domingo, 23 de agosto de 2020

O fim do mundo e o Big Bang bolsonarista

Por Fernando Brito, em seu blog:

Creia ou não o respeitável público, teremos amanhã o festim do “”Encontro Brasil vencendo a Covid–19“, direto do Palácio do Planalto, quem sabe para comemorar, na base do “tem de manter isso” as mil vidas que são ceifadas todos os dias e as 115 mil que, naquele dia, já se foram.

No dia seguinte, no mesmo Pátio dos Milagres, comemorar-se-á o “Big Bang Day“, a recriação do mundo econômico do social por Paulo Guedes, que fará emprego e dinheiro jorrarem como um chafariz: a água é a mesma, não entra um litro sequer, mas os esguichos, certamente iluminados por feéricas luzes verdes e amarelas darão a impressão de que agora, cairá do céu o maná que a todos salvará da fome e do caos.

E não há problema em que seja uma ampliação – sabe-se lá de quanto – nos auxílios que antes Bolsonaro maldizia como combustíveis da preguiça e da vagabundagem. É que este Messias não se envergonha de arrogar-se Jesus e dizer: “Seus antepassados comeram o maná no deserto, no entanto morreram. Este é o pão que desce do céu, para que todo aquele que comer dele não morra’. (João, 6: 49,50).

Eu não vejo nenhum problema com milagres, desde que eles acontecessem. os homens da ciência econômica, harvardianos, surpreendentemente levam a sério esta patacoada imprudente que se está gestando e que será partejada pelo presidente que, orgulhosamente, diz que “não entende nada de economia”.

O que se vai fazer não é a clássica solução keynesiana – Guedes leu Keynes seis vezes no original e não entendeu lhufas – de executar uma política antirrecessiva com instrumentos estatais, mas o uso do estado para promover uma prestidigitação de programas sociais que tiram do trabalho formal, desestimulam o vínculo laboral e vão gerar zero emprego, porque a grande maioria das atividades que já existem não tem nenhuma razão – pela demanda deprimida – para contratar mais, com ou sem desoneração da folha.

Como o “Renda Brasil” depende da retirada de direitos constitucionais, como o abono salarial e o salário-família, é muito difícil que isso aconteça, pelo menos totalmente. Ainda que o consigam, representará injeção zero de recursos na economia, que só se vem mantendo em pé por conta dos R$ 50 bilhões – mais até – que estão sendo despejados pelo auxílio emergencial a mais de 60 milhões de pessoas.

E, ainda assim, basta sair às ruas e ver a situação que, aí em cima, o Jean Galvão mostra que só “aparece” por conta do frio no clima, não o dos corações, este permanente.

Tudo tem riscos e sérios: a desoneração patronal para empregos com valor de um salário-mínimo vai sacralizar o “por fora” para os trabalhadores menos aquinhoados. O “plus” do Renda Brasil por boas notas escolares é a melhor maneira de fraudar as avaliações pedagógicas: quer dizer que vão jogar nas costas dos professores “tirar” de uma família pobre vinte ou trinta reais por mês porque seu filho tem as dificuldades óbvias de aprendizado das crianças humildes?

Desculpem, vá ser meritocrata assim num lugar que a boa educação me impede de dizer.

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