Por Liszt Vieira, no site Carta Maior:
O silêncio da indústria a respeito da desindustrialização galopante do Brasil merecia maior destaque na mídia, que silencia sobre esse estranho silêncio da indústria brasileira. A relação de manufaturados nas exportações totais chegou a atingir 59%, depois baixou para 40%. Nos anos 1980, o peso da indústria de transformação no PIB era de 33%, depois caiu para 16%. Nos últimos cinco anos, o comércio exterior desse setor passou de um superávit para um déficit de 65 bilhões de dólares.
Um brado de alerta foi lançado pelo Presidente do Clube de Engenharia do RJ, Pedro Celestino, que, em entrevista aos jornalistas Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena, denunciou que “a Indústria assiste em silêncio à destruição do país”. Afirmou que a Petrobras vem sendo depenada e o BNDES está sendo destruído. “Quem financiará o desenvolvimento industrial brasileiro?”, indagou ele, ao estranhar o “silêncio estrondoso da indústria”. Afinal, em torno da Petrobras existem mais de 5 mil empresas privadas que empregam centenas de milhares de trabalhadores.
Esse comentário me lembrou a atitude dos intelectuais de esquerda e do Partido Comunista no início dos anos 60 do século passado. Eles decidiram o que era ou não de interesse da “burguesia nacional” que ignorou suas análises e apoiou o golpe militar de 64. Boa parte da indústria estava associada ao capital estrangeiro e, ainda em plena Guerra Fria, a chamada burguesia nacional morria de medo do fantasma do comunismo.
A questão que se põe agora é intrigante. A Federação de Indústrias de São Paulo – Fiesp – apoia o governo Bolsonaro, certamente por interesse político de seu presidente Paulo Skaf. E os industriais paulistas? Não falam nada? Todos viraram rentistas? A desindustrialização elimina indústrias e empregos e não se viu até agora no mundo industrial nenhuma reação significativa a essa política econômica antinacional.
Em outras Federações de Indústria, como a Firjan, no Rio de Janeiro, por exemplo, reina um silêncio ensurdecedor. Os industriais brasileiros assistem calados à destruição da indústria nacional. Estão todos ganhando dinheiro no mercado financeiro? Não se dedicam mais à atividade produtiva?
A crise na China decorrente do coronavírus pode impactar a importação de componentes e insumos, bem como a exportação de alguns produtos. Mas isso seria um agravante e não a causa do esvaziamento da indústria brasileira, como já começou a ser noticiado pela mídia (O Globo, 7/2/2020). Ao comentar a queda livre da indústria brasileira, alguns jornalistas afirmam que começa a surgir uma oposição ao comado da Fiesp e da Firjan. Mas pouca coisa existe de concreto, até agora, ressaltando-se o artigo do ex-presidente da Fiesp, Horácio Lafer Piva (Folha, 21/1/2020), com severas críticas a Paulo Skaf, condenando a partidarização da entidade e a “morte anunciada” da indústria. Embora o surgimento dessa oposição tenha lógica, nem tudo o que é lógico é real, e nem tudo o que é real é lógico. Paulo Skaf conta ainda com o apoio de mais de cem dos 132 sindicatos patronais que a entidade representa (O Globo, 6/2/2020).
O caso da Embraer é sintomático. Foi absorvida pela Boeing que poderá, se quiser, fechar a fábrica no Brasil para reabrir nos EUA ou na Ásia, onde a mão de obra é mais barata. Da Embraer depende toda uma indústria de autopeças que iria desaparecer se realmente essa transferência vier a ocorrer no futuro.
Trump defende a indústria americana. Bolsonaro também. Este é um ponto comum entre ambos. Guedes quer esvaziar os bancos públicos que financiam a empresa nacional e privatizar a empresa pública nacional em favor do capital estrangeiro. A História mostra que, sem investimento público, não existe desenvolvimento.
Todo país tem um banco público que financia as empresas nacionais que investem no próprio país ou no exterior. Empresas americanas, europeias, chinesas, indianas etc. recebem financiamento público e investem no mundo inteiro. O exemplo mais conhecido é o Eximbank, dos EUA, mas muitos outros países têm agências semelhantes, como o nosso BNDES.
