sexta-feira, 1 de maio de 2020

Os 45 anos do fim da "Guerra do Vietnã"

Foto: Ha Tien Anh/EFE
Por Pedro Oliveira

A chamada “Guerra do Vietnã” , que os vietnamitas chamam de Guerra de Libertação, teve início em meados da década de 60 do século passado, após os patriotas e revolucionários vietnamitas terem derrotado completamente o exército colonial mais experiente da época, o Exército Francês, na histórica batalha de Dien Bien Phu, em 1954. Os “conselheiros” americanos que atuavam já com os militares franceses resolveram substituir os franceses na tarefa de continuar a exploração do povo e das riquezas naturais do Vietnã.

Ao escrever seu Testamento - algum tempo antes de falecer em 1969 - o líder e condutor da Libertação do Vietnã, Ho Chi Minh, gravou na alma do povo vietnamita as seguintes palavras:

“A guerra de resistência contra a agressão americana pode ainda se prolongar. Nossos compatriotas poderiam ter que consentir em novos sacrifícios em bens e vidas humanas. Ainda que assim seja, devemos estar determinados e combater o agressor americano até a vitória total. Nossos rios, nossos montes, nossos homens ficarão sempre. E o Yankee batido, construiremos o país dez vezes mais belo. Quaisquer que sejam as dificuldades e privações, nosso povo vencerá certamente. Os imperialistas americanos devem debandar seguramente. Nossa pátria certamente se reunificará. Nossos compatriotas do Norte e do Sul serão com certeza reunidos no mesmo teto. Nosso país terá a insigne honra de ser uma pequena Nação que terá vencido, em um combate histórico, dois grandes imperialismos – o francês e o americano – trazendo uma digna contribuição ao movimento de libertação nacional”.

Após seis anos deste Testamento escrito, exatamente às 13 horas do dia 30 de abril de 1975, o porta-voz da administração fantoche do Vietnã do Sul, Duong Van Minh, então denominado presidente da administração de Saigon, conclamava a todos os seus soldados a depor suas armas e incondicionalmente se render ao Exército de Libertação, dissolvendo a administração central em todos os níveis e cedendo o poder ao Governo Revolucionário Provisório da República do Vietnã do Sul. Em seguida o representante do Exército de Libertação declarou alto em bom som: “Em nome do Exército de Libertação, aceito a rendição incondicional”.

Entre estes dois fatos históricos, podemos dizer que os agressores estadunidenses tiveram as seguintes perdas humanas e financeiras:

Foram 57 mil 692 oficiais e soldados mortos, 300 mil feridos, 100 mil inválidos;

41% dos veteranos de guerra foram presos após o fim do conflito;

40% dos veteranos ficaram desempregados nos Estados Unidos;

274 bilhões de dólares foi o cálculo feito pelos EUA com despesas diretas da guerra;

Outras despesas correlatas elevam o custo da guerra a 920 bilhões de dólares – enquanto as despesas da II Guerra mundial são calculadas em 341 bilhões e a Guerra da Coréia avaliada em 54 bilhões de dólares;

Muitos veteranos de guerra cometeram suicídio; enquanto outros sofreram de doenças mentais; A rádio Voz da América do dia 29 de março, em 1989, relatou que cerca de 480 mil soldados que lutaram no Vietnã sofreram doenças mentais, e não lhes foram fornecidos o tratamento adequado e outros se recusaram a fazer o tratamento;

Acrescentando às despesas diretas, outros custos aos feridos, pensões a oficiais, entre outras despesas em juros, pode-se dizer que os custos globais da guerra chegam ao montante de 1 trilhão e 647 bilhões de dólares, ou seja 19 mil e 965 dólares por cada americano da população dos EUA na ocasião;

Durante o pico da guerra, os EUA utilizaram contra o Vietnã 6 mil 431 helicópteros táticos, 197 B-52 bombardeiros estratégicos, dos quais de 1961 a 1975 33 mil e 68 aviões de vários tipos foram destruídos ou capturados no Vietnã do Sul;

De agosto de 1964 a janeiro de 1973, 4 mil e 181 aviões da Força Aérea americana foram derrubados no Vietnã do Norte;

De 1964 a 1973, 296 navios foram afundados pelo Vietnã do Norte no Mar do Sul da China;

De 1961 a 1975, foram destruídos ou capturados 38 mil 835 tanques de guerra e carros armados, 13 mil 153 peças de artilharia desativados.

Do lado vietnamita:

Dois milhões e 284 mil pessoas morreram no conflito, dos quais 1 milhão e 921 mil vietnamitas;

450 mil civis sul-vietnamitas morreram entre 1965 e 1975;

40 mil civis sul-vietnamitas foram executados na implementação do Projeto Fênix dos EUA;

176 mil soldados do regime de Saigon morreram entre 1961 e 1972;

900 mil soldados combatentes no Norte e da FLN morreram entre 1961 e 1972;

200 mil civis norte vietnamitas morreram entre 1961 e 1975;

200 mil cambojanos morreram entre 1969 e 1975;

100 mil laosianos morreram entre 1964 e 1973;

58 mil e 151 norte americanos morreram, e

Cinco mil aliados americanos morreram durante a guerra.

