Por Paulo Moreira Leite, no site Brasil-247:
Num país onde a Constituição afirma, no parágrafo VII do artigo 4o., que um dos princípios das relações internacionais da Republica Federativa do Brasil é a "solução pacífica dos conflitos", o apoio de Bolsonaro à operação de guerra que assassinou Suleimani configura mais um ataque de seu governo aos fundamentos de nossa democracia.
É muito grave. Mas não é só.
O gesto também pode expor as brasileiras e brasileiros a riscos mais graves do que se costuma imaginar. Em 2004 e 2005, quando seus governos foram solidários com George W Bush na invasão do Iraque, a população civil da Espanha e da Inglaterra pagou a conta com o sangue de mortos e feridos que nada tinham a ver com a história.
Primeiro, o terror promoveu um atentado na estação Atocha, em Madri, que deixou 193 mortos e 2050 feridos. Um ano depois, uma sequência de explosões no metrô de Londres produziu 52 mortos e 700 feridos. (Ocorrida quinze dias depois, a criminosa execução do brasileiro Jean Charles de Menezes, morto pela Scotland Yard na estação de Stockwell, teve uma óbvia relação com o ambiente de tensão e cobrança formado na época).
É sempre bom lembrar que não há justificativa moral para o sacrifício de vidas inocentes em ações terroristas.
Mas a história mostra que o terror de Estado - como a execução de Suleimani - costuma estimular reações violentas por parte da população atingida, que exige uma resposta na mesma moeda, numa escalada de violências que rapidamente escapa a qualquer controle racional.
Era disso que as filhas de Suleimani estavam falando quando exigiram vingança por parte das principais autoridades iranianas.
Uma reação do general da reserva Sérgio Etchegoyen, que foi chefe do Estado Maior do Exército e ministro do GSI no governo Temer, ressalta o caráter irresponsável da resposta do governo brasileiro.
Adversário histórico das ideias de esquerda, em entrevista a Tales Faria, do UOL, Echegoyen disse que o assassinato de Suleimani "escancara a atitude norte-americana como xerifes do mundo". O general também revelou um receio pelos precedentes que o ataque pode produzir: "imagina se ele (Trump) decide atacar uma instalação do PCC que refina droga para os EUA por aqui".
As tragédias de Londres e Madri mostram que a contrapartida inevitável pelo engajamento em conflitos externos é a importação, cedo ou tarde, de um ambiente de violência que não interessa a nenhum país.
Desde o século XIX que brasileiras e brasileiros podem usufruir de um raro e prolongado cotidiano de paz com seus vizinhos. Em 1988, essa postura se traduziu no princípio constitucional do parágrafo VII do artigo 4, contribuindo para elevar a influência de nossa diplomacia, pois nenhum país aprecia parceiros que tentam se impor pela guerra.
Alinhando-se com uma potência mundial no momento em que ela comete assassinatos para consolidar seu poder e influência, Bolsonaro empurra o país para o bloco dos párias da diplomacia, o que não interessa ao Brasil nem aos brasileiros.
Alguma dúvida?
É muito grave. Mas não é só.
O gesto também pode expor as brasileiras e brasileiros a riscos mais graves do que se costuma imaginar. Em 2004 e 2005, quando seus governos foram solidários com George W Bush na invasão do Iraque, a população civil da Espanha e da Inglaterra pagou a conta com o sangue de mortos e feridos que nada tinham a ver com a história.
Primeiro, o terror promoveu um atentado na estação Atocha, em Madri, que deixou 193 mortos e 2050 feridos. Um ano depois, uma sequência de explosões no metrô de Londres produziu 52 mortos e 700 feridos. (Ocorrida quinze dias depois, a criminosa execução do brasileiro Jean Charles de Menezes, morto pela Scotland Yard na estação de Stockwell, teve uma óbvia relação com o ambiente de tensão e cobrança formado na época).
É sempre bom lembrar que não há justificativa moral para o sacrifício de vidas inocentes em ações terroristas.
Mas a história mostra que o terror de Estado - como a execução de Suleimani - costuma estimular reações violentas por parte da população atingida, que exige uma resposta na mesma moeda, numa escalada de violências que rapidamente escapa a qualquer controle racional.
Era disso que as filhas de Suleimani estavam falando quando exigiram vingança por parte das principais autoridades iranianas.
Uma reação do general da reserva Sérgio Etchegoyen, que foi chefe do Estado Maior do Exército e ministro do GSI no governo Temer, ressalta o caráter irresponsável da resposta do governo brasileiro.
Adversário histórico das ideias de esquerda, em entrevista a Tales Faria, do UOL, Echegoyen disse que o assassinato de Suleimani "escancara a atitude norte-americana como xerifes do mundo". O general também revelou um receio pelos precedentes que o ataque pode produzir: "imagina se ele (Trump) decide atacar uma instalação do PCC que refina droga para os EUA por aqui".
As tragédias de Londres e Madri mostram que a contrapartida inevitável pelo engajamento em conflitos externos é a importação, cedo ou tarde, de um ambiente de violência que não interessa a nenhum país.
Desde o século XIX que brasileiras e brasileiros podem usufruir de um raro e prolongado cotidiano de paz com seus vizinhos. Em 1988, essa postura se traduziu no princípio constitucional do parágrafo VII do artigo 4, contribuindo para elevar a influência de nossa diplomacia, pois nenhum país aprecia parceiros que tentam se impor pela guerra.
Alinhando-se com uma potência mundial no momento em que ela comete assassinatos para consolidar seu poder e influência, Bolsonaro empurra o país para o bloco dos párias da diplomacia, o que não interessa ao Brasil nem aos brasileiros.
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