No Brasil, uma ou outra empresa brasileira investiu em Moçambique, Angola e Cuba, três países pequenos, e isso foi explorado e considerado corrupção. O presidente Bolsonaro denunciou a “caixa preta” do BNDES que contratou uma auditoria nos EUA. A auditoria concluiu que não havia nenhuma irregularidade. A única corrupção, ainda inexplicada, é que a auditoria acabou custando 3 vezes mais caro do que o previsto inicialmente no contrato! Custou 48 milhões de reais (Estadão, 24/1/2020), ou 42,7 milhões, segundo o próprio presidente do BNDES, Gustavo Montezano (G1, 29/1/2020).
A partir do golpe do impeachment em 2016, as elites brasileiras assumiram o modelo financeiro-rentista e o projeto de industrialização nacional foi abandonado, em nome da teoria das “vantagens comparativas “. As classes dominantes “naturalizaram” o sistema extrativista agroexportador que socializa os prejuízos- principalmente a destruição do meio ambiente- e privatiza os lucros obtidos com a exportação de produtos primários de baixo valor agregado.
A ideologia neoliberal divulgada aos quatro ventos pela mídia ganhou corações e mentes, mas provoca necessariamente a estagnação com forte perda de empregos industriais, agravada pelo processo de automatização e robotização em curso. Essa perda não é compensada pelo aumento de ofertas de emprego no setor de serviços.
Esse quadro é agravado pela política neoliberal de extrema direita do governo Bolsonaro que pretende privatizar e transformar em mercadoria bens públicos essenciais. Essa receita certa do desastre é coroada pela cereja do bolo: a proibição de investimento público do Estado, sem o que não há desenvolvimento econômico.
Assim, ao lado da destruição da educação, pesquisa científica, saúde, cultura, meio ambiente, direitos humanos, política externa independente, a indústria nacional está sendo estrangulada e o capital deixa de ser produtivo, deixa de criar riqueza e emprego, e foge para o mercado financeiro. Sinal dos tempos.
O silêncio da indústria a respeito da desindustrialização galopante do Brasil merecia maior destaque na mídia, que silencia sobre esse estranho silêncio da indústria brasileira. A relação de manufaturados nas exportações totais chegou a atingir 59%, depois baixou para 40%. Nos anos 1980, o peso da indústria de transformação no PIB era de 33%, depois caiu para 16%. Nos últimos cinco anos, o comércio exterior desse setor passou de um superávit para um déficit de 65 bilhões de dólares.
Um brado de alerta foi lançado pelo Presidente do Clube de Engenharia do RJ, Pedro Celestino, que, em entrevista aos jornalistas Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena, denunciou que “a Indústria assiste em silêncio à destruição do país”. Afirmou que a Petrobras vem sendo depenada e o BNDES está sendo destruído. “Quem financiará o desenvolvimento industrial brasileiro?”, indagou ele, ao estranhar o “silêncio estrondoso da indústria”. Afinal, em torno da Petrobras existem mais de 5 mil empresas privadas que empregam centenas de milhares de trabalhadores.
Esse comentário me lembrou a atitude dos intelectuais de esquerda e do Partido Comunista no início dos anos 60 do século passado. Eles decidiram o que era ou não de interesse da “burguesia nacional” que ignorou suas análises e apoiou o golpe militar de 64. Boa parte da indústria estava associada ao capital estrangeiro e, ainda em plena Guerra Fria, a chamada burguesia nacional morria de medo do fantasma do comunismo.
A questão que se põe agora é intrigante. A Federação de Indústrias de São Paulo – Fiesp – apoia o governo Bolsonaro, certamente por interesse político de seu presidente Paulo Skaf. E os industriais paulistas? Não falam nada? Todos viraram rentistas? A desindustrialização elimina indústrias e empregos e não se viu até agora no mundo industrial nenhuma reação significativa a essa política econômica antinacional.
