se recusou a responder se ele está pagando do próprio bolso ou se aceitou o convite de alguém para se hospedar no hotel. Procurada, a assessoria limitou-se a dizer que não é o governo do Estado que está pagando. Mas não quis dizer o nome de quem está pagando a conta”, registrou a coluna de Guilherme Amado, também na revista Época.
No mesmo rumo, o jornalista Luis Nassif disparou em seu blog: “Witzel é um genocida, que mais cedo ou mais tarde, será submetido a um tribunal internacional por crimes contra a humanidade. Mas, antes disso, ele precisa ser detido... Desde a campanha, estimulava a ação de snipers, atiradores especializados, para matar à distância pessoas suspeitas de carregarem armamentos. Em entrevista a O Globo, admitiu que os snipers estão agindo. E há inúmeros relatos de pessoas sendo mortas por atiradores à distância... Agora, Witzel aparece em Angra dos Reis em um jogo de cena mortal, ocupando um helicóptero que dispara do alto contra casas humildes”.
Essas críticas, porém, parecem não acuar o governador genocida. Ele está em plena campanha para se viabilizar como presidenciável, como aponta um artigo postado na revista Época neste domingo (5). Vale conferir o texto:
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Witzel sonha com o Planalto antes de arrumar a própria casa
O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, parece ter uma sarna no mesmo lugar que seu colega paulista, João Doria: mal se senta numa cadeira, já sente aquele comichão e quer sair em busca de outra. Pouco conhecido até no estado que governa, ele planeja ser presidente da República. Mas para tentar realizar o sonho, convém desfazer armadilhas que montou para si mesmo – se ainda der tempo.
Ex-militar e ex-juiz, surfou na onda conservadora/moralista de 2018. Elegeu-se prometendo ser impiedoso com regalias e criminosos. Para atacar as primeiras, assegurou que daria o exemplo. Caso tivesse algum problema de saúde, iria a unidades públicas. Na quinta, 2, passou mal e foi ao Samaritano, um dos principais hospitais particulares do Rio.
Em janeiro, esteve no Hospital Universitário Pedro Ernesto, estadual. Logo se descobriu a demagogia: médicos de folga foram convocados para atendê-lo e, em apenas duas horas, o governador realizou exames que o usuário comum leva meses para conseguir – quando não morre antes. Em fevereiro, a sogra do vice-prefeito, Cláudio Castro, passou por uma cirurgia de emergência no Pedro Ernesto. Mas o hospital não tem serviço de emergência. Abriu-se uma exceção.
Witzel afirmou que não moraria no Palácio Laranjeiras, mas em sua casa, no Grajaú, bairro da Zona Norte. Alegou, porém, que enfrentaria muito trânsito para trabalhar na Zona Sul – o que é absoluta verdade, em que pese a presepada dos motoqueiros batedores abrindo caminho para a carruagem real passar – e foi para o palácio. Perto da sua residência particular, na rua Professor Valadares, um carro da Polícia Militar fica parado 24 horas por dia.
Quanto a combater criminosos, não tergiversou sobre métodos e inimigos: disse que os policiais teriam autorização para “atirar na cabecinha” de homens armados com fuzis. Ou seja, negros favelados seriam abatidos sem respaldo da Constituição, que não dá às polícias carta branca para matar. Certamente, nenhuma cabecinha branca do Leblon, mesmo que vendedora de drogas (são tantas essas cabeças...), seria destroçada. Os ricos e a imprensa fariam um escândalo.
Na sexta, 3, foram divulgados os dados da Segurança no primeiro trimestre: as polícias fluminense mataram 434 pessoas. É o maior número para o período desde 1998.
Engana-se Witzel ao achar que esse crescimento lhe dará popularidade. Em 2016, as polícias liquidaram 163 pessoas; em 2017 foram 306; em 2018, a marca subiu para 368, a segunda maior de 1998 para cá. Ao receber sangue de presente, o eleitorado de extrema-direita quer mais sangue. Nunca se sente seguro o suficiente. E não está errado: assassinar aos magotes não reforça a segurança de ninguém, o que se explica pela matemática. A polícia mata demais e morre demais. É uma guerra inútil.
Quantos pobres o governador pretende exterminar até se dar por satisfeito? E a quantos enterros de policiais pretende ir, prometendo vingança? São muitos os pobres, já que o país não investe em educação, nem em meios para melhorar a distribuição de renda. No caso da educação, ainda está mutilando orçamentos por perseguição política. Se chacinas policiais facilitassem o caminho até Brasília, sairiam do Rio todos os presidentes da República.
Ainda não foram divulgadas pesquisas que indiquem como estão a aprovação e a rejeição de Witzel. Ele, que tinha 1% das intenções de voto no início de sua campanha para governador, foi escolhido no segundo turno por 60,68% dos eleitores. Ainda tem gordura para queimar. Mas as fotos com metralhadoras na mão, fazendo flexões com policiais e ornado com faixas diversas o deixam, para muitos eleitores, mais ridículo do que respeitável.
Pesa sobre ele algo que pesa sobre qualquer governante dos tempos ultravelozes de hoje, nos quais as redes sociais promovem julgamentos a cada minuto. Espera-se que um político eleito comece a mostrar resultados imediatamente, o que é obviamente impossível – afora ações de marketing, inclusive às custas de cadáveres. Isso ajuda a explicar como a aprovação de Jair Bolsonaro vem despencando. A realidade não acompanha as expectativas. Também no caso do presidente, não parece que incentivo à violência seja capaz de sustentar popularidade.
Arregaçar as mangas para trabalhar pelo Rio em vez de sonhar com a faixa presidencial pode ser bom para a imagem de Witzel. Ir a hospitais públicos sem furar a fila também.
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Hospedagem no luxuoso hotel Fasano
Como demonstra o artigo, Wilson Witzel é um demagogo inveterado, um oportunista sem qualquer princípio ou caráter. Ele é um dos piores erros já cometidos pelos eleitores cariocas – só compreensível como um gesto de desespero irracional diante das dificuldades do cotidiano. Esse genocida não vai recuar e nem faz questão de disfarçar as suas ambições. No mesmo final de semana em que apareceu comandando uma ação militar de um helicóptero, o falso ético aproveitou para curtir um dos hotéis mais luxuosos de Angra do Reis.
“O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, está hospedado neste fim de semana no hotel Fasano com a família, cuja diária mais barata custa, por pessoa, na faixa de R$ 1.600. Witzel se recusou a responder se ele está pagando do próprio bolso ou se aceitou o convite de alguém para se hospedar no hotel. Procurada, a assessoria limitou-se a dizer que não é o governo do Estado que está pagando. Mas não quis dizer o nome de quem está pagando a conta”, registrou a coluna de Guilherme Amado, também na revista Época.
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