sexta-feira, 24 de julho de 2020

Bob Jefferson, o novo jagunço bolsonarista

Por Altamiro Borges

O ex-deputado e ex-presidiário Roberto Jefferson, que tem uma extensa ficha suja na política, está em plena atividade. Ele agora tenta transformar o seu PTB em um reduto do bolsonarismo. Para saciar a gula do Centrão no laranjal, ele convidou dois deputados bolsonaristas expulsos do PSL em São Paulo para ingressar na sigla.

Segundo a revista Época, "em mais um tentativa de se vincular do bolsonarismo", Roberto Jefferson, que foi líder da famosa tropa de choque de Collor de Mello e um dos metidos no chamado escândalo do mensalão – “convidou os deputados Douglas Garcia e Gil Diniz, o Carteiro Reaça, expulsos do PSL, a ingressarem no PTB”.

Conforme aponta a revista, Bob Jefferson – como também é chamado – "tem feito uma série de movimentos para se aproximar de Bolsonaro. O primeiro passo foi tornar-se defensor estridente das pautas presidenciais nas redes sociais... Chegou a convidar Bolsonaro a disputar a reeleição pelo PTB em 2022".

Babando ódio contra o STF

Na estratégia de tornar o partido que chefia numa extensão bolsonarista, o cacique do Centrão tem procurado vários parlamentares. Segundo a Época, "Jefferson ainda trabalha para que a sua filha, Cristiane Brasil [ela mesma, a “ética”], seja a candidata bolsonarista na eleição para a prefeitura do Rio de Janeiro".

Para agradar o presidente, Bob Jefferson tem babado ódio contra o Supremo Tribunal Federal. Em entrevista ao canal bolsonarista ‘Questione-se’ no YouTube postada nesta semana, ele chamou os ministros do STF de “sodomitas” e insinuou que “dois deles, por serem homossexuais, não poderiam ser juízes”, relata a Época.

A postura homofóbica deve gerar mais um processo contra o jagunço do PTB – e pode aumentar a irritação do STF contra o famoso difusor de fake news. Segundo Mônica Bergamo, “um grupo de advogados estuda representar contra o ex-deputado Roberto Jefferson no Ministério Público por suposto crime de homofobia”.

“O advogado Pedro Martinez, da Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), afirma que o ex-parlamentar atingiu a dignidade de toda a comunidade LGBT ‘ao dizer que gays ou bissexuais não podem ser ministros do Supremo’”.

Breve histórico do miliciano

A abertura de mais um processo, porém, não deve intimidar o Bob Jefferson, um provocador profissional. Ele já coleciona inúmeras ações na Justiça e conta sempre com a sua impunidade. Na revista Fórum, o jornalista Renato Rovai postou parte da longa ficha corrida do novo miliciano bolsonarista. Reproduzo alguns trechos:

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Antes de entrar na política, ele era ‘advogado’ num programa popular à época: ‘O povo na TV’. Tinha 170 quilos e gostava de ficar mostrando a arma. Digamos, que já era um pré-Bolsonaro. Um tipo que fazia sucesso naquele momento e que teve outros ícones, como Afanásio Jazadji, que fazia um programa policial no rádio e se tornou deputado mais votado a Assembleia Legislativa de São Paulo, em 1986, com 558 mil votos.

Roberto Jefferson foi eleito pela primeira vez em 1982, numa chapa da Sandra Cavalcanti, em 1982. Brizola ganhou aquela eleição, mas tinha perdido o PTB para Ivete Vargas.

Em 1986, foi reeleito para o Congresso Constituinte e junto com os deputados Gastonne Righi e Roberto Cardoso Alves foi um dos articuladores do Centrão. O Centrão original, aquele que foi criado para impedir que Constituição fosse mais progressista. Em 1993, foi um dos envolvidos no esquema de propina na Comissão de Orçamento, e no seu depoimento fez um show, algo que sempre esteve presente na sua trajetória política. Na ocasião, Jefferson chorou por duas vezes, lamentando o fato de sua família ter sido exposta com o processo de investigação que sofria.

Quase duas décadas depois, ele voltaria a depor numa CPI, a dos Correios, para tratar do Mensalão, termo que criou em entrevista à Folha de S. Paulo para denunciar esquema de corrupção no Congresso durante o governo Lula.

(...)

No governo Fernando Henrique Cardoso, ele fez várias indicações e teve papel fundamental para o rompimento do PSDB com o PFL, em 2001, fato que levou o partido a não apoiar Serra em 2002. Jefferson traiu o PFL e apoiou Aécio Neves (MG) para a presidência da Câmara, quando pelo acordo do hoje DEM com o PSDB, a presidência da Câmara naquele biênio deveria ser de Inocêncio Oliveira (PE).

Ciro talvez tenha se esquecido, mas, em 2002, um dos seus fiéis escudeiros foi Roberto Jefferson. Que usava o palanque do candidato então no PPS para atacar o PT. Jefferson costumava comparar os petistas ao demônio para dialogar com setores dos evangélicos e trazer esses votos para Ciro.

Com Lula eleito, ele esquece o que disse e passou a afirmar que apesar das diferenças, PTB e PT se uniriam “com afeto”. E foi amealhando cargos no governo como o ministério do Turismo, cargos nos Correios etc.

Daí resulta o mensalão e a história mais recente que boa parte do país conhece sobre Jefferson, que teve seu mandato cassado e foi preso posteriormente.

Ele volta a cena política em abril de 2016 para participar do impeachment da Dilma e diz que: “Cunha é o bandido que mais gosto.”

Agora ressuscita com Bolsonaro. Como um anjo da nova política. Ou talvez para tentar ser a velha nova tropa de choque como foi na época do impeachment de Collor.

1 comentários:

Fábio Freitas disse...

Esse canalha está se tornando uma das principais figuras da história da direita reacionária brasileira e está levando o PTB para esse caminho. Não é mais centrão nada, está assumindo sua verdadeira face, é direita pura.