Em outras Federações de Indústria, como a Firjan, no Rio de Janeiro, por exemplo, reina um silêncio ensurdecedor. Os industriais brasileiros assistem calados à destruição da indústria nacional. Estão todos ganhando dinheiro no mercado financeiro? Não se dedicam mais à atividade produtiva?
A crise na China decorrente do coronavírus pode impactar a importação de componentes e insumos, bem como a exportação de alguns produtos. Mas isso seria um agravante e não a causa do esvaziamento da indústria brasileira, como já começou a ser noticiado pela mídia (O Globo, 7/2/2020). Ao comentar a queda livre da indústria brasileira, alguns jornalistas afirmam que começa a surgir uma oposição ao comado da Fiesp e da Firjan. Mas pouca coisa existe de concreto, até agora, ressaltando-se o artigo do ex-presidente da Fiesp, Horácio Lafer Piva (Folha, 21/1/2020), com severas críticas a Paulo Skaf, condenando a partidarização da entidade e a “morte anunciada” da indústria. Embora o surgimento dessa oposição tenha lógica, nem tudo o que é lógico é real, e nem tudo o que é real é lógico. Paulo Skaf conta ainda com o apoio de mais de cem dos 132 sindicatos patronais que a entidade representa (O Globo, 6/2/2020).
O caso da Embraer é sintomático. Foi absorvida pela Boeing que poderá, se quiser, fechar a fábrica no Brasil para reabrir nos EUA ou na Ásia, onde a mão de obra é mais barata. Da Embraer depende toda uma indústria de autopeças que iria desaparecer se realmente essa transferência vier a ocorrer no futuro.
Trump defende a indústria americana. Bolsonaro também. Este é um ponto comum entre ambos. Guedes quer esvaziar os bancos públicos que financiam a empresa nacional e privatizar a empresa pública nacional em favor do capital estrangeiro. A História mostra que, sem investimento público, não existe desenvolvimento.
Todo país tem um banco público que financia as empresas nacionais que investem no próprio país ou no exterior. Empresas americanas, europeias, chinesas, indianas etc. recebem financiamento público e investem no mundo inteiro. O exemplo mais conhecido é o Eximbank, dos EUA, mas muitos outros países têm agências semelhantes, como o nosso BNDES.
No Brasil, uma ou outra empresa brasileira investiu em Moçambique, Angola e Cuba, três países pequenos, e isso foi explorado e considerado corrupção. O presidente Bolsonaro denunciou a “caixa preta” do BNDES que contratou uma auditoria nos EUA. A auditoria concluiu que não havia nenhuma irregularidade. A única corrupção, ainda inexplicada, é que a auditoria acabou custando 3 vezes mais caro do que o previsto inicialmente no contrato! Custou 48 milhões de reais (Estadão, 24/1/2020), ou 42,7 milhões, segundo o próprio presidente do BNDES, Gustavo Montezano (G1, 29/1/2020).
A partir do golpe do impeachment em 2016, as elites brasileiras assumiram o modelo financeiro-rentista e o projeto de industrialização nacional foi abandonado, em nome da teoria das “vantagens comparativas “. As classes dominantes “naturalizaram” o sistema extrativista agroexportador que socializa os prejuízos- principalmente a destruição do meio ambiente- e privatiza os lucros obtidos com a exportação de produtos primários de baixo valor agregado.
A ideologia neoliberal divulgada aos quatro ventos pela mídia ganhou corações e mentes, mas provoca necessariamente a estagnação com forte perda de empregos industriais, agravada pelo processo de automatização e robotização em curso. Essa perda não é compensada pelo aumento de ofertas de emprego no setor de serviços.
Esse quadro é agravado pela política neoliberal de extrema direita do governo Bolsonaro que pretende privatizar e transformar em mercadoria bens públicos essenciais. Essa receita certa do desastre é coroada pela cereja do bolo: a proibição de investimento público do Estado, sem o que não há desenvolvimento econômico.
Assim, ao lado da destruição da educação, pesquisa científica, saúde, cultura, meio ambiente, direitos humanos, política externa independente, a indústria nacional está sendo estrangulada e o capital deixa de ser produtivo, deixa de criar riqueza e emprego, e foge para o mercado financeiro. Sinal dos tempos.
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