quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Cadê os deputados que invadiram hospitais?

Por Altamiro Borges

Perguntar não ofende: Há dois meses, no início de junho, cinco deputados bolsonaristas invadiram o hospital de campanha no Anhembi, em São Paulo, para “apurar as internações por Covid”. O crime rendeu um processo por infração de medida sanitária, que prevê até um ano de prisão. Como anda o processo?

Segundo o boletim de ocorrência, os deputados Adriana Borgo (Pros), Marcio Nakashima (PDT), Leticia Aguiar (PSL), Coronel Telhada (PP) e Sargento Neri (Avante) invadiram o local "visando fiscalizar os trabalhos realizados" e, com essa atitude criminosa, colocaram em risco a saúde de pacientes e profissionais da saúde.

A invasão do hospital é uma infração de medida sanitária preventiva, prevista no artigo 268 do Código Penal. Ela prevê detenção de um mês a um ano, além de multa. O artigo 268 trata da infração de determinação do poder público destinada a impedir propagação de doenças contagiosas.

“Não tem doente porcaria nenhuma”

No boletim de ocorrência, João Guilherme Moura, gerente do Iabas (empresa que administrava o hospital de campanha), afirmou que os deputados negacionistas foram barrados por não usarem equipamentos exigidos. "Mesmo assim, acabaram desobedecendo a ordem e filmaram o local, inclusive pacientes hospitalizados".

Num dos vídeos, a deputada Adriana Borgo (Pros) criticou as medidas de isolamento social recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e esbravejou: “Não tem doente porcaria nenhuma". Ela ainda se negou a colocar os equipamentos de proteção afirmando que "isso é frescura. A gente não tem medo disso".

Diante da gravidade do crime, a prefeitura da capital paulista criticou os deputados que agiram "de maneira desrespeitosa, agredindo pacientes e funcionários verbal e moralmente, colocando em risco a própria saúde e a vida de cidadãos internados na unidade". Um processo foi aberto, mas logo o assunto sumiu da mídia.

Deputado-policial em Lauro de Freitas (BA)

Na sequência desta ação aloprada, outros bolsonaristas resolveram seguir o exemplo – talvez para agradar o “capetão” e ganhar algumas compensações. No dia 17 de junho, o deputado estadual Capitão Alden (PSL) invadiu o hospital de campanha Riverside, em Lauro de Freitas, na região metropolitana de Salvador (BA).

Segundo relato da Folha, com base em informações do governo estadual, “Alden é um ardoroso apoiador de Bolsonaro nas redes sociais. No hospital Riverside, ele chegou acompanhado de seguranças e aparentava estar armado. Ele, que é policial militar, também ameaçou dar voz de prisão aos funcionários”.

"É lamentável que um parlamentar, ainda mais sendo ele policial, cometa um atentado contra a paz de um ambiente hospitalar, onde pacientes isolados estão sofrendo e lutando por suas vidas", criticou Fábio Vilas-Boas, secretário de Saúde da Bahia. Um boletim de ocorrência foi registrado, mas também já sumiu da mídia.

Atitude “radical e de baixo perfil” em Vitória

Na mesma semana, cinco deputados estaduais do Espírito Santo invadiram o Hospital Estadual Dório Silva, na região metropolitana de Vitória (ES). Nenhum deles é médico ou compõe a Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa. A Procuradoria Geral do Estado entrou com uma representação criminal contra os parlamentares.

Segundo o noticiário local, os deputados Lorenzo Pazolini (Republicanos), Torino Marques (PSL), Vandinho Leite (PSDB), Danilo Bahiense (PSL) e Carlos Von (Avante) permaneceram por cerca de duas horas no hospital e afirmaram estar seguindo uma “ordem” do presidente Jair Bolsonaro, dada uma dia antes em uma live.

Para o secretário estadual da Saúde, Nésio Fernandes, a atitude foi “radical, xiita e de baixo perfil. Visita em plena pandemia, no contexto de uma convocatória de Bolsonaro? Como traduzir esse comportamento dos deputados, entrando num hospital, gravando, filmando, interrogando trabalhadores?”

Até hoje, todos os deputados citados nessa nota seguem impunes – livres, soltos e provocadores!

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