Outras vítimas da guerra:

Três milhões e 200 mil vietnamitas, cambojanos e laosianos feridos;

14 milhões e 305 mil refugiados, dos quais 10 milhões e 472 mil no sul do Vietnã e 3 milhões e 83 mil no Camboja e 750 mil no Laos;

No sul do Vietnã registraram-se, ademais, 300 mil órfãos;

800 mil crianças perderam um de seus pais;

83 mil amputados;

181 mil incapacitados;

40 mil surdos ou mudos;

Oito mil paraplégicos;

131 mil viúvas da guerra;

200 mil mulheres induzidas à prostituição e 100 mil prisioneiros políticos;

No Camboja contam-se 480 mil civis mortos ou feridos e 260 mil órfãos ou meio órfãos;

No Laos, 350 mil civis morreram ou ficaram feridos.

Toneladas de bombas e munições empregadas

Os Estados Unidos empregaram 15 milhões e 500 mil toneladas de bombas e munições de todo o tipo na Indochina, das quais 12 milhões no sul do Vietnã. Estima-se que tamanho poderio equivaleria a 640 bombas atômicas do tipo utilizado em Hiroshima, quase duas vezes e meia do total usado em toda a Segunda Guerra Mundial (Seis milhões de toneladas);

Sete milhões e 800 mil toneladas de bombas jogadas pelos EUA na Indochina;

Sete milhões e 500 mil toneladas de munições empregadas pelas forças terrestres americanas;

200 mil toneladas de munições usadas pelas forças navais contra alvos terrestres.

Destruição ao final da guerra:

26 milhões de crateras causadas por bombas, das quais 21 milhões no sul do Vietnã;

Mil milhas quadradas do Sul do Vietnã foram aplainadas por tratores;

Mil milhas quadradas foram destruídas por bombas incendiárias ou de alto impacto;

Entre 150 mil e 300 mil toneladas de munições não explodidas encontram-se espalhadas por toda a Indochina.

Este quadro de horror e destruição foi o resultado de uma política imperialista naquele pequeno território do sudeste asiático. Estes dados que se pode obter no Museu da Guerra na atual Cidade de Ho Chi Minh – como foi denominada a antiga capital do Vietnã do Sul, Saigon – são os dados quantitativos de uma tragédia organizada e levada a cabo por três administrações de governos dos Estados Unidos, contra um país pobre, pequeno e praticamente desarmado. Mas o pior não está nestes números, mas na utilização de um gás chamado agente laranja e outros produtos tóxicos desfolhantes usados para destruir lavouras e abrir clareiras para identificar a resistência popular dirigida pela FNL. No Museu, sabe-se , por exemplo, que 19 milhões de galões de herbicidas, a maioria sendo agente laranja, foram empregados pelos EUA na guerra de 1961 a 1971, agente que causa câncer e outros problemas de saúde e que 200 mil veteranos de guerra dos EUA foram afetados pelo produto.

Tive a oportunidade de visitar este Museu da Guerra em 2008, fazendo parte de uma delegação do Partido Comunista do Brasil que visitou o Vietnã, dirigida pelo então presidente do PCdoB, Renato Rabelo. Fiquei vivamente impressionado com o que vi. Fotos dramáticas de tortura aos presos políticos, e também de vietnamitas afetados pelo agente laranja até os dias atuais, um crime inacreditável.

Da mesma forma se pode conhecer no mesmo Museu -- por muitas fotos e cartazes o apoio à luta dos vietnamitas e pela paz em inúmeros países – o outro fator decisivo para a solução da guerra de Libertação: manifestações e lutas de resistência ocorreram nos principais centros políticos do mundo, especialmente na França, nos Estados Unidos e em países da América Latina, da África e da Ásia. No último dia 25 de abril, por exemplo, comemorou-se nos EUA a marcha que reuniu 500 mil pessoas contra a Guerra do Vietnã. No Brasil, também realizamos inúmeros atos pela paz e contra a guerra em universidades e apitais de vários Estados brasileiros.

No documento do PCdoB por ocasião do aniversário de nascimento de Ho Chi MInh – e este ano teremos a comemoração dos seus 130 anos – está dito: ”Foi possível descortinar a possibilidade de vitória de um pequeno país dominado pelo colonialismo sobre um império colonial poderoso, mais forte e melhor equipado do ponto de vista militar. Ho Chi Minh concebeu a resistência como uma guerra insurrecional – uma guerra de todo o povo oprimido. A luta de resistência deveria levar em consideração as posições de força, as oportunidades, as condições do terreno e de clima e a união do povo. Este último fator foi fundamental em função do patriotismo, da tradição de luta contra os agressores estrangeiros, a consciência política e organizativa que se transformou numa verdadeira muralha de aço contra os inimigos da pátria. De uma forma mais abrangente, a luta se desenvolveu em várias frentes ao mesmo tempo: na esfera militar propriamente dita, no plano político, econômico, cultural e diplomático”. Ou seja, é possível derrotar o imperialismo com a mobilização completa do povo oprimido.

Em um dos Escritos de Ho Chi Minh, carinhosamente chamado pelo povo de Tio Ho, sobre “Como escolhi o leninismo” podemos ler: “De início, foi o patriotismo e não o comunismo que me deu confiança em Lênin e na III Internacional. Etapa por etapa, sempre através da luta, estudando o marxismo-leninismo através das minhas atividades no partido, cheguei, gradualmente, à conclusão de que somente o socialismo e o comunismo poderiam libertar as nações oprimidas e a classe operária de todo o mundo da escravatura”.

1 comentários:

Unknown disse...

Parabéns Pedro pela matéria.
Os números são infalíveis, o massacre americano contra um povo sem armas, mas com alma de povo.
Isso bastou.