Por Guilherme Boulos, na revista CartaCapital:
Jair Bolsonaro segue em campanha. Em vez de governar, gasta tuítes, entrevistas e compromissos públicos para repetir o mesmo discurso que faz desde que virou candidato à Presidência: ataques à esquerda, pregação de ódio e reprodução rasteira de fake news. Suas declarações já não chocam como outrora, mas não se encaixam nem minimamente na dignidade esperada de um chefe de Estado. E muitos de seus subordinados trilham o mesmo caminho, quando não protagonizam escândalos, como Sérgio Moro e o ministro do laranjal.
Com este desgoverno e uma economia que caminha de volta à recessão, o resultado não surpreende: Bolsonaro tem a pior avaliação de um presidente em início de mandato desde Fernando Collor. Segundo o Datafolha, com pouco mais de seis meses, apenas um a cada três brasileiros aprova Bolsonaro. Outros 33% da população consideram seu governo ruim ou péssimo e, entre os dois polos, 31% têm a gestão como regular. Vale tentarmos enxergar o filme que se desenrola através das fotografias mostradas pela pesquisa.
De cada cinco eleitores do segundo turno de 2018, três não votaram em Bolsonaro. Esse grupo significou 61% dos eleitores, quase 90 milhões de brasileiros. Ao continuar se comportando como candidato e não governante eleito, Bolsonaro desaponta tanto quem acreditou que ele mudaria “tudo que está aí” quanto quem não votou nele, mas alimentava alguma esperança de que a situação poderia melhorar.
É importante pontuar o significado do fenômeno eleitoral bolsonarista. Será que alguém seriamente considera que os 58 milhões de eleitores de Bolsonaro no segundo turno são extremistas de direita, defensores da ditadura, tal como ele? A leitura de um “giro do País à direita” é superficial e equivocada. Muitos de seus eleitores votaram no PT nas eleições anteriores e qualquer pesquisa em relação a temas emblemáticos ao bolsonarismo – como o golpe de 1964, tortura, armas e mesmo sexualidade – mostra que os brasileiros são muito melhores do que o presidente que escolheram.
É evidente que o pensamento de direita cresceu no País, mas está longe de ser majoritário. Bolsonaro ganhou as eleições porque conseguiu representar a “antipolítica”, juntamente com um desejo de “ordem”. Foi um voto muito mais marcado pela rejeição do que por um projeto. A eleição de 2018 foi a eleição do “não”.
Completamente diferentes de seus seguidores mais alucinados nas redes sociais, os “bolsominions”, a avassaladora maioria da população não deseja um “mito” que ataque gays ou publique sete decretos de armas em poucos meses. Espera um governo que combata o desemprego, desenvolva políticas de saúde, educação, moradia e lhes possibilite uma vida mais digna. Por isso, já começa a se formar um verdadeiro choque de expectativas de parte importante do eleitorado.
Nesse sentido, a agenda econômica de Paulo Guedes tem potencial de aumentar ainda mais a reprovação do governo. Além da reforma da Previdência, estão sendo discutidas propostas de “simplificação” de impostos que podem tornar a carga tributária do País mais regressiva e desigual. Para completar, uma carteira de trabalho verde-amarela sem 13º salário, férias e aposentadoria segue no horizonte. Nada disso aponta qualquer efeito significativo na reativação da economia. As projeções do próprio mercado financeiro para o crescimento de 2019 e 2020 são desoladoras.
Voltando aos números do Datafolha, 67% dos que têm renda familiar menor que dois salários mínimos já avaliam que Bolsonaro fez pelo País menos do que se esperava. Com um cenário econômico crítico e um governo omisso, o terço da população que permanece neutro deve juntar-se progressivamente ao grupo dos que o reprovam.
O que é incrível é que Bolsonaro parece trabalhar com afinco para que isso aconteça. Ao escolher pautar sua agenda pelo núcleo duro “ideológico”, ele se afasta cada dia mais dos temas que interessam às maiorias. Disse acima que Bolsonaro joga para a plateia. É pior, ele joga apenas para um lado da arquibancada. Faz de tudo para agradar à torcida organizada, nem que para isso tenha de desestruturar o time e perder o jogo.
