Por Paulo Moreira Leite, no site Brasil-247:
Ao abrir caminho para a escolha de um candidato de Trump à presidência do principal banco de desenvolvimento da América do Sul e Caribe, governo brasileiro fez o jogo que interessa ao império. Os arquivos do golpe de 64 registram uma vergonhosa definição da política externa do governo Castello Branco.
"O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil", dizia slogan que marcou o chanceler Vasco Leitão da Cunha.
Meio século depois, quando o conceito de "Deus Trump" formulado pelo chanceler Ernesto Araújo já não permitia dúvidas sobre a visão diplomática do bolsonarismo, duas medidas recentes ilustram de forma definitiva a postura submissa nas relações com o império.
A mais escandalosa envolve a licença de importação - sem impostos - do etanol produzido nos Estados Unidos, que nos próximos poderá ser vendido no país nas mesmas condições que o produto local.
Em vez de atender a pressão natural de produtores brasileiros que, em tempos de queda na demanda, batalhavam por uma elevação de tarifas de importação para proteger a produção local, Bolsonaro abriu o mercado nacional para os concorrentes estrangeiros numa atitude definida pelo usineiro Evandro Gussi, um dos líderes do setor, para quem a medida "não tem nenhuma razão a não ser ajudar os Estados Unidos".
Menos ruidosa, mas de valor estratégico mais profundo e duradouro, o apoio do governo Bolsonaro a candidatura de Maurício Claver-Carone a presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento, vitoriosa neste fim de semana, marca um retrocesso de dimensão histórica. Suas consequências nefastas podem se fazer sentir por um largo período no desenvolvimento do país e demais países dessa parte do mundo.
Instituição financeira internacional criada em 1959, para funcionar como uma espécie de BNDES da América do Sul e Caribe, há duas décadas o BID se encontra no radar da extrema-direita norte-americana, interessada em esvaziar projetos de desenvolvimento a juros subsidiados e abrir caminho para instituições privadas.
Homem de confiança de Donald Trump, Claver-Carone conseguiu ser eleito como candidato único. Nos bastidores, o governo brasileiro até cogitou o lançamento de um concorrente próprio, pretensão legítima pelo peso do país na região. Desistiu quando ficou claro que a Casa Branca também interesssada na disputa, que lhe dará uma posição privilegiada na partilha de recursos essenciais bilionários destinados a países em desenvolvimento.
Para não deixar dúvidas sobre seu alinhamento, na reta final Brasília anunciou publicamente que apoiava Washington - adesismo incomum nos rituais da instituição.
Com esta atuação, o governo Bolsonaro também produziu outro prejuízo importante. Interessados em adiar a escolha até que fosse possível apontar um segundo candidato, países europeus e latino-americanos trabalhavam por uma abstenção que teria permitido um adiamento da eleição.
Basta lembrar que em 4 de novembro Joe Biden pode amanhecer como novo presidente dos EUA para reconhecer a relevância política do adiamento.
Mas não. Na dúvida, o bolsonarismo mostrou um traço nítido de sua identidade política: sempre opta pelo que é bom para os Estados Unidos e ruim para o Brasil.
Alguma dúvida?
"O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil", dizia slogan que marcou o chanceler Vasco Leitão da Cunha.
Meio século depois, quando o conceito de "Deus Trump" formulado pelo chanceler Ernesto Araújo já não permitia dúvidas sobre a visão diplomática do bolsonarismo, duas medidas recentes ilustram de forma definitiva a postura submissa nas relações com o império.
A mais escandalosa envolve a licença de importação - sem impostos - do etanol produzido nos Estados Unidos, que nos próximos poderá ser vendido no país nas mesmas condições que o produto local.
Em vez de atender a pressão natural de produtores brasileiros que, em tempos de queda na demanda, batalhavam por uma elevação de tarifas de importação para proteger a produção local, Bolsonaro abriu o mercado nacional para os concorrentes estrangeiros numa atitude definida pelo usineiro Evandro Gussi, um dos líderes do setor, para quem a medida "não tem nenhuma razão a não ser ajudar os Estados Unidos".
Menos ruidosa, mas de valor estratégico mais profundo e duradouro, o apoio do governo Bolsonaro a candidatura de Maurício Claver-Carone a presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento, vitoriosa neste fim de semana, marca um retrocesso de dimensão histórica. Suas consequências nefastas podem se fazer sentir por um largo período no desenvolvimento do país e demais países dessa parte do mundo.
Instituição financeira internacional criada em 1959, para funcionar como uma espécie de BNDES da América do Sul e Caribe, há duas décadas o BID se encontra no radar da extrema-direita norte-americana, interessada em esvaziar projetos de desenvolvimento a juros subsidiados e abrir caminho para instituições privadas.
Homem de confiança de Donald Trump, Claver-Carone conseguiu ser eleito como candidato único. Nos bastidores, o governo brasileiro até cogitou o lançamento de um concorrente próprio, pretensão legítima pelo peso do país na região. Desistiu quando ficou claro que a Casa Branca também interesssada na disputa, que lhe dará uma posição privilegiada na partilha de recursos essenciais bilionários destinados a países em desenvolvimento.
Para não deixar dúvidas sobre seu alinhamento, na reta final Brasília anunciou publicamente que apoiava Washington - adesismo incomum nos rituais da instituição.
Com esta atuação, o governo Bolsonaro também produziu outro prejuízo importante. Interessados em adiar a escolha até que fosse possível apontar um segundo candidato, países europeus e latino-americanos trabalhavam por uma abstenção que teria permitido um adiamento da eleição.
Basta lembrar que em 4 de novembro Joe Biden pode amanhecer como novo presidente dos EUA para reconhecer a relevância política do adiamento.
Mas não. Na dúvida, o bolsonarismo mostrou um traço nítido de sua identidade política: sempre opta pelo que é bom para os Estados Unidos e ruim para o Brasil.
Alguma dúvida?
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