Por Marco Piva, no site Dom Total:
Sabem aquela história: melhor com ele, pior sem ele? Pois é assim que pensa a elite econômica brasileira sobre o governo de Jair Bolsonaro. Pouco dada a pensar o país além dos limites de seus interesses imediatos como já fizeram no passado gente do calibre de um Roberto Simonsen, os detentores atuais do capital tem noção da vergonha, mas preferem ficar calados ao invés de debater com seriedade um modelo de desenvolvimento para a nação.
Bolsonaro é, na visão dessas pessoas, o “mal menor” que evitou a permanência do Partido dos Trabalhadores no governo como se a democracia que defendem não permitisse a eleição sucessiva de qualquer partido que a ela tenha aderido. Amparada em uma máxima covarde e em uma opção econômica única, a parcela de 1% da população brasileira que detém 28% do total da renda nacional de um dos países mais desiguais do planeta aposta que, apesar de tosco e incompetente, Bolsonaro merece apoio.
Qual é, então, a máxima covarde que fundamenta seu silêncio? A de que ficar bem com o presidente, apesar de sua inclinação autoritária e antidemocrática, se torna mais prudente, já que “si hay gobierno, soy a favor”. A contragosto, é verdade, assim procederam também com Lula, inegavelmente um líder astuto que usava de retórica sedutora para ampliar sua base de sustentação política. Mesmo com Dilma Rousseff, essa ínfima parcela de brasileiros foi até o limite possível das conveniências esperando a fase final do impeachment para se pronunciar publicamente.
Mas, Bolsonaro é melhor que os anteriores governantes porque representa a opção única que defendem: a de que o Estado deve ser mínimo e o descompromisso tributário, máximo, com isenções privilegiadas e impostos que “não atrapalhem a iniciativa privada”. Em uma autêntica inversão do ideário liberal que promoveu a ascensão e o desenvolvimento de muitos países, essa elite acredita que a economia funciona apenas por obra e graça das “mãos invisíveis do mercado”, consagrando a livre iniciativa acima de tudo e de todos, principalmente acima do povo e da nação. Simplificando: se o negócio não dá lucro imediato, os capitais não são investidos. A elite pede, então, que o Estado cumpra o seu papel e vá na frente para desbravar as novas fronteiras. Se o negócio der lucro, aí pede para o Estado sair da frente.
O que vamos fazer com 60 milhões de desempregados e informais após a pandemia?É de corar de vergonha a forma como Bolsonaro conduz o país. Sem projeto claro a não ser a crença em suas próprias convicções ultrapassadas e fora de moda, o Brasil está à deriva, a máquina pública não funciona e, o que é pior, em meio a uma pandemia que exige, em qualquer canto do planeta, responsabilidade, liderança e o mínimo de respeito à ciência. O que é mais grave: análises otimistas apontam n direção de um tombo de 10% do PIB em 2020. Curiosamente, o setor que mais faturou de janeiro para cá foi o financeiro. Isso diz muito do que somos e de onde não estamos nos movendo há décadas.
Diante desse quadro, como é possível que as elites econômicas ainda permaneçam em silêncio sobre as manifestações críticas a Bolsonaro e sua forma de governar? Isso tem nome: opção de classe. Mas não se trata de uma opção de classe fundada no debate contemporâneo sobre a complexidade das sociedades atuais, de suas transformações e mecanismos de assimilação das diversidades. É uma opção de classe do passado, quem sabe anterior a Karl Marx porque estica a potencialidade explosiva da crise social em benefício próprio. Além disso, as elites econômicas se unem a um discurso retrógrado onde a nomeação de um suposto inimigo interno basta para sustentar as mais terríveis iniciativas na saúde, na educação, no meio ambiente e na própria ideia de civilidade. O ódio está aí para quem quiser ver.
O interessante é que o setor empresarial que aparece na fita ao lado do presidente é formado por personagens secundários da engenharia econômica que funciona de verdade. Normalmente são pessoas ligadas ao comércio e ao setor de serviços. Desses é de se esperar um discurso voltado para o próprio umbigo da maneira mais superficial possível. A ideia da meritocracia se alimenta de gente assim, que se orgulha de seu próprio sucesso esquecendo as diferentes mãos e rostos que o ajudaram a chegar lá. Na condição de atores menores da novela econômica fazem pontas que desaparecerão na história. A elite econômica que conta mesmo frequenta Brasília, alternando o palácio presidencial com o gabinete de Paulo Guedes. De quebra, seus poucos membros são referências e fontes da mesma velha imprensa. O resultado disso tudo é a sensação que falta pouco para o desastre total. O que vamos fazer com 60 milhões de desempregados e trabalhadores informais após a pandemia? Essa é a questão.
* Marco Piva é jornalista, apresentador do programa Brasil Latino, da Rádio USP, diretor de redação do canal youtube O Planeta Azul e articulista do Dom Total.