Ao focar no bolsonarismo mais autoritário e violento, Bolsonaro fica cada vez mais preso a esta minoria. Quanto menos apoio popular tiver, mais refém do Congresso ficará. Em breve, pode ficar sem outra opção senão colar definitivamente em seu corpo o figurino do candidato que, em vez de propostas, se especializou em atacar a política, a democracia e os direitos humanos. Ao fazê-lo, cria para si uma categoria inédita no Brasil: a de presidente de nicho ou, mais adequado à sua história, um “presidente de baixo clero”.
Com este desgoverno e uma economia que caminha de volta à recessão, o resultado não surpreende: Bolsonaro tem a pior avaliação de um presidente em início de mandato desde Fernando Collor. Segundo o Datafolha, com pouco mais de seis meses, apenas um a cada três brasileiros aprova Bolsonaro. Outros 33% da população consideram seu governo ruim ou péssimo e, entre os dois polos, 31% têm a gestão como regular. Vale tentarmos enxergar o filme que se desenrola através das fotografias mostradas pela pesquisa.
De cada cinco eleitores do segundo turno de 2018, três não votaram em Bolsonaro. Esse grupo significou 61% dos eleitores, quase 90 milhões de brasileiros. Ao continuar se comportando como candidato e não governante eleito, Bolsonaro desaponta tanto quem acreditou que ele mudaria “tudo que está aí” quanto quem não votou nele, mas alimentava alguma esperança de que a situação poderia melhorar.
É importante pontuar o significado do fenômeno eleitoral bolsonarista. Será que alguém seriamente considera que os 58 milhões de eleitores de Bolsonaro no segundo turno são extremistas de direita, defensores da ditadura, tal como ele? A leitura de um “giro do País à direita” é superficial e equivocada. Muitos de seus eleitores votaram no PT nas eleições anteriores e qualquer pesquisa em relação a temas emblemáticos ao bolsonarismo – como o golpe de 1964, tortura, armas e mesmo sexualidade – mostra que os brasileiros são muito melhores do que o presidente que escolheram.
É evidente que o pensamento de direita cresceu no País, mas está longe de ser majoritário. Bolsonaro ganhou as eleições porque conseguiu representar a “antipolítica”, juntamente com um desejo de “ordem”. Foi um voto muito mais marcado pela rejeição do que por um projeto. A eleição de 2018 foi a eleição do “não”.
Completamente diferentes de seus seguidores mais alucinados nas redes sociais, os “bolsominions”, a avassaladora maioria da população não deseja um “mito” que ataque gays ou publique sete decretos de armas em poucos meses. Espera um governo que combata o desemprego, desenvolva políticas de saúde, educação, moradia e lhes possibilite uma vida mais digna. Por isso, já começa a se formar um verdadeiro choque de expectativas de parte importante do eleitorado.
Nesse sentido, a agenda econômica de Paulo Guedes tem potencial de aumentar ainda mais a reprovação do governo. Além da reforma da Previdência, estão sendo discutidas propostas de “simplificação” de impostos que podem tornar a carga tributária do País mais regressiva e desigual. Para completar, uma carteira de trabalho verde-amarela sem 13º salário, férias e aposentadoria segue no horizonte. Nada disso aponta qualquer efeito significativo na reativação da economia. As projeções do próprio mercado financeiro para o crescimento de 2019 e 2020 são desoladoras.
Voltando aos números do Datafolha, 67% dos que têm renda familiar menor que dois salários mínimos já avaliam que Bolsonaro fez pelo País menos do que se esperava. Com um cenário econômico crítico e um governo omisso, o terço da população que permanece neutro deve juntar-se progressivamente ao grupo dos que o reprovam.
O que é incrível é que Bolsonaro parece trabalhar com afinco para que isso aconteça. Ao escolher pautar sua agenda pelo núcleo duro “ideológico”, ele se afasta cada dia mais dos temas que interessam às maiorias. Disse acima que Bolsonaro joga para a plateia. É pior, ele joga apenas para um lado da arquibancada. Faz de tudo para agradar à torcida organizada, nem que para isso tenha de desestruturar o time e perder o jogo.
Ao focar no bolsonarismo mais autoritário e violento, Bolsonaro fica cada vez mais preso a esta minoria. Quanto menos apoio popular tiver, mais refém do Congresso ficará. Em breve, pode ficar sem outra opção senão colar definitivamente em seu corpo o figurino do candidato que, em vez de propostas, se especializou em atacar a política, a democracia e os direitos humanos. Ao fazê-lo, cria para si uma categoria inédita no Brasil: a de presidente de nicho ou, mais adequado à sua história, um “presidente de baixo clero”.
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