Sabem aquela história: melhor com ele, pior sem ele? Pois é assim que pensa a elite econômica brasileira sobre o governo de Jair Bolsonaro. Pouco dada a pensar o país além dos limites de seus interesses imediatos como já fizeram no passado gente do calibre de um Roberto Simonsen, os detentores atuais do capital tem noção da vergonha, mas preferem ficar calados ao invés de debater com seriedade um modelo de desenvolvimento para a nação.
Bolsonaro é, na visão dessas pessoas, o “mal menor” que evitou a permanência do Partido dos Trabalhadores no governo como se a democracia que defendem não permitisse a eleição sucessiva de qualquer partido que a ela tenha aderido. Amparada em uma máxima covarde e em uma opção econômica única, a parcela de 1% da população brasileira que detém 28% do total da renda nacional de um dos países mais desiguais do planeta aposta que, apesar de tosco e incompetente, Bolsonaro merece apoio.
Qual é, então, a máxima covarde que fundamenta seu silêncio? A de que ficar bem com o presidente, apesar de sua inclinação autoritária e antidemocrática, se torna mais prudente, já que “si hay gobierno, soy a favor”. A contragosto, é verdade, assim procederam também com Lula, inegavelmente um líder astuto que usava de retórica sedutora para ampliar sua base de sustentação política. Mesmo com Dilma Rousseff, essa ínfima parcela de brasileiros foi até o limite possível das conveniências esperando a fase final do impeachment para se pronunciar publicamente.
Mas, Bolsonaro é melhor que os anteriores governantes porque representa a opção única que defendem: a de que o Estado deve ser mínimo e o descompromisso tributário, máximo, com isenções privilegiadas e impostos que “não atrapalhem a iniciativa privada”. Em uma autêntica inversão do ideário liberal que promoveu a ascensão e o desenvolvimento de muitos países, essa elite acredita que a economia funciona apenas por obra e graça das “mãos invisíveis do mercado”, consagrando a livre iniciativa acima de tudo e de todos, principalmente acima do povo e da nação. Simplificando: se o negócio não dá lucro imediato, os capitais não são investidos. A elite pede, então, que o Estado cumpra o seu papel e vá na frente para desbravar as novas fronteiras. Se o negócio der lucro, aí pede para o Estado sair da frente.
O que vamos fazer com 60 milhões de desempregados e informais após a pandemia?É de corar de vergonha a forma como Bolsonaro conduz o país. Sem projeto claro a não ser a crença em suas próprias convicções ultrapassadas e fora de moda, o Brasil está à deriva, a máquina pública não funciona e, o que é pior, em meio a uma pandemia que exige, em qualquer canto do planeta, responsabilidade, liderança e o mínimo de respeito à ciência. O que é mais grave: análises otimistas apontam n direção de um tombo de 10% do PIB em 2020. Curiosamente, o setor que mais faturou de janeiro para cá foi o financeiro. Isso diz muito do que somos e de onde não estamos nos movendo há décadas.
Diante desse quadro, como é possível que as elites econômicas ainda permaneçam em silêncio sobre as manifestações críticas a Bolsonaro e sua forma de governar? Isso tem nome: opção de classe. Mas não se trata de uma opção de classe fundada no debate contemporâneo sobre a complexidade das sociedades atuais, de suas transformações e mecanismos de assimilação das diversidades. É uma opção de classe do passado, quem sabe anterior a Karl Marx porque estica a potencialidade explosiva da crise social em benefício próprio. Além disso, as elites econômicas se unem a um discurso retrógrado onde a nomeação de um suposto inimigo interno basta para sustentar as mais terríveis iniciativas na saúde, na educação, no meio ambiente e na própria ideia de civilidade. O ódio está aí para quem quiser ver.
O interessante é que o setor empresarial que aparece na fita ao lado do presidente é formado por personagens secundários da engenharia econômica que funciona de verdade. Normalmente são pessoas ligadas ao comércio e ao setor de serviços. Desses é de se esperar um discurso voltado para o próprio umbigo da maneira mais superficial possível. A ideia da meritocracia se alimenta de gente assim, que se orgulha de seu próprio sucesso esquecendo as diferentes mãos e rostos que o ajudaram a chegar lá. Na condição de atores menores da novela econômica fazem pontas que desaparecerão na história. A elite econômica que conta mesmo frequenta Brasília, alternando o palácio presidencial com o gabinete de Paulo Guedes. De quebra, seus poucos membros são referências e fontes da mesma velha imprensa. O resultado disso tudo é a sensação que falta pouco para o desastre total. O que vamos fazer com 60 milhões de desempregados e trabalhadores informais após a pandemia? Essa é a questão.
* Marco Piva é jornalista, apresentador do programa Brasil Latino, da Rádio USP, diretor de redação do canal youtube O Planeta Azul e articulista do Dom Total.
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